1.30.2016

DONA JOAQUINA DO POMPÉU - HISTÓRIA E LENDAS

Busto da Joaquina do Pompéu

Leopoldo Costa

A figura emblemática de D. Joaquina do Pompéu (Joaquina Bernarda da Silva Abreu e Silva Castelo Branco Souto Maior de Oliveira Campos) nasceu em Mariana em 20 de agosto de 1752. Era filha do advogado português, que estudou em Coimbra, Jorge de Abreu Castelo Branco e da açoreana Jacinta Teresa da Silva. Em 1762, após o falecimento da mãe, mudou-se com a familia para Pitangui. Viúvo, o pai de Joaquina retomou os estudos eclesiásticos começados em Coimbra e se ordenou padre.

Com apenas onze anos  apaixonou-se pelo capitão Inácio de Oliveira Campos, que frequentava a casa da familia,  na época com 29 anos. Mas fora prometida, como era costume na época, a ficar noiva, por imposição do pai, de um homem pelo qual não tinha a menor simpatia, o comerciante Manuel de Sousa e Oliveira.

No dia do noivado, no entanto, recusou-se a um brinde, aproximou seu copo ao copo do capitão Inácio, que comparecera à festa, e disse para que todos ouvissem: “Não é para beber a saúde do noivo escolhido? Pois eu bebo a saúde de meu noivo, capitão-mor Inácio de Oliveira Campos”. A atitude de Joaquina quase resultou num duelo entre Inácio e Manuel, mas os amigos os demoveram.

Com apenas 12 anos casou-se então, em 20 de agosto de 1764 com o capitão Inácio de Oliveira Campos. Foram morar na fazenda recém-adquirida, a fazenda Lavapés, bem próxima  da vila de Pitangui. Nesta fazenda criavam gado e cultivavam cereais, feijão e hortaliças..

Em 1784 eles adquiriram de Manoel Gomes da Cruz, rico proprietário de terras da região,  a fazenda Nossa Senhora da Conceição. O pagamento foi combinado em parcelas. Esta fazenda pertenceu anteriormente a Antonio Pompeu Taques. Manoel Gomes da Cruz era criador e maior fornecedor de gado para abate e abastecimento de carne para a vila de Pitangui.

A aquisição da fazenda é motivo de polêmica. Antônio José de Faria, procurador, moveu uma ação contra D. Joaquina. O demandante acusava D.Joaquina de dar um golpe contra o antigo proprietário da fazenda de Pompéu, Manoel Gomes da Cruz, aproveitando-se de sua idade avançada. Comprou-lhe a terra por um preço irrisório e ainda não lhe pagou todo o combinado. Uma série de cartas escritas entre 1792 e 1798 pelo próprio Manoel Gomes da Cruz, endereçadas a D.Joaquina traz indícios de que ela atrasava o pagamento da dívida.

Solar da D. Joaquina do Pompéu
Embora já tivesse uma sede com relativo conforto para os padrões da época, em 1785, decidiram construir uma sede nova, um solar. Um casarão muito grande com dois pavimentos e 79 cômodos. No solar nasceram e cresceram os seus 10 filhos: Ana Jacinta, Félix, Maria Joaquina, Jorge, Joaquina, Isabel Jacinta, Inácio, Antonio, Isabel e Ana Joaquina.

Hospedavam no solar da fazenda muitas autoridades e vários dos viajantes europeus que percorriam o Brasil naquela época, que nos seus escritos ajudaram a mistificar a sua pessoa. Recebeu no seu solar os alemães Eschwege e Freyreiss, respectivamente em 1811 e 1813.

Capitão Inácio de Oliveira era Capitão-mor e tinha como incubência manter a ordem nas vilas, sair a caça de bandidos. Em razão disto, viajava muito e outorgou a D. Joaquina a administração das fazendas. Em 1771 foi designado para missões de apresamento de índios e negros fugitivos nos sertões do oeste mineiro e recebeu por isso, como recompensa, várias sesmarias que aumentaram consideravelmente seu patrimônio. Ele foi encarregado pelo governador da província a abrir uma estrada que ligava Paracatu a Pitangui, Segundo historiadores, esta pode ter sido a razão da compra da primeira fazenda em Pompéu, que localizava na rota da estrada.

O cognome Joaquina do Pompéu surgiu do antigo proprietário Antonio Pompeu Taques. As pessoas da região quando queriam-se a referir a ela diziam: a D. Joaquina da fazenda do Pompeu.

A cidade de Pompéu nasceu nas terras de D. Joaquina, de um pequeno arraial chamado Buriti da Estrada, que ficava às margens da Estrada Real que ligava o norte de Minas Gerais a Pitangui. Todas as boiadas que provinham da região usavam a estrada e muitos boiadeiros pousavam no arraial, como última parada antes de chegar a Pitangui. Foi um genro de D. Joaquina (Joaquim Cordeiro Valadares) que em 1840 doou terras para a construção de uma capela, de uma escola e de algumas casas para quem se interessasse fixar no local. Mais tarde, em 1866, com o aumento dos residentes, o arraial de Buriti da Estrada foi elevado a distrito de Pitangui com o nome de Nossa Senhora da Conceição de Pompéu. Em 17 de dezembro de 1938 foi elevado a cidade com o nome reduzido para Pompéu.

Em 1795, após um derrame cerebral, o capitão Inácio ficou paraplégico e D. Joaquina assumiu de fato toda a responsabilidade dos negócios. Em 1804 ele faleceu.

D. Joaquina após a morte do marido fez os negócios prosperarem muito. Aumentou a criação de suínos e bovinos e começou a abastecer Vila Rica de Ouro Preto, aumentou o fornecimento para Pitangui e despachava bois até para o Rio de Janeiro. Também foi o período que surgiram as versões contraditórias sobre sua conduta moral e sexual. Era uma mulher bonita, inteligente e conservada com 52 anos.

No Rio de Janeiro, com a chegada da família real em 1808, o comércio e a população aumentou bastante. A capital de então, assistiu uma grande movimentação no porto com a chegada de maior quantidade de navios negreiros e de muitos estrangeiros. Exigia-se muito mais carne. Também o porto do Rio de Janeiro era ponto de partida e chegada de embarcações de cabotagem que abasteciam e se abasteciam em outras regiões costeiras.

D. Joaquina aproveitou a oportunidade. Nomeou um primo que tinha bom trânsito na Corte como representante comercial e, como um "agrado" ao principe regente D. João VI, fez uma remessa de 200 bois para a fazenda Santa Cruz.

O abastecimento do Rio de Janeiro era um problema para as autoridades. A Corte, sabendo-se da disponibilidade de oferta de gêneros alimentícios e de bois para abate em Minas Gerais, apelou para o capitão-mor governador para socorrer a capital. O governador por sua vez solicitou o apoio de D. Joaquina que passou a enviar grandes remessas de bois. Durante bastante tempo ela foi considerada uma importante fornecedora de bois para o Rio de Janeiro. A quantidade de fazendas de D. Joaquina cresceu, e consolidou a  presença de seus produtos no mercado.

As propriedades da família consistiam, fora as fazendas de Pompéu, outras em Mato Grosso e uma na região de Paracatu. A fazenda de Paracatu fazia parte da herança que o capitão Inácio recebeu do seu pai.

Quando D. Joaquina faleceu com 72 anos em 14 de dezembro de 1824, as suas 11 fazendas atingiam uma área de 48.400 quilômetros quadrados. Possuia 60.000 cabeças de bovinos, 2.500 juntas de bois carreiros, 10.000 equinos e 1.000 escravos. As terras foram divididas em mais de 200 fazendas e distribuída pela família.

As terras de D. Joaquina abrangiam vastas extensões dos atuais municípios, alguns em sua totalidade, como Abaeté, Dores do Indaiá, Pitangui, Pompéu, Pequi, Papagaios, Maravilhas e Martinho Campos. Era territorialmente maior que a Suíça, Bélgica e Holanda, Dinamarca e El Salvador, superando as áreas de cada um dos atuais estados de Alagoas, Sergipe e Espírito Santo.

O Barão de Eschwege esteve na propriedade de D. Joaquina em 1811 e lá se hospedou por mais de uma semana. Ele cita a dimensão da propriedade:

“Rio Peixe abaixo até a barra do Pará, por este abaixo até a sua confluência com o Rio São Francisco; por este abaixo até a foz do Rio Paraopeba; por este acima até o Ribeirão de Rio Pardo; de onde a linha divisória se dirige ao Córrego do Ouro e deste ao Ribeirão do Manda-Saia. Daí segue pela Serra do Amorim até a barra do Rio Peixe, onde teve principio.”

A história de D. Joaquina de Pompéu é repleta de lendas e de mistérios. Algumas narrativas a retratam como uma senhora complacente com os escravos, religiosa, honesta e bem comportada. Afirmam que ela manteve-se fiel à memória do marido depois de ficar viúva. Cheia de pudores, não se mostrava nua, no banho, nem para as escravas de confiança. Tratava e alimentava bem os escravos. Religiosa, caridosa com as causas da igreja católica, era respeitada até pelas autoridades reais.

Outras a retratam como figura desonesta, promiscua e depravada que ia pra cama com visitantes e escravos escolhidos. É acusada pelos seus negócios mal explicados que lhe renderam a fama de intransigente, violenta e desonesta. Histórias narradas até hoje pelos habitantes da região, mencionam até assassinatos de boiadeiros para ficar com o gado. Estes, depois de aliciados por ela eram mortos e seus corpos enterrados embaixo do sobrado

A conduta moral e sexual também são desencontradas. Afirmam que tratava-se de uma mulher ninfomaníaca e exageradamente lasciva. Gostava de recrutar escravos bonitos para a sua cama. Um por noite. Naquele tempo os senhores podiam até fazer isso, mas nunca as mulheres. Dizia-se que exigia que se desse vários banhos no escolhido para deixá-lo bem limpo. Depois de perfumado era levado até seus aposentos..
Segundo a tradição oral, chegaram a vê-la mantendo relações sexuais com um escravo à margem do córrego das Areias, em plena luz do dia, num lugar onde havia um monjolo. O monjolo, com suas batidas ritmadas e constantes, ditava  o ritmo da cópula.

3 comments:

  1. Excelente iniciativa, em preservar e desmistificar lendas e inverdades da nossa eterna matriarca. Me chamo Ruan Albert, e pertenço a oitava geração de D. Joaquina e Cap. Inácio. Sou tataraneto de Fiel de Oliveira Campos, um dos 333 bisnetos desse casal esplendoroso. Assim, carregamos essa eterna linhagem de culturas e tradições, que além do nome, o sangue nos consagra.

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  2. Inácio de Oliveira Campos, descendente da familia CAMPOS BICUDO, de SP. Os Bicudos são, comprovadamente de origem judaica. Os descendentes deste casal tem direito à certificação pela Comunidade Israelita de Lisboa - CIL e consequentemente direito a Nacionalidade Portuguesa através do Decreto-Lei nº 30-A de 2015. GENEALOGIA SEFARDITA (Grupo facebook)

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  3. Minha colega de aula online é da família dela, e contou que a avó que contou sobre ela. Achei muito legal!

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