1.01.2014

OS MAIORES ENGANOS DA HISTÓRIA DA CIÊNCIA

Nem os maiores cientistas estão livres da possibilidade de erro. Falsas teorias, falhas no equipamento de pesquisa, preconceitos e religião provocam a maioria dos equívocos.

Isaac Newton (1643-1724), que era presidente da Real Academia de Ciências inglesa, envolveu-se em várias polêmicas com cientistas. A mais famosa delas com Robert Hooke (1635-1703), que o acusou de plagiar seu trabalho sobre a relação matemática entre a força da gravidade e a distância (se a distância dobra, a força diminui quatro vezes). De fato, Hooke havia escrito a Newton sobre essa idéia em 1679. Mas tratava-se de uma hipótese, baseada só na intuição, e na qual Newton trabalhava havia dez anos, baseado nos estudos de Kepler. Hooke, porém, morreu acusando Newton de plágio.

Newton era também um adepto fervoroso do ocultismo. Dedicava-se à cópia de textos herméticos que supunha terem sido produzidos no antigo Egito, no Oriente e até na lendária Atlântida. Eram simplesmente textos inventados por ardilosos copistas da Espanha.

Acusações infundadas, feitas de boa ou má-fé, são comuns. David Baltimore, presidente da Universidade Rockefeller e Prêmio Nobel de Medicina em 1975 pela descoberta de uma propriedade fundamental dos vírus causadores de câncer, foi vítima, em 1990, de uma acusação de má conduta científica. Baltimore e a imunóloga brasileira Thereza Imanishi-Kari foram apontados por um membro de sua equipe, Margot O’Toole, como tendo alterado os resultados de uma experiência genética para um artigo publicado na revista Cell. O resultado da investigação inocentou totalmente Baltimore e Thereza.

A publicação de estudos ou de livros algumas vezes foram motivos de acusações. O mais famoso caso desse tipo na história da ciência envolveu o matemático suíço Johann Bernoulli (1667-1748), acusado pelo próprio filho, Daniel (1700-1782). Em 1738, o livro Hidrodinâmica, de Daniel, estava sendo impresso quando ele foi surpreendido pelo lançamento de outra obra, de igual título e conteúdo, assinada por seu pai.

O autor da fraude melhor comprovada da história da ciência — a do Homem de Piltdown, um crânio humano com mandíbula de macaco, desenterrado por Charles Dawson, em 1912 — foi desmascarado. Somente na década de 50, com a introdução dos testes com carbono-l4 para datação da idade de fósseis comprovou-se que o crânio pertencia a um Homo sapiens de 10000 anos; e a mandíbula, envelhecida quimicamente, era bem mais recente. Apesar das suspeitas sobre Dawson e seu colega George Edward Smith, nunca se conseguiu provar quem foi o autor da fraude.

O biólogo Paul Kammerer (1880-1926) pagou com a vida por uma fraude que nunca se provou ter sido praticada por ele. Adepto da teoria de Jean-Baptiste Lamarck (1744-1829) de que as características adquiridas acidentalmente se transmitem aos descendentes, Kammerer apresentou em 1923 o resultado de uma pesquisa para prová-la. Segundo Kammerer, em suas experiências, obrigados a se acasalarem na água, sapos-parteiros de terra firme, que não têm o polegar colorido típico da espécie que vive na água, haviam transferido a seus descendentes esse traço característico.

Em 1926, entretanto, descobriu-se que os polegares coloridos dos sapos de Kammerer haviam sido pintados. Kammerer protestou inocência e foi aberto um inquérito no Instituto de Pesquisas de Viena, onde trabalhava, para apurar o responsável pela fraude. Kammerer não esperou pelos resultados. Sentindo-se desacreditado, matou-se com um tiro na cabeça. O inquérito não encontrou evidências de que tivesse sido ele o autor da fraude.

Em 1878, Louis Pasteur pediu à sua família que nunca tornasse públicas suas anotações de laboratório. Durante quase 100 anos seu desejo foi cumprido, até que em 1964 os documentos foram doados à Biblioteca Nacional de Paris por um de seus netos. Antes não o tivesse feito. Estudando as notas de laboratório de Pasteur, o historiador Gerald Geison, da Universidade de Princeton, diz ter encontrado evidências de que o comportamento de Pasteur não pode ser chamado de exemplar quanto à ética científica. Segundo Geison, em 1881 Pasteur publicou os resultados da pesquisa de uma vacina contra o antraz, uma espécie de tumor inflamatório, em um rebanho de ovelhas. O teste foi um sucesso completo: só os animais vacinados sobreviveram. A única coisa que Pasteur não teria informado é que as vacinas não haviam sido criadas mediante seu método de inativação por oxigênio, mas mediante uma fórmula idealizada por outro pesquisador, que faleceu logo depois. Além disso, conforme Geison, Pasteur teria experimentado em seres humanos vacinas — e não apenas contra a raiva, o que seria compreensível devido ao desespero diante de uma doença fatal — que jamais haviam sido testadas em animais.

Em 1847, o mesmo Pasteur,com 25 anos de idade, investiu-se de poderes demiúrgicos e incorre em experiências inacreditáveis: pretendia criar a vida a partir de truques magnéticos, lâmpadas especiais e espelhos.

Em 1671, o médico holandês Theodor Kercking, disposto a demonstrar que o aparelho reprodutor da mulher era semelhante ao de uma galinha, relata ter encontrado ovos no interior de uma mulher dissecada. Para provar que se tratava de ovos iguais aos produzidos pelas aves, cozinhou-os e achou neles "um gosto extraordinário e desagradável". Hoje se acredita que Theodor degustou de  verdade, foram horripilantes quistos ovarianos.

Quando aplicou ao Universo sua recém-formulada teoria geral da relatividade, em colaboração com o astrônomo Willem de Sitter, Albert Einstein percebeu que o Cosmo estava em movimento e expandindo-se. Essa constatação fez com que pensasse que sua teoria não funcionava, já que na época acreditava-se que o Universo era estático. Para compensar essa expansão, Einstein introduziu na teoria geral da relatividade um termo extra, que chamou de “constante cosmológica” — uma espécie de energia do vácuo, que impediria a dilatação cósmica. Em 1929, entretanto, Edwin Hubble comprovou que o Universo não é estático, mas está de fato em expansão e, portanto, a “constante cosmológica” estava sobrando. “É o mais grave erro de minha vida profissional”, lamentou-se Einstein. Mas, como disse o escritor irlandês James Joyce, um homem de gênio não comete erros: seus enganos são voluntários e constituem a porta da descoberta. A “constante cosmológica” de Einstein acabou sendo retomada por Alan Guth, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, exatamente para explicar o modelo de Universo em expansão. Ela hoje é uma das bases da teoria do Universo pulsante, para explicar como este entrará em retração.

As revistas científicas sonegam do público informações que podem afetar a vida das pessoas, em nome dos chamados “interesses nacionais” ou das grandes companhias? Existe censura nessas revistas? As duas questões estão colocadas desde que se descobriu que pelo menos dois informes científicos, cuja divulgação poderia gerar problemas à indústria ou ao governo, tiveram sua publicação dificultada pelas revistas especializadas.

No primeiro caso, um estudo assinado por Thomas Chalmers, da Escola Pública de Saúde de Harvard, relaciona o uso de água clorada com o câncer da bexiga e do reto. O artigo foi rejeitado por três importantes revistas médicas, que publicaram, porém, outro trabalho sobre os benefícios do programa público de tratamento da água com cloro.

A mesma dificuldade para publicação encontrou o comunicado de Samuel Ben-Sasson, da Universidade Hebraica, em Jerusalém, que estabelece uma conexão entre a luz fluorescente com a leucemia infantil. Os editores de algumas das principais revistas científicas se recusaram a publicá-lo, alegando que poderia gerar pânico entre as mães.

Para o católico Gottfried Leibniz (1646-1716) corpo e mente - que identificava com a alma - jamais se encontram.

Georg E. Stahl (1660-1734) dizia que o carvão ao queimar liberava a inexistente substância "flogisto". Hoje sabe-se que se libera oxigênio.

Marcello Malpighi (1628-1694) confundiu os biólogos da época ao afirmar ter visto um pintinho gerado de um ovo não fecundado.

Alquimista e o maior médico do século XVI, Paracelso (1493-1541) escreveu que deixando-se apodrecer o esperma de um homem durante quatro dias ou até que, enfim, comece a viver e mover-se. Nesse momento, ele já parece uma criatura humana, mas ainda é translúcido e carente de corpo. Após isso, passa-se a alimentá-lo diariamente, cautelosa e prudentemente, com o arcano do sangue humano, mantendo-o durante 40 semanas com o calor contínuo e igual de um ventre equino. Passado esse tempo, ele se transformará em um bebê vivo, como o nascido de uma mulher, só que muito menor. Trata-se do chamado homúnculo, que deve ser criado com todo cuidado e zelo, até que se desenvolva e comece a adquirir inteligência.”

Paracelso também acreditava na possibilidade em transformar chumbo em ouro e outras idéias que hoje nos parecem ridículas, mas que eram tidas como verdades e constituíam o grande campo de investigação dos sábios de sua época. Além disso, não havia até 1541, ano em que morreu, um método científico consolidado, capaz de se contrapor às suas convicções de que: “A imaginação tem precedência sobre tudo. Por meio dela podemos chegar a resultados verdadeiros”.

Os casos de comprovada má-fé, como o do médico australiano William McBridge, são raríssimos. Foi McBridge quem, em 1961, descobriu os efeitos nocivos da talidomida sobre os fetos. Voltou à carga quase vinte anos depois, acusando o Debendox, medicamento comercializado pela Merrel Dow, de provocar os mesmos males. Dessa vez, porém, foi pilhado em flagrante falsificando os testes com o remédio. McBridge perdeu sua reputação.

Gregor Mendel (1822-1884) viveu e morreu como monge em um mosteiro austríaco, em cujo pequeno jardim fez as experiências com ervilhas, a partir das quais deduziu a existência dos genes. No entanto, foi colocado sob suspeita de manipular os números de sua pesquisa para apoiar sua tese, aliás confirmada depois em todos os testes. “Mas os resultados são bons demais para serem verdadeiros”, acusaram seus críticos.

Johannes Kepler (157l-1630) foi acusado de adulterar cálculos, para que se ajustassem a sua teoria de que os planetas se movem em órbitas elípticas e não circulares — e apesar disso os planetas do sistema solar continuam descrevendo órbitas elípticas.

George-Louis Leclerc, conde de Buffon (1707-1788) achava que os ovários, em vez de ovos (femininos) produzissem esperma (masculino). Disse ter encontrado esperma em uma cadela.

Galileu Galilei (1564-1642) considerava que os cometas não passavam de fenômenos ópticos. Além disso, errou ao atribuir as marés à rotação da Terra - e não à atração da Lua.

Em 1726, o geólogo Scheuchzer apresentou um fóssil de ictiossauro como sendo uma vítima do dilúvio.

Durante dezoito séculos, acreditou-se na teoria de Ptolomeu (século II a.C.), que colocava Terra no centro do Universo.

Édouard Brown-Séquard, grande fisiologista francês do final do século XIX, dizia que o extrato de testículos de cachorro, injetado sob a pele, rejuvenesce os velhos. Tinha 72 anos e  deu o testemunho pessoal que o tônico funcionava com ele.

Pela teoria de Jean-Baptiste Lamarck (1798-1859), tirando-se um olho de animais recém-nascidos e cruzando-os, se criaria uma raça de um só olho.

Theodor Schwann (1810-1882) definiu a célula como unidade básica da estrutura animal. Errou ao dizer que era oca.

Aristóteles (384-322 a.C) sustentou, entre outras teorias equivocadas, que um corpo pesado cai mais rápido que outro, mais leve.

Galeno, médico dos gladiadores romanos e sucessor de Hipócrates, no século II d.C afirmou que as mulheres têm um par de costelas a mais que os homens.

Reescrito por Leopoldo Costa,  adaptando texto publicado (sem identificação de autoria) na revista "Super Interessante",edição 77, fevereiro 1994 e excertos do livro "Penso, Logo me Engano" de Jean-Pierre Lentin, tradução de Marcos Bagno.

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