1.03.2012

FAZENDA DOS INGLESES (CARAGUATATUBA)


A princípio Caraguatatuba era apenas uma imensidão de terra, fechada por uma densa mata, onde os índios seguindo o caminho da sobrevivência foram abrindo trilhas, mais tarde usadas e ampliadas pelos colonizadores que deram espaço aos tropeiros. Neste sertão o caiçara foi chegando e estabelecendo um núcleo de poucas casas, dando origem à Vila, com a Igreja e pequenos focos de desenvolvimento, através, basicamente, da agricultura, bananicultura e da pesca.

Com este crescimento Caraguatatuba foi construindo seus marcos históricos, entre eles, fazendas, conjuntos arquitetônicos, monumentos e, principalmente pessoas, que ajudaram a construir esta cidade.

Entre esses marcos podemos dar destaque à Fazenda dos Ingleses, que contribui para o sustento de muitas famílias, não só da região como de várias partes do Brasil e também para o desenvolvimenro da cidade.

INÍCIO DAS ATIVIDADES

A Fazenda dos Ingleses iniciou suas atividades em 1927, com o nome de Fazenda São Sebastião, porque nesta época Caraguatatuba ainda era distrito de São Sebastião. Na realidade, Caraguatatuba em si se constituía de uma pequena vila com 2.917 habitantes.

Neste pobre cenário surge a Fazenda São Sebastião ou Fazenda dos Ingleses, que passou a representar o marco do primeiro passo, rumo ao atual desenvolvimento, garantindo emprego para a população de todo o Litoral Norte.

A área total da fazenda ao iniciar suas atividades era de 4.020 alqueires, e em 1954, o então Governador de São Paulo, Jânio Quadros, desapropriou 1.300 alqueires, pertencentes à fazenda,  para a criação do Parque Estadual de Caraguatatuba.

A Fazenda dos Ingleses foi adquirida pela empresa The Lancashire General Investment Company (Grupo Vestey), com sede em Londres, que em seguida, a arrendou para a Companhia Brasileira de Frutas que, era uma de suas subsidiárias. Posteriormente, com a modificação da legislação brasileira, as terras da Fazenda dos Ingleses foram vendidas à S.A . Frigorífico Anglo, também de propriedade da Lancashire, que em seu controle tinha ainda a Blue Star Line, empresa de Navegação, a Companhia do Fomento Mercantil, que se ocupava com a navegação de navegação de cabotagem, e a Companhia Expresso Mercantil, de agentes de navegação.

O DIA-A-DIA NA FAZENDA

O dia-a-dia naquela fazenda podia ser comparado ao movimento de uma cidade pequena, com pessoas vindas de todo o Brasil e de alguns países, que faziam do trabalho naquelas terras a única fonte de sustento.

Esta mistura de culturas foi, de uma certa forma, prejudicial para a direção da fazenda, que abrigou pessoas boas, honestas mas, também, marginais e fugitivos de outros estados, que vinham  em busca de trabalho. Alguns anos depois a forma de contratação mudou e houve uma maior seleção.

Os trabalhadores da fazenda, logo após a sua fundação, chamavam a cidade de Vila, e frequentavam muito este centro que estava começando a existir com: igrejas, ruas, praças, becos e muito poucas casas comerciais e residenciais.

Como eram mais de 4 mil residentes, entre funcionários, trabalhadores braçais, diretores e respectivas famílias, o dia-a-dia na fazenda não era fácil, como podemos imaginar pela dificuldade da convivência de pessoas tão diferentes. É sabido que muitos trabalhadores andavam armados e cabia aos dirigentes um grande trabalho de agregação e, mesmo assim, brigas e até mortes eram inevitáveis.
Na sede da fazenda ficava a diretoria e os administradores, que recrutavam entre os funcionários e seus familiares os auxiliares para o serviço doméstico.

Alguns chefes como eram chamados os diretores, tinham suas casas separadas da sede.

O alimento de toda esta gente era tirado do solo da fazenda, principalmente cereais, a banana, a laranja, verduras e, mais tarde, o gado e além de raízes e farinhas.

José da Banana, que por timidez esconde seu verdadeiro nome, nos conta um pouco de como era realmente a vida dentro daquela que seria a maior fonte de renda para Caraguatuba. Ele nasceu ali, seu pai veio de São Paulo e, na fazenda conheceu sua mãe dona Do Carmo. José da Banana tem boas recordações dos antigos diretores da fazenda.

"Havia na fazenda, o auxiliar de administração que era chamado de Fiscal. Meu pai quando chegou não tinha conhecimento sobre o plantio da banana, e a figura do fiscal era muito requisitada, pois ele funcionava como aquele homem que sabia de tudo e tudo podia resolver".

Este fiscal era visto pelos funcionários com um misto de amor e ódio, porque ao mesmo tempo que ele era útil na hora dos problemas, também fiscalizava tudo e, muitas vezes, chegava a ser rude."
Diz ainda José da Banana que no decorrer dos dias, os funcionários sem experiência iam sendo treinados para ocuparem os demais cargos além do cultivo, do plantio, da colheita ou mais tarde do cuidado com o gado.

A folga, normalmente era aos domingos, mas uma grande maioria trocava pelo sábado, porque os preparativos para o embarque da banana e toronja "grape fruit" na segunda-feira, começava no dia anterior.

Como a fazenda não vivia só do plantio, o gado era de muita de importância e para esta função eram designados somente brasileiros, porque eles eram considerados mais experientes do que os ingleses e paraguaios que aqui trabalhavam.

O almoço da fazenda era às 11h, momento em que todos paravam para comerem seu feijão com arroz e farinha, que eram levados em pequenos caldeirões, para o local onde estivessem trabalhando, porque tanto o trabalho externo como o da lavoura ficavam muito longe da sede.

A fazenda mantinha também em seu interior uma oficina que cuidava das máquinas agrícolas.

Nas horas vagas, os trabalhadores caçavam, ou jogavam futebol e a Fazenda dos Ingleses chegou a ter o seu próprio time. Como os cargos principais eram exercidos por ingleses, que foram trazidos para ocuparem cargos de direção e administração, estes dispunham de uma quadra de tênis para o lazer, pois não tinham como hábito jogar futebol.

Segundo o depoimento de um antigo morador o clima entre os ingleses e brasileiros mudou um pouco depois da 2ª Guerra Mundial e a rivalidade natural que existia acabou, talvez pelas horas difíceis dos reveses da guerra que passaram dentro ou fora de seu país.

Alguns fatos tristes marcaram o dia-a-dia da Fazenda, entre eles: o assassinato do inglês D . R . Batchelar, um dos administradores. A briga aconteceu entre Batchelar e um operário braçal, motivado pela compra de ferramentas. O trabalhador sacou de um revólver, atingindo mortalmente o inglês.

Outro fato triste foi a tentativa de invasão de uma área da fazenda por pessoas que não tinham onde morar.

Em 1932, houve um motim dos operários, que se reuniram em grupos, instigados por meia dúzia de companheiros, que tentaram através da força, conseguir benefícios salariais.

LAZER NA FAZENDA SÃO SEBASTIÃO 

A Fazenda possuía dentro de suas terras um cinema pequeno. Os operários de cada seção tinham o direito de ir ao cinema uma vez por semana, de graça, com condução paga. Como o cinema era pequeno, a freqüência era complicada. Na véspera os fiscais percorriam as seções de trabalho para saber quem iria comparecer para assistir aos filmes. Comunicavam ao departamento de tráfego que liberava o trem interno e, também, providenciavam os lugares no cinema. O esporte também movimentava muito os dias de lazer, assim como as festas que aconteciam na base do batuque e nas sedes dos clubes internos eram promovidos bailes, pelos próprios funcionários.

TRANSPORTE INTERNO

A Fazenda dos Ingleses possuía uma rede ferroviária interna, que chegou a atingir 120 quilômetros de extensão, e foi construída sob a administração do engenheiro Frank Robotton, com a ajuda de 80 práticos portugueses contratados, principalmente, em Santos e no Rio de Janeiro.

Esta ferrovia era necessária porque no auge da colheita, a composição ferroviária utilizava de 10 a 12 máquinas movidas a óleo e gasolina, além de 200 vagões, incluindo caçambas para o transporte de terra, plataformas para movimentação de madeiras e vagões para o transporte de mercadorias destinadas aos armazéns da Fazenda.

O transporte interno dos operários e suas famílias era feito através de um carrinho de inspeção, que circulava sobre os trilhos.

Toda a produção era escoada para o cais particular, situado no Porto Novo, de onde se fazia o transporte até o Canal de São Sebastião.

Foi em março de 1967 com a catástrofe, que a Fazenda dos Ingleses foi desativada: a tragédia das águas apenas adiantou um processo de desaceleração causada pelo declínio do mercado europeu de frutas, trazendo um grande prejuízo à Fazenda.

Em 1971, o grupo Penido adquiriu a Fazenda dos Ingleses, que foi transformada na Agropecuária Serramar S. A. Mais tarde, incorporou muitos hectares de terra em volta, inclusive comprando lotes de posse, mantendo ali todo seu complexo industrial.

Autoria não identificada e publicado originalmente na internet em http://www.expressaocaicara.com.br/Aniversario/historia.asp, gravado por Leopoldo Costa em março de 2002 e não encontrado mais no endereço mencionado (pode ter sido apagado). Digitalizado, adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.

11 comments:

  1. Meus avos e pais trabalharam duro nesta fazenda.

    ReplyDelete
  2. Possuo uma garrafa da pinga fabricada nesta fazenda " SUPERIOR AGUARDENTE DE PINGA SITIO VELHO" Fazenda São Sebastião- Caraguatatuba-SP

    ReplyDelete
  3. eu gostaria d entrar em contrato cm o Marcos Moreira como Fasso

    ReplyDelete
  4. eu morei nesa Fazenda dos ingreis d 1963 a 1967

    ReplyDelete
    Replies
    1. também morei lá com meus pais eu tinha uns 5, 7 anos, a madrinha do meu irmão também morava lá.

      Delete
  5. Sou detectorista e adoro a historia da fazenda e so porto dos ingleses.
    Meu sonho era fazer uma pesquisa com meu detector no antigo porto.
    Alguem sabe se tem algum responsavel com quem falar.
    Agradeço desde ja

    ReplyDelete
  6. Alguém tem noticías de se nesses novos loteamentos que estão sendo feitos na Fazenda Serrmar estão sendo preservadas as construções originais?

    ReplyDelete
  7. Linda História meu Bisavô o Português foi Caseiro do Penido por muitas décadas e minha família Avó e Mãe nasceram e foram criados na Fazenda dos ingleses..

    ReplyDelete
  8. Eu ia pra escola usando "combinação" ( uma roupa feita de pano de saco de farinha de trigo com duas alças. Alguém tem notícias de Luizão e Toninho filhos do administrador Nenê Fernandes.

    ReplyDelete

Thanks for your comments...