12.13.2012
O NOVA-IORQUINO APRENDE A ALMOÇAR
Para aproveitar a exposição Lunch Hour NYC (A Hora do Almoço em Nova York), na Biblioteca Pública de NY, a melhor hora talvez não seja a do almoço: o tempo é curto, as alas estão cheias, a fome atrapalha. É melhor ter tempo para ver a mostra feita pela historiadora de culinária Laura Shapiro e a bibliotecária Rebecca Federman.
A viagem começa com cartazes e fachadas sobre comida de rua de NY. Aprendemos que pretzels tinham má fama por serem associados a cabarés; que os primeiros hot-dogs eram “o tipo de comida que as mães ensinavam os filhos a nunca comer”; como os restaurateurs japoneses adaptaram sua comida ao gosto dos nova-iorquinos; e vemos uma entrevista em vídeo com Ed Beller, inventor do carrinho de cachorro quente Admar, que virou padrão.
Mas a comida de rua é apenas um aperitivo para o muito mais complexo almoço da cidade de Nova York.
Historicamente, o almoço, na tradição inglesa, era menos importante que o jantar. “Lunch” (almoço) era, pelo Dicionário de Língua Inglesa de Samuel Johnson, de 1755, “a quantidade de comida que se pode segurar com a mão”. Mas o almoço foi se modificando. Estabeleceram-se horários. Trabalhadores do centro não tinham mais tempo de ir para casa comer e voltar. A hora do almoço decolou.
Uma indústria se desenvolveu em torno do almoço. Um cartaz de 1888 de um restaurante central mostra garçons e clientes de cartola misturados num tumulto de comida e conversa. A automação, décadas depois, substituiu a confusão por uma ordem asséptica: pessoas sendo servidas sem o uso das mãos. O escritório automatizado levou à cafeteria automatizada.
A exposição reuniu gírias ligadas à restauração. Garçonetes de lanchonete dos anos 1940 chamavam gelatina de “pudim nervoso” e sopa de algo como “lava-bucho” (belly wash).
Hoje, o almoço continua sendo a refeição mais democrática, o grande nivelador da cidade, a pausa nos rituais da vida social e econômica. Qualquer um pode estar ao lado de qualquer um, agarrando tanta comida quanto a mão consiga.
Texto de Carla Peralva publicado no caderno "Paladar" de "O Estado de S. Paulo" de 13 de dezembro de 2012. Adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.
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