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Papa Inocêncio VIII |
TALVEZ EXISTA UM DEUS, MAS EU DUVIDO QUE SEJA O DEUS QUE MOISÉS DESCREVEU NO VELHO TESTAMENTO E QUE AS RELIGIÕES PERPETUARAM POR INTERESSES ESCUSOS.
Durante o Renascimento, Inocêncio VIII (r. 1484-1492) e Leão X (r. 1513-1521) abusaram de indulgências para financiar seus luxos e campanhas militares, mas o caso mais notório foi o de Rodrigo Bórgia, nomeado cardeal pelo tio Calisto III e eleito papa no conclave de 1492, quando passou a atender por Alexandre VI.
Seus filhos Cesare e Lucrécia foram a personificação do nepotismo e da corrupção — ele abandonou o cardinalato para se tornar um líder militar implacável (inspirando Maquiavel a escrever O Príncipe), enquanto ela foi usada como peça de barganha nas alianças do clã, mediante conspirações e casamentos políticos.
Atualmente, a Igreja
Católica tende ao conservadorismo, mas sua história de corrupção e ingerência
política continua a influenciar o mundo ocidental — com a omissão de Pio
XII diante do avanço do nazismo durante a 2ª Guerra Mundial. A
renúncia de Bento XVI, em 2013, foi a primeira desde 1415,
quando Gregório XII abdicou ao Trono de Pedro o Concílio de Constança.
O primeiro papa a abdicar foi Ponciano (r. 230-235), que foi
exilado na Sardenha e morreu em decorrência dos maus-tratos impostos pelo
imperador Máximo, e o penúltimo foi Gregório XII (r.
1406-1415), que renunciou para pôr fim à crise que levou a Igreja a ter até
três papas disputando a autoridade máxima simultaneamente.
Voltando agora à morte
de João Paulo I, o Vaticano informou que sua santidade sofreu um
ataque cardíaco enquanto dormia, que seu corpo foi encontrado pela manhã pelo
bispo irlandês John Magee, seu secretário pessoal, e que a família
se opôs à autópsia. Mais adiante, soube-se que quem encontrou o cadáver foi uma
das freiras que cuidavam de afazeres domésticos (e que fez voto de silêncio),
que o papa morreu no escritório e que o laudo da autópsia não foi divulgado
porque acusou envenenamento. Somada ao breve pontificado (33 dias), essa
sequencia de contradições, erros e imprecisões deram azo a diversas teorias
conspiratórias.
Passados mais de 40
anos, o mafioso Antoni Raimondi, sobrinho de Lucky Luciano,
revelou em seu livro
de memórias que envenenou o papa a mando
do arcebispo norte-americano Paul Marcinkus,
seu primo e então presidente do Banco
do Vaticano, para evitar que um fraude
financeira bilionária viesse a público.
Em In
God's Name, o escritor britânico David Yallop anota
que plano era drogar o chá que o pontífice tomava antes de dormir,
entrar em seus aposentos e lhe administrar uma dose letal de cianeto (versão
foi dramatizada por Mario
Puzzo e Francis Ford Copolla no
terceiro capítulo da imperdível trilogia "The
Godfather"), e que o Marcinkus se
encarregou pessoalmente dessa tarefa.
Marcinkus começou
sua carreira como secretário de Estado em Roma e presidiu o Banco do Vaticano
de 1971 até 1989. Foi investigado por envolvimento com ações falsas avaliadas
em mais de 13 milhões de euros, por participação no escândalo do colapso
do Banco Ambrosiano e pelo assassinato do banqueiro Roberto
Calvi e do jornalista Mino Pecorelli. Mas as investigações
não seguiram adiante por falta de provas de provas, e ele morreu aos 84 anos,
no Arizona, sem jamais ter sido formalmente acusado.
Ao longo da história, o
nepotismo tem sido uma prática tão comum quanto condenável. Desde os tempos
antigos, líderes políticos, religiosos e monarcas favoreceram parentes com
cargos, títulos e privilégios, frequentemente à revelia da competência ou do interesse
público. O termo, aliás, tem raízes na Igreja Católica, onde papas concediam
benesses a sobrinhos ("nipoti"), consolidando um
sistema que perduraria por séculos. Mais recentemente, o termo "nepobaby"
passou a ser usado para aludir a filhos/parentes de pessoas famosas, que
prosperam na carreira graças ao vínculo familiar.
Os papas transformaram o
nepotismo em arte — caso mais notório foi o de Alexandre VI,
mas Júlio II, Paulo III e tantos outros seguiram o
mesmo roteiro, distribuindo bispados e fortunas a parentes, muitas vezes sem o
menor escrúpulo —, mas muitas monarquias seguiram suas pegadas, garantindo que
o sangue valesse mais do que a capacidade. No absolutismo francês, a nobreza se
perpetuava com privilégios herdados, enquanto o povo arcava com os custos da
corte. No Império Otomano, o sistema de sucessão frequentemente envolvia
intrigas e assassinatos dentro da própria família real para garantir que o
poder ficasse em mãos "seguras".
Com a ascensão das
democracias, esperava-se que o mérito finalmente superasse os laços de sangue,
mas o nepotismo se adaptou, e dinastias familiares continuam garantindo que o
poder permaneça entre os seus — como bem sabe quem acompanha a abjeta política
tupiniquim. Nos setores privado e público, filhos de empresários e apadrinhados
políticos recebem vantagens que não raro os colocam à frente de candidatos mais
qualificados. Afinal, vícios e velhos hábitos são difíceis
de erradicar.
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