DE GUSTIBUS

O chocolate já foi considerado uma tentação do demônio. No século dezoito, nas aldeias montanhosas da América Central, ninguém com menos de sessenta anos podia tomar chocolate, e os fiéis que desobedeciam esta lei eram ameaçados de excomunhão.

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O vinagre era o ácido mais forte conhecido pelos antigos.

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Durante o governo do Presidente Rutherford B. Hayes (1877- 1881), foram proibidos todos os vinhos e bebidas alcoólicas na Casa Branca. Sua esposa foi apelidada de Lucy Limonada. Sem que o presidente e sua esposa soubessem, um empregado amenizava esta privação misturando bebida ao ponche romano, feito com suco de limão, açúcar e clara de ovo. Era servido entre as refeições como um refresco, e o ponche romano passou a ser chamado “a estação de salva-vidas”. Os Hayes nunca perceberam o que acontecia.

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O Presidente Grover Cleveland detestava pratos muito elaborados, mas conservou o cozinheiro que servira a seu antecessor, Chester Arthur. Cleveland escreveu a respeito: “Agora preciso ir jantar. Gostaria de poder comer um arenque defumado, queijo suíço e uma costeleta no Louis, em vez da complicação francesa que por certo vou encontrar.”

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Andrew Jackson, duas semanas antes de terminar seu segundo mandato como presidente, deu uma recepção pública. Os fabricantes de laticínios de Nova York presentearam-no com um queijo de 700 quilos e o público foi convidado a servir-se dele. Em duas horas o gigantesco queijo, com 132 metros de diâmetro e 66 centímetros de espessura, foi completamente devorado.

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O chá, cujo imposto foi um dos fatores da Revolução Americana, só foi introduzido nas colônias em 1714. Nesta época, o chá e o café não eram as bebidas prediletas na América. A mais popular era o chocolate, e entre as bebidas alcoólicas, na Nova Inglaterra preferiam o rum, e nas outras colônias, a cerveja.

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Nos séculos dezessete e dezoito, os índios e negros da América fizeram da cozinha uma arte, mas a maioria das famílias dos colonos vivia com uma dieta de farinha de milho e carne salgada, e bebidas como rum diluído em água, cidra (vinho de maçã) e cerveja de melaço, de modo que eram comuns doenças como o raquitismo e outras provocadas pela dieta deficiente.

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As bebidas gasosas tornaram-se populares em 1832, depois que John Mathews inventou um aparelho para carregar a água com dióxido de carbono. Acredita-se que a primeira bebida gasosa tenha sido feita na Filadélfia em 1807, quando o Dr. Philip Syng Physick (“o pai da cirurgia na América”) pediu a um farmacêutico que preparasse água carbonatada para um paciente. Foi adicionado sabor artificial para que a bebida ficasse mais gostosa.

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Apesar de aparecerem com frequência nos principais quadros da Renascença, as laranjas não foram usadas na Última Ceia simplesmente porque não existiam então. Os cruzados diziam ter visto laranjas na Terra Santa, j que pode ter influenciado Ticiano, Botticelli e outros artistas da época. Entretanto, isso foi mais de mil anos após a Crucificação. Naquela época, as frutas cítricas tinham sido introduzidas nos países do Mediterrâneo, vindas da China.

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Os árabes, segundo se sabe, já bebiam caie no ano 850 D.C. A bebida só chegou à Europa quase sete séculos mais tarde. Embora Mocha, uma cidade no sudoeste da Arábia, fosse, em 1450, um grande porto de exportação de café, a Europa só veio a conhecê-lo em 1517. Em 1580, o café turco era importado pela Itália, através de Veneza; em 1643 tornou-se popular em Paris; em 1632 foi aberta a primeira loja de café em Londres, seguida pelo primeiro café em Oxford, em 1650.' Viena, que se tornou famosa por seus cafés, só veio a importar a bebida em 1683.

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A maioria dos adultos com boa saúde pode passar sem comer um mês ou mais. Entretanto, precisam beber pelo menos um litro de água por dia.

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Os romanos gostavam tanto de comer rato silvestre que as famílias de alta classe tinham criações deles em casa. Os roedores eram colocados em gaiolas especiais e alimentados com uma mistura de sementes.

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Um rebanho de carneiros montanheses de Alberta, província canadense, está em perigo de extinção devido ao tipo de alimento que lhes é oferecido pelos turistas. Os animais substituem a dieta normal de capim pelos doces e outros alimentos oferecidos. Estão perdendo peso e as fêmeas não produzem mais leite de boa qualidade.

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Quando nos sentamos à mesa para o jantar, nosso cardápio inclui uma quantidade de água bem maior do que a de um copo. Muitos alimentos contêm surpreendente quantidade de água por peso. Por exemplo, o pepino, 96%; a melancia, 92%; o leite, 87%; a maçã, 84%; a batata, 78%; o bife, 74%; o queijo, 40%; o pão, 35%.

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Quando o chá foi introduzido nas colônias da América, muitas donas-de-casa, por ignorância, serviam as folhas com açúcar ou melado, jogando fora a água usada para fervê-las.

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O envenenamento por chumbo tem sido apontado como uma das causas da queda do Império Romano. As mulheres ficavam estéreis por tomarem vinho em utensílios de chumbo, e as classes mais altas desapareceram no decorrer de dois séculos. Paradoxalmente, os romanos usavam o chumbo como adoçante e como remédio contra a diarreia. Isto, é claro, contribuiu para o envenenamento maciço da população.

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O prato de mesa moderno é um utensílio relativamente novo. Até o século XV colocava-se a comida sobre uma fatia grossa de pão adormecido, chamada “tabuleiro”, que absorvia o caldo dos alimentos.

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Napoleão acreditava que os exércitos marchavam com o estômago, por isso, em 1795, ofereceu um prêmio para a melhor idéia prática para a conservação dos alimentos. Foi ganho por um inventor francês, Nicolas Appert. Sua invenção foi a comida em lata. Assim teve início a hoje enorme indústria de alimentos enlatados.

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O leite, de um modo geral, não é um alimento recomendado para orientais adultos ou povos negros de origem africana porque estes povos não possuem as enzimas necessárias à digestão do açúcar natural desse alimento.

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O café era o principal produto do Ceilão até 1869, quando toda a plantação foi destruída por uma praga. Resolveram então plantar chá, hoje o principal produto da ilha. (O Ceilão mudou também seu nome para Sri Lanka.)

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No século dezoito, a torta de maçã tinha se tornado uma sobremesa tão popular nos Estados Unidos que a Universidade de Yale a servia todas as noites ao jantar. Este costume persistiu por mais de um século.


Para se obter quinhentos gramas de café moído é necessária a produção anual de uma árvore inteira. Cada árvore produz mais de três quilos de sementes, reduzidas a quinhentos gramas depois de torradas e moídas.

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Muito se tem falado sobre o valor do ouro dos incas, porém um dos grandes legados deste povo foi o cultivo e a utilização de certas plantas. A batata, a abóbora e o abacaxi originaram-se na América do Sul, espalhando-se pelo mundo todo. A coca, da qual é extraída a cocaína, e a chichona, a planta do quinino, são também parte da herança da civilização peruana à humanidade.

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Um jeroboam (garrafa com capacidade para quase quatro litros) de Château Lafite, safra de 1864, foi comprada, em 1978, por John Grisanti, conhecedor de vinhos e dono de restaurantes, no Décimo Leilão Anual de Vinhos Raros de Heublein, por 18.000 dólares. Grisanti doou o vinho a um bazar de caridade, a 1.500 dólares por pessoa, em benefício do Hospital São Judas, de Mem phis, Tennessee. Cada uma das trinta pessoas presentes provou o único Lafite 1864 existente, e o hospital angariou 34.000 dólares líquidos.

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O ser humano de sentidos apurados pode detectar o açúcar contido em uma solução de 1 parte de açúcar para 200 partes de água. Algumas mariposas e borboletas podem sentir o açúcar em uma solução de 1 por 300.000.

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Os patriarcas fundadores dos Estados Unidos encorajavam a fabricação e o uso dos diversos tipos de cerveja, de preferência às bebidas fortes. Para ajudar a sociedade e o crescimento das fábricas de bebida na América, James Madison fez com que o Congresso aprovasse um pesado imposto sobre a cerveja importada.

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O mel era usado como sinônimo de tudo o que era agradável (“terra de leite e de mel”) na Antiguidade e na Idade Média por ser o único adoçante então disponível no Ocidente. O açúcar só chegou à Europa no século doze, quando os cruzados o trouxeram do Oriente.

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Na Feira Mundial de St. Louis, em 1904, Richard Blechynden, cidadão britânico, tinha uma concessão de chá. Fazia muito calor e ninguém estava interessado em chá quente. Blechynden, em uma tentativa desesperada para vender o seu produto, serviu chá frio — e inventou o chá gelado.

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Os americanos que mascam chicletes são em parte responsáveis pelo desenvolvimento dos estudos sobre os maias. Os trabalhadores que vão colher o chicle na selva, a seiva do sapotizeiro que fornece a goma de mascar, em geral encontram ruínas cobertas pela vegetação e avisam os arqueólogos.

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De acordo com dados fornecidos pelo governo dos Estados Unidos, já foram tentados quase 28.000 modos diferentes de perder peso. O mais antigo é o jejum, “a dieta definitiva”.

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O aperitivo Manhattan — uísque e vermute doce — foi inventado por Jennie Jerome, a bela nova-iorquina que foi a querida da cidade até a sua ida para a Inglaterra como esposa de Lorde Randolph Churchill, em 1874. Foi a mãe de Winston Churchill.

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A batata foi pela primeira vez importada pelos europeus na década de 1500, transportada por navios espanhóis que vinham do Peru. Embora tenha sido adotada por alguns círculos mais sofisticados, foi preciso algum tempo para se tornar popular. Na Borgúndia, a batata foi proibida, em 1610, por ser considerada “causa fre- qüente de lepra”. Foi levada para a Inglaterra da Colômbia, e não da Virgínia coito geralmente se diz, por Sir Francis Drake, em 1565.

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Depois de ter denunciado a indústria de carne enlatada em seu livro The Jungle, onde apresenta testemunho visual das acusações, Upton Sinclair, detentor do Prêmio Pulitzer, limitou-se a uma dieta de arroz e frutas por muitos anos. (Muitos dos seus leitores tornaram-se vegetarianos também — ao menos por algum tempo.)

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O gim inglês era a bebida dos pobres; os ricos tomavam vinho do Porto e brandy em quantidades incríveis. A média era de cinco ou seis garrafas por noite. O Dr. Samuel Johnson (1709- 84), o mais famoso literato e crítico da época, certa vez tomou trinta e seis copos de Porto sem erguer-se da cadeira. Foi um feito notável, em mais de um sentido.

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Embora ps europeus do século dezesseis não vivessem só de pão, pode-se dizer que viviam quase que só de cereais. A cerveja, feita de cereais, era consumida em grande quantidade. Os soldados holandeses, na campanha de 1582, recebiam cerca de 10 litros por dia. Os homens da Rainha Elizabeth recebiam apenas 5 litros.

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Atualmente, os americanos consomem quase o mesmo número de calorias — aproximadamente 3.400 por dia — que consumiam em 1910, mas a média de peso do povo americano aumentou devido à falta de exercício.

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O consumo anual de grãos no mundo todo corresponde a uma estrada com 18 metros de largura e 2 metros de espessura, que se estendesse ao redor do globo terrestre, na altura do equador, ou seja 1,2 bilhão de tonelada.

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A paixão pelo gim que tomou toda a Inglaterra no século dezoito quase arruinou a saúde, a moral, a sanidade e o pouco de respeito que os pobres ainda tinham pelas leis dos ricos. De 1714 a 1733, o consumo de gim pelos ingleses passou de 2 a 5 milhões de galões por ano, baixando apenas quando foram postas em vigor leis rigorosas que limitavam a venda dessa bebida.

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Foram encontradas pipocas nos túmulos dos índios pré-colombianos.

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Para comemorar a sagração da nova igreja Hagia Sofia — o produto supremo da arte bizantina — em 537 D.C., o Imperador Justiniano ofereceu um banquete para o qual foram abatidos mais de 10.000 carneiros, bois, porcos, aves e veados.

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Nos meados da década de 1300 abateu-se sobre a Europa uma praga de alcoolismo, para compensar a Peste Negra, que permaneceu depois que a doença se foi. Na época, pensavam que a bebida agia como preventivo do contágio. Não era verdade, mas os homens ficavam menos preocupados, o que já era alguma coisa.

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A história do “maná vindo do céu” para os hebreus no deserto pode ter sido inspirada pela secreção adocicada produzida por insetos parasitas da planta tamargueira. A secreção aparece periodicamente, e os beduínos a recolhem em junho. Conserva-se bem, sendo portanto conveniente para os nômades.

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Para fazer um favo de mel de quinhentos gramas as abelhas precisam colher o néctar de quase dois milhões de flores.

Texto de Isaac Asimov, traduzido por Aulyde Soares Rodrigues em "O Livro dos Fatos", Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1981, excertos pp.66-73. Digitalizado, adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.