Tecendo algumas considerações sobre o desenvolvimento
industrial brasileiro, afirmamos que no período 1808-1860, houve incentivos
estatais à produção manufatureira, via subsídios e tarifas protecionistas. No período 1860-1889, cessaria o apoio do
Estado, com as fundições e estaleiros sofrendo, conseqüentemente, um processo
de decadência, sobrevivendo apenas as manufaturas de bens de consumo não duráveis. Vale ressaltar que na maior parte do período
imperial, a política cambial e tarifária não colaborou para uma
industrialização mais efetiva. A
existência do problema básico dessa economia, que era a manutenção de um
sistema escravista de produção e também de um sistema financeiro montado totalmente
para operações de curto prazo, tendo como exceção a casa bancária Mauá, Mac
Gregor & Cia., que financiava o estabelecimento Ponta d’Areia, também não
contribuíram para tal intento.
Contudo, no final do Império notou-se uma tendência
protecionista, continuando no início da República, como em 1890, quando o
governo, devido à desvalorização do mil réis, passou a cobrar parte dos
direitos alfandegários pagos em ouro (quota-ouro) e como em 1893, quando o
governo desvalorizou o mil réis de 24 dinheiros (d) para 12 d[1].
Também destaca-se o Encilhamento que, apesar do surgimento de
vários empreendimentos fantasmas, contribuiu para o impulso da
industrialização, principalmente no Rio de Janeiro, além da revogação da “lei
dos entraves” em 1882 e da nova lei das sociedades anônimas em 1890, que
facilitou, e muito, a constituição de novas empresas.
Em 1900 foi feita uma reforma tarifária, interrompendo-se o
movimento pendular das
tarifas, característico do século XIX.
Com isso, houve o incentivo para uma grande expansão da capacidade
produtiva antes da I Guerra Mundial, contando com um câmbio estável e
relativamente alto e uma barreira alfandegária de cunho fortemente
protecionista. Durante a guerra, houve
um pequeno alento de exportações industriais, destacando-se os tecidos de
algodão e a carne frigorificada (que se prolongaram até 1923). Ver Tabela 1 e Tabela 2.
Quanto à carne frigorificada, é importante acrescentar que
foi fabricada por frigoríficos estrangeiros que se instalam no Brasil (estados
de São Paulo e Rio Grande do Sul), com a finalidade de exportar para dar
suporte à guerra e não para abastecer o mercado nacional.
Tabela
1
Brasil
– Exportações de Produtos Industriais
|
Anos
|
Quantidade
|
Valor (contos de
réis)
|
||||||
|
Tecidos de Algodão
(milhões de m)
|
Açúcar (1.000 t)
|
Carne Frigorificada
(1.000 t)
|
Banha (1.000 t)
|
Tecidos de Algodão
|
Açúcar
|
Carne frigorificada
|
Banha
|
|
|
1912
|
0
|
4,8
|
-
|
-
|
0
|
839
|
-
|
0
|
|
1913
|
0
|
0,6
|
-
|
-
|
-
|
155
|
-
|
0
|
|
1914
|
0
|
11,3
|
0
|
-
|
-
|
2.127
|
0
|
0
|
|
1915
|
0
|
37,0
|
8,5
|
-
|
0
|
8.256
|
6.122
|
0
|
|
1916
|
0
|
40,9
|
33,7
|
-
|
0
|
20.851
|
28.193
|
0
|
|
1917
|
0,1
|
127,6
|
66,5
|
10,2
|
112
|
68.889
|
60.133
|
17.745
|
|
1918
|
0,7
|
106,6
|
60,5
|
13,3
|
1.116
|
94.565
|
60.755
|
26.161
|
|
1919
|
0,7
|
69,0
|
51,6
|
20,0
|
874
|
57.357
|
56.799
|
39.889
|
|
1920
|
0,8
|
80,3
|
60,9
|
11,2
|
1.649
|
83.764
|
53.614
|
22.459
|
Fonte: Villela &
Suzigan (1973: 149).
Obs.: 0: cifra insignificante.
Tabela
2
Brasil
– Consumo Aparente de Tecidos de Algodão – 1911-1930
(em
milhões de metros)
|
Anos
|
A
|
B
|
C
|
D=A=B-C
|
|
|
Produção Nacional
|
Importações
|
Exportações
|
Consumo Aparente
|
|
1911
|
379
|
84,5
|
0
|
463,5
|
|
1912
|
400
|
69,6
|
0
|
469,6
|
|
1913
|
385
|
59,4
|
0
|
444,4
|
|
1914
|
314
|
22,4
|
0
|
336,4
|
|
1915
|
471
|
17,5
|
0
|
488,5
|
|
1916
|
474
|
30,0
|
0
|
504,0
|
|
1917
|
548
|
24,8
|
0,1
|
572,7
|
|
1918
|
494
|
28,4
|
0,7
|
521,7
|
|
1919
|
584
|
22,4
|
0,7
|
605,7
|
|
1920
|
587
|
29,4
|
0,8
|
615,6
|
|
1921
|
552
|
12,2
|
3,3
|
560,9
|
|
1922
|
627
|
19,0
|
4,7
|
641,3
|
|
1923
|
940 (1)
|
23,7
|
4,8
|
958,9
|
|
1924
|
580
|
35,3
|
0,3
|
615,3
|
|
1925
|
536
|
44,3
|
0,1
|
580,2
|
|
1926
|
539
|
44,3
|
0,1
|
583,2
|
|
1927
|
594
|
43,8
|
0,1
|
637,7
|
|
1928
|
582
|
50,3
|
0,1
|
632,2
|
|
1929
|
478
|
29,9
|
0,1
|
507,8
|
|
1930
|
476
|
8,1
|
0
|
484,1
|
Fonte: Villela &
Suzigan (1973).
Nota: (1) Valor excepcional, aparentemente errado.
Obs.: os dados do
comércio exterior foram ajustados para as unidades de medida, 1 kg de tecido de
algodão = 6,05 m, para se tornarem comparáveis aos da produção interna.
Segundo VILLELA & SUZIGAN, (1973: 150), “(...) as
exportações de produtos industrializados ou semi-industrializados praticamente
cessaram no pós-guerra, o que parece indicar que seus preços não eram
competitivos.”
No tocante à década de 1920, percebemos que a indústria teve
um comportamento ciclotímico. No início
da década (em 1920), ocorre expansão considerável da capacidade produtiva,
devido à acumulação de reservas financeiras durante a guerra pelas empresas
industriais e também por causa da eliminação dos entraves às importações,
propiciando a expansão de bens de capital e de bens de consumo (que colaborou
para que não houvesse correspondente expansão da demanda dos produtos
industriais brasileiros). Nos anos
1921-1923, a produção industrial cresce, aproveitando a capacidade produtiva
expandida e o encarecimento dos produtos industriais estrangeiros (devido à
desvalorização cambial, aumento nos meios de pagamento, grandes déficits
orçamentários e alta de preços). No
período 1923-1926 ocorre o oposto: a
produção industrial cai e fica estagnada, enquanto as importações de bens de
capital sobem até 1925, devido à valorização cambial e à política de contenção
fiscal e monetária. No triênio
1927-1929, temos o seguinte movimento:
em 1927-1928 há expansão novamente dos meios de pagamento e
desvalorização cambial em 1927, com estabilização subseqüente (apesar da
política de equilíbrio orçamentário ter obtido saldos positivos em 1928 e
1929), colaborando para a recuperação da produção industrial brasileira.
Em média, podemos afirmar que a taxa média de crescimento da
indústria nacional no período 1920-1928 foi de 3,9%, inferior à registrada
entre 1911 e 1919, que foi de 4,6%[2],
cabendo destacar o desempenho do Estado de São Paulo, que teve um índice de
crescimento industrial de 6,6%, se tomarmos 1920 como base (ou 5,7%, se o
ano-base for 1919)[3],
ou seja, superior à média brasileira.
É importante acrescentar que no fim da década de 1920, a
proteção tarifária não era mais eficaz por causa da inflação e das oscilações
cambiais. Entretanto, na maior parte do
período 1904-1930, foi amplamente suficiente para proteger a produção de
tecidos grosseiros e para a indústria de uma maneira geral poder se expandir.
Texto de Wilson Vieira em artigo baseado
no segundo capítulo da dissertação de mestrado em História Econômica no
Instituto de Economia, defendida pelo autor em agosto de 2000 e cujo título é "Apogeu e Decadência da Cafeicultura
Fluminense (1860-1930)".
Adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.

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