5.21.2020
ISABEL, A REDENTORA
GETÚLIO DORNELLES VARGAS, o mais importante personagem da República brasileira no século XX, era ainda um menino de quatro anos quando os vereadores de sua cidade, São Borja, no Rio Grande do Sul, viraram notícia nacional devido a uma polêmica decisão. Em requerimento aprovado no dia 13 de janeiro de 1888, a Câmara Municipal gaúcha propunha que, no caso de falecimento do imperador Pedro II, os brasileiros fossem consultados a respeito da oportunidade ou não de um terceiro reinado. Segundo o texto do documento, caberia ao país decidir, “por meio de um plebiscito, se convém a sucessão no trono brasileiro de uma senhora obcecada por uma educação religiosa e casada com um príncipe estrangeiro”.
À primeira vista, poderia parecer mais uma das inúmeras atitudes sem consequências que as Câmaras Municipais ainda hoje adotam em todo o Brasil. Na verdade, era bem mais do que isso. Tratava-se de ação orquestrada de uma parte da maçonaria brasileira contra a princesa Isabel, herdeira da coroa, e seu marido, o francês Gastão de Orleans, conde d’Eu.[252]
Um ano antes de chegar ao plenário da Câmara de São Borja, a proposta fora submetida à discussão dos membros da loja maçônica local, chamada “Vigilância e Fé”, nos seguintes termos:
A Maçonaria que se levante, opondo-se firmemente, no caso fatal da morte do imperante, à sucessão de Isabel. Que evite por todos os meios honrosos, embora violentos, a coroação da princesa. O povo que se governe e a Maçonaria que intervenha para a fundação de um governo livre e moralizado.
O autor da iniciativa, Aparício Mariense da Silva, era, além de maçom, fazendeiro e vereador. Na política local estava ligado ao coronel Manuel do Nascimento Vargas, pai do menino Getúlio e correligionário do chefe republicano Júlio de Castilhos. Aprovada pela Câmara de São Borja depois de passar pelo crivo dos membros da loja “Vigilância e Fé”, a proposta foi em seguida enviada a diversas outras entidades maçônicas brasileiras, onde pontificavam alguns nomes importantes do movimento republicano, como os futuros presidentes Campos Salles e Prudente de Morais, Quintino Bocaiúva, Benjamin Constant, Rangel Pestana, Francisco Glicério, Américo Brasiliense, Ubaldino do Amaral, Aristides Lobo, Bernardino de Campos e Lauro Sodré. Dividido entre monarquistas e republicanos, o Grande Oriente do Brasil, órgão máximo da maçonaria no Rio de Janeiro, se absteve de tomar uma posição oficial, o que não impediu que representações regionais aderissem de imediato à proposta dos gaúchos. Foi o caso das lojas “Independência e Regeneração III”, de Campinas, e “Estrela D’Oeste”, de Ribeirão Preto, que aprovaram moções semelhantes em junho de 1888.
Apesar da mobilização das lojas maçônicas, a decisão da Câmara de São Borja poderia ter caído no vazio não fosse a reação precipitada do presidente interino da província do Rio Grande do Sul, o advogado Joaquim Jacinto de Mendonça. Conservador, adversário do grupo de Manuel Vargas e Aparício Mariense da Silva, Mendonça determinou que os vereadores fossem afastados dos seus cargos e processados. Foi o que bastou para que se levantasse um clamor nacional em solidariedade aos gaúchos. Jornais e panfletos de todo o país passaram a repercutir o assunto e a atacar o governo imperial.
Em Santos, litoral paulista, o advogado Antônio da Silva Jardim, igualmente membro da maçonaria, promoveu uma grande manifestação pública que marcaria o início de sua épica campanha republicana nas demais regiões.[253] Diversas Câmaras Municipais aprovaram requerimentos de igual teor no Rio Grande do Sul, em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Curiosamente, o processo contra os vereadores não prosperou na Justiça, onde promotores e juízes ligados à maçonaria se encarregaram de sustar seu andamento.[254]
O episódio envolvendo a Câmara de São Borja ilustra o papel dúbio desempenhado pela princesa Isabel nos acontecimentos que levaram à Proclamação da República. Ao assinar a Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, Isabel propiciou um derradeiro e fugaz momento de popularidade da Monarquia brasileira, já abalada pelos conflitos da Questão Militar e pelo avanço da propaganda republicana. Em razão disso, recebeu homenagens e celebrações em todo o país, em especial por parte de negros, mulatos e ex-escravos que viam na princesa a protetora que jamais haviam tido em toda a história brasileira. Como se viu nos capítulos anteriores, um deles, o mulato e abolicionista José do Patrocínio, lhe deu o título de “A Redentora”, com o qual é reconhecida até hoje entre os brasileiros. A mesma Lei Áurea, no entanto, tirou do trono o seu mais sólido pilar de sustentação: a aristocracia rural e escravagista representada, principalmente, pelos barões do café do Vale do Paraíba.
Para os senhores de escravos, a abolição havia sido um atentado contra o direito de propriedade. Eles consideravam os cativos um bem particular, tão valioso quanto as fazendas, as lavouras de café e cana, os engenhos de açúcar e outros itens de seu patrimônio. Forçados a aceitar o fim da escravidão depois de décadas de resistência, exigiam que o governo concordasse, ao menos, em indenizá-los pelos prejuízos que julgavam sofrer. Os abolicionistas, porém, discordavam desse ponto de vista. Um deles, o engenheiro André Rebouças, sustentava que, após a abolição, quem deveria receber indenização não eram os proprietários, mas os escravos, em razão do trabalho forçado e dos abusos a que foram submetidos ao longo da vida.
O governo adotou essa linha por uma questão prática: aos preços vigentes na época da Lei Áurea, os 700 mil escravos ainda existentes no país valeriam cerca de 210 milhões de contos de réis, enquanto o orçamento geral do Império não passava de 165 milhões de contos de réis.[255] Indenizar os senhores de escravos seria, portanto, impossível. Ao ver suas reivindicações ignoradas, a aristocracia rural sentiu-se traída pela Monarquia. Como resultado, nos meses seguintes à assinatura da lei, aderiu em massa à causa republicana.
A abolição foi apenas parte do problema envolvendo a princesa imperial e a sucessão do trono brasileiro. Profundamente religiosa e conservadora, ela era apontada pelos críticos como sendo mais fiel às orientações da Igreja do que aos interesses dos brasileiros. “Hoje nós passamos o dia todo na igreja, começando por assistir à missa”, escreveu Isabel ao marido em 15 de outubro de 1875. “Estou muito cansada com a lavagem da igreja”, relatou em outra ocasião, referindo-se à limpeza semanal da catedral de Petrópolis.[256] Em reconhecimento à assinatura da Lei Áurea, o papa Leão XIII lhe concedeu a Rosa de Ouro, uma das mais altas honrarias do Vaticano. Ao recebê-la das mãos do núncio apostólico na capela imperial do Rio de Janeiro, em 28 de setembro de 1888, Isabel prestou um juramento de obediência ao papa. Isso só contribuiu para a erosão de sua imagem entre os republicanos, que na época defendiam a separação entre os poderes da Igreja e do Estado. Para eles era inaceitável que a eventual futura imperatriz do Brasil se subordinasse ao Vaticano de maneira tão incondicional.
A reação contra Isabel pode ser medida por uma carta que o fazendeiro Cândido Teixeira Tostes, um dos homens mais ricos de Minas Gerais, conhecido como o “rei do café” na região de Juiz de Fora, enviou na época ao amigo e futuro genro Saint-Clair José de Miranda Carvalho. No texto, Cândido Tostes se refere à Lei Áurea como “celebrírrima lei de 13 de maio, obra monumental dessa idiota que só pensa hoje na Rosa de Ouro que lhe foi conferida pelo papa e que espera alcançar do mesmo ser canonizada muito brevemente”. Acrescentava em seguida: “Felizmente o que vai acontecer é ser enxotada pela barra afora. (...) Caminhamos a passos de gigante para riscarmos da América essa instituição que se chama Monarquia”.[257]
Os republicanos também acusavam a princesa de ser excessivamente submissa ao marido. Na imprensa, dizia-se que, na eventualidade da morte do imperador Pedro II, seria o conde d’Eu o verdadeiro soberano brasileiro. Nesse caso, o Brasil voltaria a ser governado por um príncipe estrangeiro como havia acontecido até a abdicação de dom Pedro I ao trono, em 1831. “O reinado de Isabel e Gastão de Orleans (...) será a nossa desonra, governo de agiotagem, de sacristia, da pátria em balcão, do punhal covarde e assassino vibrado nas trevas”, afirmava o jornal A República Federal, da Bahia.[258] “O terceiro reinado é o governo do terror e do sangue”, ecoava Aristides Lobo no Diário Popular, de São Paulo. “Ou o partido republicano resolve-se a esmagar a víbora que o pretende sufocar, ou realmente terá de sucumbir.”[259]Silva Jardim se referia à princesa como “uma senhora de espírito ignorante, frágil e fútil, educada pelo marido no carolismo de sacristia, não na religião, em saraus burgueses”.[260]
Isabel e a maçonaria estavam em rota de colisão desde a chamada Questão Religiosa, série de conflitos envolvendo o governo brasileiro e o Vaticano entre 1872 e 1875. Na época, os poderes da Igreja e do Estado se confundiam e se misturavam. Por uma prerrogativa chamada “padroado”, herdada ainda da Monarquia portuguesa, o monarca era simultaneamente o chefe do Estado e o representante supremo da Santa Sé no país. Cabia a ele nomear bispos e padres, que recebiam salários do governo e lhe deviam obediência, como todos os demais funcionários. Também por esse privilégio competia ao imperador sancionar bulas e decisões papais antes que entrassem em vigor no país. Tudo isso funcionou relativamente bem até meados do século XIX, quando as cisões começaram a aflorar.
Uma das divergências dizia respeito à maçonaria. Alvo de críticas por parte da Igreja, a maçonaria tinha grande influência na política brasileira. Entre os maçons proeminentes da época estava José Maria da Silva Paranhos, o visconde do Rio Branco. Chefe do gabinete de ministros responsável pela promulgação da Lei do Ventre Livre, em 1871, Rio Branco era também o grão-mestre — ou seja, líder supremo — da maçonaria brasileira. O próprio imperador Pedro II, embora nunca tenha se filiado à maçonaria, frequentava as lojas e acompanhava com interesse as discussões políticas e filosóficas que ali ocorriam. Por essa razão, o imperador deixou de sancionar algumas bulas do papa Pio IX que proibiam os fiéis católicos de frequentar as lojas maçônicas. Enquanto o soberano não se manifestasse, as decisões do papa não teriam valor legal no Brasil, o que gerou um problema para os bispos e padres, obrigados a optar entre as orientações do Vaticano e as do governo imperial que pagava os seus salários.
O conflito veio à tona em dois episódios quase simultâneos. Em março de 1872, o Grande Oriente do Brasil promoveu no Rio de Janeiro uma festa em homenagem ao visconde de Rio Branco pela promulgação da Lei do Ventre Livre. Entre os presentes estava o próprio imperador. O orador escolhido para homenagear o ministro foi um padre maçom, José Luís de Almeida Martins. Fiel à orientação do papa, o então bispo do Rio de Janeiro, dom Pedro Maria de Lacerda, qualificou o ato de indisciplina e puniu o sacerdote com a suspensão de suas ordens.[261] Na mesma época, uma loja maçônica do Recife mandou celebrar missa em comemoração ao seu aniversário de fundação. O bispo de Olinda, dom Vital Maria Gonçalves de Oliveira, proibiu a cerimônia e determinou a excomunhão de todo fiel católico que continuasse a frequentar as lojas maçônicas.
Posição semelhante foi adotada pelo bispo de Belém, dom Antônio de Macedo Costa, em solidariedade ao colega pernambucano. Chamado a opinar, o governo anunciou que, antes de responder ao papa, bispos e padres brasileiros deviam obediência ao imperador. “O bispo é um empregado público”, determinava o parecer assinado pelo senador Nabuco de Araújo, pai do abolicionista Joaquim Nabuco. Em 1874, dom Vital e dom Macedo Costa foram julgados e condenados a quatro anos de prisão com trabalho forçado, pena depois reduzida para prisão simples por interferência do imperador Pedro II.[262]
Católica fervorosa, a princesa Isabel, que estava em viagem à Europa, tomou as dores dos bispos. “O governo quer-se também meter demais em coisas que não deveriam ser de seu alcance”, protestou em carta enviada ao pai. A seu ver, o governo imperial deveria zelar pelos direitos dos cidadãos brasileiros e pelo cumprimento da Constituição, mas nada disso faria sentido “se não obedecemos em primeiro lugar à Igreja”.[263] Em 1875, os bispos foram anistiados mediante um acordo diplomático previamente negociado com o Vaticano. Maçons e republicanos, porém, nunca se conformaram com o desfecho do caso e menos ainda com o papel desempenhado pela herdeira do trono. A concessão da anistia aos bispos foi atribuída à influência da princesa Isabel. A vingança viria duas décadas mais tarde, às vésperas do golpe republicano.
Isabel foi herdeira do trono brasileiro por 43 anos, entre 1846, ano de seu nascimento, e 1889, data da queda da Monarquia. Governou o Brasil em três ocasiões, na condição de princesa regente, sempre durante as viagens de seu pai ao exterior. Além dela, só outras oito mulheres em todo o mundo ocuparam o posto de autoridade máxima de seus países durante o século XIX: Maria II, de Portugal (a filha primogênita de dom Pedro I); Vitória, da Grã-Bretanha; Isabella II, da Espanha; Liliuokalani, do Havaí; Guilhermina, da Holanda; Maria Cristina de Bourbon, de Napóles; Maria Cristina de Habsburgo, da Espanha; e Emma de Waldeck e Pyrmont, da Holanda.[264]
Mulher e candidata ao mais alto posto na administração pública do Brasil imperial, Isabel era uma excentricidade em um mundo masculino, conservador e patriarcal. No século XIX, prevalecia no país a noção de que as mulheres deveriam ser educadas para assumir o papel de esposa e mãe. Por lei, estavam proibidas de votar e serem votadas. A elas estava também proibido o acesso ao ensino superior, privativo dos homens, o que obrigou a carioca Maria Augusta Generoso Estrela, primeira médica brasileira, a obter o diploma em Nova York, em 1881, conforme se viu em capítulo anterior. Defendido já em 1832 pela potiguar Nísia Floresta (precursora do abolicionismo, da República e da luta pela igualdade de gênero no Brasil), o direito das mulheres à educação e ao voto demoraria um século para virar realidade. O sufrágio feminino, ignorado pela primeira Constituição brasileira, de 1824, seria novamente recusado pela primeira assembleia constituinte republicana, de 1891, e só incorporado ao Código Eleitoral por Getúlio Vargas em 1932, ainda assim com restrições.
Ao assumir a regência pela primeira vez, em maio de 1871, com 25 anos e nenhuma experiência política, Isabel viu-se à frente de um gabinete ministerial composto de sete homens maduros e circunspectos. Caberia a ela, ainda que temporariamente, governar um país de 10 milhões de habitantes e dimensões continentais. Em vez de se assustar, escreveu uma carta bem-humorada ao pai, que estava na Europa:
Coisa tão esquisita ver-me assim do pé para a mão uma espécie de imperador sem mudar de pele, sem ter uma barba, sem ter uma barriga muito grande.
Na mesma carta, brincava dizendo que um eventual colapso do ministério na ausência do pai a deixaria de “calças pardas”, expressão equivalente a “borrar a cueca” no ambiente masculino.[265]
Isabel nasceu no final da tarde de 29 de julho de 1846, depois de um prolongado trabalho de parto da mãe, a imperatriz Teresa Cristina. Seguindo a tradição, o pai, dom Pedro II, a levou imediatamente à presença de um grupo composto de ministros, conselheiros de Estado e dos presidentes da Câmara e do Senado — todos homens. Como exigia a lei, ali mesmo firmou-se uma declaração oficial em três vias na qual todos a reconheciam como herdeira presuntiva ao trono. A pequena princesa foi alimentada por uma ama de leite branca e católica, selecionada na comunidade de imigrantes teuto-suíços de Nova Friburgo, e batizada no dia 15 de novembro daquele ano na capela imperial do Rio de Janeiro com água benta trazida do rio Jordão, na Palestina (o mesmo rio em que o profeta João Batista batizara Jesus Cristo, segundo os Evangelhos). Recebeu o nome de Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga. Até a adolescência, assinava as cartas como Isabel Cristina, ou apenas as iniciais “IC”.
Na infância, Isabel submeteu-se com a irmã, Leopoldina, um ano mais nova do que ela, a um formidável programa de educação concebido pelo pai.[266] A rotina diária de estudos prolongava-se por nove horas e meia, seis dias por semana. Incluía aulas de latim, inglês, francês e alemão, história de Portugal, da França e da Inglaterra, literatura portuguesa e francesa, geografia e geologia, astronomia, química, física, geometria e aritmética, desenho, piano e dança. Mais tarde, passaram a incluir também o italiano e o grego, história da filosofia e economia política. No começo, o imperador encarregava-se pessoalmente das aulas de geometria e astronomia. Chegou a escrever um tratado sobre astronomia para as princesas.
Ao completar catorze anos, em 1860, Isabel foi oficialmente apresentada à corte em cerimônia pública. Um cortejo de seis carruagens escoltadas por funcionários do palácio e dois esquadrões de cavalaria saiu do Paço de São Cristóvão levando a princesa. Ao chegar ao prédio do Senado, no centro do Rio de Janeiro, foi recebida por uma comissão de parlamentares. No plenário, como previa o regimento, jurou “manter a religião católica apostólica romana, observar a Constituição política da Nação brasileira e ser obediente às leis e ao imperador”.
Isabel estudou muito, mas curiosamente, vivendo numa sociedade conservadora e masculina, cresceu ignorante das peculiaridades do próprio corpo. É o que se depreende da carta que escreveu ao marido, o conde d’Eu, em agosto de 1865. Referia-se ao próprio ciclo menstrual: “Este mês eu tive menos o meu período, já não o tenho hoje. Diga, será que não terei o período no próximo mês se você não voltar? Eu não sei nada dessas coisas, querido, e não me atrevo a perguntar senão a você”. Nesse mesmo ano, recebeu do marido, em viagem com o imperador Pedro II ao sul do país, rigorosas instruções sobre como se comportar na sua ausência:
Nunca recebas homens, a não ser na companhia de outra mulher
Não relaxes na postura: fica erguida e bem plantada nos dois pés
Cuida do teu físico
Todas as noites e na missa, reza pelo Brasil, por mim e por teu pai
Relê tudo isto algumas vezes
Obediente ao marido, Isabel respondeu também por carta:
Li o teu bilhete e vou tentar fazer o que me pedes[267]
Como era comum nos regimes monárquicos, o casamento com o conde d’Eu resultou de uma longa e meticulosa discussão entre o Império brasileiro e algumas das famílias reais mais importantes da Europa. Dom Pedro II pessoalmente cuidou de tudo, conduzindo uma negociação em bloco, que incluiu o destino não só de Isabel, mas também da filha mais nova, Leopoldina. Coube a ele pesquisar, negociar e acertar o casamento de ambas. Em carta ao cunhado, príncipe de Joinville, que o ajudou a encontrar os candidatos na Europa, reafirmou que Isabel “há de casar com quem eu escolher, no que ela concorda por ser muito boa filha”. Isabel e Leopoldina só souberam da identidade dos futuros maridos vinte dias antes que chegassem ao Rio de Janeiro. Eram os primos Luís Filipe Maria Fernando Gastão de Orleans, o conde d’Eu, e Luís Augusto Maria Eudes de Saxe-Coburgo-Gotha, o duque de Saxe, também conhecido como Gousty. Tinham 22 e 19 anos, respectivamente.
A negociação, que durou seis meses, “muito se assemelhou a uma transação imobiliária moderna”, na definição do historiador britânico Roderick J. Barman, autor de uma biografia da princesa Isabel.[268] Os contratos de casamento previam, entre outras coisas, transferência de propriedade, rendas vitalícias previstas em orçamento público, indenizações em caso de algum imprevisto. “Nós lhe despachamos mercadoria de primeira”, comemorou o rei da Bélgica, Leopoldo I, tio dos dois rapazes, ao saber que estavam a caminho do Brasil. Como se, de fato, fossem mercadorias, os noivos eram descritos em detalhes nas cartas trocadas entre as autoridades envolvidas na transação. Um exemplo é a carta que o príncipe de Joinville teve a precaução de enviar a dom Pedro II em fevereiro de 1864, na qual enumerava as qualidades e também um defeito do futuro genro do imperador:
Ele é alto, forte, bonito, bom, gentil e muito simpático, muito instruído, amante do estudo e, ademais, já tem certo renome militar, 21 anos. É um pouco surdo, é verdade, mas não tanto que chegue a ser uma enfermidade.
O imperador respondeu em seguida dizendo ter repassado todos os detalhes às princesas:
Transmiti-lhes a informação (...) sem omitir, porém, a surdez do conde d’Eu, a fim de evitar qualquer surpresa.
Curiosamente, enquanto os noivos viajavam para o Brasil, ainda não se sabia exatamente quem casaria com quem. O acordo previamente negociado por dom Pedro II e o cunhado previa apenas que os dois primos se casariam com as princesas brasileiras, sem especificar a quem estavam destinados. A historiadora Mary Del Priore conta que, durante a viagem a bordo do navio Paraná, que os trouxe da Europa, Gastão e Gousty teriam disputado as noivas em jogos de cartas e até em dados.[269]
Só a 4 de setembro de 1864, dois dias após o desembarque dos noivos no Rio de Janeiro, o imperador Pedro II teve condições de comunicar oficialmente ao representante francês encarregado de acompanhar os rapazes na condição de conselheiro que Isabel escolhera Gastão, ficando Gousty para Leopoldina. Uma anotação no diário da princesa Isabel confirma a incerteza da escolha até aquele momento:
Pensava-se no conde d’Eu para a minha irmã e no duque de Saxe para mim. Deus e os nossos corações decidiram diferentemente.
A primeira impressão dos noivos ao ver Isabel e Leopoldina no Rio de Janeiro não foi nada boa. “As princesas são feias”, afirmou o conde d’Eu em carta à irmã, Marguerite d’Orleans, que morava em Londres. “Mas a segunda é decididamente pior do que a outra, mais baixa, mais atarracada e, em suma, menos simpática”, completou, referindo-se a Leopoldina. Em outra correspondência, duas semanas mais tarde, alertou a irmã: “Para que não te surpreendas ao conhecer minha Isabel, aviso-te que ela nada tem de bonito; tem sobretudo uma característica que me chamou a atenção. É que lhe faltam completamente as sobrancelhas. Mas o conjunto de seu porte e de sua pessoa é gracioso”. Mesma avaliação faria meses mais tarde o tio de Isabel, príncipe de Joinville, ao conhecê-la durante a viagem de lua de mel na Europa. “A mulher é feia na plena expressão da palavra”, relatou à irmã, Clementina. “Ela é uma princesa feia, mas tem um ar bom e evidentemente recebeu uma educação muito acurada.”[270]
Isabel e o conde d’Eu casaram-se em cerimônia realizada na capela imperial em 15 de outubro de 1864, dia em que uma tempestade de granizo causou grandes estragos no Rio de Janeiro. Para comemorar o casamento, a princesa pediu ao pai que libertasse dez escravos do Palácio de São Cristóvão. O casal passou sua primeira noite e mais duas semanas em Petrópolis, na casa da família de uma amiga de infância da princesa, antes de seguir para a Europa em viagem de lua de mel que incluiu Portugal, Inglaterra, Bélgica, Alemanha, Áustria e Espanha.
Sabe-se da iniciação sexual da princesa, nessa primeira noite, pela carta que ela escreveu ao marido um ano mais tarde:
Decerto esta noite eu vou dormir mais do que há um ano, mas que diferença! Eu estava agitada, é verdade, mas, deves compreender, estava tão contente e feliz!!!
Em outra carta, no dia seguinte, novas recordações:
Hoje faz um ano que me deste um beijo de manhã, ao te levantares. Como isso me agradou!!!
Começava ali uma relação apaixonada, que duraria pela vida toda, mas uma sombra haveria de turvar os anos iniciais do casamento: o casal demorou dez anos para ter filhos — o que afinal de contas era a principal obrigação da herdeira do trono brasileiro, segundo observou a historiadora Mary Del Priore. Fofocas maldosas na corte perguntavam se a princesa seria infértil ou se o “reprodutor” francês não funcionava. Enquanto isso, para constrangimento ainda maior do casal imperial, os cunhados Gousty e Leopoldina tinham um filho por ano.
Em 1869, ainda às voltas com as dificuldades em ter filhos, o conde d’Eu conseguiu convencer o imperador Pedro II a enviá-lo para a Guerra do Paraguai.
Era uma reivindicação antiga. Até então, ele sentia-se inútil e pouco prestigiado no Rio de Janeiro. Ir para a guerra seria uma forma de demonstrar seus talentos militares e também assumir as altas responsabilidades que julgava merecer na administração do Império. “Fragilizado na cama, é provável que quisesse compensar sua frustração nos campos de batalha”, observou Mary Del Priore. “Se não era capaz de insuflar vida, podia semear a morte.”[271]
O conde d’Eu foi nomeado comandante supremo das tropas brasileiras no Paraguai no dia 22 de março de 1869 em razão de uma crise envolvendo o então marquês de Caxias, cuja liderança havia sido, até aquele momento, fundamental para a vitória dos aliados. Em janeiro daquele ano, as forças aliadas haviam entrado finalmente em Assunção, uma cidade abandonada à própria sorte pelo ditador paraguaio Solano López, a essa altura refugiado na cordilheira. Idoso e enfermo, Caxias, comandante em chefe da Tríplice Aliança, achava que, com a ocupação da capital inimiga, o conflito, iniciado em 1864, chegara ao fim.
Caçar Solano López seria prolongá-lo muito além do necessário. “A guerra chegou ao seu termo”, proclamou na ordem do dia expedida a 14 de janeiro. “O Exército e a esquadra brasileira podem ufanar-se de haver combatido pela mais justa e santa de todas as causas.” Não era esse, porém, o entendimento de dom Pedro II. “Eu não negocio com López! É uma questão de honra, e eu não transijo!”, escreveu o imperador em carta à amiga condessa de Barral.[272] Contrariado, Caxias pediu demissão e voltou para casa sem dar satisfações ao governo imperial. Caberia ao conde d’Eu terminar a tarefa fazendo a caçada a Solano López. “Seria uma etapa despida de glórias”, observou o historiador Vasco Mariz.[273]
Ao chegar a Assunção, o conde d’Eu tinha 27 anos de idade. Um oficial brasileiro, Alfredo d’Escragnolle Taunay, futuro visconde de Taunay, que o conheceu na ocasião, registrou em suas memórias detalhes curiosos de sua aparência e personalidade:
Um narigão temível, (...) desajeitado, deselegante, frequentemente despenteado, vestia-se mal, não dançava bem, instável no trato diário, meio surdo, avarento e propenso ao desânimo e à depressão (...). Seu sotaque áspero, por vezes demasiado acentuado, desagradava.[274]
Estranhamente, uma das primeiras decisões tomadas pelo conde ao chegar ao Paraguai foi abolir a escravidão no país vizinho. A notícia causou enorme surpresa entre os brasileiros. Por um lado, confirmava os sinceros sentimentos abolicionistas da família imperial brasileira. Por outro, criava uma dissonância entre a realidade do país vencedor e a do vencido. O Brasil que impunha a abolição no Paraguai era ainda um país escravocrata convicto. O pior, no entanto, ainda estava por vir.
O ditador paraguaio foi morto pelas tropas brasileiras na localidade de Cerro Corá em março de 1870, mais de um ano após a ocupação de Assunção. Acuado e sem meios de se defender, usou como escudos mulheres, crianças, velhos e adolescentes, que foram trucidados sem piedade pelas tropas brasileiras. Os números são imprecisos, mas alguns historiadores falam em mais de 100 mil mortos, entre 10% e 15% da população paraguaia, de 1 milhão de habitantes nessa época. O massacre, considerado desnecessário por muitos estudiosos, manchou de maneira irremediável a biografia do conde d’Eu. Júlio José Chiavenato, autor de uma história do conflito sob a ótica da esquerda de 1979, o acusou de “sádico” e “sanguinário”, responsável por “uma crônica fantástica pelos crimes que cometeu”.[275] Francisco Doratioto, um pesquisador mais equilibrado e criterioso no uso das fontes, ainda assim o descreveu como um criminoso de guerra, capaz de degolar prisioneiros desarmados e executar a sangue-frio mulheres, crianças e adolescentes na caçada final a Solano López.[276]
De regresso ao Rio de Janeiro, em abril de 1870, o conde d’Eu foi recebido com festas nas ruas e homenagens oficiais. Logo chegariam ao fim também suas angústias conjugais. Em 15 de outubro de 1875, Isabel deu à luz o tão aguardado primogênito, batizado com o nome do avô, Pedro de Alcântara. O segundo filho, Luís, viria em 1878. O terceiro, Antônio, em 1881. “Afinal, o reprodutor francês funcionava bem...”, cutucou o historiador Vasco Mariz.[277] A felicidade do casal, no entanto, seria rapidamente ofuscada pelas dificuldades políticas enfrentadas pela Monarquia brasileira.
Isabel e o conde d’Eu se tornaram o alvo predileto dos ataques da campanha republicana, acusados de serem os responsáveis por virtualmente todas as mazelas nacionais. Entre outras críticas, o conde era apontado como dono de cortiços miseráveis no centro do Rio de Janeiro, onde exploraria de forma desumana os moradores pobres cobrando-lhes aluguéis extorsivos. Diziam até que cobrava pessoalmente esses aluguéis. Um de seus biógrafos, o historiador e sociólogo potiguar Luís da Câmara Cascudo, garante que nada disso era verdade.[278] Nem por isso a imprensa republicana lhe dava trégua.
“Gastão de Orleans, conde d’Eu, (...) é o futuro imperador do Brasil”, sentenciou a República Federal, da Bahia, em abril de 1889. “É clerical, intolerante, monarquista de direito divino, aristocrata, usurário, avarento. (...) O que esperar deste rebento corrompido, filho degenerado de uma família que traz no sangue o gérmen de todos os vícios que coram de apresentar-se à luz do sol?”[279] Em público, o conde suportava tudo em silêncio, mas reclamava da situação nas cartas enviadas à família na Europa. “Estou cansado de ser usado aqui como bode expiatório pela imprensa, ostensivamente responsabilizado por tudo, sem na realidade ter voz nem influência”, queixou-se em correspondência ao pai.
Isabel, por sua vez, era atacada pelo conservadorismo e pelo apego extremado à religião católica. O fanatismo da princesa causava profunda irritação nas lideranças políticas, que a viam mais empenhada em cumprir suas obrigações religiosas do que em preocupar-se com os destinos do país. “Estou convencido de que o terceiro reinado será uma desgraça”, escreveu em dezembro de 1887 o jornalista João Capistrano de Abreu a José Maria da Silva Paranhos Júnior, futuro barão do Rio Branco. “A princesa não tem popularidade e, infelizmente, faltam-lhe muitas outras qualidades para ocupar o lugar do pai”, reforçou o Jornal do Commercio, o mais importante da época.[280]
Essas críticas eram compartilhadas não apenas pelos republicanos, mas também pelos monarquistas, e continuariam mesmo depois da Proclamação da República. Episódio exemplar disso foi o encontro que o chefe liberal gaúcho Gaspar Silveira Martins, um monarquista convicto, relatou ter tido com a princesa em novembro de 1891, já durante o exílio da família imperial em Paris. Ao tomar conhecimento de que o marechal Deodoro havia dissolvido o Congresso Nacional e implantado uma ditadura de fato no Brasil, Silveira Martins procurou Isabel e insistiu inutilmente para que ela retornasse ao país com a missão de liderar os esforços pela restauração da Monarquia. A princesa, segundo o político gaúcho, teria recusado a proposta alegando ser antes de tudo católica. Como tal, não poderia deixar a cargo de professores brasileiros republicanos a educação dos filhos, cuja alma ela julgava na obrigação de salvar.
— Então, senhora, seu destino é o convento — teria respondido Silveira Martins, dando por encerradas as esperanças de restauração do trono.[281]
A princesa morreu no exílio, em 14 de novembro de 1921, aos 75 anos. Seus restos mortais, transferidos finalmente para o Brasil em 1953, repousam atualmente na catedral de Petrópolis, ao lado do marido, conde d’Eu, e do pai e da mãe, Pedro II e Teresa Cristina. Ainda hoje, mais de um século após a Proclamação da República, Isabel continua a ser uma personalidade popular entre os brasileiros. Entre seus admiradores monarquistas existe até um movimento destinado a convencer a Igreja católica a canonizá-la, ou seja, declará-la oficialmente santa.
Sua popularidade entre as pessoas mais pobres foi comprovada recentemente em concurso nacional promovido pelo Sistema Brasileiro de Televisão, o SBT, rede de comunicação que tem seu público principal nas classes C e D. Em meados de 2012, os telespectadores foram convidados a votar em uma lista de celebridades históricas para a escolha de “O maior brasileiro de todos os tempos”. Como se podia prever, a relação trazia excentricidades como o goleiro Marcos, do Palmeiras, e o bispo Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus. Igualmente previsível foi a vitória final do mineiro Chico Xavier, o médium espírita de Uberaba, Minas Gerais, falecido em 2002. Ainda assim, causou surpresa observar entre os finalistas a princesa Isabel ao lado de Alberto Santos Dumont, superando em popularidade outros nomes importantes, como Tiradentes, os presidentes Juscelino Kubitschek e Getúlio Vargas e o próprio imperador Pedro II.
Notas
[251] Idem, Da Monarquia à República: momentos decisivos, p. 378.
[252] Para a ação da maçonaria na Proclamação da República, ver José Castellani, A maçonaria brasileira na década da abolição e da República.
[253] Maria Fernanda Lombardi Fernandes, “Um radical a ferro e fogo”, Revista de História da Biblioteca Nacional, nº 5, novembro de 2005, pp. 42-45.
[254] Heitor Lyra, História da queda do Império, vol. I, p. 42.
[255] Mary Del Priore e Renato Pinto Venâncio, Uma breve história do Brasil, p. 210.
[256] Roderick J. Barman, Princesa Isabel do Brasil: gênero e poder no século XIX, p. 181.
[257] Carta de Cândido Bernardino Teixeira Tostes (1842-1927) a Saint-Clair de Miranda Carvalho, 7 de julho de 1888, arquivo pessoal de Douglas Fasolato, Juiz de Fora.
[258] “A República Federal”, 11 de novembro de 1888, em The Manuel Cardoso Files — Republican Movement, Oliveira Lima Library, Washington.
[259] Diário Popular de 9 de fevereiro de 1889, em The Manuel Cardoso Files — Republican Movement, Oliveira Lima Library, Washington.
[260] Heitor Lyra, História da queda do Império, vol. I, p. 175.
[261] Lídia Besouchet, José Maria Paranhos, visconde do Rio Branco: ensaio histórico-biográfico, p. 229.
[262] Leôncio Basbaum, História sincera da República, vol. I, p. 262.
[263] Roderick J. Barman, Princesa Isabel do Brasil, p. 184.
[264] Ibidem, p. 16.
[265] Ibidem, pp. 158-159.
[266] A expressão é de Roderick J. Barman, idem, p. 67.
[267] Ibidem, pp. 71 e 111.
[268] Ibidem, p. 87.
[269] Mary Del Priore, “Consortes nos trópicos: dois príncipes da casa de França no Brasil”, Revista do IHGB, nº 444, p. 281.
[270] Carlos Tasso de Saxe-Coburgo e Bragança, A intriga: retrospectiva de intricados acontecimentos históricos e suas consequências no Brasil Imperial, p. 159.
[271] Mary Del Priore, “Consortes nos trópicos”, Revista do IHGB, nº 444, p. 283.
[272] Lídia Besouchet, Exílio e morte do imperador, p. 90.
[273] Vasco Mariz, Depois da glória: ensaios históricos sobre personalidades e episódios controvertidos da história do Brasil e de Portugal, p. 309.
[274] Alfredo d’Escragnolle Taunay, Memórias do visconde de Taunay, pp. 452-454.
[275] Júlio José Chiavenato, Genocídio americano: a guerra do Paraguai, pp. 141 e 142.
[276] Francisco Doratioto, Maldita guerra: nova história da guerra do Paraguai, pp. 396 e seguintes.
[277] Vasco Mariz, Depois da glória: ensaios históricos sobre personalidades e episódios controvertidos da história do Brasil e de Portugal, p. 315.
[278] Luís da Câmara Cascudo, Conde d’Eu, pp. 110-112.
[279] “A República Federal”, 28 de abril de 1889, em The Manuel Cardoso Files — Republican Movement, Oliveira Lima Library, Washington.
[280] Roderick J. Barman, Princesa Isabel do Brasil, p. 255.
[281] José Murilo de Carvalho, D. Pedro II: ser ou não ser, p. 236.
Texto de Laurentino Gomes em "1889" Editora Globo, São Paulo, 2013. Digitalizado, adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.

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