Leopoldo Costa
Existem várias manifestações folclóricas no Brasil que têm o boi como objeto. As principais são:
i. O BOI BUMBÁ
O ‘Boi Bumbá’ começou a ser festejado no final do século XVIII. A festa mais famosa e grandiosa é a de Parintins, no Amazonas, considerada o maior evento folclórico do mundo.
Também ocorre nos estados do Maranhão, Pernambuco, e Alagoas e Amazonas. No Recife a festa é conhecida como ‘Bumba’ ou ‘Boi-Calemba’. Em Alagoas é conhecida como ‘Três-Pedaços’. Inicia-se sempre com cantos de louvores religiosos e depois, começa a festa profana. Existem alguns personagens comuns, como o vaqueiro (Arlequim), o delegado de polícia (Doutor), O padre (Mateus) e um casal de escravos (Bastião e Catirina). O personagem central é o boi, representado por um homem vestindo uma fantasia de boi bem colorida e toda enfeitada. Tem também as ‘mutucas’ que são as ‘mulheres’ do boi. O cortejo é acompanhado por instrumentos simples, como palminhas, maracás de lata, caixinhas e zabumbas. As palminhas são dois pedaços de madeira, batidos um contra o outro para fazer o ritmo da dança.
Diz a lenda que numa fazenda havia uma escrava que estava grávida(Catirina) e teve um enorme desejo de comer língua de boi. Uma mulher grávida não podia passar vontade de comer alguma coisa, pois prejudicaria a criança que poderia nascer com a aparência do objeto do desejo. O marido (Bastião), um escravo de confiança foi no pasto laçou, derrubou no chão, e abateu um dos bois da fazenda, retirou a língua e cozinhou para a mulher. A carne ele distribuiu para os outros escravos que a muito tempo não comiam carne fresca, só carne seca. O dono da fazenda quando deu falta do boi ficou furioso, o escravo tinha escolhido o boi mais bonito, e resolveu puni-lo exemplarmente.
O escravo sabendo da fúria do patrão fugiu para o mato mais foi capturado e levou uma surra de deixar marcas em todo seu corpo. Para não morrer de apanhar, o escravo fez uma promessa e pediu para o fazendeiro chamar um feiticeiro conhecido que ele faria o boi ressurgir. O fazendeiro mesmo incrédulo chamou o tal feiticeiro. Ele chegou, fumou cachimbo, fez algumas orações em voz alta e de olhos fechados e o boi apareceu vivo de novo, berrando no pasto. O milagre espalhou-se entre todos os habitantes da região.
Antigamente toda pessoa que patrocinava uma festa era para pagar uma promessa. No caso do ‘Caprichoso’ de Parintins, era patrocinada pelos irmãos Roque e Antonio Cid, da cidade de Crato, no Ceará. Ao chegarem a Parintins por volta de 1910, fizeram uma promessa a são João Batista para serem bem sucedidos. O sucesso dos negócios dos irmãos foi grande e colocaram um ‘boi’ para homenagear o santo. Com a ajuda de José Furtado Belém criaram o famoso ‘Caprichoso’ em 1913, que tem a cor azul como símbolo.
O seu eterno rival o ‘Garantido’ surgiu de outra promessa também a são João Batista, feita por Lindolfo Marinho da Silva, o Lindolfo Monte Verde (1902-1979), que pediu a cura de uma hemorróida crônica. Foi atendido e em 1919 criou a agremiação, que tem a cor vermelha como símbolo.
A festa evoluiu-se tornando nos dias de hoje tão importante como o carnaval do Rio de Janeiro, com desfile de carros alegóricos, no entando incorporando muitos bois e as lendas da Amazônia, seus mitos, tradições e costumes.
ii. O BOI SANTO.
O Boi Santo foi um movimento supersticioso que aconteceu no sertão do Cariri (Ceará) entre 1918 e 1920, com ampla repercussão em toda a região nordeste.
Conta-se que em 1900, o padre Cícero Romão Batista (1844-1934) recebeu de presente do industrial Delmiro Gouveia (1863-1917), um novilho da raça Zebu (dizem que era um Guzerá) e mandou-o para a sua fazenda da Baixa dos Dantas, em Crato. Quem tomava conta da fazenda era o capataz muito superticioso José Lourenço Gomes da Silva (1872-1946), que ficou conhecido como beato José Lourenço, um filho de escravos de Juazeiro, com pouco mais de vinte anos de idade. José Lourenço ficou encantado com a imponência e mansidão do animal, pois nunca tinha visto outro igual, e deu-lhe o nome de Mansinho.
O animal foi crescendo e cada dia ficando mais bonito com seus chifres longos em formato de lira, orelhas caídas e cupim grande e proeminente. O boi era idolatrado pelo beato, que muito crédulo começou a fazer promessas e a dirigir orações para ele, acreditando que era uma manifestação viva do milagroso padre Cícero.
Narram-se que houve de fato alguns acontecimentos misteriosos, que para José Lourenço, eram milagres do Mansinho.
Um rapaz de Pernambuco fez uma promessa ao boi, para conquistar uma donzela, muito bonita e inacessível para ele. O rapaz conseguiu a sua conquista e a promessa era de dar ao boi Mansinho um feixe fresquinho de capim. Como já estava namorando a moça olheu um feixe de qualquer capim do pasto ressequido do vizinho e levou-o para pagar a promessa ao boi. Mansinho notou que o capim era ruim e além de tudo roubado e recusou a oferta. A moça abandonou o rapaz.
O boi, com a propagação destas histórias, estava ficando famoso por apenas aceitar as ofertas lícitas. As notícias espalharam e o boi estava virando santo, um verdadeiro Ápis, comendo em manjedoura toda enfeitada, usando fitas coloridas nos chifres, no rabo e até uma laçada nos testículos, vivendo coberto de rosários, bentinhos, estampas de santos, colares, correntinhas de ouro e muitas figas.
O boi era servido regiamente, comia papas, bolos e doces e acepipes dos mais variados. Tudo que era proveniente dele virava relíquia: fezes, urina, baba e pelos, que eram comercializados em pequenas porções, a alto preço pelo capataz e seus ajudantes.
O movimento cresceu tanto que chamou a atenção de Floro Bartolomeu da Costa (1876-1926), poderoso chefe político de Juazeiro, que temendo outro movimento como o de Canudos do final do século XIX, procurou o padre Cícero, relatando o que estava acontecendo e o convenceu que a idolatria estava exagerada.
Conseguiu do padre a permissão para sacrificar o boi e acabar com este fanatismo. Mansinho foi abatido em 1912 e a sua carne distribuída secretamente para os mendigos de Crato, sem que eles soubessem a origem da carne.
Os fanáticos seguidores lastimaram muito essa heresia (a morte do Mansinho) e rogaram muitas pragas contra quem o abateu e todos aqueles que tinham comido a sua carne. Muitas coisas que aconteceram depois, segundo os seus seguidores, foram resultado destas pragas, inclusive uma terrível seca do ano seguinte.
iii. O BOI VAQUIM.
O boi Vaquim era um boi místico conhecido no interior do estado do Rio Grande do Sul. Segundo a tradição, ostentava asas e chifres de puro ouro. Os camponeses tinham muito temor do boi, porque emitia fogo pela ponta dos chifres, pelas ventas e tinha olhos brilhantes como se fossem de diamante.
O animal era impossível de ser laçado, tinha que ser muito habilidoso, possuir um cavalo excepcional para conseguir esta façanha e ninguém nunca tinha conseguido. A lenda persistiu na tradição oral dos habitantes do interior, onde muitos casos e lendas são acrescentados.
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