Leopoldo Costa
O gado bovino foi introduzido no Rio Grande do Sul em 1608. Eram animais descendentes das ‘Vacas de Gaeta’ procedentes do Paraguai, introduzidas naquele país em 1555 por Juan de Salazar de Espinosa (1508-1560), o fundador de Assuncion. As ‘Vacas de Gaeta ou de Gaete’ eram de fato sete vacas e um touro, adquiridas em São Vicente dos irmãos Cipião e Vicente de Góis, filhos de Luís de Góis, que era proprietário do engenho de açúcar de Madre de Deus em Enguaguaçu[1]. O nome de ‘Vacas de Gaeta’ se deve ao condutor destas vacas de São Paulo até Assuncíon, que tinha este apelido.
Aurélio Porto[2] escreveu sobre as ‘Vacas de Gaeta’:
‘As sete vacas e um touro referidos por Southley e transportados de São Paulo por Juan de Salazar para Assunção não procediam da Andaluzia, sendo originárias da capitania de São Vicente, provavelmente dos irmãos Cipião e Vicente de Góis, filhos de Luís de Góis, dono do engenho da Madre de Deus de Enguagaçu. A primeira referencia desse gado, que vai constituir o núcleo inicial da pecuária platina, encontra-se em Ruiz Diaz de Gostan, que diz: ‘ Estos fueron los primeros que trajeron vacas a esta província, haciendolas caminar muchas léguas por tierras e despues por el rio em balsas, eran siete vacas y um toro, a cargo de um fulano Gaete, que llegó com ellas a la Assuncíon, com grande trabajo y dificuldad solo por interes de una vaca, que le senaló por salário, de onde quedo em aquella tierra um provérbio que dice ‘son, mas caras que las vacas de Gaete.’
Em 1634, chegaram os missionários jesuítas, fugindo das ‘reduções’ desbaratadas pelos bandeirantes em Guairá (Paraná) levando os índios remanescentes e algumas centenas de cabeças de gado bovino. Estabeleceram 18 ‘reduções’ indígenas em Tapes (no centro do atual estado) e às margens do rio Uruguai. Em 1635, a redução de Tapes foi atacada pelo paulista Luis Dias Leme, irmão de Fernão Dias Paes Leme e no ano seguinte por Antonio Raposo Tavares (1598-1659), na busca de índios para prear.
Os jesuítas observando o descaso e até a conivência das autoridades portuguesas para estes ataques, levaram seus protestos ao rei Felipe IV (1605-1665) da Espanha (Nesta época Portugal estava sob domínio espanhol). e ao papa Urbano VIII (1568-1644), já que um de seus predecessores Paulo III (1468-1549) tinha publicado em 1537 a bula ‘Veritas Ipsi’, condenando a escravidão de indígenas. Após estes contatos houve alguns acordos favoráveis com o governador do Rio de Janeiro Salvador Correia de Sá e Benevides (1602-1688), mas não com o governador de São Paulo, onde as famílias dos bandeirantes, em represália, expulsaram diversos padres.
Em 1648 houve outra investida, depois da qual, para evitar outras incursões os jesuítas transferiram os aldeamentos para o lado argentino do rio Uruguai. O rei espanhol autorizou que os índios aldeados pudessem ter armas, uma providência que possibilitou uma longa resistência das reduções. Na mudança para a outra margem do rio Uruguai, os jesuítas acabaram deixando algumas cabeças de gado abandonadas na margem oposta. Em estado livre este gado reproduziu e deu origem a chamada ‘vacaria do mar’ ou ‘vaqueria del mar’.
A partir de 1682 os jesuítas começaram a voltar para as suas antigas terras, e neste mesmo ano foi fundado o primeiro dos Sete Povos na margem direita do rio Uruguai: São Francisco de Borja, seguido por São Nicolau, São Luiz Gonzaga, São Miguel Arcanjo, São Lourenço Mártir, São João Batista e Santo Ângelo Custódio. Tornaram importantes criadores de gado, chegando a exportar couros para a Europa.
Aroldo de Azevedo no seu livro ‘O Brasil e suas Regiões’ observou:
‘A exemplo das Reduções do Guairá, em terras paranaenses, no vale médio do rio Uruguai estabeleceram-se, no século XVII, núcleos missionários sob a direção de jesuítas espanhóis – os Sete Povos das Missões, que acabaram por integrar-se no território nacional ao iniciar-se o século XIX. Por esta época, São Nicolau teria 3.940 habitantes e São Luís Gonzaga contaria com 2.350 habitantes, seguindo-se-lhes: Santo Ângelo, São Miguel, São João Batista, São Francisco de Borja e São Lourenço. Segundo Aires de Casal, “ cada uma das Reduções era uma considerável ou grande vila; e todas ao mesmo tempo por um mesmo risco, com ruas direitas e encruzadas em ângulos retos; as casas geralmente térreas, cobertas de telhas, branqueadas, e com varandas pelos lados para preservarem do calor e da chuva; de sorte que, vendo-se uma, se forma ideia verdadeira das outras” (cf. Corografia Brasílica, 1817). Delas resultaram cidades que hoje se destacam – como Santo Ângelo, São Borja, São Luís Gonzaga; outras aparecem em posição mais modesta: São Nicolau, São Lourenço das Missões, São Miguel das Missões. A redução de São Miguel foi destruída pelo fogo pelos próprios habitantes (1765) à aproximação das tropas portuguesas. Restaram suas ruínas, particularmente da enorme igreja que nela existia, hoje transformada em atração turística.’
Escreveu Sebastião da Veiga Cabral em 1713: ‘A inumerabilide de gado maior q' produzem aquelas terras, só pode bem explicarse com o dizer-se q' todo aquelle continente está coberto de gado em tal forma q' tirando-se-lhe todos os annos nas vizinhanças mais de 40(?) rezes, tanto para a fabrica de couros, q:to p.a o sustento dos povos, se não percebia nunca naq.la parte diminuição alguma. (...) A fabrica dos couros e cebos, administrada por contracto ou por conta da Real Fazenda lhe dará m.t. gr. de utilidade, sem mais dificuldade q'a amizade dos Charruas facil, como tenho dito, de conseguir e milhor de conservar: com esta se conseguiria abund.a de cavallos, comq' fabricarão os couros q'quizerem, deq'podera perceber 500$ cruzados de renda cada anno, fazendo-se a fabrica como deve ser. Assim o reconheço o Snr. Rey D. Pedro 2º e havia exprimentar, se os acidentes com q' nos uzurpou a Collonia não sustarão a execução, porq'o mesmo Snr. mandava erigir a fabrica referida’.
Em 1680, Portugal querendo firmar a sua supremacia na região do rio da Prata, enviou Manuel Lobo, governador do Rio de Janeiro (tomou posse em 1678 ou 1679), para fundar a Colônia do Sacramento (atual cidade de Colônia, no Uruguai) no estuário do rio. A posse da região foi motivo de disputas entre espanhóis e portugueses, até que em 1750, pelo Tratado de Madrid, Portugal concordou em entregar a colônia de Sacramento à Espanha, em troca da região dos Sete Povos das Missões, o que foi revogado em 1761, pelo Tratado El Pardo. Em 1777, pelo Tratado de Santo Ildefonso, foi acordado que a colônia de Sacramento e a região dos Sete Povos das Missões passariam a pertencer a Espanha e em troca Portugal, ficaria com toda a região compreendida hoje pelos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e parte do Paraná. Em 1801, Manuel dos Santos Pedroso e José Borges do Canto conquistaram os Sete Povos das Missões, que pelo Tratado de Santo Ildefonso pertencia à Espanha, ampliando o território brasileiro, cuja posse foi confirmada pelo Tratado de Badajóz, assinado no mesmo ano.
Após a assinatura do Tratado de Madrid em 1750, houve violentos conflitos dos índios com as tropas espanholas e portuguesas: a Guerra Guaranítica. Os Guaranis da região dos Sete Povos das Missões recusaram-se a deixar suas terras no território do Rio Grande do Sul e a se transferir para o outro lado do rio Uruguai, conforme ficara acertado no acordo de limites entre Portugal e Espanha e como represália decidiram impedir a demarcação dos limites. Em resposta, as tropas espanholas e portuguesas atacaram e a guerra eclodiu em 1754. Os espanhóis, vindos de Buenos Aires atacaram pelo sul, e os portugueses, enviados do Rio de Janeiro entraram pelo rio Jacuí. Juntando as tropas na fronteira com o Uruguai, os dois exércitos subiram e atacaram os grupos de indígenas, dominando Sete Povos em maio de 1756. Um dos principais líderes Guaranis foi Sepé Tiaraju, que justificava a resistência à mudança obrigatória, em nome de direito legítimo dos índios em permanecer nas suas terras. Morreu heroicamente lutando na batalha de Caiboaté em fevereiro de 1756. O gado foi abandonado e sem nenhum controle foi multiplicado prodigiosamente.[3]
Com o crescimento demográfico e econômico das Minas Gerais, a simples apressamento do gado semisselvagem, a chamada ‘vacaria’, não conseguia atender mais a demanda das regiões mineradoras.
Entre 1710 e 1740 houve uma mudança na forma do aproveitamento dos rebanhos, que passou a ser criado e engordado em ‘invernadas’, que eram grandes pastagens delimitadas por córregos, ribeirões e rios. As primeiras ‘estâncias’ surgiram por volta de 1750, organizando a atividade de criação de gado, tendo como objetivo à exportação de animais para abate, mulas, couros e carne seca (charque), para a região mineradora. No final do século XVIII já havia mais de 539 estâncias na capitania.
A estrada ligando a região dos Pampas a Curitiba foi iniciada em 1727 e passou a representar um fator de grande expressão econômica na etapa inicial de organização da pecuária, possibilitando que fossem levados por terra estes animais, ou os seus produtos para o restante do país, pois até então, só dispunham da via marítima. Os índios Charruas eram contratados para cuidar dos rebanhos e recebiam o pagamento em cabeças de gado.
As vacas em estado semisselvagem pariam seus bezerros em locais escondidos, deixando-os lá durante todo o dia e iam pastar junto com a manada. Algumas vezes voltavam até ao esconderijo para amamentar as crias e a noite ia dormir com eles. [4] Só quando o bezerro tinha idade para acompanhar a manada é que era descoberto pelos peões e recolhido ao curral da estância. As mães, traídas pelo instinto maternal, iam ao curral procurá-los sendo então presas e ordenhadas. Desta maneira os bezerros eram criados bem mansos e tornavam mais tarde bois para a lida diária de puxar arados e carroças.
Era hábito entre as pessoas que viviam no campo, o consumo de carne de vitelo. Não havia refeição em que não se servisse um bezerro recém-nascido inteiro para cada comensal e quanto viajam comiam outro bezerro no jantar. A matança indiscriminada de bezerros fez com que a coroa publicasse normas para coibir a prática. Foi regulamentado pelo governo que apenas animais com mais de 5 anos pudesse ser abatido, proibindo portanto o abate de bezerros e também de vacas parideiras.
Era hábito entre as pessoas que viviam no campo, o consumo de carne de vitelo. Não havia refeição em que não se servisse um bezerro recém-nascido inteiro para cada comensal e quanto viajam comiam outro bezerro no jantar. A matança indiscriminada de bezerros fez com que a coroa publicasse normas para coibir a prática. Foi regulamentado pelo governo que apenas animais com mais de 5 anos pudesse ser abatido, proibindo portanto o abate de bezerros e também de vacas parideiras.
Em regiões do extremo sul do Rio Grande, devido a falta de lenha, e com o grande volume de ossos, estes depois, de secos, chegaram a ser usados para fazer fogo nas residências.
Com o crescimento da exploração de ouro e pedras preciosas em Minas Gerais, o abastecimento de alimentos era um dos problemas. Inicialmente, tudo era transportado nas costas dos escravos negros ou africanos. Levava cerca de quatro meses saindo de São Paulo para chegar até as minas, e muitas vezes os transportadores morriam de fome ou cansaço. Eram forçados a caminhar depressa com muito peso e a comida era racionada.
Nesta época do apogeu do Ciclo do Ouro, os bandeirantes paulistas dedicaram-se à captura do gado semisselvagem que vagava pelos pampas do Rio Grande do Sul e Uruguai e o seu envio para as regiões das Minas Gerais.
Em 1732 Cristóvão Pereira de Abreu (1678-1755) partiu da Colônia do Sacramento com uma boa quantidade de mulas com destino a São Paulo. Em 1733 esta tropa chegou à região de Sorocaba, saindo depois dali para a região mineradora de Minas Gerais. Foi esta tropa que deu início a Feira de Sorocaba. Cristóvão Pereira de Abreu era muito prestigiado pela Coroa. Foi ele também que construiu o forte Jesus, Maria, José de Rio Grande, demarcou limites e iniciou o povoamento do Porto dos Casais (hoje Porto Alegre), em 1753.
A feira de muares de Sorocaba tornou-se importante, atraiu novos moradores e permitiu o desenvolvimento do comércio e da indústria locais, popularizando produtos como: facas, facões, arreios, tralhas, redes e quinquilharias. Era realizada de abril a junho. Durante o evento a vila tornava-se agitada e mais movimentada do que muitas capitais. As poucas pensões ficavam lotadas e muitos tinham que pousar em acampamentos. Os homens que traziam os animais do Sul adquiriam na feira outros itens para levar para as suas terras e gastava dinheiro em festas com prostitutas e jogatinas. Por volta de 1750 vendiam-se ali cerca de 10.000 mulas por ano. Em parte, era o contrabando, o que mantinha o negócio. Tabaco e aguardente eram proibidos em território dominado pela Espanha e estes dois itens eram a moeda de troca, além de ouro das Minas Gerais, para adquirir estes animais na Argentina e Uruguai.
Em 1732, Gonçalves Ribeiro, da cidade de Laguna, conseguiu a primeira sesmaria (Tramandaí) no território do atual Rio Grande do Sul. Em 1756 sesmarias foram concedidas como recompensa a militares portugueses na bacia do rio Jacuí. Alguns paulistas procuraram estabelecer propriedades no Rio Grande do Sul, aproveitando as condições propícias para a criação de gado. Um dos pioneiros foi João Magalhães.(5)
Em 1737 foi fundada por Cristóvão Pereira de Abreu (1678-1755) a fortaleza presídio Jesus Maria José que originou a cidade de Rio Grande, e também o forte de São Miguel, próximo ao Chuí. Em 1738, foi criado a Comandância Militar do Rio Grande com sede em Laguna, subordinado ao Rio de Janeiro.
Em 1748, com a chegada dos imigrantes açorianos, que após receberem sesmarias da Coroa e habitar a região próxima a Lagoa dos Patos, a província do Rio Grande do Sul, firmou ainda mais a sua posição de fornecedor de gado para as outras regiões do Brasil. Os habitantes de Açores eram bastante experientes no trato com gado, pois, o arquipélago sempre teve tradição com esta lida.[6]
Em 1780, foi instalada a primeira charqueada na província, próxima ao canal de São Gonçalo, pelo cearense da Aracati José Pinto Martins (1750-1827).
Esta indústria de charque foi o embrião da cidade de Pelotas, hoje a segunda maior cidade do Rio Grande do Sul.
Outras charqueadas foram sendo instaladas, às margens dos rios Camaquã e Piratini e do canal de São Gonçalo (que liga a lagoa Mirim à lagoa dos Patos). Foi escolhida uma localização privilegiada: nas proximidades tanto dos grandes centros de criação da região de fronteira e também do porto do Rio Grande, por onde seria escoada a produção.
José Veríssimo da Costa Pereira, descreveu como era uma charqueada, naqueles primeiros tempos:.
‘Ordinariamente, ao lado do pavilhão principal, estendem-se as ‘mangueiras’, dispostas em série- curralões- separadas entre si por cerca de pedras, ou moirões, cada qual com dois ou tres metros de altura. Do lado exterior fica o respectivo ‘brete’- espécie de corredor estreito- onde o gado é reunido para a espera que precede o sacrifício. Todas as ‘mangueiras’, aliás, estão ligadas entre si por meio de corredores pequenos. A comunicação, ou não, entre os diferentes cercados, realiza-se pela subida ou descida de grandes portas ou tapumes de chapas de ferro regulados por um sistema de contrapesos, que funcionam segundo as necessidades do momento e as circunstancias ocasionais’
Sem a concorrência das charqueadas do nordeste, mais próximas dos centros consumidores e das salinas, o Rio Grande do Sul, conseguiu sair do isolamento em que se mantinha, passando a aproveitar de forma mais racional seu rebanho bovino.
A fabricação de charque cresceu ano após ano, chegando a ser processado 100.000 reses em cada safra para ser exportado, não mais apenas para o Nordeste, mas, também para a região mineradora de Minas Gerais, para a população urbana do Rio de Janeiro e para Cuba.
No período de 1890 a 1891, mais de 900.000 cabeças foram abatidas e destinadas exclusivamente para a produção de charque. A carne salgada e seca era usada como base alimentar para os escravos, enquanto os brancos e os mais abastados podiam consumir a carne fresca produzida nas proximidades.
As exportações de charque do Rio Grande que foram de 13.000 arrobas (195.000 kg) em 1793 atingiram no início do século XIX, cerca de 600.000 arrobas (9.000.000 kg).
Em 1803, o porto de Salvador recebia cerca de 40 navios de 250 toneladas cada um de charque proveniente do Rio Grande do Sul. O charque era vendido em Salvador ao preço de 2 vinténs a libra.
Serzedelo Correia (1858-1932), que além de escritor, foi um político influente no final do século XIX e início do século XX, defendeu com muita competência a indústria de charque do Rio Grande do Sul. Criticava a falta de medidas do Governo para defender essa indústria, da concorrência desleal com a indústria da Argentina e do Uruguai.
Na época, uma arroba de charque do Rio Grande era vendida no Rio de Janeiro entre 440 e 480 réis, ao passo que a arroba do charque argentino ou uruguaio, era vendida entre 400 e 410 réis.
Pela interpretação de Serzedelo, o que mais influía para deixar o charque do Rio Grande do Sul mais caro, era o custo do sal. Todo o sal usado nas charqueadas era importado inicialmente de Lisboa e Setúbal e mais tarde de Cadiz na Espanha. Ele propunha uma operação de importação sob o regime de ‘draw back’ para baratear o custo do sal, arbitrando 40 litros de sal para cada fardo de 60 quilos de charque produzido, que poderia ser importado livre de impostos. Serzedelo Correa menciona ainda, que de 1886 a 1887, só o porto do Rio de Janeiro recebeu mais de 30.000 toneladas de sal de Portugal e Espanha o que custou mais de 1.156.000 francos. O monopólio do sal deixava o seu preço muito caro. O sal do Nordeste ainda era de pouca qualidade e o frete difícil e caro. Entre 1865 a 1886 as salinas nordestinas produziram apenas 33.000 alqueires ou pouco mais de 5.000 toneladas de sal houve um crescimento, sendo que a produção de 1901 foi de 700.000 alqueires ou mais de 112.000 toneladas embora ainda insuficiente para suprir a demanda.
Em 1760, o Rio Grande do Sul foi elevado a Capitania com a capital sediada em Rio Grande, mas dependente do Rio de Janeiro e somente em 1807 é que passou a ser capitania independente. Em 1809 foram promovidos a vila as freguesias de Porto Alegre, Rio Grande, Rio Pardo e Santo Antonio da Patrulha.
Pelos relatórios da Presidência, a província do Rio Grande do Sul exportou no período de 1805 a 1820, uma média anual de 321.728 couros de bovinos, o que serve como indicador do volume de abate ocorrido no período, o que equivaleria pelas taxas de desfrute da época, a um rebanho de 3.500.000 cabeças de bovinos por ano.
Entre 1846 e 1853 as exportações anuais aumentaram para uma média de 985.850 couros, equivalente a um rebanho de 10.800.000 cabeças.
No período de 1854 a 1861 foi exportado uma média anual de 602.625 couros, indicando um declínio da quantidade de bovinos existentes para aproximadamente 5.470.000 cabeças.
No período de 1846 a 1852 as exportações anuais de charque tiveram uma média de 2.061.790 arrobas (30.927 toneladas). Para a Inglaterra, Estados Unidos, França e Espanha eram embarcadas todo ano, chifres, canelas, cabelos, graxa, sebo, garras e língua de bois o que totalizou no período de 1846/1847 cerca de 400.000 arrobas.
Em 1853, a província contava pelos registros oficiais, com 38 charqueadas. Como as exportações de charque no ano foi de 1,754.026 arrobas (26.310 toneladas), conclui-se que a produção média foi de 692 toneladas por estabelecimento.
Entre 1854 e 1861 a média de exportação anual do produto foi de 1.332.250 arrobas (19.980 toneladas). Além de abastecer os mercados do Rio de Janeiro e Salvador, era embarcada uma média de 150.000 arrobas (2.250 toneladas) de charque para Cuba todo ano.
A criação de gado equino continuava em expansão, pelo relatório do presidente da província para 1858, exportava-se para as províncias do norte do Império. Em 1855 exportou 59.214 cabeças, em 1856 72.278 cabeças e em 1857 o total de 50.301 cabeças.
Na mesma ocasião era introduzida a criação de ovinos. Por intermédio de Agassiz, que estava no Brasil em expedição cientifica, foram recebidos 3 ovelhas e um carneiro, doados por um fazendeiro norte americano. Em 1854, o governo do Império importou da Alemanha um lote pioneiro de carneiros Merino.
O estado do Rio Grande do Sul é dotado de excelentes pastagens naturais na região dos Pampas e na zona serrana. Sempre foi pioneiro na introdução das melhores linhagens de gado europeu para leite e para corte, com destaque para os estancieiros da região de Bagé.
O gado Jersey chegou ao Brasil em 1896, com algumas cabeças importadas por Joaquim Francisco Assis Brasil(7) (1857-1938)(6), que os enviou para sua propriedade de Pedras Altas, município de Erval, no Rio Grande do Sul. Sendo alguns tourinhos da fazenda particular em Windsor da rainha Vitória (1819-1901) da Inglaterra. Estes tourinhos cruzaram com vacas Crioulas e vieram a formar um rebanho de vacas mestiças que se espalhou pelo Rio Grande do Sul e outros estados. Também foi Joaquim Francisco de Assis Brasil que importou os primeiros animais Devon do Uruguai em 1906 e depois, outros diretamente da Inglaterra.
Em 1906 chegou ao Brasil o touro ‘Menelik’, o primeiro reprodutor Aberdeen Angus, proveniente da estância de Felix Buxareo y Oribe, do Uruguai. O touro foi importado por Leonardo Collares Sobrinho, de Bagé.
Em 1914, o visconde de Ribeiro Magalhães (1840-1926)[8] (Antonio Nunes Ribeiro Magalhães), também de Bagé, importou cinco matrizes diretamente da Inglaterra para a sua fazenda e da sua criação surgiu o animal que obteve o registro do primeiro Aberdeen Angus nacional. Também foi através dele que em 1905, o Pardo Suíço foi introduzido no Brasil, com a importação do touro ‘Kuno’.
O Imperador em 1885 autorizou a importação de dois touros Charolês da França. Foi uma sugestão do veterinário francês Claude Marie Rebourgeon, da Escola de Veterinária de Alfort e discípulo de Louis Pasteur, contratado para implantar a Escola de Veterinária e Agronomia na cidade de Pelotas (RS). Chegando a Pelotas os dois touros foram confiados a dois criadores locais, Heliodoro de Azevedo Souza e Mâncio de Oliveira que os usaram na cobertura de suas vacas Crioulas.
Em 1901, Anibal José de Souza, brasileiro radicado no Uruguai que criava gado Charolês, enviou para seu sobrinho João de Souza Mascarenhas de Bagé (RS) quatro novilhas e um tourinho. João repassou estes animais para seu irmão Cypriano de Souza Mascarenhas, que tinha um estância em Júlio de Castilhos (RS) e fazia cruzamentos de fêmeas Crioulas com touros Hereford e Durham. Cypriano usou o touro Charolês e o resultado foi bem melhor. Gostando da experiência em 1904 importou do tio mais dez touros e em 1906 mais cinquenta. Em 1911, como o seu tio não tinha mais animais para vender, importou da França dois touros, repetindo a mesma compra em 1913 e 1918.
O primeiro animal Hereford chegou ao Brasil em 1906 importado por Laurindo Brasil de Bagé. O Polled Hereford chegou ao Brasil em 1928 através de Félix Guerra de Quaraí. Os animais da raça Hereford representam atualmente 65% do rebanho gaúcho.
Em 1906 o criador em Bagé Martim Silveira, importou o touro Shorthorn ‘Count Barrington’ dando início á seleção no Brasil sendo o de registro número 1.
Pelo recenseamento de 1940 a população bovina do estado do Rio Grande do Sul era de 7.460.705 cabeças. Os abates realizados em estabelecimentos industriais e matadouros municipais entre 1938 e 1943, atingiram uma média anual de 1.100.000 cabeças. Representava um desfrute de 14,7%.
Em 1965 o rebanho gaúcho era composto de 11.126.000 bovinos, 11.934.000 ovinos, 7.701.000 suínos e1.324.000 equinos. Neste ano foram abatidas 1.165.000 cabeças de bovinos e 2.402.000 cabeças de suínos.
Também em 1965 foram produzidos 608.820 m³ de leite, sendo o terceiro maior produtor do Brasil. Hoje produz em torno de 3.400.000 m³, cresce em torno de 8% ao ano , sendo o segundo maior produtor nacional, logo depois de Minas Gerais.
Sempre teve tradição na criação de ovinos. Tem importantes rebanhos das raças Romney Marsh, Merino Australiano, Corriedale e Ideal.
O IBGE no Censo Agropecuário constatou que no dia 31/12/2008 havia nos 497 municípios do estado do Rio Grande do Sul 14.115.000 cabeças de bovinos. Possuía o sexto maior rebanho do Brasil, embora o de melhor qualidade.
Os cinco maiores rebanhos do Rio Grande do Sul, que representavam 16% do total estavam nos seguintes municípios:
· Alegrete 606.000 cabeças
· Santana do Livramento 553.000 cabeças
· Dom Pedrito 413.000 cabeças
· São Gabriel 379.000 cabeças
· Rosário do Sul 359.000 cabeças
O Outros 33 municípios sul-rio-grandenses tinham rebanhos acima de 100.000 cabeças.
O Outros 33 municípios sul-rio-grandenses tinham rebanhos acima de 100.000 cabeças.
"Os outros companheiros de João Magalhães, com o seu caudilho à frente, prosseguem na sua 'entrada', descem até os campos da parte do sul da Lagoa dos Patos e, nas imediações de São José do Norte, abrem os seus currais. Desde aí a difusão dos paulistas começa a aumentar-se. Muito, antes dos açorianos, apareceram no Viamão, já ali se encontra, pastoreando os seus rebanhos na sua fazenda de Estância Grande, Francisco Carvalho Cunha. Nem era o primeiro que ali se estanciava: antes já ali estivera Cosme da Silveira, paulista de linhagem, que arruinado e fugindo ao vexame da ruína na sua própria terra, descera a se afazendar nestas paragens longinguas"
[2] Alcides Lima, em “História Popular do Rio Grande do Sul” relata que um observador escrevia em 1808:
‘Requeriam-se sesmarias não só em nome próprio, mas no das mulheres, filhos e filhas, de crianças que ainda estavam no berço e das que ainda estavam para nascer
[3] Na época Assis Brasil era embaixador do Brasil em Londres. Foi o pioneiro brasileiro também na importação dos cavalos Árabes, ovinos Karakul e bovinos Devon.
[4] Visconde Ribeiro Magalhães foi quem estabeleceu a primeira charqueada de Bagé, a Charqueada Santa Tereza (homenagem a sua esposa). Em 1916 era o segundo maior contribuinte de impostos do estado do Rio Grande do Sul.
[5] Oliveira Vianna descreveu a epopéia dos paulistas, no livro "Populações Meridionais do Brasil"
"Os outros companheiros de João Magalhães, com o seu caudilho à frente, prosseguem na sua 'entrada', descem até os campos da parte do sul da Lagoa dos Patos e, nas imediações de São José do Norte, abrem os seus currais. Desde aí a difusão dos paulistas começa a aumentar-se. Muito, antes dos açorianos, apareceram no Viamão, já ali se encontra, pastoreando os seus rebanhos na sua fazenda de Estância Grande, Francisco Carvalho Cunha. Nem era o primeiro que ali se estanciava: antes já ali estivera Cosme da Silveira, paulista de linhagem, que arruinado e fugindo ao vexame da ruína na sua própria terra, descera a se afazendar nestas paragens longinguas"
[6] Alcides Lima, em “História Popular do Rio Grande do Sul” relata que um observador escrevia em 1808:
‘Requeriam-se sesmarias não só em nome próprio, mas no das mulheres, filhos e filhas, de crianças que ainda estavam no berço e das que ainda estavam para nascer
[7] Na época Assis Brasil era embaixador do Brasil em Londres. Foi o pioneiro brasileiro também na importação dos cavalos Árabes, ovinos Karakul e bovinos Devon.
[8] Visconde Ribeiro Magalhães foi quem estabeleceu a primeira charqueada de Bagé, a Charqueada Santa Tereza (homenagem a sua esposa). Em 1916 era o segundo maior contribuinte de impostos do estado do Rio Grande do Sul.
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