Martim de Carvalho teria sido o 1º português a chegar a Minas Gerais no ano de 1550 e em 1553 teria começado o massacre dos povos nativos, começando pelos botocudos, tribo que praticava a antropofagia (canibalismo) e que na visão dos portugueses seria justa a sua eliminação. Outros milhares (ou talvez milhões) morreram em conflitos por terras ou pelas doenças trazidas pelos portugueses. Com a descoberta do ouro, rapidamente a região onde hoje está o estado de Minas Gerais, foi povoada por portugueses ou habitantes de outras regiões da colônia. Isso causou sérios problemas. Primeiro para ver com quem ficaria a posse das minas, como foi o caso da Guerra dos Emboabas, ocorrida entre 1707 e 1709, na região onde hoje é a cidade de Caeté. Portugueses e bandeirantes paulistas lutaram pela posse das minas na região, com os primeiros levando a melhor.
Outro problema foi o abastecimento alimentar. Ninguém queria plantar, mas apenas extrair ouro. O resultado foi a falta de alimentos que causou uma epidemia de fome. Ocorreram casos de pessoas encontradas mortas, sem sinais de violência e com grave quadro de desnutrição, mas com ouro entre os seus pertences. Em 1711, depois de normalizada a situação, vilas como as de Sabará e Vila Rica (atual Ouro Preto) foram criadas. Nestes locais havia intensa atividade comercial, além da exploração de ouro, contribuindo para a formação de uma sociedade urbanizada, diferente do Nordeste açucareiro, onde se desenvolveu uma sociedade ruralizada.
Também houve nesse período a exploração de diamantes na região do Arraial do Tejuco (Diamantina), mas esta era feita pela própria Coroa Portuguesa, que controlava quem podia entrar e sair da região. Foi lá que viveu Chica da Silva, ex-escrava que conseguiu ascender socialmente comprando a sua liberdade e a de mais de 100 escravos, construindo espaços culturais, participando da política e também por meio do seu casamento com o contratador João Fernandes.
Assim como no Nordeste açucareiro, houve inicialmente uso de mão de obra indígena que acabou substituída pelo intenso uso de mão de obra escrava. Porém, houve uma diferença. Em alguns casos o cativo que trabalhava nas minas ou em atividades urbanas, conseguia comprar a sua liberdade, seja se tornando um escravo de ganho ou escondendo ouro em pó no cabelo, em outras partes do corpo ou mesmo ingerindo. Chico Rey, escravo, que na África era rei, e que teve sua família separada ao ser capturado e embarcado para o Brasil, conseguiu juntar grande quantidade de ouro, se libertar e comprar a liberdade de colegas.
A quantidade de terras para exploração de ouro era determinada pela quantidade de escravos que o interessado tinha. Quem explorasse tinha que pagar um imposto de 20%, o famoso “quinto” sobre a quantidade de ouro retirada. No entanto, era comum a fraude. Para evitar isso a Coroa Portuguesa proibiu a circulação de ouro em pó (fácil de esconder) e criou as casas de fundição. Os mineradores ficavam obrigados a levarem todo o ouro que tivessem extraído para as casas. Lá, o ouro era derretido, transformado em barras e recebiam o selo real. Com essa medida a circulação do ouro era controlada, e, além disso, o governo já retirava os 20% no momento da fundição, além de cobrar uma taxa pelas despesas geradas pela fabricação das barras. Moradores de Vila Rica se rebelaram contra a medida em 1720, liderados por Felipe dos Santos. Os revoltosos perderam e Felipe foi brutalmente assassinado, como medida para amedrontar os que pensassem em se revoltar contra o governo. Outra consequência desta revolta foi dissolução da capitania de São Paulo e Minas de Ouro, dando origem a capitania de Minas Gerais.
Ao longo do século XVIII, a extração de ouro foi diminuindo. Por esse motivo, o governo português criou outro imposto, exigindo a arrecadação de 100 arrobas anuais (cerca de 1,5 tonelada de ouro) de ouro da população da região mineradora. Porém,devido à grande quantidade exigida a população não conseguia arrecadar a quantidade cobrada, e ao longo dos anos a dívida foi aumentando, até que em 1788 começou a circular a informação de que poderia haver uma derrama (cobrança dos impostos atrasados). Um grupo de homens de Vila Rica planejou uma revolta para não pagar os impostos, que ficou conhecida como Conjuração Mineira (1788-1789). Os principais envolvidos eram:
Tiradentes (Joaquim José da Silva Xavier) – alferes, minerador e tropeiro; Claudio Manuel da Costa – poeta; Inácio José de Alvarenga Peixoto – advogado; Tomás Antônio Gonzaga – poeta; Francisco de Paula Freire de Andrade – coronel; Carlos Correia – padre; Oliveira Rolim – padre; Francisco Antônio de Oliveira Lopes – coronel.
Os revoltos pretendiam basicamente:
Decretar o fim da derrama.
Criação de um novo governo.
Investimentos na industrialização.
Criação de uma universidade.
Apesar das discussões, os revoltosos acabaram decidindo não acabar com a escravidão num primeiro momento, em caso de vitória. O plano foi descoberto e todos os envolvidos foram presos e condenados à morte. Devido ao fato de que os envolvidos eram membros da elite mineira, eles tiveram suas penas revisadas, com exceção de Tiradentes, o menos influente de todos que acabou sendo executado em 1792 para servir de exemplo. No final do século XIX, sua figura foi reabilitada e ele foi elevado à categoria de herói nacional, posto que ocupa até hoje, principalmente entre os setores conservadores da sociedade. No entanto ele apoiou a continuidade da escravidão e esteve envolvido em casos de corrupção em sua vida militar.
É importante destacar que neste período se desenvolveu, quase que exclusivamente em Minas Gerais, a arte barroca, trazida pelos portugueses. Ela se diferenciou da produzida na Europa, principalmente no tipo de material utilizado: no caso brasileiro foi a madeira, já no italiano, por exemplo, os artistas utilizavam a prata para fazer as esculturas. A arte barroca chama a atenção até os dias atuais devido à riqueza de detalhes contida nas pinturas e esculturas, dando a impressão em muitos casos que a escultura “vigiava” as pessoas. Outro fato interessante era que muitas esculturas recebiam detalhes em ouro. Somente a Igreja do Pilar em Ouro Preto tem mais de 400 quilos de ouro em suas imagens e altares. Além de Ouro Preto, cidades como Sabará, Caeté, Serro, Diamantina, São João Del Rei e Tiradentes reúnem grande acervo barroco. As igrejas, aliás, são os locais onde mais se encontram obras barrocas. Isso é devido ao fato de que esses eram os principais lugares de socialização, ou seja, onde as pessoas se reuniam naquela época. Vários artistas se dedicaram à arte barroca nesse período, sendo os de maior destaque Aleijadinho na escultura e Mestre Ataíde na pintura.
Texto de Fabio Liberato de Faria Tavares em "As Minas Gerais", Edição do Autor, Belo Horizonte, 2020. Excertos pp.8-11. Digitalizado, adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.
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