Leopoldo Costa
Os Arianos (ou Árias) eram tribos nômades que viviam na Ásia Central. Ária significa ‘nobre de berço e de raça’. Eram altos e de pele clara. Pastoreando grandes rebanhos de bois e cavalos castanhos, muitas ovelhas, cabras e cachorros, no final do terceiro milênio antes de Cristo, estabeleceram-se no planalto iraniano.
Mais tarde parte deles se estabeleceu no atual Afeganistão, às margens do rio Arios (hoje Hari Hud) e depois, rumaram para o Oriente Médio.
Naqueles tempos, a riqueza de um Ariano era medida pela quantidade de bovinos, equinos, caprinos e ovinos que possuísse. Os animais eram marcados com pequenos cortes nas orelhas.
Já ordenhavam as vacas três vezes ao dia. Como não tinham moeda a vaca era a unidade de troca no comércio, sendo todos os outros produtos tendo-a como referência.
A vaca preta desempenhava um papel nos ritos de funeral e a vaca branca era símbolo da Iluminação.
Outro ramo do mesmo tronco ariano tomou a direção oeste alcançando as estepes da Europa, onde formou diversas tribos.
Os Arianos viajavam também à noite, agasalhados por vestimentas de lã e de peles, parando para um cochilo em locais melhor protegidos do frio cortante, onde faziam as suas refeições sempre a base de carne, leite e a manteiga semilíquida (ghee). Além do leite tomavam ‘sura’, uma bebida alcoólica (cerveja?) preparada com cevada fermentada. Nas refeições do dia consumiam além de carne bovina, ovina e caprina, pepinos, óleo de gergelim, frutas e pães de cevada. Cozinhavam em panelas de barro ou em grandes caldeirões quando mais pessoas tinham que ser servidas, como na celebração de uma cerimônia religiosa. Nestas ocasiões servia-se também uma bebida alucinógena chamada ‘soma’ extraída de uma planta e misturada com leite. Essa bebida também era usada como oferendas aos deuses.
Era uma raça de guerreiros, usando com eficiência seus carros leves e rápidos com rodas radiais, puxados por treinados cavalos. Mas, ao invés de conquistar outros povos praticando violências, eles infundiam respeito e admiração e iam dominando a todos com requinte e diplomacia.
Não conheciam a escrita, mas eram muito inteligentes e de boa memória, capazes de preservar por tradição oral, uma literatura que serviu de base para as crenças religiosas. Mais tarde criaram a língua sânscrita, na qual foi baseada toda a riqueza cultural da Índia.
A língua sânscrita tinha uma variedade de termos para designar os animais e suas características. Havia palavras próprias para designar a vaca parida, a vaca estéril, a vaca fácil de ordenhar etc.
Organizaram-se em tribos lideradas por um chefe militar e um chefe espiritual, o sacerdote. Todos da tribo juravam lealdade ao grupo o que deveria ser demonstrado na defesa do bem comum. A sociedade era patriarcal e os guerreiros podiam ter várias esposas.
O roubo de gado era frequente e tinha que ser contido. Mesmo entre tribos arianas roubavam o gado uma das outras.
Pesados arados de bronze puxados por quatro juntas de bois faziam sulcos profundos revolvendo bem o solo, para receber as sementes. Pela qualidade do clima e regularidade do sistema de chuvas podiam-se obter duas colheitas de cereais por ano. Cortavam a foice os feixes de cevada que tinham os grãos separados pelo pisoteio dos bois ou em manguais.
Também dedicavam à caça. Criavam para este fim os cachorros apropriados, diferentes dos cachorros treinados no pastoreio dos rebanhos. O javali e os veados eram os animais mais caçados.
Atravessando a cadeia de montanhas Hindu Kush, invadiram o norte da península indiana por volta de 1500 a.C. Aprenderam com os primitivos habitantes da Índia, o cultivo da cana de açúcar usando a garapa para adoçar os alimentos.
Os poemas tornaram-se a fonte de informações sobre a cultura própria ariana. O período védico é marcado pela compilação do livro sagrado dos Vedas. A palavra ‘Veda’ significa ‘ciência’, ‘conhecimento’, portanto o ‘Livro dos Vedas’ era o livro do conhecimento. Existiram muitos tomos, porém só quatro sobreviveram que foram o ‘Rig-Veda’ (Hinos de Louvor), o ‘Sama-Veda’ (Melodias), o ‘Iadjur-Veda’ (Fórmulas de Sacrifício) e o ‘Atarva-Veda’ (Mágicas). Um dos mais importantes era o ‘Rig Veda’, coligido pelos poetas entre os anos de 1500 e 900 a.C.. É formado de 1058 hinos para serem cantados nas cerimônias de sacrifícios. Não é apenas um hino religioso louvando a divindade, mas sim a narrativa de vários aspectos da vida dos Arianos. Cantavam entre outras coisas, a importância da terra, porque fornecia pastagens para seus rebanhos. Oravam aos deuses e ofereciam sacrifícios para que recebessem muita riqueza em ‘animais, carros de combate e mulheres fortes e bem nutridas.’ Outro trecho celebrava ‘ o garfo de experimentar o caldeirão de carne, as tigelas onde o caldo era colocado, as panelas e os pratos’.
Quando solicitavam favores aos deuses, para uma boa colheita, uma boa quantidade de crias no rebanho ou a felicidade no casamento, sempre prometiam algo em troca, era exigida uma oferenda a altura do pedido.
Os sacrifícios eram administrados por sacerdotes especiais remunerados com vacas ou ouro. Pode ser exagero, mas em um registro, fala-se em uma remuneração de 1.000 vacas paga por uma pessoa a um sacerdote. Os animais de criação eram os principais oferecidos em sacrifícios, porem no Rig Veda existe menção de sacrifício humano. Os animais menores eram abatidos com um golpe de machadinha que decepava a cabeça.
Um ritual especial existia para o sacrifício de cavalos. O animal ficava solto vagueando no campo, sem fazer nenhum trabalho pelo período de um ano. Os guerreiros seguiam o cavalo e demarcavam o terreno percorrido que era reivindicado pelo rei. Os rivais podiam aceitar a demarcação ou lutar para derrubá-la. Se o rei aceitasse a reivindicação, o cavalo era sacrificado, prendendo suas patas e deitando-o num pano. No Rig Veda é cantado o final do sacrifício: ‘a machadinha atravessa os 34 ossos da costela do cavalo de corrida que é o companheiro dos deuses.’
Peças desossadas e com osso da carne eram oferecidas a diversas divindades, que deveria ter seu nome proclamado em voz alta. Está escrito no Rig Veda: ‘Não é amigo o homem que não dá seu próprio alimento ao seu amigo. O homem que come sozinho chama infortúnios sobre si mesmo.’
A divindade mais popular era Indra, representado como uma entidade de barba grosseira, cujo apetite era descomunal. Era invocado para socorrer nos combates. Ostentava um raio nas mãos.
Quando morria um Ariano seu corpo era enterrado ou incinerado. A morte era regida pelo deus Yama, que permitia aos espíritos dos bons cruzarem a ponte rumo ao paraíso, onde a felicidade total era eterna. Haveria muita comida, bebida, musica e mulheres. Os espíritos dos maus iam para o inferno, que era descrito como um local de total escuridão, um abismo sem fundo onde permaneceriam para sempre.
O rei tinha sua autoridade sujeita a auditoria de um poderoso sacerdote chamado ‘purohita’. O poder do sacerdote era tão grande que o rei o presenteava com vacas, cavalos, ouro e escravas, para torná-lo mais condescendente.
Alcançando as margens do rio Indo com seus vales férteis regados pelos afluentes, denominaram a região de Sapta Sindhu que significa ‘vale dos sete rios’ escolhido como local adequado para acomodar suas famílias e seus rebanhos.
Para isto tiveram que lutar com as tribos dos Drávidas para tomar posse do local. Dos Drávidas incorporaram muitas palavras e crenças que transformaram em fundamentos de uma nova religião que hoje é denominada Hinduísmo.
A divisão da sociedade em castas foi implantada quando os arianos ocuparam o vale do rio Ganges. A palavra ‘casta’ significa ‘cor’ e chamavam os povos de pele escura de ‘dasas’, que mais tarde veio a significar ‘escravo’. O Rig Veda ensina que as quatro castas procedem de partes diferentes do corpo da divindade: os sacerdotes ‘brâmanes’ vieram da boca, os governantes e guerreiros ‘xátrias’ vieram dos braços, os agricultores e mercadores ‘vaixiás’ vieram das coxas e os criados e escravos ‘sudras’ vieram dos pés. A liderança era dos ‘brâmanes’ que tinham o controle do ensino e da religião. A casta era hereditária e não era permitido a união conjugal entre membros de castas diferentes, nem participarem de refeições na mesma mesa e nem consumirem alimentos preparados por pessoas de outra casta. Qualquer transgressão a estas normas era punida com a exclusão da casta e a então a pessoa era considerada ‘pária’.
Uma mudança importante foi a compilação de uma série de ensinamentos denominado Upanixades, que ao pé da letra significa ‘sentar-se diante de si mesmo’, que instigava a meditação. Muitos fiéis desencantados com a filosofia védica decidiram levar uma vida de eremita e percorreram o país ensinando a todos os que se interessassem.
Em 700 a.C existiam 16 reinos arianos na Índia, principalmente nos vales dos rios Indo e Ganges. Em 520 a.C. os persas conquistaram o vale do Indo, transformando a região numa província do império.
Foi emitido em torno de 350 a.C, um documento chamado de ‘Código de Manusmriti’ (Manu), dentre outras considerações, instruía o povo para não comer carne de vaca. Concomitantemente o governo emitiu uma norma mais severa, considerando como crime roubar, molestar ou matar uma vaca. Mesmo que o animal estivesse doente, seu proprietário não poderia sacrificá-lo.
As fezes e a urina da vaca eram consideradas pelos indianos como sagrada. Os pecadores esfregavam estes excrementos no corpo como agentes de limpeza.
O período Budista começou quando o rei Asoka (304-232 a .C), terceiro rei da dinastia dos Maury, tornou oficial a religião pregada por Sidarta Gautama, o Buda (563-483 a.C), que apesar da oposição dos ‘brâmanes’ espalhara entre a população. Um dos pontos fortes era a dura crítica ao regime de castas.
O rei Asoka, decretou que nenhum animal ou ser vivo, fosse oferecido em sacrifício. Depois, da morte de Asoka em 232 a.C e da pressão violenta dos ‘brâmanes’, o Budismo foi proscrito.
Durante o predomínio da dinastia Gupta, fundada por Biar, que governou a península, principalmente Sind e Punjab, no século IV da nossa era, a agricultura progrediu bastante, havendo fartura de arroz, trigo e açúcar.
No período do império Vijaynara que durou de 1336 a 1556, também houve grande abundância de alimentos. A corte não consumia carne bovina, porém tinha a disposição uma grande variedade de outros tipos de carne.
Para avaliar o que havia disponível na época, no mercado de Bisnaga podia ser encontrado para venda carne de carneiro, carne de porco, carne de veado e de outras carnes exóticas.
O embaixador da Pérsia no reinado de Devaraya II (1419-1446) chamado Abdul-ur Razak, relatou que recebia uma provisão diária ‘de dois carneiros, quatro pares de aves, cinco mãos de arroz, uma mão de manteiga, uma mão de açúcar e dois ‘varahas(?)’ de ouro’.
Manasollasa (c. 1131) na sua enciclopédia preparada por solicitação do rei Someswara Chalukya (1122-1138) descreveu métodos para o preparo de diferentes tipos de carnes: de porco (vahahapalalam), de veado (sarangajan), de coelho (sasodbhavan), de aves (paksinamapi sarvesam) e de rato do mato (kshetasambhutah).
Purandara Dasa (1484-1564), escritor indiano, escreveu em 1540 um documento que condenava o homem que comia rabanete azedo e cebola.
O poeta Srinatha, (1365-1441) demonstrava preocupação em saber que em Karnata, a população consumia alho e gergelim.
O viajante Batata (1304-1377) descreveu em pormenores as refeições e os hábitos alimentares dos indianos de sua época.
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