3.05.2011

HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DE GADO NOS ESTADOS UNIDOS

Leopoldo Costa

A cinco séculos o território dos Estados Unidos era povoado por diversas tribos de indios peles-vermelhas, que nunca passaram  de um milhão de indivíduos.

A hipótese mais aceita é que são de descendência Mongol e passaram para a América  pelo estreito de  Bering à cerca de 25 mil anos. Dedicavam a caça e a pesca e uma agricultura bem primitiva, principalmente de milho, feijão e abóbora. Tinham alguns objetos feito de cerâmica, teciam panos grosseiros e fabricavam armas de pedra e madeira.

As tribos construiam grandes cabanas de toras de madeira onde conviviam dezenas de famílias e no sudeste construiam cabanas de adobe.
Pertenciam a três grandes grupos linguísticos: Agonquino, Iroquês e Pueblo.
Os Algonquinos viviam da costa do oceano Pacífico até a Virgínia e a Nova Inglaterra. Foram eles que ensinaram aos colonos a moer o milho para fazer fubá e como cozinhá-lo e a fazer canoas cavando os troncos de arvores.
Os Iroqueses viviam mais ao sul, ao longo da cordilheira dos Apalaches e eram bastante aguerridos.  Cinco tribos deste grupo (Mowack,Oneida, Onondaga, Cayuga e Sêneca) se uniram numa confederação sobre a liderança de Hiawatha, no final do século XV. Eles protegiam os colonos britânicos contra os franceses e os Algonquinos.

Os Pueblos viviam no atual território do Novo Mexico e Arizona. Eram caçadores e pescadores.
As tribos que viviam na Grande Planície eram as únicas nômades, pois acompanhavam as manadas de bisões. Moravam em 'tepees' que eram tendas feitas com couro de bisão. Muitas destas tribos foram totalmente exterminadas pelos colonizadores europeus. 

As lendas dos Vikings contam que no ano 1000, Leif Ericson e  seus comandados, partindo da Islândia e impelidos pelas correntes marítimas, desembarcaram num ponto da América do Norte que denominaram Vinland. A localização deste ponto é controvertida argumentando alguns que pode ter sido Rhode Island ou Massachusetts.

Em 1497 e 1498, o explorador italiano Giovanni Caboto (John Cabot) com uma carta patente da coroa britânica empreendeu duas viagens de exploração, com a autorização para tomar posse de tudo que fosse descoberto. Descobriu a Terra Nova (Newfoundland). Contrariando o Tratado de Tordesilhas estas viagens foram a base das reivindicações britânicas sobre a América do Norte.

Em 1513, Ponce de León (1460-1521) descobriu a Flórida. Estava procurando Bimini, a ilha fabulosa onde estaria situada a fonte da juventude.

Panfilo de Narvaez (1470-1528) em 1528, explorou a parte setentrional do golfo do México.

Hernando de Soto (1500-1542), em busca das minas de ouro, adentrou pelo rio Mississippi.

Francisco Vásquez de Coronado (1510-1554) penetrou no território hoje ocupado pelo Texas, Novo México e Arizona, subiu o rio Colorado e descobriu o Grand Canyon.

Em 1524, o italiano Giovanni Verrazano (1485-1528) em nome do rei francês Francisco I, explorou a costa atlântica  dando-lhe o nome de Nova França e Acadia.

Em 1535, Jacques Cartier (1491-1557) navegou o rio São Lourenço até o Canadá.

Samuel de Champlain (1567-1635) fez várias viagens à America por ordem de Henrique IV e com um grupo de colonizadores fundou Quebec no Canadá em 1608. A partir dali fez várias explorações no território norte dos Estados Unidos.

Em 1579, Sir Humphrey Gilbert (1539-1583) foi enviado a América pela rainha Elizabeth I da Inglaterra para  investir na posse das terras descobertas por Caboto. Encontrou uma frota espanhola e teve que desistir.  Em 1583 fez nova tentativa e teve sucesso.

Seu meio-irmão Sir Walter Raleigh (1552-1618) em 1584/1585 organizou uma expedição e atravessou o Atlântico. Tomam posse da ilha de Roanoke e fundaram o primeiro núcleo de colonização inglesa na América, que desapareceu pelo ataque dos índios.

Em 1609 o explorador inglês Henry Hudson (m.1611), sob o patrocínio da Holanda, descobriu o rio que tem o seu nome (Hudson). Em 1614 os holandeses começaram a construir os equipamentos de defesa as margens do rio. Em 1624 chegaram as primeiras 30 familias para iniciar a povoação, que chamou Nova Amsterdam. Em 1626 chegou o primeiro governador Pieter Minuit (1580-1638), que providenciou a compra dos índios da ilha de Manhattan pelo preço equivalente a 24 dólares em panos e bugigangas, para expandir a povoação original. Em 1644 foi Nova Amsterdam conquistada pelos britânicos sob o comando do duque de York, futuro rei Jaime II (1633-1701)  e seu nome foi substituído por Nova York. Em agradecimento o duque recebeu terras em que seus amigos fundaram a colônia de New Jersey. Em 1638, ainda como colônia holandesa, Nova York recebeu os primeiros emigrantes suecos que fundaram ao lado a colônia de Nova Suécia, que mais tarde trocou o nome para Delaware. Tendo passado para o domínio holandês em 1655, Delaware foi depois anexado a Pennsilvania.

No início do século XVII a coroa britânica autorizou a formação de duas companhias de colonização, nos moldes da holandesa Companhia das Indias Ocidentais. As duas foram organizadas em 1605 e ficaram conhecidas como Companhia de Londres e Companhia de Plymouth. A primeira conseguiu uma carta patente para explorar e colonizar entre os paralelos 34 e 41 e a Companhia de Plymouth entre os paralelos 38 e 45.

De fato quem realizou o primeiro assentamento colonial na América foi a Companhia de Londres. Em fins de 1606, o capitão Christopher Newport (m.1617)  numa expedição com três barcos e 120 homens sob o patrocínio da Companhia de Londres, partiu da Inglaterra em direção a Virginia, onde fundou no dia 27 de abril de 1607 o povoado de Jamestown. A intenção dos colonos era ficar para sempre e para isto trouxeram tudo que puderam colocar nas embarcações, desde simples implementos agrícolas, sementes, animais domésticos e até gado de criação. Esses animais deram origem aos rebanhos da região que foram crescendo cada dia. Um dos imigrantes trouxe as duas primeiras novilhas Devon .Em 1611 as primeiras vacas leiteiras foram desembarcadas em Jamestown.
John Smith (1580-1631), para melhorar as condições de vida dos colonos tentou contato com os índios Algonquinos que habitavam a região.  De inicio não teve sucesso o que foi conseguido com a ajuda de Pocahontas (1595-1617), filha do cacique, que mais tarde veio a se casar com John Rolfe (1585-1622), o introdutor da cultura do fumo na colônia. A cultura do fumo para exportação tornou-se a principal atividade econômica da colônia. Na década de 1610 chegou a Virginia o primeiro grupo de escravos negros para trabalhar nas lavouras. 

Em 1609 foi modificado os termos da carta patente da Companhia de Londres e a coroa nomeou Sir Thomas Delaware (1597-1618) como governador geral da Virginia que conseguiu fixar os colonos na terra. 

Em 1619 os colonos elegeram uma Câmara de Burgueses, que foi o primeiro exemplo de governo representativo dos Estados Unidos. Neste mesmo ano vieram da metrópole um grupo de donzelas que foram disputadas pelos solteiros e terminaram por serem ‘leiloadas’ para quem oferecesse o maior lance.

Em 1622 a colônia sofreu uma forte decadência o que motivou a Coroa britânica a cancelar a concessão da Companhia de Londres e transformar Virginia numa colônia real.


Em 1620, um grupo de 100 homens e mulheres, os Pilgrims, chegou em Plymouth, Massachusets à bordo da embarcação ‘Mayflower’. Na Inglaterra, não aceitaram a conversão para o Anglicanismo e  foram perseguidos. Conseguiram permissão para estabelecerem em Virgínia, mas o piloto da embarcação errou o rumo. Com dificuldades a colônia sobreviveu até 1691, quando, contra a vontade dos habitantes, foi anexada a colônia da baia de Massachusets, fundada em 1630, onde hoje se localiza Boston. Em 1640 já contava com 16.000 habitantes.

Em 1636, Roger Williams, expulso da colônia  pelos puritanos fanáticos, comprou terras dos Algonquinos e estabeleceu a colônia de Rhode Island. Outros descontentes que eram perseguidos em Massachusets, emigraram e fundaram as colônias de New Hampshire e Connecticut

Em 1632 Sir George Calvert (1580-1632), barão de Baltimore obteve uma carta patente que possibilitou a fundação de Maryland, como um refúgio para os católicos hostilizados pelos protestantes de Virginia e os puritanos de Nova Inglaterra. Como faleceu antes, coube a seu filho Cecilius Calvert (1605-1675)  a instalação da povoação de Saint Mary, núcleo inicial da colônia.

Depois da restauração de Carlos II (1630-1685) no trono britânico, foi retomada a emigração para a América. Uma carta patente foi concedida a três lordes e 8 cavaleiros da corte. Em 1663 foi iniciada a colonização e em 1670 foi fundado o porto de Charlestown, núcleo inicial das Carolinas. Em 1721 as duas partes separam-se em Carolina do Norte e Carolina do Sul.

Outra colônia surgiu, tendo como proprietário William Penn (1644-1718), que recebeu uma carta patente real datada de 1681, em recompensa pelos seus serviços militares. Pertencendo a seita dos Quakers, William procurou dar um estatuto totalmente liberal a colônia que iria fundar. Em 1733 fundou Pennsylvania que inicialmente chamou-se Sylvania e foi povoada por emigrantes alemães.

Em 1732, James Edward Oglethorpe (1690-1785), sob orientação do rei Jorge II, embarcou com um grupo de 130 pessoas com o objetivo de tomar posse e povoar a região entre as Carolinas e a colônia espanhola da Flórida. A região passou a denominar-se Geórgia em homenagem ao rei.

Desde o início do século XVII os franceses tinham retomado a exploração dos territórios conquistados por Verrazano e Cartier. Jacques Marquette (1637-1675) e Louis Joliet (1645-1700) exploraram o rio Mississippi na altura de Arkansas e René Robert Cavelier, Senhor de La Salle (1643-1687), continuaria pelo rio Mississippi até o golfo do México, onde fundaria a cidade de Nova Orleans. Toda esta vasta região  foi dado o nome de Lousiania, em homenagem ao rei da França Luís XIV (1638-1715).

Em 1748 manadas de bovinos de origem espanhola trazidas por Colombo (1451-1506) e Cortez (1485-1547), avançaram pelas áreas desabitadas do norte do México transporam o rio Grande e alcançaram o Texas. Procriaram em estado semisselvagem. Pela seleção natural este gado evoluiu desenvolvendo a resistência e a habilidade para sobreviver bem em condições severas da região. Foram a origem da raça Longhorn.

As missões dos jesuítas espanhóis que chegaram ao Texas nos finais do século XVII estabeleceram fazendas de criação de gado que chegaram a possuir um rebanho de 20.000 cabeças. ‘O primeiro ‘rancho’ da Flórida, foi estabelecido em 1605 pelos frades franciscanos e ‘rancheros’ espanhóis, perto da povoação de St. Augustine.

No final do século XVI já havia dezenas de fazendas de criação de bovinos às margens dos rios Panhandle e St. John. Os índios da região aprenderam as técnicas de manejo de gado e começaram a aprisionar os animais sem dono que vagavam nos campos e também a roubar os animais já domesticados de algumas fazendas. As tribos formaram seus rebanhos de bovinos e criaram cavalos apropriados para auxiliar no manejo desse gado.

Em 1521 Ponce de Leon (1460-1521) descobriu e tomou posse da Flórida em nome da Espanha e lá desembarcou algumas cabeças de cavalos e de bovinos. Foi o primeiro desembarque importante de gado nos Estados Unidos. Com o passar do tempo e aproveitando as excelentes pastagens da região, este rebanho desenvolveu bastante. 

Pedro Menendez de Avilés (1519-1574) em 1565 foi outro explorador espanhol que levou algumas cabeças de gado para a Flórida oriental.

As primeiras cabeças de gado procedentes de Cuba chegaram à Flórida em 1640 e outras remessas maiores em 1700. É mencionada a cifra de 20.000 cabeças o que parece exagerado. O gado era de qualidade medíocre, pesando cada rês entre 275 e 360 kg quando pronta para ser abatida.


Foi no século XVII que se iniciou a marcação do gado nos Estados Unidos. O pioneiro foi  o estado de Connecticut que estabeleceu em 1644 a primeira lei obrigando a marcação à fogo de todo o gado bovino e curiosamente também os suínos. As marcas teriam que ser registradas.

Entre 1702 e 1704 a Flórida foi invadida pelos ingleses aliados com os índios Creek  expulsaram os espanhóis que deixaram os seus rebanhos abandonados pelos campos.Esses animais foram aprisionados pelos índios Seminoles, habitantes da região, que a partir destes, se tornaram importantes criadores de gado.
Foram enviados imigrantes ingleses para a região conquistada que passaram a comprar o gado dos índios Seminoles ou mesmo apropriar-se dele à força. Formaram as suas fazendas e conhecedores de melhor técnica de manejo, fizeram a atividade prosperar bastante, havendo um excesso que era comercializado nas redondezas.

No final do século XVII as estradas de ferro atingiram a Flórida e com isso o gado poderia ser embarcado para os centros consumidores.

Os Estados Unidos que era constituído por treze colônias,  em meados do século XVIII já alcançavam 3.000.000 de habitantes e tinha uma agricultura próspera de fumo e algodão, assim como uma importante criação de gado.  Quando o comercio colonial começou a concorrer com o comercio metropolitano, surgiram os primeiros atritos.


Após a Guerra dos Sete Anos (1756-1763), entre a França e Inglaterra, a Inglaterra vitoriosa da guerra se apossou de grande parte do império colonial francês, em especial o Canadá.
O Parlamento inglês decidiu então que os colonos dos Estados Unidos deveriam contribuir para o pagamento das despesas com a guerra, e com  este objetivo aumentou as taxas e os direitos da Coroa sobre as colônias. Sir George Grenville (1712-1777) baixou um decreto taxando o açúcar (Sugar Act), seguidos da lei do selo (Stamp Act) que criava impostos sobre todo o material impresso nas colônias. Uma forte reação determinou a revogação destas normas o que aconteceu em 1766 pelo chanceler marquês de Rockingham (1730-1782), mas, com subida ao poder do novo chanceler Charles Townshend (1725-1756), foram criados novos tributos sobre chá, papel, tintas e vidro. A reação contra os impostos levaram em 1765 a fundação da  'Sociedade  dos Filhos da Liberdade' sob a liderança de John Dickinson (1732-1808) e Samuel Adams (1722-1803), para fazer oposição aos abusos de poder da metrópole e fazer respeitar a autonomia das colônias. A resistência aumentou depois do 'massacre de Boston' em março de 1770, quando tropas britânicas abriram fogo contra os  manifestantes. 

O novo chanceler inglês Lord Frederick North (1732-1792) para apaziguar os colonos, suspendeu as leis impostas por Townshend, mantendo  apenas a taxa sobre a importação de chá. Como protesto, no porto de Boston um carregamento inteiro de chá foi atirado ao mar por membros da 'Sociedade dos Filhos da Liberdade' disfarçados de índios. Em represália a metrópole baixou  em 1774 os chamados  atos intoleráveis:
·      *.  Proibição do uso do porto de Boston, até que os prejuizos fossem ressarcidos.
·      *.  Extradição dos envolvidos no episódio.
·      *.  Limitação de poderes do governador de Massachusetts.
·      *.  Lei do aboletamento ou aquartelamento.

A reação a tais atos foi  à convocação do Primeiro Congresso Continental de Filadélfia (não separatista), quando foi decidido o envio de uma petição ao Parlamento e ao rei solicitando a  revogação dos  atos intoleráveis e foi redigido a Declaração de Direitos, decidindo o boicote as importações, consumo e difusão dos produtos taxados e a criação de comitês para cada uma das 13 colônias, que elegeriam respresentantes para o Congresso Continental. Com isso o rei declarou os americanos em rebeldia e as tropas britânicas  sobre o comando de Thomas Cage (1721-1787) entraram em ação, travando as batalhas de Lexington e Concord, fazendo com que em março de 1775,  fosse convocado o Segundo Congresso Continental  onde se confirmou à necessidade de organizar-se militarmente como meio de garantir os direitos dos colonos. Confirmou George Washington (1732-1769) no comando das tropas e deu a Thomas Jefferson (1743-1826) a liderança de uma comissão encarregada de redigir a Declaração de Independência. Após o conflito dos colonos americanos (com ajuda dos franceses) contra os ingleses, no dia 4 de julho de 1776 os Estados Unidos se declarou-se independente da Inglaterra.

Durante as primeiras décadas do século XVIII e até o ano de 1850 o principal destino do gado criado na Flórida era a exportação para Cuba. Os embarques partiam do porto de Punta Rasa ao sul da atual cidade de Tampa. No ano de 1840 cerca de 30.000 cabeças de gado saíram de Punta Rasa com esse destino.
Com a eclosão da Guerra da Secessão em 1861, paralisou o comércio com Cuba e o gado da Flórida foi todo destinado ao abastecimento do exercito confederado. Cerca de 50.000 cabeças foram confiscadas para a alimentação das tropas.


Em 1843 as cidades de Cincinnati, Cleveland e Chillicothe no Ohio iniciaram a salga de carne bovina. Em 1849 a produção de Cleveland foi de 20.000 barricas com 92 kg cada, resultado de um abate de 12.000 cabeças de bois. A carne salgada não era apreciada pelos imigrantes de origem britânica e só consumida pelos escravos negros e isso não permitiu o progresso da atividade, conforme estava nos planos dos empreendedores.

Os criadores de Ohio iniciaram o envio de gado em pé para os grandes centros consumidores da época, como Nova York, Philadelphia e Baltimore e algumas vezes para Boston. As manadas eram de 100 ou 200 cabeças de novilhos e levavam alguns porcos que seriam abatidos para a alimentação dos condutores do gado. Percorriam de 15 a 20 km por dia. O custo de levar uma cabeça de gado de Cincinnati a Nova York, entre salários e alimentação dos animais ficava em torno de US$ 13 por cabeça.

Entre 1870 e 1880 manadas de gado procedente do Texas foram enviados para Dodge City (Kansas) onde foram leiloadas entre os fazendeiros interessados.

Em 1625 a região hoje ocupada pela cidade de Nova York pertencia aos judeus holandeses que procedentes do Brasil tinham fundado a colônia de Nova Amsterdam. A região foi comprada pelos ingleses que trocaram o nome para Nova York em homenagem ao duque de York. Os novos ocupantes construíram na ilha de Manhattan um muro para proteger os seus animais dos freqüentes ataques dos índios, que roubavam e matavam o gado. Este muro deu origem a famosa Wall Street de hoje, o centro financeiro de Nova York e por acaso também ostenta a estátua de um touro na sua entrada.
Em 1793 os primeiros carneiros Merino chegaram a Nova Inglaterra que com a sua multiplicação formou um importante rebanho produtor de lã. A região num curto espaço de tempo passou a exportar lã e a atividade destacou-se na nova colônia.

Em 1783 foram desembarcados os primeiros Shorthorns na Virginia. Em 1785, a família Patton, estabelecida em Kentucky,também  importou da Inglaterra algumas novilhas Shorthorn, um touro, (chamado Mars) e uma vaca, (chamada Venus). Estes animais foram o embrião para a criação do gado da raça em toda a região.
Entre os anos de 1810 e 1880 houve outras diversas importações de animais  das raças européias de alto rendimento.


Em 1817, Henry Clay de Kentucky importou os primeiros Hereford e em 1881 foi importado o touro ‘Anxiety' , ancestral de grande parte dos Hereford existentes hoje  nos Estados Unidos.
Em 1873, George Grant importou da Escócia 4 touros da raça Angus para a sua fazenda no Kansas. Ele promoveu cruzamentos desses touros com fêmeas da raça Texas Longhorn, produzindo bezerros mais resistentes ao inverno que ganhavam peso na primavera.

Em 1793 na sua segunda viagem ao Havaí. George Vancouver (1757-1798) levou para o arquipélago as primeiras cabeças de gado procedentes da Califórnia. Numa outra viagem em 1794 levou mais 8 vacas e 4 bois. Um macho e uma fêmea morreram logo depois do desembarque. Estas cabeças remanescentes  foram procriando e habitando as pastagens verdejantes das ilhas. O gado tornou-se muito importante para os havaianos. Para proteger o rebanho o imperador Kamehameha II (1797-1824),  no começo do século XIX,  proibiu o abate de bois e o consumo de carne bovina. Este impedimento permitiu rápido desenvolvimento da pecuária, exigindo até a contratação de vaqueiros especializados na Califórnia e outras regiões dos Estados Unidos para cuidar do gado. A proibição de abate e consumo de carne só foi revogada em 1830.


Entre 1866 e 1869 a criação de gado avançou pela grande planície entre o rio Mississippi e as montanhas Rochosas, antes ocupada pelas manadas de bisões. A partir de 1880 passou a ser introduzida no oeste e no sudoeste. O gado era proveniente do Texas.

Na segunda metade do século XVIII foram estabelecidos caminhos por onde passava o gado que saia do Texas para outros destinos do território americano, . Durante o período da Guerra da Secessão (1861-1865), quando muitos homens texanos foram convocados para o exército, suas famílias tiveram que mudar das fazendas para a cidade para se proteger dos frequentes ataques dos índios. Venderam o gado a preços insignificantes para alguns comerciantes que revendiam os animais com muito lucro.
A maioria dos caminhos de gado se dirigia às cidades que tinham estações da recém-inaugurada ferrovia, como Abilene e Dodge City em Kansas, onde o gado poderia ser embarcado em vagões boiadeiros para Chicago, Kansas City, St. Louis e Boston.
Outros caminhos não se dirigiam a estações da estrada de ferro e seguiam para as novas fronteiras de colonização de Wyoming, Montana e outras do noroeste do país, para povoar as novas fazendas recém estabelecidas pelos imigrantes. Em 1890 cerca de 10 milhões de bois foram enviados para estes destinos.


Em 1887/1887 uma forte tempestade de neve seguida por longa seca, dizimou grande quantidade do rebanho das novas fazendas, provocando muitos prejuízos e até a desistência de muitos imigrantes que retornaram para a costa leste de onde vieram.


Em 1840 havia apenas 150  europeus em Oregon. Nos anos seguintes, até 1860, centenas de milhares de novos moradores chegaram a região se estabelecendo nos vales férteis, construiram as suas casas, plantaram as suas roças de milho e de hortaliças, como também cuidavam das vacas e ovelhas que trouxeram. A migração para Oregon é considerada a maior e mais demorada migração por terra da história da humanidade. Muitos imigrantes levavam um pouco mais do que suas roupas em mochilas nas costas. As famílias viajavam em carroças cobertas de pano puxadas por cavalos e eram acompanhados por vacas, porcos, ovelhas e galinhas. Nas carroças levavam sementes, farinha, açúcar, café, feijão, arroz, bacon e sal que eram usados para alimentação durante a viagem e para os primeiros dias na nova terra.


Em 1850 existiam em Ohio 749.067 bovinos, sem contar as vacas de leite e os bois de carros.


O setor de criação de gado começa a organizar. Em 1867 foi fundada em Colorado uma associação de criadores de gado, em 1873 foi fundada a associação de Wyoming, em 1877 a associação do Texas e em 1885 a associação de Montana.

O governo também se preocupou em controlar a atividade. Em 1884 foi instituído o ‘Bureau of Animal Industry’, o embrião do serviço de inspeção federal de carnes criado em 1890, modelo de quase todos os serviços de inspeção de carnes do mundo.

Depois do final da Guerra da Secessão (1861-1865) a cidade de Chicago tornou-se um dos principais centros ferroviários dos Estados Unidos e o polo de distribuição de animais vivos provenientes da Grande Planície, para os mercados da costa leste. Alguns lotes de bois tinham que ser conduzidos até 1.900 km para serem embarcados em vagões boiadeiros em Kansas City no Missouri. Muitos animais morriam na viagem ou perdiam bastante peso e tinham que ser engordados antes de serem vendidos..

Em meados do século XIX foram feitas as primeiras tentativas de transportar produtos perecíveis por via férrea. O primeiro vagão refrigerado para este transporte começou a ser usado em 1851.
Neste mesmo ano foi iniciado o envio de manteiga para Boston, em vagões que usavam gelo em blocos como elemento refrigerador.

A primeira remessa de carne saiu de Chicago em 1857 em vagões comuns de carga seca adaptados com bandejas cheias de gelo. A carne era colocada diretamente sobre o gelo o que prejudicava a sua coloração e o sabor. Não foi aprovado.

A Swift realizou experiências nos meses de inverno, tranportando a carne em vagões sem as portas. O método revelou-se demasiadamente limitado para ter praticidade.

William Davis de Detroit patenteou um carro frigorifico onde as carcaças eram dependuradas acima de uma mistura de gelo e sal. Ele vendeu o projeto em 1868 para George Hammond Hanharmand, um industrial de carne de Detroit que providenciou a construção de diversos vagões para o transporte de seus produtos para Boston. A carga tinha a tendência de ficar balançando quando o vagão fizesse uma curva em alta velocidade o que provocava descarrilhamento dos vagões. Por isso foi interrompido.


Em 1878, a Swift contratou o engenheiro Andrew Chase para fazer um projeto de um vagão onde o gelo e o sal era colocado na parte superior, permitindo que pela entrada forçada de ar todo o ambiente fosse refrigerado. A carne era estivada no piso do vagão e bem amarrada não balançava nas curvas. O sistema permitiu que a Swift distribuisse a sua carne para muitos destinos.
A Swift tentou vender o projeto para as grandes empresas ferroviárias mas não teve sucesso, pois elas tinham efetuado grandes investimentos em vagões boiadeiros, currais e plataformas de embarque. Se o transporte de carne refrigerada tivesse sucesso teriam que aposentar a estrutura montada.
A Swift decidiu construir os vagões frigorificos por conta própria e para isso foi criado uma subsidiária para cuidar do negócio. Em um ano foram colocados 200 unidades em serviço e a Swift estava transportando uma média de 3.000 carcaças por semana apenas para Boston. A Armour, sua principal concorrente, logo iniciou 
também o serviço. Em 1920 a Swift já tinha 7.000 vagões frigorificos.

Bovinos Vivos e Carne em Carcaças Recebidos em  Nova York

Ano
Bovinos Vivos (tons)
Carne refrigerada (tons)
1882
366.487
2.633
1883
392.095
16.365
1884
328.220
34.956
1885
337.820
53.344
1886
280.184
69.769
 Fonte: Railway Review, 29 de janeiro de 1887 , p. 62.

A Matador e Land Cattle Company teve seu início em 1878, quando um criador de gado texano, Henry Harrison Campbell (1840-1911), levou do Texas uma grande quantidade de gado Longhorn  e vendeu-os com um lucro considerável em Chicago. Com o dinheiro na mão, Campbell fez uma parceria com o banqueiro  A.M. Britton  e voltou para o Texas para adquirir mais gado  e estabelecer uma fazenda. Ele escolheu uma área ao longo do rio Pease no parte noroeste do estado.  Em seguida, ele comprou 8.000 cabeças de gado procedente do vale de Pecos no Novo México.
O banqueiro Britton foi para a Escócia em 1882. Lá  conseguiu despertar o interesse de um grupo de empresários que estavam ansiosos para investir em mineração, madeira, terra ou gado. A Matador Land Cattle and Company  recebeu muitos investimentos tornou-se uma sociedade anônima. Começou a comprar terras no Texas  e formou um rebanho de 40 mil cabeças de gado . Em 1890, Murdo Mackenzie (1850-1939) tornou-se o gerente do Matador. Em 1912 Mackenzie deixou a direção da empresa e tornou-se executivo de uma empresa francesa, que sabendo do sucesso dos ingleses, o enviou para o Brasil para instalar frigoríficos para a produção de carne bovina para ser exportada para a Europa. Chegando ao Brasil e com muito capital para investir, estabeleceu a empresa ‘Brazil Land, Cattle and Packing Company’ e adquiriu a maior fazenda do mundo, com quatro milhões de hectares, (quase o tamanho da Suiça) aonde veio a criar 250.000 cabeças de gado. Em 1917 Mackenzie foi convidado a voltar para os Estados Unidos para ser um alto executivo da Wilson. Em 1950, a imensa fazenda brasileira foi dividida em diversos lotes, sendo que as maiores áreas foram vendidas para a empresa King Ranch do Texas e para a Armour.

Em 1905 aconteceu a primeira grande crise no setor de criação de gado nos Estados Unidos. Por excesso de oferta o preço por um bovino adulto caiu de US$ 24 para US$ 15 por cabeça. Foi notada uma pequena recuperação apenas na década de 1910.

Durante a Primeira Grande Guerra (1914-1918) o governo dos Estados Unidos solicitou e incentivou um aumento da produção de carne e foi atendido. Com o término da guerra a produção continuou crescendo, pois não havia como refreá-la instantaneamente. Aconteceu a Grande Depressão da década de 1930 e o mercado tornou-se incapaz de consumir tanta carne. As exportações diminuíram, pois a Europa também estava em crise econômica. Os preços do gado foram reduzidos pela metade e para piorar, ocorreu uma  grande seca quando as pastagens foram destruídas e houve tempestades de poeira tão grandes que ofuscavam a luz solar, forçando as cidades  a acenderem as suas luzes em pleno dia. Ratos e outros predadores famintos invadiram as cidades e os silos, destruindo os alimentos e até os mourões das cercas. As nascentes de água secaram e o gado foi morrendo pouco a pouco.

A recuperação econômica dos criadores de gado foi lenta e gradual e só com a eclosão da Segunda Grande Guerra (1939-1945) ela foi efetivada. Nesta época a economia prosperou e a população tinha dinheiro para comprar carne mais não tinha a oferta necessária, pois 30% da produção estavam reservadas para alimentação das tropas aliadas. Para organizar a escassez foi necessário um controle de quotas de consumo. Os preços no varejo foram tabelados e a carne foi racionada. Esta situação veio a frustrar mais uma vez a esperança dos criadores de gado.
Depois, da Segunda Grande Guerra (1939-1945) o governo norte americano tentou implantar medidas para a recuperação da pecuária,  que inicialmente não surtiu efeito, pois foi impedida pela infectação do rebanho com febre aftosa trazida por carne com osso contrabandeada da Argentina durante o período de restrição ao consumo.

Em 1933 Roosevelt (1881-1945) foi eleito presidente com a promessa de implantar o ‘New Deal’ e de colocar ‘ um frango em cada panela do povo americano’.

Em 1934 foi promulgada o AAA (Agricultural Adjustment Act) sendo a primeira tentativa de regulamentar a economia agrícola. Para evitar oferta exagerada, foi instituído o pagamento pelo governo de uma taxa aos fazendeiros que quisessem reduzir a cultura de alguns cereais que tinham excesso de produção. Também foi estabelecida uma nova política agrícola baseada nos preços vigentes no período de 1910 a 1914. Algodão, trigo, arroz, tabaco, carne suína e leite foram declarados ‘culturas essenciais’, mas a carne bovina tinha ficado de fora.  Os criadores do Texas, que tinham grande poder político, reagiram contra a medida forçando o governo a mudar a regra e incluir a carne bovina. O Congresso dos Estados Unidos aprovou então um programa de ajuda de 63 milhões de dólares para financiar o gado bovino para o abate. O preço era de US$ 14 para cada vitelo e US$ 20 para cada animal adulto. Em 8 meses o governo americano adquiriu 8,3 
milhões de cabeças de gado o que reduziu o rebanho bovina dos Estados Unidos em 11%.

Em 1934 desembarcou nos Estados Unidos os primeiros dois touros da raça Charolês, sendo um presente do secretário da agricultura do México para o criador Mecum Michaelis de Tyle, no Texas.


Na década de 1960, as mudanças nos métodos de transporte e refrigeração, permitiram que as instalações de abate fossem transferidas para as proximidades dos rebanhos, o que proporcionou uma diminuição de custos e  maior eficiência.
Nessa mesma época começou a instalação de grandes matadouros frigoríficos com o objetivo de reduzir os custos fixos sobre cada unidade processada e ganhar na economia de escala. A IBP (Iowa Beef Producers) foi uma das primeiras a adotar essa política. Essa tendência teve o efeito de concentrar a atividade de processamento de carne em poucas empresas.


Passaram a existir abatedouros com a capacidade de abater 1.500.000 cabeças de gado por ano. No final da década de 1980 existiam nos Estados Unidos vinte matadouros frigoríficos com a capacidade de processamento superior a 500.000 cabeças por ano. No início da década de 1990 já eram 32 plantas e em 1996 as cinco maiores indústrias concentravam 75% do processamento de carne do país e todas com capacidade operacional acima de 1.500.000 cabeças por ano. Nesse mesmo período, os cinco maiores 
criadores de gado dos Estados Unidos respondiam por 16% da oferta de gado.

Data da Entrada das Raças Européias nos Estados Unidos



Raças
Ano de Entrada
Shorthorn
1783
Hereford
1817
Angus
1873
Holstein
1852
Jersey
1840
Guernsey
1830
Ayrshire
1822
Charolês
1936
Limousin
1968
Simental
1968
Chianina
1971
Gelbvieh
1971
Salers
1974


Rebanho dos Estados Unidos nos últimos 45 anos


(000)
1961
1965
1970
1975
1980
1985
1990
1995
2000
2005
Bovinos
97.700
109.000
112.369
132.028
111.242
109.562
95.816
102.785
98.198
95.438
Caprinos
3.473
4.060
2.572
1.350
1.400
1.550
1.900
1.850
2.300
2.715
Equinos
2.367
2.719
4.141
4.705
5.013
5.151
5.069
5.130
5.240
9.200
Suinos
55.560
56.106
57.046
54.693
67.318
54.073
53.788
59.738
59.342
60.975
Ovinos
32.725
25.127
20.423
14.515
12.699
10.716
11.358
8.989
7.032
6.135
Fonte: USDA


Os habitantes dos Estados Unidos são os maiores consumidores de alimentos do mundo. Segundo dados da FAO, consomem acima da média mundial, 35% mais calorias, 52% mais proteínas e 100% mais gordura. Segundo o estudo, uma grande parcela deste consumo excessivo se deve ao uso exagerado de produtos de origem animal na dieta alimentar. Um habitante consome 4 vezes mais frango, 2,5 vezes mais carne bovina e 6 vezes mais queijo do que a média mundial.




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