Antes do descobrimento, as terras onde hoje se localiza o estado de Sergipe, eram habitadas por diversas tribos indígenas como Tupinambás, Caetés, Xocós, Aramurus, Quiriris, Aramaris, Abacatiaras, Ramaris, Boimés, Carapatós e Natus.
O litoral já era frequentado por piratas (corsários) franceses em busca do pau brasil. Parte desse litoral, situado entre os estuários do rio São Francisco e do rio Real, foi percorrido em 1501 pela primeira expedição exploradora comandada por Gaspar de Lemos. Devido à falta de portos naturais, o desembarque só foi possível próximo ao estuário do rio Vaza-Barris. Nesta rápida visita os portugueses observaram a abundância de canafístulas[1] na região, uma procurada leguminosa medicinal, muito usada pelos habitantes da Índia e que os mercadores levavam para a Europa para curar algumas doenças. A região sergipana ficou inicialmente conhecida em razão de ser um ponto de coleta desta leguminosa.
Com a adoção do sistema de capitanias hereditárias o território sergipano fazia parte da capitania da Bahia de Todos os Santos e por desinteresse do donatário Francisco Pereira Coutinho ficou abandonada por um longo período. Os franceses aproveitaram deste abandono e fizeram muitos carregamentos de pau brasil e canafístulas. Em 1549, para o estabelecimento do Governo Geral, a Coroa comprou a capitania da Baía de Todos os Santos, incluindo Sergipe.
A primeira iniciativa portuguesa de colonização foi uma expedição comandada por Cristóvão de Barros[2] que em 1575 tentou evitar a constante presença dos franceses, estabelecendo uma feitoria na região. Não teve sucesso.
No mesmo ano de 1575, os jesuítas Gaspar Lourenço e João Solônio, com o respaldo do famoso fazendeiro baiano Garcia D’Àvila (1528-1609), chegaram à região e com o objetivo de catequizar os índios, fundaram as missões de São Tomé nas imediações do rio Piauí (hoje Santa Luzia de Itanhi[3]), a de Santo Inácio, às margens do rio Vaza-Barris (hoje Itaporanga D'Ajuda), e a de São Paulo (em território que hoje pertence ao município de Aracaju). O governador geral Luis de Brito visitou algumas das missões e a sua comitiva assustou e provocou a fuga dos índios aldeados, que ele interpretou como insubmissão, servindo de pretexto para atacá-los. Estes ataques provocaram a morte de centenas de índios que não conseguiram fugir, inclusive do cacique Surubi e aprisionamento do cacique Serigy. Esta ação não contribuiu para a conquista de Sergipe. Mais tarde, Garcia D’Ávila organizou expedição fortemente armada, retornou e com violência expulsou os índios, conquistou seu território, estabelecendo mais fazendas de criação de gado.
Em 1590 foi efetivada a conquista total do território, pelo mesmo Cristóvão de Barros, desta feita comandando uma bem armada expedição com 3.000 homens. Enfrentou os índios, derrotou o temido cacique Boipeba e fundou a vila de São Cristóvão que serviu de base de apoio para o seu avanço para o interior.[4] A partir da fundação da vila foi criado a capitania com o nome de Sergipe Del Rey. São Cristóvão foi a capital até o ano de 1855.
Escreveu frei Vicente do Salvador[5],: ‘Alcançada a vitória, e curados os feridos, armou Cristóvão de Barros alguns caravelões, como fazem na África, por provisão de el-rei, que para isso tinha, e fez repartição dos cativos, e das terras, ficando-lhe de uma coisa, e outra muito boa porção, com que fez ali uma grande fazenda de currais de gado, e outros a seu exemplo fizeram o mesmo, com que veio a crescer tanto pela bondade dos pastos, que dali se provêm de bois os engenhos da Bahia e Pernambuco, e os açougues de carne’.
Mais tarde Cristóvão de Barros teve que enfrentar outros inimigos, que eram os escravos negros foragidos que viviam em quilombos. Os quilombolas foram vencidos e aprisionados com o auxilio dos índios Potiguaras aliados dos portugueses. Alguns da expedição se arriscaram a seguir o curso do rio Cotinguiba ( ou rio Sergipe) e ao adentrar mais para o interior, encontraram sérias dificuldades, enfrentando os franceses que eram aliados aos índios Tupinambás, que os usavam na exploração de pau brasil.
A Coroa concedeu sesmarias aos que quisessem instalar na região e com esta decisão foram estabelecidos vários currais de criação de gado, às margens dos rios Vaza-Barris, Piauí e Real. Escreveu Basílio de Magalhães (1874-1957)[6], que a maior das sesmarias (fazendas de criação de gado) era a de Cristóvão de Barros. No início do século XVII, a colonização continuou rumo ao norte, pelas margens do rio São Francisco.
Felisbelo Firmo de Oliveira Freire (1575-1855)[7] comentou: ‘O sergipano antes de ser agricultor foi pastor’, acrescentando que antes mesmo da região ser colonizada, fazendeiros baianos já aproveitavam o rio Real para criar rebanhos nas vargens de suas margens.
Com a ocupação do território foi sendo desenvolvida a criação de gado, para fornecer carne bovina e animais de carga para as capitanias vizinhas (Bahia e Pernambuco). Já começou a haver uma significativa produção de couro que era exportada.
O nome de muitas cidades sergipanas revela a importância da pecuária em sua fundação, dentre elas, Campos Novos do Rio Real (atual Tobias Barreto), Malhador, Curral das Pedras (atual Gararu). Malhada dos Bois, Feira Nova e Campo do Brito.
Em 1640 quando Portugal ficou livre do domínio da Espanha, Sergipe contava com 400 currais de gado e cerca de 20.000 cabeças de bovinos. Era o principal fornecedor de animais para os engenhos de açúcar da Bahia e de Pernambuco.
O contínuo crescimento do número de currais e da quantidade de bois firmou o predomínio da atividade na economia da região. Tornou-se uma atividade bastante rentável proporcionando aos criadores a formação de fortuna e destaque como classe dominante.
Quando do início da dominação holandesa em 1637, a criação de gado foi prejudicada pois era comum o confisco de gado pelos holandeses, para o abastecimento de suas tropas e funcionários da administração. A recuperação só começou depois de 1645, quando os portugueses reconquistaram a região. Surgiu na época, ajudando a atrair o afluxo de colonos, a lenda das minas de prata na serra de Itabaiana. Os engenhos de açúcar, que durante o domínio holandês foram multiplicados, transformaram Sergipe em importante fornecedor de açúcar. Com o crescimento do cultivo da cana de açúcar logo enriqueceu e destacou o Vale do rio Cotinguiba (também chamado de rio Sergipe), superando o comércio de gado, inicialmente base da economia da capitania.
Em 1696, a região conseguiu sua autonomia jurídica com a criação da comarca de Sergipe, sendo nomeado Diogo Pacheco de Carvalho como primeiro ouvidor. Em 1763, Bahia de Todos os Santos, Sergipe, Ilhéus e Porto Seguro foram reunidos como capitania da Bahia. No dia 8 de Julho de 1820, um decreto real elevava Sergipe à categoria de capitania independente da Bahia e província do império, nomeando Carlos César Burlamaque seu primeiro presidente. Em 1821, logo depois de chegar a Sergipe, por não querer aderir ao movimento constitucionalista, Burlamaque foi preso por ordem da junta governamental da Bahia, deposto e conduzido para Salvador. Sergipe voltou a depender da Bahia. Finalmente, em 5 de dezembro de 1822, Pedro I ratificou o decreto de 1820 que dava independência a Sergipe Del Rey, sendo nomeado presidente Manuel Fernandes da Silveira.
Entre 1850 e 1857 a carestia alarmou os sergipanos. A carne verde aumentou 67% de 3$840 para 6$400 por arroba, a arroba de carne seca também aumentou 67% de 4$480 para 7$500 por arroba e a carne de porco aumentou 100% de 3$200 para 6$400 por arroba. Interessante observar que no período citado, o preço da arroba de bacalhau acompanhou o preço da carne verde: 3$840 por arroba em 1850 e 6$400 por arroba em 1857.
Em 17 de março de 1855 o presidente da província Inácio Joaquim Barbosa transferiu a capital de São Cristóvão para a vila de Santo Antônio de Aracaju, à margem direita do rio Sergipe.
Evolução demográfica da cidade de Aracaju:
Ano
|
Habitantes
|
1872
|
9.559
|
1890
|
16.336
|
1900
|
21.132
|
1920
|
37.440
|
1940
|
59.031
|
1950
|
78.364
|
1970
|
183.670
|
1980
|
293.119
|
1991
|
402.341
|
2000
|
461.534
|
2010
|
570.937
|
Fonte: IBGE
|
Está registrado no Relatório Anual da Presidência da Província para o ano de 1871: ‘A carne verde consumida na província é toda de produção da mesma província, a qual não só fornece todo o gado necessário para o consumo, mas ainda produz gado para ser exportado.’
Em agosto de 1942, próximo à foz do rio Real (hoje Praia dos Náufragos), o submarino alemão U 507, afundou os navios mercantes brasileiros 'Baependy', 'Araraquara' e 'Aníbal Benévolo' e seguindo rota sul afundou também os navios 'Itagiba', 'Arará' e o veleiro 'Jacyra'. O acontecimento teve larga repercussão na imprensa e provocou protestos em todo o país. Por este motivo, o Brasil declarou guerra aos países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) e confirmou a participação com o envio de tropas na II Grande Guerra.
A população de Sergipe no final de cada década era a seguinte:
Ano
|
População
|
1900
|
356.000
|
1910
|
413.000
|
1920
|
447.000
|
1930
|
527.000
|
1940
|
584.000
|
1950
|
644.000
|
1960
|
760.000
|
O rebanho teve a seguinte evolução:
1938
|
1950
|
1957
|
1964
|
1964/1938
| |
Bovinos
|
250.000
|
398.000
|
541.000
|
600.000
|
140%
|
Equinos
|
63.000
|
-
|
61.000
|
82.000
|
30%
|
Suinos
|
96.000
|
98.000
|
176.000
|
288.000
|
200%
|
Ovinos
|
128.000
|
125.000
|
172.000
|
244.000
|
91%
|
Caprinos
|
109.000
|
-
|
110.000
|
166.000
|
52%
|
Em 1964 foram abatidos em estabelecimentos controlados pelo governo:
Bovinos
|
65.000 cabeças
|
Suinos
|
58.000 cabeças
|
Ovinos
|
50.000 cabeças
|
Caprinos
|
43.000 cabeças
|
Em 1965 o estado de Sergipe tinha um rebanho de 685.000 cabeças de bovinos, 307.000 cabeças de suínos, 234.000 cabeças de ovinos e 160.000 cabeças de caprinos. Foram produzidas 11.500 toneladas de carne bovina, 1.500 toneladas de carne suína, 760 toneladas de carne ovina e 510 toneladas de carne caprina.
O IBGE no último Censo Agropecuário constatou que no dia 31/12/2008 havia nos 78 municípios do estado de Sergipe 1.030.000 cabeças de bovinos. Os cinco maiores rebanhos, que representavam 22% do total estavam nos seguintes municípios:
· Lagarto 66.000 cabeças
· Tobias Barreto 53.000 cabeças
· Nossa Senhora da Glória 42.000 cabeças
· Nossa Senhora das Dores 42.000 cabeças
· Poço Redondo 38.000 cabeças
Na atualidade, Sergipe perdeu a sua importância como criador de gado. O rebanho existente não é suficiente para atender a demanda interna de carne.
É o maior produtor nacional de coco-da-baía.
[1] Cassia fistula (L.). Acredita-se que o fruto desta espécie oferece ajuda na desintoxicação física, evitando sintomas como tontura, dor de cabeça, prisão de ventre, nervosismo, depressão e eczemas que podem acompanhar a desintoxicação. O seu efeito laxante porém é o mais conhecido. O intestino é apenas levemente estimulado, Pode ajudar na transferência das toxinas do sangue para o intestino e também pode ajudar a transportar as toxinas das células para o sangue. Ela contém senosídeos, que aumentam a porosidade da membrana celular e pode atuar como uma espécie de solvente para toxinas.
[2] Era filho de Antonio Cardoso de Barros, que foi devorado pelos índios Caetés depois de ter-se salvo do naufrágio junto com o bispo Pero Fernandes Sardinha (1495-1556) e mais uma centena de pessoas. Fundou em 1º de janeiro de 1590 a cidade de São Cristóvão.
[3] Itanhy era o nome que os indígenas davam ao ro Real.
[4] Basilio de Magalhães (1874-1957), na sua obra “Expansão Geográfica do Brasil Colonial” conta-nos sobre este episódio: “Foi levantado o forte e o arraial de São Cristóvão, junto a foz do Cotinguiba. Uma das colunas da expedição, composta de 150 soldados e 1000 índios auxiliares, e da qual eram capitães Rodrigo Martins e Álvaro Rodrigues, seguira pelo interior, onde teria sido desbaratada pelos íncolas, se a tempo não a socorresse Cristóvão de Barros. Foram mortos 1600 índios e cativados 4000, graças ao trabalho dos quais se estabeleceram ali, com estâncias de gado, muitos dos expedicionários, a começar pelo comandante-em-chefe, que montou uma grande fazenda”.
[5] No livro ‘História do Brazil’ de 1627.
[6] No livro ‘Expansão Geográfica do Brasil Colonial’
[7] No seu livro ‘História de Sergipe ‘. Felisbelo foi político (chegou a ser governador) e historiador sergipano.
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