MARFRIG - HISTÓRIA DA MULTINACIONAL

Marfrig foi eleita pela revista Globo Rural, como a 'Melhor Indústria de Carnes' do Brasil em 2011. Tem mais de 90 mil funcionários, cerca de 140 unidades industriais em 22 países e quatro estações de confinamento de bovinos para engorda no Brasil e outros na Argentina.

Apesar de competir no mesmo mercado com a JBS, tem uma filosofia e estratégia de negócios diferente: A Marfrig foca mais o processamento e as vendas do que o abate de animais.

O Grupo, a quarta maior empresa de carnes do mundo, surgiu de uma pequena distribuidora de miúdos de bois, inaugurada em 1986 quando o Brasil vivia a euforia do Plano Cruzado. Seu maior acionista e controlador, Marcos Molina dos Santos, neto e filho de açougueiros, nasceu em 1970 em Mogi Guaçu (SP), distante 60 quilômetros de Campinas. Desde criança, depois de frequentar a escola na parte da manhã, ajudava o pai na lida do açougue, atendendo no balcão, fazendo entregas e recebendo as contas.

Conseguiu ser emancipado pelo pai e em 1986 começou revendendo miúdos bovinos, inicialmente em Mogi Guaçu e mais tarde em Campinas e região. Comprava bucho, rabada, língua, rins, miolos e outros no mercado interno e figados argentinos de importadores do Rio Grande do Sul, a preços competitivos, que revendia para supermercados, açougues e indústrias. O Plano Cruzado favorecia as importações e o fígado argentino era muito barato.

Mudou-se para a Grande São Paulo, arrendando em Santo André, o antigo entreposto que pertenceu ao Frigorifico Central e tinha sido adquirido pelo Sadia. Aumentou seu leque de produtos distribuídos, a maioria importados da Argentina,  incluindo picanha, maminha, alcatra, 'bife de chorizo', cordeiros e outros cortes nobres que revendia para os grandes restaurantes de São Paulo e  outros cortes que revendia para as cozinhas industriais. Ganhou um bom dinheiro e adquiriu o entreposto.

Em 2000, adotando o nome de Marfrig arrendou o Frigorifico Santa Marina em Bataguaçu (MS) que antes tinha sido arrendado pelo frigorifico Bordon e devolvido quando este pediu concordata. Começou os abates de bovinos. Mais tarde adquiriu o estabelecimento.

Em 2003, para aumentar a sua disponibilidade de carne e atender o mercado, adquiriu o frigorífico de Tangará da Serra (MT), construído em 1998, que pertencia a família Martins Caldas. Abatia uma média de 500 cabeças de bois por dia, que somando com os abates de Bataguaçu, representava  10 carretas de carne resfriada por dia, a maioria vendida na Grande São Paulo e na região de Campinas.

Em 2004, arrendou dos proprietários Waldir Torelli e Jair Lima, o Frigorífico Amambai, inaugurado em 2001 na cidade de Paranatinga (MT).

Em 2006, fez a estréia no mercado financeiro com a emissão de bonds. Com os recursos houve importantes aquisições, como a da Frigoclass Alimentos S.A., por 23 milhões de dólares do britânico Terry Johnson, composta por 13 unidades de abate de bovinos, sendo uma delas também utilizada no abate de ovinos e 2 unidades de processamento e industrialização de carne bovina, sendo que uma dessas sediada na própria unidade de abate de Rio Verde (GO).

Fez outras aquisições de unidades industriais independentes em Mineiros (GO), Chupingaia (RO), São Gabriel (RS) e Porto Murtinho (MS)

Entrou no mercado argentino, com a aquisição da Argentine Breeders Packers (AB&P),  lider da produção e comercialização de cortes de carnes para exportação, por um valor que o mercado estimou em 20 milhões de dólares.

No Chile, adquiriu a metade do capital social da Quinto Cuarto S.A, maior importadora de carnes do país, que em 2007 foi totalmente incorporado pelo valor total de 17 milhões de dólares.

No Uruguai, por 25 milhões de dólares, adquiriu a Inaler.S.A  com sede em San José e por 35 milhões de dólares o Frigorifico Tacuarembó, fundado em 1960, a maior empresa do ramo do país.

Em 2007, Houve a abertura de capital da empresa em junho e de imediato foi captado 621 milhões de reais. Um grande  sucesso.

Comprou a fábrica e a marca Kilo Certo de São Paulo (rede de varejo) e a Pampeano (Masplen), especializada na produção de enlatados e jerky beef, localizado em Hulha Negra (RS).

No Uruguai, por 26 milhões de dólares, adquiriu o Frigorifico La Caballada da Prestcott International com sede em Montevideu que usava a razão social de Credinor S.A.

Também adquiriu por 85 milhões de dólares o Establecimientos Colonia S.A que abate, processa e exporta carne bovina e subprodutos. Com estas compras, assumiu o posto de maior exportador de carne do país.

No Chile, com a compra do Frigorifico Patagonia, por 8,5 milhões de dólares, inaugurou a participação no mercado de ovinos.

O maior lance, foi a compra da Quickfood, por cerca de 268 milhões de dólares, conceituada companhia fundada em 1960, a maior empresa de produtos de carne bovina da Argentina e líder do mercado de hambúrgueres e salsichas com a marca Paty.

Também adquiriu  por 39.3 milhões de dólares a Mirab, lider do mercado de snacks e controladora da maior processadora de beef jerky dos Estados Unidos (Pemmican).

Adquiriu também na Argentina a Best Beef (Cordoba) e a Estancias del Sur (Vivoratá).

Iniciou a atuar no segmento de suínos no Brasil, com a aquisição do Frigorífico Marbella  com duas unidades de abate, uma em Santa Catarina e outra no Rio Grande do Sul com capacidade para 4.200 cabeças por dia.

Em 2008 a Marfrig entrou no segmento de aves, com a aquisição da DaGranja por 58 milhões de dólares e da Predileto (Pena Branca), esta, depois de uma disputa acirrada com a Tyson Foods dos Estados Unidos que já tinha adquirido a Macedo e queria expandir seus negócios no Brasil.

 A DaGranja compreende três abatedouros com capacidade de 480.000 aves por dia, duas unidades de processamento, uma fábrica de ração e seis criatórios. A Pena Branca compreende duas unidades de abates com capacidade de 300 mil aves por dia , três fábricas de ração e seis criatórios.

Adquiriu por 42,3 milhões de reais a Carroll's Foods do Mato Grosso, com criação de 160.000 suínos, unidade de abate com capacidade de 1.000 suínos por dia e uma  fábrica de ração em Diamantino (MT).

Porém,o mais impactante do ano, foi a aquisição por 680 milhões de dólares das operações do  grupo OSI no Brasil, com instalações na Irlanda do Norte, Inglaterra, França e Holanda, incluindo a Braslo (fornecedora de carnes para a rede  Mc Donald's no Brasil), a Agrofrango e a Moy Park.

 A Moy Park, fundada em 1943, é o maior sistema integrado de distribuição de alimentos do Reino Unido.

Adquiriu por 12 milhões de dólares a CDB Meats (Weston Importers) empresa importadora e distribuidora de alimentos no Reino Unido, que incluiu a Ham Packers, produtora de frios.

É bastante discutível e até suspeita a presença do BNDES no grupo ,como também acontece na seu concorrente JBS. O banco, através da BNDESpar, participava em 2009 com 3% do capital da Marfrig e hoje participa com quase 15%.

 Nestes últimos quatro anos a Marfrig e a JBS receberam 18,5 bilhões de reais de investimentos, equivalente a um quarto dos investimentos do BNDES em todas as empresas nacionais e ambas têm mostrado um resultado financeiro medíocre.

Em 2009, houve a compra no Brasil do segmento de proteina animal da Cargill dos Estados Unidos, representada pela Seara Alimentos, por 899 milhões de dólares, com 12 unidades de produção e afiliadas na Europa e na Ásia. A Seara, fundada em 1956 na cidade catarinense do mesmo nome, é uma das maiores produtoras e exportadoras de alimentos a base de carne de aves e de porco, concorrendo no mercado interno com a Sadia e Perdigão (Brasil Foods)

No Brasil, houve o arrendamento de 12 unidades do grupo Margen, de Ney Adilson Padilha e do Mercosul de Bagé (RS), com capacidade acumulada de abater 8.800 cabeças de dia e processar 1.700 toneladas de produtos.

Adquiriu a operação de abate e processamento de perus da Doux-Frangosul em Caxias do Sul (RS) por 65 milhões de reais. Compreende uma unidade de abate com capacidade de 30.000 aves por dia, uma fábrica de ração e cinco criatórios.

Por 38,1 milhões de dólares foi adquirido o controle acionário da Zenda, empresa do segmento de produção e comercialização de couros com sede no Uruguai e unidades na Argentina, México, Estados Unidos, Alemanha, África do Sul, Chile, Hong Kong e China.

Em 2010, houve a compra da Keystone Foods por 1,26 bilhão de dólares. A empresa fundada  em 1970 é  lider mundial em fornecimento de produtos para restaurantes e lanchonetes, atendendo cerca de 28.000 restaurantes e é a fornecedora mundial da rede McDonald's.  Opera 54 unidades em 13 países e tem 12.900 funcionários. Para fazer frente a esta compra, a Marfrig emitiu 2,5 bilhões de reais numa subscrição privada de debêntures conversiveis em cinco anos.

 Em 2011 para reforçar o caixa, a Marfrig vendeu a estrutura de logística da Keystone para a Martin Brower por 400 milhões de dólares.

Através da subsidiária Quickfoods, adquiriu na Argentina a divisão de legumes e vegetais congelados da Arcor por 3,4 milhões de dólares.

Para instalar confinamentos foi comprado em Córdoba, uma fazenda de 200 hectares por 2 milhões de dólares. O objetivo é garantir  20% do abate com bois confinados.

Pretende investir mais de 300 milhões de dólares para montar uma gigantesca unidade de abate e processamento de suínos na China e investir no segmento de lácteos no Brasil.

Molina é casado com Márcia Aparecida e tem dois filhos. Viaja a negócios e  lazer num jatinho Hawker 800 avaliado em cerca de 1,9 milhão de dólares, prefixo MMS (suas iniciais), com capacidade para oito passageiros e dois tripulantes. Tem uma linda fazenda em Porto Feliz (SP), onde cria em confinamento, mais de 6.000 cabeças de gado de primeira linha.

Existem comentários, inclusive divulgados pela Internet, que Marcos é grande amigo de Ricardo Teixeira, presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e antes de assinar em nome da subsidiária Seara, o contrato de patrocínio da Copa do Mundo de Futebol de 2014, deu de presente à Teixeira um helicóptero.  'Si non è vero è bene trovato'.

(Texto de Leopoldo Costa)