Consumo de carnes e pratos prontos cresce junto com o aumento da renda; a participação dos grãos na despesa cai de 11% para 7%.O desemprego historicamente baixo, com marido, mulher e filhos trabalhando fora, mudou a rotina das famílias e também o prato típico: o feijão com arroz. Cada vez mais os brasileiros estão comendo menos grãos nas refeições feitas em casa e optando por carnes e pratos prontos. Nos últimos três anos, a participação do arroz com feijão no gasto com alimentação dentro de casa caiu 4 pontos porcentuais. Em 2008, a fatia do arroz com feijão na despesa com comida no domicílio era 11% e,no ano passado, recuou para 7%, revela a pesquisa HolisticView da Kantar Worldpanel.
Para mapear o consumo de alimentos dentro de casa, semanalmente são visitados 8,2 mil domicílios no País, localizados em cidades com mais de 10 mil habitantes. Também no ano passado, de 15 grupos de despesas com alimentos no domicílio pesquisados, houve queda de 5% no desembolso com grãos em relação ao ano anterior, mesmo com deflação no arroz (-5,08%) e no feijão carioca (-2,74%)em 2011, segundo o índice oficial de inflação (IPCA), calculado pelo IBGE.
Com a queda nos preços,a tendência seria de aumento do consumo desses itens. “Mas, em 2011, foi a primeira vez em três anos que houve queda nos gastos com arroz e feijão em relação ao ano anterior”, observa a gerente de marketing da Kantar Worldpanel, Patrícia Menezes. A pesquisa mostra que o recuo na participação do gasto com grãos na alimentação no domicílio entre 2008 e 2011 foi generaliza, porém mais abrupta nas Regiões Centro-Oeste, Sul, Leste (Minas Gerais e Espírito Santo) e interior do Rio de Janeiro.
A contrapartida da queda na fatia do gasto com arroz e feijão na alimentação dentro de casa foi o aumento da participação de carnes,pratos prontos e panificados no mesmo período. Entre 2008 e 2011, o desembolso com proteína animal (carnes, ovos, aves e peixes) passou de 25% para 28%; nos pratos, a fatia no gasto subiu de 2% foi para 3%; nos pães e bolos, evoluiu de 9% para 10%. Também houve aumento nos desembolsos com esses produtos. em todas as regiões do País, mas o destaque foi para o Centro-Oeste, Leste e interior do Rio de Janeiro.
Na opinião de Patrícia, a mudança na composição do prato do brasileiro reflete a melhor situação econômica do País, com ganhos de renda,maior empregabilidade e avanço da participação da mulher no mercado de trabalho. Já o economista da Faculdade de Economia e Administração da USP, Heron do Carmo, que por mais de 20 anos coordenou o Índice de Preços ao Consumidor da Fipe e acompanhou as mudanças de hábitos de consumo do paulistano da hiperinflação à estabilidade, diz que o fator fundamental para a mudança na alimentação dentro de casa é situação de pleno emprego e o aumento no número de mulheres trabalhando fora.
Isso reduziu o tempo para o preparo das refeições dentro de casa, especialmente os mais demorados, como arroz e feijão. “Essa mudança não reflete simplesmente o aumento da renda, mas o desemprego mínimo”, pondera o economista. Além disso, ele observa que houve,no período,o aumento da formalização do emprego, que significa maior uso de vale-refeição, redução no tamanho das famílias e envelhecimento da população, que contribuíram para essas mudanças. Carmo ressalta que a leitura dos dados não permitem deduzir que a população está comendo menos arroz e feijão deforma geral, mas sim dentro de casa.
INDÚSTRIA DE ALIMENTOS JÁ SE ADAPTA À MUDANÇA
Fabricantes ampliam oferta de pratos prontos e investem em marketing; supermercados agora têm seção de rotisserie.
Líder nacional no mercado de arroz, o Grupo Josapar, dono do arroz Tio João e do feijão Meu Biju, por exemplo,tem hoje 80% do seu faturamento proveniente de commodities agrícolas, isto é, do grão no estado mais básico, que deve ser preparado da forma tradicional.Os 20% restantes da receita da empresa resultam de produtos semiprontos. “Nos próximos cinco anos, queremos aumentar em dez pontos porcentuais, de 20% para 30%, a participação nas vendas de produtos semiprontos emais elaborados”, afirma o diretor do grupo, Luís Augusto Krause.
O executivo confirma o recuo nas vendas dos grãos básicos e conta que a empresa, nos últimos quatro anos, investiu cerca de R$ 100 milhões em tecnologia. Isso resultouemduas linhas de produtos,umade arroz pronto e outra de semipronto, cujas taxas de crescimento nas vendas nos últimos anos são otriplo das registradas nas commodities.
Hugo Fujisawa,diretor da Broto Legal Alimentos, conta que os volumes vendidos de arroz e feijão cresceram, nos últimos quatro anos,60% e 40%, respectivamente. “O resultado é abaixo do esperado, se levarmos em conta o crescimento da população e da renda”,pondera o executivo. Ele destaca que a empresa conseguiu ampliar as vendas, que foram puxadas pelos produtos premium, de maior valor.
Hábitos.
“Mudou a forma de o brasileiro consumir os grãos”, afirma o presidente da Associação Paulista de Supermercados (Apas), João Galassi. Tanto é que,nos últimos tempos,a rotisserie tornou-se uma seção obrigatória dentro do supermercado, tanto nas novas lojas como naquelas que estão sendo reformadas. Ele observa que os supermercados mudaram a composição do sortimento de arroz e feijão, com ênfase nesses produtos prontos ou semiprontos.
DONA DAS MARCAS SADIA E PERDIGÃO VÊ AUMENTO DE VENDAS.
A Brasil Foods, gigante na produção de carnes e pratos congelados com as marcas Sadia e Perdigão, está se beneficiando da mudança na forma de o brasileiro fazer as refeições dentro de casa. “As pessoas estão com menos tempo para preparar o jantar e substituindo essa refeição pelo lanche. Cerca de 70% dos lares com filhos comem vendo TV ou conectados ao computador”, diz o diretor, Eduardo Bernstein. Com essas mudanças, a empresa detém hoje 10,4% do mercado de congelados e 70% de sanduíches. No frango, as vendas crescem pelo menos 10% ao ano.
Por Marcia De Chiara, publicado no "Estado de S. Paulo", edição de 20 de maio de 2012. Adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.
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