![]() |
| Jichi Medical University, |
Se você é daquelas pessoas que sempre pedem sobremesa mesmo depois de ter comido bastante, saiba que a culpa pode ser de um hormônio chamado grelina, que aumenta o apetite por alimentos calóricos mesmo quando se está de estômago cheio, segundo um estudo recém-divulgado da Carleton University, do Canadá. Em outro trabalho divulgado esta semana pela Jichi Medical University, no Japão, injeções diárias de oxitocina em animais reduziram a quantidade de alimentos consumida e ainda contribuíram para a perda de peso nove dias depois do tratamento. Só para citar descobertas recentes, há ainda a irisina, liberada pelos músculos durante as atividades físicas e que ajuda a transformar gordura branca em marrom, aumentando o gasto calórico. Ganhar e perder calorias não é apenas uma questão hormonal, mas a química de hormônios e neurotransmissores pesa na balança.
— No controle do peso, os hormônios mais importantes ainda são os relacionados à saciedade, como a leptina, e neurotransmissores estimulados por ela, como a melanocortina e o CART (regulador da transcrição de substâncias como anfetaminas e a cocaína). No sistema periférico, a maioria dos hormônios tem relação com a saciedade, com exceção da grelina, que está relacionada à fome e ao início da refeição — explica a presidente do departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem), Rosana Radominski. Segundo a pesquisadora Denise Pires Carvalho, professora titular do Instituto de Biofísica da UFRJ, com vários trabalhos relacionando a questão hormonal ao peso corporal, os hormônios mais determinantes para o emagrecimento são os da tireoide, que regulam a ingestão e aumentam o gasto energético em todos os órgãos. Quando usados para combater a obesidade, no entanto, esses hormônios causaram perda de massa magra e arritmia cardíaca.
Uma dupla do mal contra a boa forma
Outros estudos mostram o ganho de peso em mulheres na pós-menopausa relacionado ao estrogênio, que atua junto com a leptina e opera mudanças metabólicas como o bloqueio da saciedade no hipotálamo. Com isso, o organismo das mulheres passa a produzir mais lipídeos, mais glicose e a acumular gordura subcutânea. — Ainda há muito a ser estudado. A leptina, por exemplo, controla a ingestão de alimentos e sua deficiência não promove a saciedade, levando à obesidade desde a infância. Estudos posteriores, porém, mostraram que os obesos têm leptina alta e resistência a ela no hipotálamo.
Além disso, a causa da obesidade pode estar em maus hábitos e no sedentarismo, coisas que a leptina não pode ser usada para explicar — defende Denise, que aponta novos rumos nos estudos sobre o tema: — Toda a questão da compulsão é muito pouco estudada e tem a ver com o eixo dos endocanabinoides (substâncias naturais do cérebro que têm efeito similar à maconha) e do sistema de recompensa. O que está na moda hoje é o uso dos endocanabinoides em ação periférica regulando o metabolismo sem eliminar o prazer relacionado à comida — diz.
Denise e o endocrinologista Amelio Godoy acabaram de orientar o trabalho de mestrado da médica Mariana Farage, que foi apresentado no encontro anual da Endocrine Society em Houston, EUA, justamente sobre endocanabinoides: eles estudaram 13 mulheres obesas e 10 magras (grupo de controle) que fariam cirurgias ginecológicas e tomariam anestesia. Os pesquisadores então dosaram o canabinoide anandamida no soro e no liquor (líquido do cérebro) dessas mulheres. Nas obesas, não houve aumento de anandamida no liquor, mas sim no sistema periférico.— Isso quer dizer que no futuro pode ser possível desenvolver um remédio que não atue no sistema nervoso central, só no sistema periférico, e sem efeitos colaterais — explica Godoy. — Quando se fuma maconha, há um aumento no apetite por alimentos palatáveis, notadamente doces. Os endocanabinoides inibem justamente isso — conta o médico, que também cita a leptina como grande inibidora de apetite. Para o endocrinologista Walmir Coutinho, integrante da Sbem e professor da PUC-Rio, hoje a importância fisiológica dos hormônios é imensa, mas a terapêutica é nenhuma, ou seja, servem para explicar o que acontece no organismo, mas não para tratamento: — Às vezes, a pessoa engorda 20kg, 30kg e culpa a tireoide, mas isso não é verdade. O cortisol em excesso pode engordar, a leptina é importante, assim como a insulina, mas os hábitos da pessoa são mais determinantes para que ela engorde ou emagreça.—
Com 22 anos de experiência em clínica médica, Tércio Rocha tem a mesma opinião e aponta os hormônios sexuais e da tireoide como os mais importantes para o ganho ou perda de peso. Ele divide ainda os hormônios em dois grupos: os com maior atuação cerebral na saciedade (serotonina, endorfinas, catacolaminas e oxitocina) e os que interferem na distribuição de gordura e no ganho de massa muscular (testosterona, GH e, de forma menor, a irisina), mas garante que não há milagre: — Nem todos os hormônios são conhecidos nem foram 100% controlados, tanto que a obesidade é a doença que mais cresce no mundo desde a década de 80. Eles interferem no peso, mas a atitude mental da pessoa faz diferença. —
A QUÍMICA DA BALANÇA
GRELINA
É produzida pelo estômago e ficou conhecida como o hormônio da fome por reger a saciedade. Também foi associada ao aumento do apetite por alimentos com muitas calorias mesmo quando se está de estômago cheio.
INSULINA
É sintetizada no pâncreas e, em todos os seus mecanismos periféricos, aumenta o apetite e favorece a formação de tecido adiposo.
CORTISOL
É produzido pela glândula suprarrenal, controla as emoções e é diretamente ligado à resposta do organismo ao estresse. Nesses casos, o organismo se protege aumentando a gordura corporal no abdômen, flancos e atrás da nuca.
OREXINA
É um neurotransmissor que atua como estimulador de apetite.
SEROTONINA
É um neurotransmissor que melhora o humor, embala o sono, alivia a dor e ainda regula o apetite aumentando a saciedade.
OXITOCINA
É produzida pelo hipotálamo e armazenada na hipófise. Tem a função de contrair o útero após o parto e liberar o leite para a amamentação, além de ser associada ao bem-estar e à saciedade. Recentemente um estudo em animais concluiu que este hormônio também regula a ingestão de comida e o gasto de energia.
DOPAMINA E NOREPINEFRINA (OU NORADRENALINA)
São neurotransmissores que atuam inibindo o apetite e aumentando o gasto de energia.
GH (OU HORMÔNIO DE CRESCIMENTO)
É produzido pela hipófise e também atua na distribuição da gordura e no ganho de massa muscular.
PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS CARDÍACOS
Pesquisas indicam que eles estimulam o metabolismo das células de gordura, de uma forma parecida com quando o corpo, exposto ao frio, queima gordura para gerar calor.
IRISINA
É produzida pelo músculo e transforma gordura branca (que armazena gordura) em marrom (que queima energia).
LEPTINA
É produzida e secretada pelo tecido adiposo e controla a sensação de saciedade, inibindo o apetite.
TESTOSTERONA
É produzida pelos testículos e atua na distribuição da gordura e no ganho de massa muscular.
HORMÔNIOS DA TIREÓIDE
Regem o metabolismo basal e tecidos, aumentam a termogênese.
Excertos do texto de Viviane Nogueira publicado no "Jornal do Commercio" Rio de Janeiro, edição de 29 e 30 de junho e 1 de julho de 2012 com o título de "Medicina descobre novas funções para hormônios que regulam fome e acúmulo de gordura". Adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.



No comments:
Post a Comment
Thanks for your comments...