1.05.2014

BREVE HISTÓRIA DE CAMPINAS

Campinas já existia quando foi fundada oficialmente. O lugar, que fazia parte da estratégia de defesa da Coroa portuguesa, era, no fim do século 18, um pouso no meio do caminho entre dois locais em estágio avançado de ocupação - Jundiaí e Mogi Mirim.

Anhanguera abriu o caminho para Goiás

A estrada que passava pelo pouso dos bandeirantes e deu início ao povoamento de Campinas, no século 18, saía de São Paulo e chegava até a cidade histórica de Vila Boa de Goiás, antiga capital do estado de Goiás.

A cidade, tombada como patrimônio da humanidade, foi criada para a fundição do ouro e era o equivalente às cidades mineiras do ciclo anterior de exploração de minerais preciosos no Brasil.

As localidades ao longo desse caminho instalaram as primeiras casas comerciais do interior de São Paulo, de restaurantes a casas de prostituição.

O caminho foi aberto aos portugueses pelo bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera. A estrada dos bandeirantes já existia em 1732.

Os bandeirantes usavam os conhecimentos dos índios para "descobrir" o caminho do ouro no período que antecedeu a colonização de São Paulo.

As escavações na obra de prolongamento da rodovia dos Bandeirantes, por exemplo, revelaram restos de civilizações antigas na região.

O pouso de bandeirantes era um entreposto. A localidade era povoada porque os bandeirantes tinham uma jornada de marcha ritmada para conseguir caminhar entre São Paulo e O final do percurso - a região de Goiás.

O percurso definido pelos bandeirantes, que aproveita traçados de trilhas indígenas, obedecia a uma cadência. O pouso dos bandeirantes que originou Campinas foi criado por volta de 1730, quando foi aberta a trilha.

A origem de Campinas é o tema da tese de doutorado do ex-prefeito de Campinas, Antonio da Costa Santos, pela USP (Universidade de São Paulo), sob orientação do urbanista Cândido Malta Filho.

O estudo, apresentado em 1997, utiliza dados que resultaram de pesquisas feitas em Portugal e no Brasil - no Centro de Memória da Unicamp, Arquivo do Estado de São Paulo, Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e fotos de satélite da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).

O material incluiu pesquisa cartorial de inventários das famílias que vieram com os bandeirantes.

O plano de ocupação e colonização só vem depois da formação do pouso; a partir do comando da capitania, segundo Antonio.

Morgado de Mateus chegou em 1765, ficou até 1775 e determinou, por meio de um documento, que, devido ao plano estratégico de ocupação, era preciso estimular a vinda de povos para a localidade.

A contrapartida era a doação de terras. Com isso, ele estimulou a vinda das famílias que seriam pioneiras do plantio da cana-de-açúcar. Morgado de Mateus considerou a planície da região adequada para o açúcar, mas dependia do uso de carros de boi para implementá-la.

A planície tinha solo, topografia e clima adequados para o plantio da cana-de-açúcar com o uso de carros de boi.

O gado foi trazido por tropeiros, de Sorocaba, vila que tinha uma importante feira permanente de venda de animais.

A comercialização do gado estimulou o processo de implantação da cultura da cana-de-açúcar e até mesmo de outras localidades no caminho.

O gado também vinha da região Sul do pais, onde hoje é a Região Metropolitana de Porto Alegre, e da atual região de Curitiba.

As fazendas de gado foram desenvolvidas ao longo da estrada que ligava o sul a Sorocaba.

O plano de implantação de povoados elaborado por Morgado de Mateus constituiu o Quadrilátero Paulista do Açúcar, que prospera de 1790 até 1840, mesmo depois de sua volta para Portugal, em 1775.

"Foi uma construção que levou pelo menos umas duas décadas. Esse pouso ficava onde é hoje o estádio do Guarani, é coisa de bandeirante", afirmou Antonio.

Os tropeiros viveram da economia açucareira de 1790 a 1840. "A designação tropeiro vem de tropa de gado, que vinha do sul", disse Antonio sobre os dois ciclos de colonização.

Fundação

A interferência de Francisco Barreto Leme - fundador oficial de Campinas -, que era vereador de Jundiaí, nesse processo foi o de executar o plano de povoamento de Morgado de Mateus.

Mateus designou a Barreto Leme a fundação da futura cidade, com a transformação do pouso dos bandeirantes em uma freguesia de Jundiaí.

A tarefa de Barreto Leme foi trazer as famílias, assentá-la;, na localidade e fazê-las plantar cana-de-açúcar para a localidade prosperar. No entanto Barreto Leme se negou a fundar a vila no local do pouso e fez a fundação onde é hoje o atual centro da cidade, no largo do Carmo.

Barreto Leme toma essa atitude porque era morador e, para fundar a freguesia, seria obrigado a doar parte de suas terras para a construção da igreja matriz e o prédio da Câmara e a cadeia.

A mudança proposta por Barreto Leme foi aceita pelos moradores, segundo o ex-prefeito de Campinas.

"Os moradores queriam fugir, como o diabo foge da cruz, dessa estrada que passava ali em baixo (próximo ao campo do Guarani). Ali era uma estrada de contrabando do ouro", disse Antonio.

Havia contrabando em pontos considerados estratégicos, principalmente onde havia pontos de registro, os "pedágios". Os pontos de registro de passagem serviam para controle do tráfego de carregamentos de ouro e para manter o comando da Capitania informado sobre a atividade mineradora.

O contrabando vinha  da região de Ouro Fino (MG), acima do planalto cristalino atlântico, na serra de Mantiqueira. Ouro Fino estava deslocada do 'eixo' formado por Minas Gerais e Rio de Janeiro. Pela cidade era possível atravessar a serra da Mantiqueira em pontos próximos à região de Campinas, em direção a Jundiaí.

Mesmo com a "transferência' do centro no ato de fundação da freguesia da Imaculada Conceição das Campinas do Mato Grosso de Jundiaí, a cidade também prospera com a passagem do contrabando.

Neste momento, a influência da cidade na região começa a ser delineada com o movimento das tropas e dos escravos negros, que também eram traficados pelo caminho que levava a Goiás.

Data em que surgiu o povoado é obscura

A experiência da reconstrução de Lisboa - atingida por um terremoto em 1755 - é empregada na modelagem do centro a partir da fundação da freguesia que deu origem a Campinas, projetada pelo ciclo econômico da cana-de-açúcar.

O projeto arquitetônico empregado em Portugal era importado da França e passou a ser a principal referência no plano de ocupação da nova freguesia.

A execução do projeto foi prevista em um documento da Coroa portuguesa chamado "bando", semelhantes aos decretos.

A futura cidade foi delineada a partir de um plano predatório de Portugal de extração do ouro, que deu origem à parada de bandeirantes.

Eles trafegam de Jundiaí para Mogi Mirim, povoados já constituídos na época e que tinham a localização de Campinas na metade do percurso entre elas.

Por isso, a data exata do inicio da cidade ainda permanece obscura, segundo historiadores.

O reconhecimento pela Coroa portuguesa acontece por volta de 1730. Nesse ano, já existiam moradores nas proximidades do córrego Proença.

A mudança para o novo centro, operada com a interferência de Barreto Leme, ignora o embrião urbano identificado como canal do tráfico de ouro e escravos.

A ocupação da cidade é o cartão de visitas pará o café, nova modalidade econômica que a metrópole portuguesa permitia ser implantada em Campinas.

A cidade já tinha um desenvolvimento agrícola devido ao ciclo da cana-de-açúcar e do gado, depois usado na mecanização da nova cultura. A década de 1840 é marcada pelo início da decadência da cana-de-açúcar.

O plantio do café foi viabilizado pelos recursos naturais adequados e a estrutura criada com a implantação do plano de colonização dos portugueses.

O desenvolvimento da economia do café foi rápido. A cidade também já tinha escravos e, despontava com o grande potencial econômico que se consolidou com o cultivo do café até o final do século 19.

Estradas de ferro

O café trouxe o trem e a criação das companhias ferroviárias: Paulista, Sorocabana e a Mogiana, financiadas a partir de capital dos barões do café campineiros. Eles financiaram a construção da Estação Central.

Os trens foram fundamentais para exportar o café consumido nas casas vienenses, parisienses, londrinas e nova-iorquinas.

O café exportado saía da Estação Central de Campinas para os trens da Companhia Paulista e passava por Jundiaí e São Paulo até chegar ao porto de Santos.

A Sorocabana era responsável pela ligação ferroviária até o Oeste de São Paulo. A Mogiana seguia para o norte.

No século 19, as companhias ferroviárias de Campinas ainda faziam a rota para Goiás.

Datas importantes na história de Campinas

1774 - No dia 14 de julho é criada a freguesia da Imaculada Conceição das Campinas do Mato Grosso de Jundiaí.
1782 - Morre Francisco Barreto Leme, vereador de Jundiaí e um dos criadores da freguesia.
1792 - Ano da abertura oficial da estrada ligando a freguesia a Itu, importante polo de produção de açúcar.
1797 - A freguesia é promovida  a condição de vila e altera o nome para vila de São Carlos.
1798 - A vila tem fluxo de exportação de 8.443 arrobas de açucar e exporta também farinha de mandioca e fumo.
1801 - Uma crise atinge a vila e o governador Castro Mendonça manda prender membros da Câmara de Vereadores.
1807 - Definido o cronograma de obras para a nova igreja matriz, atual Catedral Metropolitana.
1822 - Censo realizado conclui que a vila tem população de 7.369 moradores.
1832 - Hércules Florence divulga experimentos que resultariam em processo semelhante ao da fotografia.
1842 - A vila de São Carlos é elevada a condição de município e passa a usar o nome de Campinas.
1846 - Imperador D. Pedro II visita Campinas.
1850 - Inauguração do Teatro São Carlos.
1875 - Imperador D. Pedro II visita pela segunda vez a cidade e inaugura um sistema de iluminação pública.
1879 - Começam a funcionar os primeiros bondes de tração animal. 
1886 - Chega a cidade a energia elétrica.
1887 - É criado o Instituto Agronômico de Campinas (IAC).
1889 - Epidemia de febre amarela dizima grande parte da população da cidade.
1900 - É criada a Associação Atlética Ponte Preta, um dos mais antigos times em atividade no país.
1912 - Os bondes de passageiros passam a ser elétricos.
1919 - Epidemia de gripe espanhola dizima grande parte da população da cidade.
1924 - Inauguração do Hospital de Dementes, hoje Instituto Cândido Ferreira.
1930 - Inauguração de telefones automáticos na cidade.
1935 - Inauguração do mais alto edifício da cidade na esquina da Barão de Jaguara com a César Bierrembach.
1941 - Criação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade Católica, a atual PUC-Campinas.
1948 - Inauguração da primeira linha comercial aérea ligando a cidade ao Rio de Janeiro.
1952 - Construção da adutora de águas do distrito de Souzas até o centro da cidade.
1960 - Inauguração do aeroporto de Viracopos.
1967 - Instalação do CATI (Coordenadoria de Assistência Técnica Integral).
1969 - Instalação do ITAL (Instituto Tecnológico de Alimentos).
1972 - Vaticano concede o título de Pontifícia a Universidade Católica de Campinas.
1984 - Instalação do Laboratório Nacional de Luz Sincotron do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Digitação, adaptação de Leopoldo Costa de texto de autoria de Eli Fernandes, publicado no caderno especial "Folha Campinas" que circulou regionalmente com a "Folha de S. Paulo" de 14 de julho de 2001. 

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