12.16.2012
A MÁ FAMA DOS LAMBRUSCOS
Lambrusco tem má fama de vinho doce e barato, mas não é verdade. Já provei vários bons representantes: frutados, delicados, equilibrados com algo de acidez e doçura, com bolhinhas refrescantes, deliciosos!
Isso aconteceu na Itália e aqui em São Paulo, em um evento, onde o órgão italiano regional que promove os vinhos da Emilia Romagna trouxe ótimos exemplares para tentar inverter a má fama no Brasil.
Achei que, com essa ação, passaríamos a encontrar melhores lambruscos. Pensei: vou degustar alguns para indicar e quebrar o mito de que lambrusco é um vinho inferior.
Antes, explico o que é lambrusco: basicamente, é o nome de uma uva tinta da região da Emilia Romagna que dá vinhos tintos, roses e até brancos, de níveis variados e açúcar, geralmente algo espumantes. Há três subvariedades: sorbara, grasparossa e salamino -e cada uma delas tem um denominação de origem própria.
Mas provei e não fui feliz. O Lambrusco Reggiano Concerto (R$ 56,35 - Decanter ) tinha um nariz frutado, mas nada de sabor em boca. O Lambrusco di Sorbara Vecchia Modena Premium (R$ 57,97 - Casa Flora) era levemente frutado, mas rústico e rascante. Do mesmo produtor (Chiarli), um vinho mais simples (R$ 26,70 também da Casa Flora) tinha cheiro de uvas estragadas.
O Lambrusco Puntamora Amabile ( R$94,52 - Mistral) era frutadão, mas a boca é enjoativa, sem frescor. O Lambrusco Graparossa di Castelvetro da Tenuta Pederzana (R$77,41 - Mistral) apesar de frutado e floral no nariz, na boca era ácido, tânico e secante.
Não adianta o órgão da Emilia Romagna vir aqui, gastar um dinheirão com coletivas de imprensa e mostrar seus melhores vinhos se esses rótulos não estão disponíveis no país. A impressão que ficou foi que o melhor fica para eles, e o exportado é uma grande porcaria. Eu não queria pensar assim, mas foi o que minha degustação me mostrou.
Conhecendo bons lambruscos, posso afirmar, não desistamos. Há bons. Mas se a Emilia Romagna não enxergar o consumidor brasileiro como um público conhecedor e exigente, que é o que somos hoje, e continuar a exportar vinhos de qualidade duvidosa, eles não serão levados a sério. E, ao contrário do que eu pensava, ou seja, que teria boas surpresas para apresentar para vocês, ficamos com um grande vazio do que poderia ser uma lista de maravilhosos tintos delicados e vivazes. Quem sabe no ano que vem.
Texto de Alexandra Corvo (que trabalhou por 15 anos como sommelière nos EUA, Europa e Brasil), publicado na "Folha de S. Paulo" de 12 de dezembro de 2012 no caderno "Comida". Adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.
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