4.15.2017

AS RAIZES PAGÃS DA PÁSCOA


De Ishtar a Eostre, as raízes da história da ressurreição são profundas. Devemos considerar o simbolismo pagão da Páscoa.

A Páscoa é uma festa pagã. Se a Páscoa não é realmente sobre Jesus, então o que é? Hoje, vemos uma cultura laica celebrando o equinócio da primavera, enquanto a cultura religiosa celebra a ressurreição. No entanto, o cristianismo primitivo fez uma aceitação pragmática das antigas práticas pagãs, entre as quais hoje festejamos a Páscoa. A simbologia histórica generalizada da morte do filho (Sol) em uma cruz (a constelação do Cruzeiro do Sul) e seu renascimento, superando os poderes das trevas, era uma história bem conhecida no mundo antigo. Havia também muito paralelismo, entre os concorrentes ressuscitados e salvadores.

A deusa suméria Inanna, ou Ishtar, foi enforcada nua em uma estaca, e posteriormente ressuscitada e subiu do submundo. Um dos mais antigos mitos da ressurreição é o egípcio Horus. Nascido em 25 de dezembro, Horus e seu olho se tornaram símbolos de vida e renascimento. Mitras nasceu no que hoje chamamos de dia de Natal, e seus seguidores celebravam o equinócio da primavera. Mesmo no século IV d.C, o "sol invictus", associado a Mitras, era o último grande culto pagão que a igreja teve que superar. Dionísio era uma criança divina, ressuscitada por sua avó. Dionísio também trouxe a sua mãe, Semele, de volta à vida.

Em um toque irônico, o culto a Cibele floresceu na colina do Vaticano de hoje. Atis, o amante de Cibele, nasceu de uma virgem, morreu e renasce todo ano. Esta festa da primavera começou como um dia de sangue na Sexta-Feira Negra, crescendo até o ápice depois de três dias, com a ressurreição. Houve um debate violento na colina do Vaticano nos primeiros dias do cristianismo entre os adoradores de Jesus e os pagãos que discutiam sobre qual Deus era o verdadeiro e o que era imitação. O que é interessante observar aqui é que no mundo antigo, onde quer que existisse mitos de deuses ressurretos populares, o cristianismo encontrou muitos adeptos. Assim, eventualmente, o cristianismo chegou a um sincretismo com a festa da Primavera pagã.

Embora não se registra nenhuma celebração da Páscoa no Novo Testamento, os padres da igreja primitiva celebravam, e hoje muitas igrejas estão oferecendo "cultos do nascer do sol" na Páscoa - uma óbvia celebração solar pagã. A data da Páscoa não é fixa, mas sim é determinada pelas fases da lua - quão pagão é isso?

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Todas as coisas divertidas sobre a Páscoa são pagãs. Os coelhos são uma herança da festa pagã de Eostre, uma grande deusa nórdica, cujo símbolo era um coelho ou uma lebre. Troca de ovos é um costume antigo, celebrado por muitas culturas. Nos países de cultura saxônica o consumo dos "Hot cross buns" é também um costume muito antigo. No Antigo Testamento é descrito os israelitas assando pães doces para um ídolo, e líderes religiosos tentando proibir. Os sacerdotes da igreja primitiva também tentaram colocar um fim aos bolos sagrados que eram assados na Páscoa. No final, diante das desafiadoras mulheres, desistiram e passaram a abençoar o bolo.

A Páscoa é essencialmente uma festa pagã que é celebrada com cartões, presentes e produtos apropriados para a ocasião, porque o divertimento e o simbolismo antigo ainda funciona. Sempre me surpreendeu que o poder da natureza e os dias mais longos muitas vezes são mais sentidos nas cidades e metrópoles modernas, onde podemos ir para o trabalho sem acender os faróis do carro e quando o nosso despertador toca de manhã, as luzes da rua não estão mais acessas por causa da escuridão.

Texto de Heather McDougall publicado no "The Guardian", Londres, 3 de abril de 2010. Tradução livre, adaptação e ilustração para ser postado por Leopoldo Costa.

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