7.06.2012

AUMENTO DE CONSUMO CRIA OPORTUNIDADE PARA SETOR CÁRNEO


Estudo da consultoria Informa Economics FNP traça cenário positivo para o segmento, com previsão de investimento em produtos de maior valor agregado.
Na esteira do aumento da massa salarial, o consumo das carnes mais consumidas no País (de aves, bovina e suína) deverá crescer este ano. Especialistas destacam que o aumento da renda, ao mesmo tempo que sustenta este movimento, também impõe mudanças no mercado. Eles avaliam ser cada vez maior o número de frigoríficos e de indústrias de alimentos que investem alto no desenvolvimento de produtos de maior valor agregado. Tal cenário, segundo os especialistas, ajuda na previsão de um bom ano para o setor, apesar do aumento de custos de produção, registrado em alguns segmentos.
Estudo divulgado nessa quinta-feira pela consultoria Informa Economics FNP estima que o consumo médio per capita de carnes no Brasil deve passar de 95,3 quilos em 2011 para 97,5 quilos neste ano. Entre as carnes, a fatia que mais deve crescer é a de frango, cujo consumo médio no País deverá aumentar 4% em relação ao ano passado, para 49,2 quilos. O consumo médio de carne bovina, por sua vez, deverá ter elevação de 3%, para 33 quilos per capita, seguido pela suína, que passará de 15 quilos em 2011 para 15,3 quilos, este ano.
O diretor-técnico da Informa Economics FNP, José Vicente Ferraz, explica que o acelerado crescimento do consumo de proteínas animais não se deve apenas ao aumento populacional. “O fator mais importante é o surgimento de um grande contingente populacional, que ascendeu em termos econômicos e tem melhores condições de acesso a esses alimentos”, afirma. Estima-se em 60 milhões, por exemplo, o número de habitantes que saiu da classe D para as mais privilegiadas. Em 2006, 34% da população se encaixava no estrato definido como classe C; em 2011, o percentual foi de 54%, segundo pesquisa do BNP Baripas.
De acordo com a professora da Universidade de São Paulo (USP) Maria Stella Saab, as pessoas que possuem uma renda de até US$ 7 por dia (o equivalente a cerca de R$ 436 por mês) , quando conseguem qualquer aumento nos rendimentos, gastam-no em produtos alimentícios. Quanto maior a renda, maior o consumo de carnes e de produtos mais caros, principalmente dos cortes de primeira. Na mesma situação, a compra de itens como linguiça e mortadela diminui, da mesma forma que os cortes bovinos de segunda e as carnes de aves.
Diante dessa situação, o estudo da Informa Economics avalia que dificilmente os produtores conseguirão se manter alheios a este tipo de mudança que vem ocorrendo nos hábitos de consumo dos brasileiros. Neste sentido, conceitos como diferenciação do produto e segmentação de mercado têm ganhado cada vez mais importância. “Para se adaptarem às novas exigências dos consumidores, os produtores tiveram de se preocupar mais com questões relacionadas a manejo, genética, alimentação, custos de produção e preços de venda”, diz a gerente-técnica da FNP, Nadia Alcantara.
O estudo chama ainda a atenção para o aumento de pessoas morando sozinhas e o número crescente de mulheres no mercado de trabalho, fatores que contribuem para o crescimento da demanda de produtos de preparo rápido. “O crescimento significativo de participação deste segmento no consumo global requer também maiores investimentos em tecnologia”, afirma Ferraz.

Maior valor]

O presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), Péricles Salazar, afirma que tem crescido o número de empresas do setor bovino e frigoríficos que investem, por exemplo, na industrialização de produtos, como na fabricação de carnes processadas. “Com isso, conseguem diferenciação de seus produtos e aumentam seus lucros”, diz.
O mesmo acontece na produção de carne de frango, segundo o diretor de Produção da União Brasileira de Avicultura (Ubabef), Ariel Antônio Mendes. Segundo ele, com o aumento da renda do Brasil e a maior demanda por carnes, as empresas do setor, antes muito baseadas na exportação, se deram conta das oportunidades que há no próprio mercado nacional. “Começaram, então, a investir alto em processados e semiprontos, para agregar valor a seus produtos”, conta.
Ambos os executivos ainda veem espaço para o crescimento no consumo nacional, tanto de carne bovina, quanto de frangos. Salazar, da Abrafrigo, afirma que o consumo da proteína bovina ainda é pequeno no Brasil, se comparado com outros países, como na Argentina, onde chega, em média, a 40 quilos per capita, ou nos Estados Unidos, onde atinge os 50 quilos. “O consumo da proteína acaba sendo mais elevado em países com maior capacidade aquisitiva”, explica Salazar, que prevê um ano de aumento de produção e, consequentemente, de maior receita para o setor do que o registrado em 2011.
Em linha, Mendes, da Ubabef, acredita que tal avanço no consumo será apoiado no cenário favorável da renda do brasileiro e nas atuais incertezas na economia mundial, o que torna as exportações das carnes mais escassas, aumentando a oferta do produto no País e ajudando a manter os preços em patamares razoáveis para movimentação no mercado doméstico consumidor. Para o mercado de frango, ele estima crescimento de 3% no faturamento este ano, em relação a 2011. “É uma expectativa otimista, embora modesta, em função das exportações, que deverão ser menores”, afirma o executivo, que destaca o crescimento apoiado no mercado interno.

Texto de Anna Beatriz Thieme publicado no "Jornal do Commercio" Rio de Janeiro, edição de 29 e 30 de junho e 1 de julho de 2012. Adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.

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