Publicado em 1968.
A produção de leite no Brasil sempre esbarrou na manifesta incapacidade de adaptação do gado europeu aos trópicos. Ao longo de muitos anos, em tôdas as tentativas para criar em nosso meio as raças européias melhoradas, vem-se repetindo aquele drama em que as reses apresentam um quadro de hipertermia, com a aceleração do ritmo respiratório e queda na pulsação, terminando pela inapetência completa, sempre que a temperatura ambiente atinge determinados níveis.
Era doloroso, e ainda o é observar os lotes de gado puro europeu disputando a sombra das árvores, até nos dias não muito quentes de maio e junho.
Mesmo nas regiões altas, dos chamados microclimas, onde há qualquer coisa parecida com a temperatura dos paises de origem dêsses gados, as reses enfrentam uma série de fatores que inibem o aproveitamento completo de suas funções zootécnicas, como os ectoparasitos, as zoonoses e o forrageamento grosseiro.
O resultado, portanto, é um inexorável processo de degenerescência, que já começa a atingir índices alarmantes a partir da segunda geração quando aparecem bezerros enfezados, barrigudos e peludos - os tucuras e gabirus -, em dissonância total com a aparência de seus pais e avós.
O puro por cruza pouco ou nada contribuiu para melhorar êsse estado de coisas, e quando o país precisou pensar na produção leiteira massal. em termos econômicos a solução lógica foi a mestiçagem do europeu com o zebu, entrando o sangue indiano com o fator rusticidade, além do choque provocado pela heterose.
Nessa época, ninguém acreditava que o Zebu puro, pudesse produzir uma quantidade apreciável de leite, e os esforços do Coronel João de Abreu, selecionando o Guzerá leiteiro em Cantagalo, eram vistos com certo ceticismo pela. maioria dos técnicos e dos selecionadores.
Felizmente a situação está mudada, graças ao pioneirismo do saudoso coronel e à iniciativa de um grupo de selecionadores, que começaram a trabalhar as raças Gir, Guzerá e Sindi visando ao melhoramento daquela função zootécnica.
Os resultados dêsse trabalho têm sido os melhores possíveis, como qualquer pessoa poderá verificar na 'Edição Especial de Pecuária Leiteira', da 'Revista dos Criadores'. Com efeito, enquanto nas raças européias as prOduções médias encontram-se estacionárias há mais de 15 anos, quandO não regrediram em alguns casos, nas raças zebuínas tem havido um aumento constante e apreciável das médias leiteiras, se considerarmos o rebanho em seu todo.
A raça Gir, que vem apresentando os melhores resultados, já atingiu a produção 'média de 2258 quilos de leite, com 4,94% de gordura, em 476 lactações controladas. O rebanho da Fazenda Brasília, de 41 cabeças, pràticamente atingiu a média anual de 3000 quilos (305 dias - 2x ), em pouco mals de cinco anos de seleção, e os rebanhos de Calciolândia, Mococa, Casa Branca e Jarinu estão indo pelo mesmo caminho.
Esta média de 3 000 quilos já está próxima daquela alcançada por conceituados selecionadores de gado holandês, depois de 20 ou 30 anos de seleção, aos quais devemos somar o trabalho secular no país de, origem.
Contudo; o fato mais notável é que a produção méqla alcançada por aquele rebanho Gir já ultrapassou as produções de todas as outras raças européias controladas pela APCB, perdendo apenas para dois rebanhos de Schwyz, um dos quais de apenas onze animais. Estes são números sérios que não aceitam contestaçoes e dizem bem das perspectivas abertas à produção leiteira na faixa intertropical com o melhoramento do Zebu.
Não que o Zebu tenha a pretensão de resolver, sozinho, êsse problema, mas porque agora, dentre os múltiplos fatores que entram na formação da aptidão leiteira, o criador poderá somar o gen do Zebu selecionado para leite ao patrimônio hereditário do Holandês ou do Schwyz, com todas as vantagens decorrentes dessa mestiçagem.
Artigo de Eduardo Almeida Reis, publicado no jornal 'O Globo'- Suplemento 'O Globo no Campo' 2 a 8 de abril de 1968. Digitado e adaptado para ser postado por Leopoldo Costa
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