2.22.2011

HISTÓRIA DA LÃ




Foram encontrados tecidos de lã em Çatal Hüyük na Anatólia, datados de 6000 a.C. Também existem evidências que na mesma época, a lã já era conhecida na Babilônia. Foi encontrado em Ur, uma estatueta de 46 cm de altura, mostrando um carneiro de cabeça e pernas de ouro, barriga de prata coberto de lã confeccionada de conchas e lápis-lazúli colados com betume. Era a figura de uma divindade local.


No século I a.C. quando os romanos ocuparam as ilhas Britânicas, encontraram na região, rebanhos de ovinos, que já estavam sendo domesticados pelos habitantes locais. Estes animais eram tosquiados regularmente e os fios usados para a fabricação de vestimentas. Adquiriram alguns artigos e levaram para Roma e tendo sucesso, comerciantes voltaram as ilhas e incentivaram a instalação de indústrias de artesanato para produzir mais artigos de lã.


Este comércio se firmou e foi prosperando até o século XII, quando a Inglaterra dominou o mercado de lã e o centro da atividade era a cidade de Winchester. Em 1259, um dos maiores criadores de ovinos era o bispo de Winchester que chegou a possuir um rebanho de 29000 cabeças um dos maiores da época.


Em 1336, o rei Eduardo III proibiu as exportações de lã da Inglaterra.


A partir do século XIII, a demanda para tecidos de lã na Europa cresceu substancialmente o que resultou no florescimento de Flandres e Brabante como centros produtores destes tecidos. A lã produzida na região era insuficiente para suprir os teares e os tecelões passaram a buscar a matéria prima na Inglaterra, tradicional criadora de ovinos laníferos. Esta procura incentivou mais ainda a criação de ovinos especializados na produção de lã no país.


Na Inglaterra a produção de lã era artesanal e efetuada em sistema familiar. Algumas pessoas tosquiavam, outras lavavam, outras cardavam, outras tingiam e outras penteavam, preparando os fardos para vender aos comerciantes holandeses e flamengos.



Havia intermediários dos comerciantes que percorriam o interior da Inglaterra  adquirindo fardos e acumulando em armazéns alugados nos principais portos, quantidades suficientes para serem carregados nos navios. Este comércio propiciava muito lucro para os mercadores vindo a alertar os próprios fornecedores ingleses que passaram a comercializar diretamente os seus fardos, como também a produzir os tecidos para serem vendidos.


No século XVII, a lã tornou-se a principal riqueza da Inglaterra e sua produção e comércio ocupava grande parte da população. As cidades de Leeds, Halifax, York e dezenas de outras na região, viviam em função dos lanifícios.


Os grandes banqueiros de Florença inicialmente foram comerciantes de lã. Giovanni de Médici, um deles que viveu no início do século XV, era o banqueiro mais rico da Itália.


Para aumentar o consumo de tecidos de lã, um decreto de Carlos II, da Inglaterra (1630-1685), em 1666, estabelecia que todos os defuntos do seu reino deveriam ser sepultados vestindo mortalhas de lã.


Para incentivar a produção local, em 1710, Portugal proibiu que o fardamento dos militares fosse confeccionado com lã importada.


Em 1718,visando proteger a indústria local as exportações de lã bruta foram novamente proibidas na Inglaterra.


No século XVIII, com a Revolução Industrial, foram desenvolvidos equipamentos para tecelagem, permitindo a produção em larga escala e a diminuição dos custos. A invenção da lançadeira volante, criada em 1733, por John Kay, conseguiu duplicar a velocidade do trabalho. Depois, vieram a roca saxônica, a máquina de fiar de Wyatt e Lewis Paul e a de Hargreaves em 1764, que aumentaram em muito a eficiência da tecelagem da lã.


A Inglaterra confirmou a sua posição de ser a principal fornecedora mundial de tecidos de lã. Com o volume de produção faltava matéria prima para o suprimento dos teares e em 1797, e os ingleses enviaram para a Austrália, uma de suas colônias recentemente descobertas, dois carneiros e quatro ovelhas da raça Merino.  No tempo menor do que um século, este plantel inicial e outras importações, já se reproduziria num rebanho de 100 milhões de cabeças.


No século XIX a criação de ovinos para a produção de lã desenvolveu bastante também na Nova Zelândia, África do Sul, Argentina e Uruguai.


Quando a Argentina e o Uruguai viviam sob o domínio da Espanha, não era permitida a criação de ovinos para a produção de lã. Os espanhóis procediam assim para proteger os seus criadores, já que a sua produção de lã na Espanha era muito mais cara e liberando as importações o produtor local seria prejudicado.


Em 1810, quando a Argentina tornou-se independente a produção de lã foi uma das primeiras atividades a ser incentivada. 

Na Inglaterra as importações de lã foram isentas de recolher os direitos aduaneiros e os argentinos se aproveitaram disso.

Para os estancieiros o negócio de produzir lã ficou mais interessante do que a criação de bovinos. A ovinocultura exigia menor área e foram inicialmente exploradas pelos recém chegados imigrantes ingleses, escoceses e irlandeses que tinham conhecimento da atividade.

Em 1813, Henry Lloyd Halsay, estancieiro argentino, importou 100 ovelhas e alguns carneiros produtores de lã da raça Merino da Espanha. Esta partida foi um contrabando que atravessou a fronteira de Portugal sendo daí embarcada para o Rio de Janeiro e depois, com a conivência dos brasileiros para Buenos Aires.

Em 1822 a exportação de lã da Argentina foi de 384 toneladas, em 1850, de 7.681 toneladas, em 1855 de 12.455 toneladas, em 1858, de 18.950 toneladas, alcançando em 1875 o total de 90.720 toneladas. A maioria foi para a Inglaterra.


As cabras da raça Angorá produzem a lã do tipo ‘mohair’, apreciada pelo seu brilho e tamanho dos fios. A criação destas cabras é feita principalmente na Turquia, de onde é originaria, na África do Sul e nos Estados Unidos. Na Turquia a tosquia é feita anualmente, produzindo fios entre 25 e 30 cm. Nos Estados Unidos, é feita duas vezes por ano o que resulta em fios um pouco menores entre 20 e 25 cm. O ‘mohair’, algumas vezes era misturado a outras lãs de carneiro para aumentar o brilho, a cor e a suavidade ao tato. Ficava mais uniforme, não sujava com facilidade e nem esfiapava.


A lã tipo ‘cashmere’ é delicada, bem fina, sendo obtida de uma cabra originaria da Cachemira, nos contrafortes do Himalaia. É macia e tem muito brilho sendo utilizada para a confecção de roupas finas de inverno.


As lãs dos camelídeos sul americanos (alpaca, vicunha e lhama), são as que possuem maior isolamento térmico, apesar da sua leveza. Os tecidos desta lã, são duráveis, não amarrotam e fazem parte das vestimentas dos habitantes dos Andes para enfrentar as cruezas do clima da região.

(Texto de Leopoldo Costa)

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