5.18.2012

BANDEJÃO DE R$ 1 DO CENTRO DO RIO DE JANEIRO

Restaurante popular da Central do Brasil é de tirar o apetite


Um cardápio sem frutas, legumes, verduras e sopas, falta de limpeza nos banheiros e confusões no salão de refeição são problemas flagrados no bandejão a R$1 do Centro.

O preço é sugestivo, apenas R$1, e a fome de quem não tem dinheiro não deixa outra alternativa. Mas as condições do Restaurante Popular Herbert de Souza, na Central do Brasil, são de cortar o apetite. Repórter X conferiu a qualidade dos alimentos servidos e constatou que,além de falta de variedade no cardápio, banheiros sujos e brigas dentro do salão de alimentação tornam o almoço um enorme desafio.
A fila na porta do restaurante, na Rua Senador Pompeu, começa cedo. Para garantir uma das 4.980 refeições, as pessoas começam a chegar às 7h. No cardápio, feijão, arroz, purê e frango grelhado com molho de tomate. Para sobremesa, laranja, e ainda acompanhada de um saco de pão. Não há salada nem sopa.
O artesão Sérgio Fabião reclama da qualidade da comida. “Não tem variedade e o sabor é amargo”, critica. Em menos de 20 minutos no restaurante, o Repórter X sentiu o clima de insegurança que afasta muitos trabalhadores do local. Como muitos moradores de rua que comem na unidade são usuários de drogas, brigas são diárias. Uma delas só foi resolvida após os seguranças expulsarem uma mulher, que estava na confusão.
No salão de alimentação, pelo menos cinco homens, com rádios nas mãos e camisas pretas, controlam os clientes. “Quase todo dia tem confusão. Eu, que não tenho condição de pagar restaurante caro e gastar no mínimo R$ 15, continuo vindo aqui”, revela o comerciante Marcelo Cabral.
Idosos reclamam do atendimento. “Do lado de fora tem fila separada para idoso, mas quando entra para pegar comida, mistura todo mundo. As pessoas passam na sua frente”, contou o aposentado Gilberto Staer, 70. O banheiro, segundo os clientes, na maioria das vezes está fechado ou sem água.No dia 7, tinha vômito nas paredes, não tinha papel higiênico nem trancas nas portas.

Nutricionista alerta para desequilíbrio no cardápio oferecido.

A nutricionista Gabriela Zugliani explica que um prato não pode ser considerado balanceado sem legumes e verduras. “A salada é fundamental”, diz. Segundo ela, o atual cardápio do restaurante da Central do Brasil não mata a fome por muito tempo. “A combinação eleva a glicose,mas em 30 minutos a pessoa estará com fome de novo”,explica Gabriela.
O ideal seria oferecer o mesmo que restaurantes populares do Méier e de Bonsucesso. Além de duas opções de carnes,quem paga R$1 tem salada,sopa,duas opções de sobremesa e, no final para a digestão, chá ou café.Os clientes elogiam “A comida aqui é ótima”, aprova o massagista Alfredo Matheu,72,cliente do Méier.
A Secretaria Estadual de Assistência Social admite os problemas no restaurante da Central do Brasil e explica que falta d’água impediu a oferta de sopas, frutas, verduras e legumes e impossibilitou a limpeza dos banheiros. Segundo o órgão, o abastecimento está sendo normalizado.
A secretaria explica que 70% do público desse bandejão são moradores de rua, diferentemente dos outros restaurantes populares, e que,porisso,é necessária a presença de seguranças para manter a ordem.

Reportagem de Fernanda Alves, publicada no jornal "O Dia", do Rio de Janeiro de 16 de maio de 2012 com o título de "Restaurante popular da Central de tirar o apetite". Adaptado e ilustrado para ser postada por Leopoldo Costa.

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