3.05.2011

HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DE GADO NA VENEZUELA


Leopoldo Costa

O território que hoje compreende a Venezuela foi um dos primeiros habitados pelo homem na América do Sul, possivelmente cerca de 15 mil anos atrás. No entanto, não há registros de que estas terras tenham sido palco de uma grande civilização pré-colombiana, como ocorreu em outros países andinos e da América Central.

No final do século XV várias tribos habitavam o território venezuelano. Dentre eles destacavam-se, por serem aguerridos e antropófagos, os Arauacos e os Caraíbas. Também existiam os Guajiras, que eram agricultores e pescadores, que habitavam a peninsula que hoje tem o nome da tribo (peninsula La Guajira).
Outras tribos viviam mais ao sul e eram nômades e primitivas, Os Timotes e os Cuiscas viviam na cordilheira dos Andes e já praticavam a agricultura em terraços e tinham relacionamento comercial com os chibchas da Colômbia.

Em 1° de agosto de 1498, Cristóvão Colombo (1451-1506) na sua terceira viagem, descobriu a ilha de Trinidad e no dia 5 aportou no continente, na costa sul da península de Paria, na enseada da Yacua, onde desembarcou alguns cavalos. A seguir descobriu as ilhas de Margarita e La Blanca.

No ano seguinte buscando a pesca de pérolas, próximo a ilha Margarita (a Costa das Pérolas) chegaram os espanhóis Cristobal Guerra (m.1504) e Pedro Alonso Niño (1468-1502).  Pedro participou da primeira expedição de Colombo, comandando a caravela La Niña e Cristobal era comerciante de pérolas.

Outra expedição comandada por Alonso de Ojeda (1465-1515) na qual participaram Juan de la Cosa (1460-1510) e Américo Vespúcio (1453-1512) percorreu a costa desde o extremo leste até o cabo de La Vela. Diz a lenda que encontraram em Maracaibo uma aldeia indígena construída sobre palafitas e lembrando de Veneza deram ao país o nome de Venezuela.

O primeiro povoamento espanhol foi na ilha de Cubágua em 1500, com 50 homens trazidos de Hispaniola para explorar a pesca de pérolas. Mais tarde transferiram-se para o continente.

Gonzalo de Ocampo (?) era um rico criador de gado e proprietário de terra em Santo Domingo. Em 1514 foi convidado pelo governador Nicolas de Ovando (1460-1511) para participar de uma expedição pacificadora que seria enviada a costa de Cumaná, onde estava ocorrendo rebeliões dos nativos que estavam sendo usados na pesca de pérolas. Faltava alimentos e até água potável.  Antes de partir, Gonzalo vendeu uma manada de vacas para Lucas Vazques de Ayllón (1475-1526) e com o dinheiro comprou 75 escravos índios Lucaios. Queria vendê-los com lucro para os pescadores de pérolas para substituir os escravos nativos.
Em 1521 fundou a aldeia de Cumaná que foi depois destruída numa rebelião de nativos. A aldeia já tinha alguns missionários franciscanos, desde 1515.
Jácome Castellón (?) reconstruiu a cidade em 1523 de deu-lhe o nome de La Revolucíon.

Juan de Ampies (?) em 1527 fundou Santa Ana de Coro, que foi a escolhida a primeira capital da Venezuela em 1528. Em 1525 ele escreveu uma carta ao rei solicitando autorização para estender as suas conquistas. Pela Cédula Real de 17 de novembro de 1526, foi-lhe autorizado seu poder sobre as terras conquistadas do cacique Manaure (Zulia e Yaracuy), assim como as ilhas de Curaçao, Aruba e Bonaire.

Em 1532 Diego de Ordás (1480-1532) foi um participante da expedição de Hernán Cortez e ficou conhecido por ter subido até a cratera de um vulcão durante a conquista do México, para coletar enxofre para produzir pólvora. Conseguiu a admiração de todos. Mais tarde, por autorização do rei organizou uma expedição de 500 homens e partiu do porto de Sanlúcar em busca do lendário El Dorado. Chegou a Venezuela em 1532, adentrou a foz do rio Orinoco e subiu o rio até a sua confluência com o rio Meta. Também explorou todo o vale neste percurso assim também como as regiões de Marañon e Maracapana.
Marcelo Villalobos em 8 de março de 1525 conseguiu do rei Carlos V (1500-1558) a concessão da ilha de Margarita. Ele morreu antes de tomar posse, mas sua esposa Isabel Manrique tomou posse e governou a ilha até 1535. Seus filhos governaram a ilha até 1593.  Foi a sua família o pioneiro na introdução de gado bovino na Venezuela. Em 1527 ela recebeu da Real Audiência espanhola o direito de enviar gado bovino e outros tipos de animais para a ilha. Diversos carregamentos foram feitos por ele e a ilha foi povoada por muitos bois, vacas e touros.

Por uma capitulação de 1528 o rei Carlos V (1500-1558) criou a provincia da Venezuela. No dia 27 de março de 1528 ele celebrou com os banqueiros alemães Welser um contrato pelo qual eles teriam o arrendamento da província da Venezuela mediante o cumprimento de algumas exigências:
·       Deveriam enviar uma esquadrilha de quatro navios com duzentos homens armados equipados para ajudar o governador de Santa Marta na pacificação do seu território.
·       Teriam o direito de descobrir, conquistar e povoar as terras situadas a leste de Santa Marta, do cabo da Vela até Macaparana, o que seria os limites da província.
·       Deveriam fundar neste território, no prazo de dois anos depois da chegada, os povoados com 300 habitantes cada ano e a construir três fortalezas.
·       Deveriam enviar a província 50 especialistas em mineração para explorar as minas de ouro e prata.
Ambrose Von Alfinger (1500-1533) foi escolhido pelos Welser como o primeiro governador. Assumiu em 1529 e permaneceu até a sua morte. Deixou fama de ter sido o mais cruel e bárbaro dos administradores da Venezuela. Foi morto pelos índios num combate.

Em 1535 assumiu como governante Jorge de Spira ou Georg Hoemuth (m. 1540), que organizou a exploração do rio Guaviare. Na sua administração Nicolas de Federmann (1505-1542), explorou o altiplano colombiano.
Desembarcaram em Santa Ana de Coro algumas centenas de cabeças de bovinos e ovinos. A escassez de pastagens naturais naquele trecho do litoral venezuelano não permitiu o desenvolvimento desejado da atividade e perderam-se muitas cabeças de gado.

Em 1546, depois que morreu o governador alemão Philipp von Hutten (1505-1546), os Welser decidiram abandonar o projeto, mas oficialmente só em 1556 a coroa espanhola cancelou oficialmente a concessão.
Diego de Losada (1511-1569) fundou Santiago de León de Caracas em 25 de julho de 1567 em um vale habitado pelos índios caracas.

Em 1643, os holandeses comandados por Johannes von Walbeeck conquistaram Curaçau e a partir da ilha vieram a dominar o comércio de escravos e o cultivo de cacau na Venezuela.
Em meados do século XVI, quando Diego Hernandez de Serpa (1510-1570) era governador geral da Venezuela, foi efetuada uma tentativa de incentivo a criação de gado no continente e para isto foram importadas 800 cabeças de vacas da ilha de Margarita (da família Villalobos) e distribuídas por diversos locais da costa do país.  

Na primeira metade do século XVII a Venezuela exportava para a Espanha 180.000 couros por ano.
Em 1728 o rei Felipe V (1683-1746) concedeu a ‘Real Compañia Guipuzcoana’ o monopólio do comércio dos produtos da região. A Real Compañía Guipuzcoana de Caracas operou de 1730 a 1785 e tinha o monopólio do comércio venezuelano. Ela foi fundada em 1728 por um grupo de ricos comerciantes bascos sob a liderança do conde de Peñaflorida Xavier Maria de Munibe y Idiaquez (1723-1785) e o objetivo principal era quebrar o monopólio do comércio e produção de cacau na Venezuela. Ela era a única empresa que poderia importar mercadorias da Europa e exportar os produtos venezuelanos. Depois de diversos rebeliões de protesto contra a companhia, a maior acontecida em 1749 liderada por Juan Francisco de León (1699-1752) a coroa espanhola decidiu acabar com o monopólio da companhia em 1785.

A indústria de carne congelada começou em 1910. O abatedouro frigorífico de Puerto Cabello fez um embarque para a Europa em 7 de agosto deste ano no navio ‘Star of Victoria’ de 7.121 quartos de bovinos, pesando 440 toneladas. Os proprietários da fábrica eram um grupo de investidores na sua maioria ingleses e a sede da empresa ficava em Londres.

Existe na Venezuela a raça autóctone Limonera, derivada dos primitivos bovinos trazidos na época da colonização. A mais de 30 anos em Zulia, ás margens do rio Limón, a Estação Experimental Carrasquero do ‘Fondo Nacional de Investigaciones Agropecuarias de Venezuela’ vem conduzindo um projeto de melhoramento e preservação da raça. Os animais são semelhantes aos da raça Costeña con Cuernos da Colômbia.

Em 1940 o rebanho venezuelano era de 3,1 milhões de bovinos. Como a população humana era de 3,8 milhões de pessoas, existia 0,8 bovino para cada habitante. Em 1938 o país exportou 514 mil dólares de 
couros e em 1946 exportou 468 mil dólares.

Evolução do rebanho nos últimos 45 anos:

(000)
1961
1965
1970
1975
1980
1985
1990
1995
2000
2005
Bovinos
6.500
7.155
8.289
9.089
10.539
11.844
13.272
13.950
15.164
16.615
Caprinos
1.200
1.270
1.276
1.304
1.337
1.340
1.650
1.173
1.205
1.342
Equinos
426
401
423
455
478
495
495
500
500
500
Suinos
1.750
1.666
1.601
1.880
2.280
2.935
2.904
2.975
2.810
3.264
Ovinos
100
90
140
237
344
254
351
482
471
525

Em 1995 a produção leiteira venezuelana foi de 1.370 milhões de litros e nasceram 1.961.000 bezerros.
A criação de suínos é uma atividade secundária e só começou a desenvolver mais notoriamente a partir da década de 1980, pela procura pela indústria de matéria prima para a fabricação de presuntos e embutidos. Foi nessa ocasião que introduziram no rebanho os suínos de melhor qualidade e precocidade como o Landrace, Yorkshire e Poland China. Em 1995 foram abatidos 2.238.000 cabeças de suínos.




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