Leopoldo Costa
No século XI a Igreja teve 19 papas e quatro antipapas. Bento IX, um da família do conde de Túsculo, foi papa durante três períodos.
A igreja viveu uma época de turbulência. Para a grande maioria dos papas, foi em período mais voltado ao poder temporal do que aos cuidados com a religião.
O comando da igreja foi dominado pela família do conde de Túsculo que desde a primeira década do século X e até a metade do século XI elegeu sete papas. (Vide referindo ao assunto o nosso artigo ‘A Era da Pornocracia’).
Depois o comando passou aos poderosos reis Henrique III e Henrique IV da Alemanha e Sacro Império Romano que elegeram e destituíram papas até quase o final do século.
Durante o pontificado de Leão IX (1049-1054), por falta de habilidade diplomática dos legados enviados a Constantinopla para negociar, ocorreu à separação da igreja cristã oriental da romana (Cisma do Oriente em 1054), que persiste até hoje.
O século XI é considerado pelos historiadores o século de início da Baixa Idade Média, caracterizada pela decadência do Feudalismo que atingiu o seu apogeu no século anterior, depois que a Europa ficou livre das constantes invasões que periodicamente a atormentava.
A população da Europa cresceu e obteve dos senhores feudais permissão para ocuparem áreas junto aos castelos, mosteiros e conventos, dando origem aos burgos, que mais tarde tornaram-se cidades.
O arado feito de ferro, os moinhos de vento, a substituição do boi pelo cavalo na lida agrícola permitiu o desenvolvimento da agricultura e maior produção de alimentos, minimizando os cruéis períodos de fome que assolava a Europa de tempos em tempos.
Fatos importantes dos pontificados do século XI
Silvestre II. (999 a 1003)
Foi um intelectual nascido na França e bispo de Ravena na Itália, sendo eleito papa por aclamação pela população de Roma. Com muita sabedoria e bom senso conseguiu aplacar por algum tempo a violenta ditadura do senador Crescêncio no governo da cidade.
Com a conversão da Hungria ao Cristianismo, no ano 1000, nomeou Estevão como o seu primeiro rei. Depois Estevão foi considerado santo. Silvestre também conseguiu converter a Rússia ao Cristianismo e reorganizou a igreja da Alemanha.
João XVII (1003)
Era italiano de Fermo, vila próxima a Roma e foi sagrado papa em junho de 1003. Morreu em dezembro do mesmo ano. Para evitar confusões, pois teve um antipapa no século anterior que adotou o nome de João XVI, usou o nome de João XVII, fazendo com que a relação oficial de papas não tenha um João XVI.
Conseguiu converter o rei Olavo da Suécia ao Cristianismo e, por conseguinte todo o país.
João XVIII (1003 a 1009)
Foi coroado papa no dia de Natal de 1003. Tentou durante o seu pontificado de seis anos evitar o rompimento da igreja grega de Bizâncio com a romana. Conseguiu que os Bizantinos reafirmassem a primazia do bispo de Roma sobre toda a igreja cristã. Era italiano de Áscoli Piceno.
Sérgio IV (1009 a 1012)
Era bispo de Albano e descendente de uma rica familia romana. Dedicou-se a construção de mosteiros. Tentou organizar uma Cruzada para deter a invasão dos Turcos, mas morreu antes de concretizar a sua idéia.
Bento VIII (1012 a 1024)
Era da família do conde de Túsculo que antes dele, tinha elegido quatro papas, e ficou depois dele, dominando a igreja até o ano de 1048. Foi eleito durante uma grande tumulto em Roma quando o senador Crescêncio já deposto impugnou a sua eleição, escolhendo um antipapa (Gregório) para o seu lugar.
Bento VIII com a sua família conseguiu dominar a rebelião e nomeou o seu irmão Romano como prefeito da cidade de Roma. Fez acordos de paz com diversas repúblicas e reinos da Europa e com os Sarracenos e Normandos.
João XIX (1024 a 1033)
Seu nome era Romano, irmão do papa anterior e prefeito de Roma. Era leigo e para poder ser papa, colocado no cargo por sua poderosa família, teve que primeiro receber todas as ordens sacras. Em 1027 coroou Conrado como imperador romano-germânico e teve alguns problemas com a igreja Bizantina.
Foi mecenas de Guido d’Arezzo, músico criador das sete notas musicais.
Bento IX (1033 a 1044; 1045; 1047 a 1048)
Como a família do conde de Túsculo tinha completo domínio sobre Roma, escolheu como papa um inexperiente jovem da família com apenas 20 anos de idade, chamado Teofilato. Incompetente na administração foi deposto e forçado pela população revoltada a fugir para Cremona. Foi reconduzido ao cargo em 1045 ficando apenas alguns meses, sendo novamente deposto, fugindo desta vez para Marselha na França. Com a desordem provocada pela morte do papa Clemente II envenenado em 9 de outubro de 1047, sua família aproveitou e reconduziu Bento IX ao papado que durou oito meses. Renunciou ao papado em junho de 1048 e foi viver no seu castelo em Túsculo. Foi o único papa que teve três períodos de pontificado.
Silvestre III (1045)
Eleito pelo clero indignado com os desmandos da família do conde de Túsculo. Porém em alguns meses os partidários do conde retomaram o controle da cidade e depuseram o papa Silvestre, chamando de volta o papa Bento IX para reassumir o cargo.
Gregório VI (1045 a 1046)
Foi acusado de ter oferecido dinheiro a Bento IX para não voltar a Roma. Convocou um concílio em Sutri para, com o apoio do poderoso rei Henrique III da Alemanha, homologar a deposição de Bento IX e de Silvestre III, que estava escondido em um mosteiro. Com o conhecimento público da sua atitude de oferecer dinheiro ao papa deposto Bento IX, não suportou as pressões vindo a renunciar em 1046, indo para um mosteiro em Colônia na Alemanha. Deixou a igreja sem comando.
Clemente II (1046 a 1047)
Com a falta de comando na igreja, o poderoso rei Henrique III, que era também o imperador do Sacro Império Romano, colocou no cargo de papa, um aliado, o alemão Suidger, bispo de Bamberg. Conseguiu libertar o papado da influência das famílias romanas. O papa viajava frequentemente com o rei, seu protetor, vindo a falecer numa destas viagens em Pésaro em 9 de outubro de 1047, possivelmente envenenado pelos seus inimigos da nobreza.
Dâmaso II (1048)
Com a forçada retirada da família do conde de Túsculo do controle da igreja, o rei Henrique III que continuava a ter muito poder sobre os cardeais e bispos, decidiu que o papa fosse outro alemão, o bispo de Brixen, que chamava Popon. Dâmaso ficou doente e governou apenas um mês.
Leão IX (1049 a 1054)
O rei Henrique III convocou uma reunião de bispos (Dieta de Worms) que apontou como papa o alemão Bruno de 46 anos, da família dos condes de Nordgau. Ele era bispo de Toul. Assumiu o trono em 2 de fevereiro de 1049. Conseguiu pacificar toda a península itálica e colocar os Normandos como aliados, na sua luta com os Sarracenos.
Enviou uma missão a Constantinopla para evitar o cisma da Igreja Bizantina, que por inabilidade no trato com a questão, chegou a excomungar o patriarca Miguel Cerulário e todos os seus seguidores provocando a reação da igreja e o cisma foi oficializado em 1054. Dizem que o papa não ficou sabendo do fracasso pois morreu antes da volta dos legados.
Vitor II (1054 a 1057)
Nobre alemão da família dos condes de Calw e era bispo de Eischstadt, sendo eleito papa sob a influência do rei Henrique III. Muito doente, faleceu em 28 de julho de 1057, quando regressava a Roma depois de ter ido assistir o sepultamento do seu protetor o rei Henrique III.
Estevão IX (1057 a 1058)
Veio da Alemanha com o papa Leão IX e Vitor II o nomeou cardeal. Foi eleito papa em 2 de agosto de 1057 vindo a falecer em 29 de março de 1058. Fez tentativas para reatar com a igreja oriental, sem sucesso.
Nicolau II (1059 a 1061)
Era francês e bispo de Florença. Foi coroado papa em 24 de janeiro de 1059. Foi ele que ampliou o número de cardeais e decidiu que só eles poderiam eleger o papa, procurando reduzir as influências das famílias romanas e dos reis na eleição. Foi um dos poucos papas independentes do século. Com a demora de nove meses para a sua eleição surgiu um antipapa (Bento X) eleito de forma totalmente irregular.
Alexandre II (1061-1073)
Era italiano da familia do conde de Baggio e bispo de Lucca. As famílias romanas e os nobres descontentes com as normas de eleição do papa, determinadas pelo papa Nicolau II, elegeram o bispo de Parma como papa, que adotou o nome de Honório II. Foi um antipapa que para ser deposto exigiu muita luta armada e governou uma ala da igreja até 1072. Alexandre II soube se impor e conseguiu ser legitimado. Expulsou os Mouros da Sicília, com a ajuda de exércitos dos reinos europeus que conquistou como aliados.
Gregório VII (1073 a 1085)
De origem humilde foi amigo e aluno do papa Gregório VI e do papa Leão IX antes deles serem papas. Publicou decretos proibindo o concubinato de padres e dos bispos aceitarem investiduras por parte de leigos, o que provocou o descontentamento do rei Henrique IV da Alemanha e do Sacro Império Romano, que declarou guerra ao papa. No dia de Natal de 1075, durante a celebração da missa, foi preso pelos soldados de Henrique IV e levado para uma torre. O povo de Roma revoltado o libertou trazendo-o de volta ao cargo. O rei indignado o depôs e a ordem não foi acatada. Henrique IV foi excomungado pelo papa, obrigando-o mais tarde em 1077 a dura humilhação de ir a Canossa, onde o rei compareceu ante ao papa vestido humildemente e pediu perdão. Foi perdoado mais voltou a armar outras ciladas para o papa que o excomungou pela segunda vez. Henrique IV invadiu Roma, nomeou um antipapa (Clemente II) obrigando-o a coroá-lo rei. Gregório foi exilado no castelo de Santo Ângelo, foi transferido para Salerno, onde morreu em 25 de maio de 1085.
Vitor III (1086 a 1087)
Foi nomeado cardeal pelo papa Nicolau II e eleito papa em 1086, tendo de lutar contra Henrique IV e o antipapa Clemente II. Inseguro, deixou Roma logo depois da coroação para viver num mosteiro de Montecassino, onde ficou durante um ano. Voltou a Roma sob proteção dos normandos e da condessa Matilde. Doente e cansado de viver esta situação atribulada retornou para o mosteiro onde faleceu em 16 de setembro de 1087 sendo papa durante 16 meses, porém exerceu pouca atividade como tal.
Urbano II (1088 a 1099)
Era francês e foi chamado a Roma por Gregório VII que o nomeou bispo de Óstia. Foi o primeiro papa eleito fora de Roma, num conclave na cidade de Terracina, devido os distúrbios que ocorriam em Roma. Só conseguiu entrar em Roma com a ajuda dos normandos, porém grande parte da cidade estava sob o domínio do antipapa Clemente e teve que permanecer isolado na ilha Tiberina. Mais tarde conseguiu expulsar Clemente e fixar residência no Vaticano, onde ficou pouco tempo, pois atacado pelos partidários de Clemente foi obrigado a fugir e a se refugiar na Normandia. Só em 1094 conseguiu voltar a Roma e forçar Clemente a fugir para a corte do rei Henrique IV.
Foi com ele que se se iniciou o movimento das Cruzadas. Durante o concílio de Clermont em 1095 foi abençoada por ele a primeira cruzada contra os infiéis, que depois de diversos contratempos entrou em Jerusalém em 15 de julho de 1099.
Ele nunca ficou sabendo da vitória, pois morreu 14 dias depois do acontecimento.

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