São inúmeros. Uma fama reconhecida como um dos top dez lugares mais misteriosos do planeta - lado a lado com o Triângulo das Bermudas e a Ilha de Páscoa, entre outros.
Essa formação, considerada o maior monólito situado na beira do mar do mundo, é composta por dois tipos de rochas: gnaisse e granito. Diferente das demais elevações montanhosas da paisagem local, que têm forma piramidal.
A Pedra da Gávea apresenta um topo mais plano.
Algumas fontes registram que os indígenas Tamoios, que habitavam originalmente a região, chamavam essa montanha de "Metaracanga", significando “cabeça enfeitada”, “cabeça coroada” ou “cabeça de um deus”.
O nome “Gávea” remonta à época do descobrimento. Os colonizadores a consideraram um observatório perfeito do oceano, reconhecendo em sua silhueta o formato de um "cesto de gávea" – estrutura comumente presente no alto do mastro das caravelas e galeões antigos, que permitia aos marinheiros enxergar à distância.
Essa foi uma das primeiras montanhas no nosso país a receber um nome português, dado durante uma expedição comandada pelo capitão Gaspar de Lemos, em 1502, da qual participava também Américo Vespúcio.
Desde então, muitas são as narrativas associadas a essa montanha mágica. "A maior esfinge do mundo", "a tumba de um rei Fenício", "um portal de acesso a reinos subterrâneos interdimensionais e mundos paralelos", "a sede de civilizações super avançadas" e um “aeroporto de discos voadores".
Tem histórias para todos os gostos!
O rosto gravado na Pedra da Gávea foi também associado à figura de Dom Pedro II, recebendo por isso a alcunha de “Cabeça do Imperador”.
Para além do ceticismo comum no meio acadêmico, entretanto, não faltaram estudiosos que se dedicaram, ao longo da história, a tentar desvendar os mistérios da Pedra da Gávea.
Em um veio de gnaisse erodido na face superior leste da montanha - o "chapéu quadrado na Cabeça do Imperador" - há rachaduras equidistantes, distribuídas em uma linha reta de cerca de 30 metros de comprimento. Com sinais de tamanho uniforme de quase 2 metros de altura em disposição linear, parecem formar uma frase com letras de algum alfabeto antigo. A origem dessas marcas é objeto de discussões e polêmicas há décadas.
Desde a época imperial um frei especialista em epigrafia - estudo de inscrições em pedra - teria alertado Dom João VI sobre a existência dessas estranhas inscrições próximo ao topo da Pedra da Gávea, atribuindo-as aos Fenícios.
Essa ideia está associada também à hipótese de que existe uma cavidade na pedra onde estaria a tumba do Rei Badezir, ali enterrado por volta de 850 a.C. ao lado de dois filhos.
Em 1839 foi realizada a primeira expedição do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro buscando confirmar se as marcas na pedra teriam sido feitas por mãos humanas ou pela ação do tempo. Mas os estudiosos não conseguiram chegar até as inscrições, pois elas estão em um local de difícil acesso, sobre um abismo de centenas de metros.
Quem também passou pela Pedra da Gávea foi o Monge João Maria. Sim, aquele mesmo que viveu na singela gruta nas proximidades do Morro do Araçoiaba, no interior de São Paulo. E que se dedicou a cuidar dos negros escravizados que sofriam maus tratos na antiga Fábrica de Ferro que lá existiu.
Em 1963, o Coronel Bernardo da Silva Ramos, fundador do Instituto Histórico e Geográfico do Amazonas e autor da obra "Inscripções e Tradições da América Pré-histórica", analisou e interpretou os sinais da Pedra da Gávea. Atribuiu a eles uma origem fenícia e traduziu as inscrições (lidas de traz para frente) como "Tyro Phenicia Badhezir primogênito de Jathbaal".
Além das inscrições na Pedra da Gávea, embasa essa teoria o fato dos Fenícios terem sido exímios navegadores e as evidências de sua passagem em muitos lugares do mundo antes do início da era das grandes navegações protagonizadas pelos povos europeus.
Não são poucos os pesquisadores que se dedicaram a buscar por vestígios desses povos em diversas regiões no Brasil, descobrindo sinais de que outras civilizações (como os fenícios e os vikings) passaram pelo território nacional antes da chegada dos seus “descobridores” oficiais, em 1500.
No nosso país esse assunto desperta controvérsias na arqueologia e a dúvida persiste no meio acadêmico. Entretanto, alguns vasos Fenícios encontrados na Baía de Guanabara por um arqueólogo americano em 1982 - uma descoberta mantida em sigilo na época - reforçam as hipóteses dos contatos transoceânicos pré-colombianos.
Além das famosas inscrições mencionadas anteriormente, há outras espalhadas pelo topo da montanha que lembram formas de cobras e raios-solares. Na sua parte sudeste também se identifica um tipo de dólmen, além de sítios arqueológicos e caminhos de pedra do período colonial.
Há tradições que falam da existência de um mundo subterrâneo chamado Agartha, que além de duas entradas principais situadas nos polos norte e sul, teria outros acessos em pontos especiais do planeta. A Pedra da Gávea seria um deles, dando acesso a Shambalah, uma de suas cidades míticas. Essas crenças estão associadas à Teoria da Terra Oca, uma ideia que parecem advir dos filmes de ficção científica, mas que tem origem nos mitos ancestrais de diversos povos indígenas.
Ela foi proposta como teoria científica em 1692 pelo astrônomo Edmund Halley - o descobridor da órbita do cometa de Halley. E ganhou fama com a publicação do livro "Terra Oca: A Descoberta De Um Mundo Oculto", de Raymond Bernard, de 1969.
Em 1977, o escritor Erich von Däniken, autor do best-seller "Eram os Deuses Astronautas?", escreveu o prefácio do livro "Mensagem Dos Deuses: Para Uma Revisão Da História do Brasil", do jornalista Eduardo B. Chaves, obra dedicada à Pedra da Gávea.
Entre as teorias apresentadas, está a de que os descendentes do antigo continente perdido de Atlântida (citado pelo filósofo Platão em um de seus Diálogos) teriam modelado a pedra.
Há quem afirme já ter visto luzes estranhas, coloridas ou esverdeadas, circundando o topo da Pedra da Gávea ou entrando e saindo da montanha, atraindo a atenção de estudiosos de fenômenos magnéticos e ufólogos. Seu topo relativamente plano é considerado como uma base de pouso ideal para discos voadores.
Em 1952 foi publicada na revista "O Cruzeiro" uma das primeiras fotos de OVNIs de que se tem notícia no Brasil, bem ao lado dessa pedra.
Conta-se que, nos idos de 1937, dois jovens pesquisadores que pernoitavam na Pedra da Gávea avistaram uma misteriosa luz verde saindo de uma fenda. Ao entrar nela, teriam se deparado com um estranho ambiente com várias estátuas humanas, desmaiando em seguida e só acordando com o clarear do dia. Narraram o fato à imprensa e voltaram ao local na busca de reencontrar tal fenda, sem sucesso. Desacreditados e desiludidos, os relatos registram que ambos enlouqueceram, sendo internados em um sanatório, onde viveram até o final dos seus dias jurando que a história que contaram aos jornais era verdadeira.
Um outro caso curioso narrado na mídia fala de dois rapazes que, ao fazerem caça submarina, teriam encontrado a entrada de uma gruta tipo sifão existente na parte onde o maciço toca o mar. Dizem que nela há uma escadaria que ascende ao interior da pedra. Ao se aproximarem dos degraus, perderam os sentidos e quando acordaram estavam no alto da pedra, a mais de 800 metros de altitude.
Alguns guias de montanha relatam encontros com um certo “homem barbudo”, que ocasionalmente aparece a quem sobe a montanha à noite, ajudando as pessoas na rota e desaparecendo em seguida, sem deixar vestígios. Há quem atribua a ele, inclusive, casos de gravidez sem contato sexual.
O famoso vidente Alex Madruga (em entrevista publicada em 1973, na Revista Planeta), garantiu ter visto por lá vultos que vestiam mantos de cor púrpura bordados a ouro.
O paranormal Uri Geller afirmou sentir vibrações na pedra que indicavam que o local teria sido palco de sacrifícios humanos.
Mas como toda boa história sobre esfinges e tumbas secretas de reis e faraós da antiguidade, dizem que a Pedra da Gávea esconde muito bem os seus mistérios.
E que aqueles que tentam desvendá-los ou ali chegam desavisados, acabam sendo vítimas de alguma maldição.
Nas cercanias dessa montanha são registrados muitos casos de pessoas que sumiram de forma misteriosa. E talvez não seja acaso que a Pedra da Gávea seja chamada de “montanha da morte”, registrando o maior número de acidentes fatais com escaladores e excursionistas no Brasil. Não são raras também, infelizmente, as ocorrências de assassinatos resultantes de assaltos (afinal, é no Rio de Janeiro).
Os fatos curiosos sobre a Pedra da Gávea intrigam pesquisadores há pelo menos 200 anos e diversas expedições científicas foram realizadas ao local buscando provar ou refutar essas crenças.
Bernardo de Azevedo da Silva Ramos
Livros sobre o assunto foram escritos defendendo a tese de que povos de outros continentes, como gregos e fenícios, estiveram na América antes da “descoberta”. Um clássico é "Inscrições e Tradições da América Pré-histórica, de Bernardo de Azevedo da Silva Ramos.
Uma comissão examinou os argumentos a favor e contra a origem fenícia das inscrições, mas ficaram em cima do muro, não tomaram partido por nenhuma posição, seja de que os caracteres foram gravados pela mão do homem, ou de que são sulcos gravados pela linha do tempo.
Diz o relatório: “Pitágoras, senhores, olhava para o sol como um Deus, e Anaxágoras como uma pedra inflamada. A comissão nesta sua primeira análise voltou, como os dois filósofos, vendo uma inscrição, e vendo uns sulcos gravados pela natureza.”
Os argumentos a favor da origem fenícia, segundo o relatório, são:
1) “diversos viajantes têm descoberto inscrições em diferentes rochedos do Brasil”;
2) “assim como Pedro Álvares Cabral, e Afonso Sanches, empurrados pelos ventos descobriram o continente da América, também alguns desses povos antigos, que a ambição do comércio forçava a sulcar os mares, podia por iguais motivos aportar às nossas praias e escrever sobre uma pedra um nome”;
3) “a inscrição da Gávea se acha colocada de uma maneira vantajosa a estas conjecturas”.
Os argumentos contra a origem fenícia são:
1) “os pretendidos caracteres, que apresenta o rochedo da Gávea, não se assemelham aos dos povos do velho continente, que empreenderam as primeiras navegações e muito menos aos dos modernos”;
2) “estes caracteres [...] não apresentam semelhança alguma de uma inscrição fenícia, cananeia, cartaginesa ou grega; e que mais parecem sulcos gravados pelo tempo, entre dois veios do granito”;
3) a profundidade dos sulcos é muito irregular; se os fenícios os tivessem gravado, teriam dado “a mesma profundidade às letras para que elas fossem igualmente visíveis”.No final do relatório a comissão atribui a não tomada de uma posição ao fato de que “não empregou os últimos recursos, que lhe restam para verificação de semelhantes monumentos” e promete que “uma segunda exploração será feita com melhores instrumentos com um dia mais favorável, para ver se obtém um resultado de maior evidência, e mais positivo”, promessa esta nunca cumprida.
A comissão encerra seu relatório declarando sua esperança no surgimento de um “Champollion brasileiro” que venha a “iluminar esta parte tão obscura da história primeira do nosso Brasil”.
Este suposto Champollion brasileiro, decifrador da inscrição da Pedra da Gávea e de outras milhares Brasil afora, surgiu na primeira metade do século XX na figura de Bernardo de Azevedo da Silva Ramos (1858-1931), amazonense, numismata, historiador, fundador do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas.
Em sua obra Silva Ramos examina milhares de supostas “inscrições” Brasil afora e decifra sua origem “grega”, “hebraica” ou “fenícia”, inclusive a famosa inscrição da Pedra da Gávea. Segundo o autor, essa inscrição significaria: "Tiro, Fenícia, Badezir Primogênito de Jethbaal". Tudo parece muito lógico, muito convincente, mas vários especialistas contestaram a “teoria” de Silva Ramos.
Para quem pretende se aprofundar no assunto, existe a excelente tese de doutorado de Guilherme Dias da Silva, intitulada “A Recepção da Antiguidade Nas Inscripções e Tradições da América Prehistorica" de Bernardo de Azevedo da Silva Ramos (1930-1939)”.
Texto de Laura Costa publicado no site Quora. Digitalizado, adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.
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