10.16.2011

PEDRO I : ROMPEU COM O PAI E DEPOIS O SUCEDEU

Pedro I, após o 7 de setembro, escreveu uma incisiva carta para seu pai,  João VI, declarando a independência do Brasil e sua posse como príncipe regente. 
Menos de nove anos depois, decidiu abandonar o Brasil a sua sorte, assumir o trono do Reino de Portugal e Algarves como Pedro IV, deixando como herdeiro seu filho Pedro II, que tinha menos de 6 anos de idade.


Apresentamos dois interessantes documentos sobre esses acontecimentos.

Pedro I, após o 7 de setembro, escreveu esta carta para seu pai,  João VI, declarando a independência do Brasil e sua posse como príncipe regente.

"Rio, 22 de setembro de 1822. Meu Pai Senhor. (...) Embora se decrete a minha deserção, embora se comentam todos os atentados que em clubes carbonários forem forjados, a causa santa não retrogradará, e eu antes de morrer direi aos meus caros brasileiros: 'Vede o fim de quem se expôs pela pátria, imitai-me'. Vossa Majestade manda-me, que digo!
Mandam as cortes por Vossa Majestade que eu faça executar e execute seus decretos; para eu os fazer executar e executá-los era necessário que nós brasileiros livres obedecêssemos à facção: responderemos em duas palavras: 'Não queremos'. Se o povo de Portugal teve direito de se constituir -revolucionariamente - está claro que o povo do Brasil o tem dobrado, porque vai-se constituindo, respeitando-me a mim e às autoridades estabelecidas.
Firme nestes inabaláveis princípios, digo (tomando a Deus por testemunha e ao mundo inteiro), a essa cálifa sangüinária, que eu, como Príncipe Regente do Reino do Brasil e seu defensor perpétuo, hei por bem declarar a todos os decretos pretéritos dessas facciosas, horrorosas, maquiavélicas, desorganizadoras, hediondas e pestíferas Cortes, que ainda não mandei executar, e todos os mais que fizeram para o Brasil, nulos, írritos, inexeqüíveis, e como tais como um veto absoluto, que é sustentado pelos brasileiros todos, que unidos, a mim, me ajudam a dizer: 'De Portugal nada; não queremos nada'. Se esta declaração tão franca irritar mais os ânimos desses luso-espanhóis, que mandem tropas aguerridas e ensaiadas na guerra civil, que lhes faremos ver qual é o valor brasileiro. (...)
Triunfa e triunfará a independência brasílica, ou a morte nos há de custar. O Brasil será escravizado, mas os brasileiros não: porque enquanto houver sangue em nossas veias há de correr, e primeiramente hão de conhecer melhor o - Rapazinho - e até que ponto chega a sua capacidade, apesar de não ter viajado pelas cortes estrangeiras. Peço a Vossa Majestade que mande apresentar esta às cortes! as cortes que nunca foram gerais, e que são hoje em dia só de Lisboa, para que tenham com que se divirtam, e gastem ainda um par de moedas a este tísico tesouro. Deus guarde a preciosa vida e saúde de Vossa Majestade, como todos nós brasileiros desejamos. Sou de Vossa Majestade, com todo o respeito, filho que muito o ama e súdito que muito o venera. ass.: Pedro"

No livro 'História Documental do Brasil' autoria de Therezinha de Castro, Biblioteca do Exército, 1995 p.149-151.Editado e adaptado para ser postado por Leopoldo Costa.

Em 12 de abril de 1831, depois de ter abdicado do trono do Império brasileiro,  Pedro I escreveu carta de despedida ao filho que tinha menos de 6 anos de idade, o futuro imperador  Pedro II

Meu querido filho, e meu imperador. Muito lhe agradeço a carta que me escreveu, eu mal a pude ler, pois que as lágrimas eram tantas que me impediam a ver; agora que me acho, apesar de tudo, um pouco mais descansado, faço esta para lhe agradecer a sua, e para certificar-lhe que enquanto vida tiver as saudades jamais se extinguirão em meu dilacerado coração.
Deixar filhos, pátria e amigos, não pode haver maior sacrifício; mas levar a honra ilibada, não pode haver maior glória. Lembre-se sempre de seu pai, ame a sua mãe e a minha pátria, siga os conselhos que lhe derem aqueles que cuidarem da sua educação, e conte que o mundo o há de admirar, e que me hei de encher de ufania por ter um filho digno da pátria. Eu me retiro para a Europa: assim é necessário para que o Brasil sossegue, e que Deus permita, e possa para o futuro chegar àquele grau de prosperidade de que é capaz. Adeus, meu amado filho, receba a bênção de seu pai que se retira saudoso e sem mais esperanças de o ver.
[Ass.] D. Pedro de Alcântara

No livro 'História do Brasil' de João Armitage, Livraria Editora Zélio Valverde, 1943, p. 313, apud Paulo Bonavides & R. A. Amaral Vieira. 'Textos Políticos da História do Brasil. (Independência - Império - I)'. Fortaleza: Imprensa Universitária da Universidade Federal do Ceará, s/d., p. 233. Editado e adaptado para ser postado por Leopoldo Costa. 

No comments:

Post a Comment

Thanks for your comments...