A iniciativa sucede a interrupção das compras de carne pelo Japão e aumenta temores de que a recente descoberta do agente causador da doença em um animal morto em 2010, no Paraná, agrave a queda nas exportações totais brasileiras.
A carga contida em quatro contêineres bloqueados em Bandar Abbas, principal porto comercial do Irã, foi detida dias atrás, em data não especificada, pela Agência Veterinária Iraniana (IVO, na sigla em inglês).
"Ainda não se sabe se a carne importada do Brasil está infectada com a doença da vaca louca. Mas, se estiver, suspenderemos todas as importações do país", disse Mohammed Yeganeh, diretor-geral da IVO, em declarações à imprensa iraniana.
Segundo ele, as compras de carne brasileira já estão sob investigação.
A decisão pegou de surpresa a Embaixada do Brasil em Teerã, que já vinha tratando do assunto com a IVO para tentar manter o fluxo de vendas ao Irã, um dos maiores mercados para commodities brasileiras no Oriente Médio.
Representantes da IVO haviam sinalizado apenas a possibilidade de cortar a compra de carne do Paraná.
O Ministério da Agricultura e a Abiec (associação dos exportadores de carne bovina) disseram não ter sido comunicados oficialmente sobre o bloqueio à carga.
A empresa JBS, uma das principais exportadoras de carne brasileira ao Irã, afirmou que a reação das autoridades iranianas não se justifica, pois é impossível detectar o agente analisando um carregamento de carne.
Segundo a companhia, os testes só podem ser feitos no cérebro e em partes do sistema nervoso do animal.
A JBS também argumenta que a OIE (Organização Mundial de Saúde Animal) decidiu manter a classificação do país como de risco insignificante para a doença.
O problema surge em meio à retomada das importações de produtos brasileiros pelo Irã, que caíram no início do ano, sob o governo Dilma.
Para o Brasil, é possível alcançar a marca de US$ 2 bilhões registrada na corrente comercial bilateral em 2011, dominada com folga pelas exportações brasileiras.
RÚSSIA
A perspectiva de novos embargos afetou o desempenho dos frigoríficos no pregão da Bovespa de ontem. Os papéis da JBS recuaram 2,7%, os da Marfrig caíram 5,3% e os do Minerva perderam 4,5%.
O movimento de venda das ações do setor ganhou força devido à notícia de que a Rússia, principal destino das exportações de carnes, estuda suspender a importação da carne brasileira.
"Aparentemente o caso não representa um risco para a cadeia produtiva de carne, porém é difícil prever a repercussão sobre os mercados importadores, altamente exigentes e preventivos", avalia a Ativa Corretora.
O Ministério da Agricultura e a Abiec (associação dos exportadores de carne bovina) dizem não ter sido procurados por autoridades russas para esclarecimentos sobre o episódio envolvendo o agente causador da vaca louca.
O silêncio, no entanto, deve ser rompido hoje, em reunião entre o secretário de Relações Internacionais do ministério, Célio Porto, e o diretor da autoridade sanitária e fitossanitária russa (Rosselkhoznadzor), Sergey Dankvert, em Moscou.
A reunião, que antecede a chegada da presidente Dilma Rousseff à Rússia na próxima sexta-feira, já estava agendada para discutir o uso de ractopamina, um promotor de crescimento, nos animais.
Na semana passada, a autoridade sanitária russa publicou comunicado exigindo dos exportadores um certificado que ateste a ausência da substância nas carnes.
Como os exames para atestar a ausência desse promotor de crescimento são caros e demorados, há a expectativa de que a decisão russa provoque empecilhos às exportações brasileiras de carne.
A nova exigência russa ocorreu uma semana depois de o governo anunciar o fim do embargo à carne de Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul, após 17 meses de negociações.
A liberação das vendas dos frigoríficos considerados aptos pela autoridade sanitária russa a exportar àquele país também será tema do encontro de hoje.
(Texto de Samy Adghirni e Tatiana Freitas)
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MESMO SEM PROBLEMA SANITÁRIO, PRODUTO JÁ TEM OS SEUS "INIMIGOS DE PLANTÃO".
O Brasil, pode-se dizer, tem um bom sistema de controle sanitário. O importante, no entanto, não é apenas dizer que tem, mas mostrar que tem. O setor de carnes é muito importante para o país deixar escapar esporadicamente pelas mãos esse controle.
Irã segue Japão e Rússia e põe carne brasileira sob suspeita
E isso não é um problema desse governo, mas um problema de governos. Há décadas o país conta com a sorte, mas de vez em quando o pior acontece.
Foi assim em 2005, quando o país foi vítima de um caso de febre aftosa. O mundo se fechou à carne brasileira, e alguns países só voltaram ao mercado brasileiro recentemente. O valor da carne caiu, o rebanho diminuiu e os prejuízos se espalharam por toda a cadeia.
Neste ano entrarão no país US$ 14,1 bilhões vindos das exportações de carnes.
Um setor que gera tanto e tem reflexos tão importantes na economia deveria ter um tratamento diferenciado no aparelhamento técnico e na preparação dos profissionais. Além de um orçamento à altura do que vale.
Um dos motivos para o atraso no resultado das amostras do caso do Paraná -que durou dois anos- foi um incidente em um dos laboratórios nacionais, como relatou o governo à OIE (Organização Mundial de Saúde Animal).
Os governos deveriam ter políticas de longo prazo para esses setores sensíveis. Uma programação eficiente no passado teria evitado os problemas atuais. Uma política eficiente agora evitará problemas no futuro.
O Brasil, é sabido, tem muitos dependentes de sua carne, mas também tem muitos inimigos de plantão. Sem a existência de problemas sanitários, as barreiras já se espalham por vários países. Imaginem com motivos.
É o cenário do momento. Por mais que o governo mostre que hão houve caso de vaca louca, uma posição aceita pela OIE, o país começa a receber os primeiros embargos, como o do Japão, e as primeiras ameaças, como as do Irã e da Rússia. Estes últimos são importantes destinos da carne bovina brasileira.
O Brasil exportou US$ 5,1 bilhões em carnes bovinas até o mês passado -russos e iranianos foram responsáveis por 25% desse valor.
Os russos já gastaram cerca de US$ 1 bilhão até novembro, valor próximo ao de 2011.
Já o Irã, que retoma as compras de carne brasileira, gastou US$ 302 milhões até o mês passado. De janeiro a novembro de 2011, os gastos somaram US$ 673 milhões.
É importante que o Brasil consiga mostrar o que realmente houve com a vaca do Paraná. Se confirmados esses embargos, e houver extensão para outros países importantes, os estragos serão grandes. Na lista dos maiores importadores estão Egito, Venezuela, Hong Kong e Itália.
(Artigo de Mauro Zafalon)
Ambos textos publicados na "Folha de S. Paulo" de 12 de dezembro de 2012. Adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.
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