8.25.2018
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES NO CENÁRIO RURAL
No período anterior ao século XIX, antes dos movimentos feministas, as mulheres não possuíam participação em praticamente nenhuma atividade econômica do País e eram vistas somente como donas de casa e mães. Não exerciam atividades remuneradas e tinham baixo ou nenhum reconhecimento no Brasil.
Para Araújo e Scalon (2005), os homens assumiram uma posição elevada no campo da produção e na vida pública, e as mulheres ficaram em um patamar abaixo, um segundo plano, exercendo a responsabilidade das atividades reprodutivas e domésticas.
A partir das dificuldades enfrentadas por elas, como a desvalorização e a rejeição no meio trabalhista, na década de 1980 começaram as reinvindicações trabalhistas, não somente no Brasil, mas em todo o mundo. Os direitos trabalhistas começaram a ser reivindicados, e surgiu a luta das mulheres trabalhadoras não somente no âmbito urbano, mas também no âmbito rural (SALES, 2007).
O crescimento da vontade de maior participação das mulheres acabou se juntando aos movimentos feministas, reforçado pelas mudanças econômicas, sociais e demográficas que acabaram refletindo nas famílias brasileiras. Assim, as mulheres começaram a exercer outros papéis na sociedade (COUTO; SCHRAIBER, 2013) e assumiram diferentes atividades remuneradas, ajudando na renda familiar e buscando autonomia e satisfação pessoal.
De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (2013), a população ativa de 2012 chegou a 100 milhões, sendo 6 milhões de desempregados e 94 milhões de ocupados. Entre os ocupados, 58% são homens e 42% são mulheres, o que mostra a ascensão da mulher no mercado de trabalho e o crescimento de sua participação no cenário trabalhista brasileiro. No entanto, existe ainda, por parte dos homens, a adesão de funções e atividades consideradas de maior valor (KERGOAT, 2002). Segundo essa autora, a separação entre atividades femininas e masculinas cria uma hierarquização do trabalho, na qual o trabalho exercido pelos homens é mais valorizado e possui maior importância que o trabalho exercido pelas mulheres.
Nas atividades rurais, pode-se inferir que essa distinção entre gêneros é ainda mais evidente. As poucas pesquisas relacionadas ao tema indicam essa disparidade. As mulheres apresentam um importante papel no grupo familiar, porém, quando observado o contexto rural, as atividades exercidas pelas mulheres são consideradas subsidiárias, funcionando como forma de assistência ao trabalho principal, no caso, aquele exercido pelos homens (OLIVEIRA et al., 2007).
Uma pesquisa realizada na comunidade de Rancharia, feita por Mesquita e Mendes (2012) no Município de Campo Alegre de Goiás, GO, constituída por estabelecimentos rurais onde prevalece o trabalho familiar, teve como objetivo analisar as características da agricultura familiar e a importância do trabalho feminino nas esferas econômica e social. As pesquisadoras identificaram que:
"A família agrícola acredita que a mulher atua na condição de ‘ajudante’ no processo produtivo porque, ao contrário do homem, ela trabalha eventualmente e dedica poucas horas às tarefas ligadas ao setor, pois tem a incumbência dos afazeres domésticos (MESQUITA; MENDES, 2012, p. 11)."
As autoras identificaram que o papel desempenhado pela mulher no âmbito rural é somente de “auxiliadora” – ela não é vista como figura principal do processo produtivo, já que possui outras tarefas a serem desempenhadas além da praticada na agricultura familiar. É perceptível ainda que, muitas vezes, até mesmo as próprias mulheres não reconhecem seu trabalho e aceitam e se sentem beneficiadas com remunerações menores àquelas dadas aos homens (BRUMER, 2004).
Dornela (2015) constatou que, na região do Cerrado Mineiro, a participação direta das mulheres em cooperativas e associações é baixa, de apenas 29,5%, e que elas representam somente 9,6% dos cargos de diretoria e conselhos. Motivos como a cultura, o desconhecimento, o baixo interesse e a ausência de apoio para essas mulheres são citados para explicar o quadro encontrado.
Cadeia produtiva do café
Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB, 2016), na safra de 2015/2016, a produção de café no Estado de Minas Gerais foi estimada em 27.739.600 sacas de café (60 kg). A região do Cerrado Mineiro foi responsável por 6.502.100 sacas, o que representa um aumento de 53,61% na produção em relação ao ano anterior.
Nos últimos anos, diferentes produtos passaram por modificações nos seus modos de produção, principalmente nos elos das cadeias relacionados à produção (lavoura). Se por um lado, a introdução de máquinas e a modernização da agricultura trouxeram benefícios para a sociedade, por outro, surgiram alguns problemas, como o desemprego. Um fator que intensificou o desemprego foi a criação de empresas terceirizadas e especializadas em realizar colheitas mecanizadas. Uma das regiões que mais passou por essas transformações foi o Cerrado Mineiro, o que diminuiu o número de trabalhadores braçais e também daqueles contratados temporariamente (ORTEGA; JESUS, 2011; SILVA, 2004).
Além da modificação no cenário da mecanização, o café vem passando por modificações também no âmbito da comercialização. Nos últimos anos, tem se valorizado o grão verde. Essa valorização e diferenciação vêm acontecendo no ramo dos cafés especiais, mercado que vem ganhando força, com consumidores atraídos por uma maior qualidade, independentemente do aumento do preço. Esse mercado oferece oportunidade para diferentes produtores atentos às exigências de consumidores potenciais (OLIVEIRA et al., 2004).
Existem poucas pesquisas sobre a participação das mulheres na cadeia do café. Um dos estudos encontrados é o de Meira (2013), que avaliou uma grande região produtora de café arábica no Município de Barra da Choça, na Bahia. A pesquisa analisou o papel exercido pelas mulheres na cadeia produtiva do café e identificou que elas vêm apresentando maior participação e dando maior importância ao próprio dinheiro e à possibilidade de realizações pessoais, com efeitos positivos na autoestima.
Texto de Raquel Santos Soares Menezes e Quezia de Souza Boaventura publicado em "Mulheres dos Cafés no Brasil", Embrapa, Brasília DF, 2017, editoras técnicas Cristina Arzabe, Josiane Cotrim Macieira, Raquel Santos Soares Menezes, Danielle Pereira Baliza e Tânia Fontenele Mourão. Digitalizado, adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.
(Raquel Santos Soares Menezes é Administradora de empresas, doutora em Administração, professora adjunta do Curso de Administração da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Rio Paranaíba, MG; Quezia de Souza Boaventura é Graduanda em Administração de Empresas na Universidade Federal de Viçosa (UFV), bolsista de iniciação científica pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), Rio Paranaíba, MG)
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