Leopoldo Costa
As primeiras cabeças de gado bovino chegaram ao Brasil em 1534, por iniciativa de Ana Pimentel de Souza, a esposa de Martim Afonso de Souza, que mandou vir do arquipélago de Cabo Verde, algumas dezenas de cabeças de gado para a capitania de São Vicente. Estudiosos especulam que alguns destes animais eram mestiços com sangue Zebu. Também vieram alguns equinos e poucas cabeças de suínos.
Ana Pimentel era uma mulher autoritária, descendente de nobre família espanhola. Governou a capitania de São Vicente, por procuração do seu marido, entre os anos de 1534 e 1536. No seu governo, revogou uma norma baixada pelo marido, que proibía aos colonos de subir a Serra do Mar, para evitar conflitos com os indígenas que habitavam o planalto.
Robert Southey (1774-1843), relatou no seu livro "História do Brasil", terminado em 1819, que o gado proveniente de Cabo Verde multiplicou-se rapidamente pela capitania e chegou a haver até muita fartura de queijo e manteiga.
Durante os anos seguintes, aconteceram outras pequenas importações e tem-se noticias de que alguns colonos que vieram para o Brasil nas primeiras expedições, juntamente com os seus objetos pessoais, também trouxeram vacas, porcos, ovelhas e cavalos.
O donatário da capitania de Pernambuco, Duarte Coelho Pereira (1485-1554), quando chegou em 1535, para tomar posse da capitania, trouxe quase uma centena de cabeças de gado, também de Cabo Verde. Pernambuco então, foi provavelmente, o segundo local do Brasil a receber gado bovino em maior quantidade.
Tomé de Souza (1503-1579) quando assumiu em 1549, o cargo de governador geral do Brasil, escreveu uma carta datada de 18 de junho de 1551 ao rei de Portugal D. João III (1502-1557), solicitando a liberação de lotes de gado para ser enviado à Colônia. Foi imediatamente atendido. No dia 6 de dezembro de 1551, vindas de Cabo Verde, chegaram algumas centenas de bois e vacas, cinco cavalos e dois burros, que foram distribuídos entre seus apadrinhados da Bahia. O seu filho Garcia de Souza d’Ávila (1528-1609) da Casa da Torre, recebeu duas vacas.
Existem outras informações, como a publicada em 1935 por Paulino Cavalcanti, de ter sido trazido para o Brasil, gado Holandês entre 1530 e 1535. Podemos especular que deve ter sido gado da raça Turina, (nome que a raça Holstein/Holandesa era conhecida em Portugal).
Tomé de Souza mais tarde, solicitou ao rei de Portugal D.João III (1502-1557) e recebeu a caravela ‘Galga’, destinada ao transporte de gado bovino para a Colônia. A 'Galga' foi autorizada a fazer várias viagens a Cabo Verde e ao arquipélago de Açores, trazendo muitas cabeças de gado, que foram desembarcados em Salvador, na época a capital do Brasil.
Vieram de Portugal também alguns carpinteiros especialistas na confecção de carros de bois e carreiros práticos, para ensinar aos colonos, como usar os carros de bois.
Existem registros, que o tesoureiro Gonçalo Ferreira, recebeu ordem do governador para adquirir bois a serem usados nas obras de edificação da cidade de Salvador. Existem especulações que os primeiros exemplares adquiridos pelo tesoureiro, teriam vindo do Pernambuco.
Em meados da década de 1550, segundo os cronistas da época, já se podia ouvir o ranger de carros de bois nas ruas da nascente cidade de Salvador. Os carros de bois foram daí até o advento das estradas de ferro, o meio de transporte mais importante no interior do Brasil.
Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853), nas suas viagens pelo interior, relatou ter visto, carros de bois ('carroças'), puxados por 3 ou 4 juntas, levando algumas famílias para as festas da Semana Santa (Páscoa). Ele descreveu que estes carros tinham o formato semi-elíptico, duas rodas semi-maciças e eram fechados por uma esteira de bambu. Eram usados para buscar os produtos importados nos portos e para levar até lá as mercadorias a serem exportadas. Também era o meio de transporte, que levava e trazia pessoas e mantimentos de um arraial para outro e até os doentes para serem tratados, e os mortos para serem sepultados.
Na primeira metade do século XVI, o padre Manuel da Nóbrega (1517-1570) descreveu o progresso da criação de gado na capitania da Bahia de Todos os Santos.
Já em 1565, a Câmara de São Paulo, enviava uma representação ao governador Mem de Sá, alegando que não havia ao longo da costa pastagens suficientes ‘em que pudessem pastar o muito gado vacum que há nesta capitania’.
Esta referência contradiz o relato do padre Baltazar Fernandes, que afirmou que o gado se multiplicava muito por haver grandes áreas de pastos. O relato, também é datado de 1565.
Pêro Magalhães Gândavo (1540-1580), no seu ‘Tratado de Terra do Brasil’, relata-nos, que em torno de 1570, já havia muitos bois e vacas nas capitanias da Colônia. Segundo ele, "o clima e as boas pastagens propiciavam este bom desenvolvimento". Observou ainda, que em Porto Seguro, o gado prosperava muito no primeiro ano e morria de tanto viço. Também menciona a existência de cabras, ovelhas, éguas e cavalos.
O mesmo autor repetiu na sua outra obra ‘História da Província de Santa Cruz’, escrita alguns anos mais tarde e dedicada a Luís de Camões (1524-1580), informação com teôr semelhante.
Nos fins do século XVI frei Vicente do Salvador (1564-1635) na sua ‘História do Brasil’ já registrava: ‘Criam-se no Brasil todos os animais domésticos e domáveis de Espanha, cavalos, vacas...’.
Gabriel Soares de Souza (1540-1591), no ‘Tratado Descritivo do Brasil em 1587’ relata que o gado já era abundante, porém em algumas regiões esparsas e sempre na faixa costeira. Ele afirma que não viu gado na região do rio São Francisco, mas menciona as fazendas de Garcia D’Ávila e outras um pouco menores nas margens dos rios Jacoipe e das Caravelas.
Sobre a capitania de São Vicente escreveu: ‘... floresceu muito nestes primeiros anos, por ela ser a primeira em que se fez açúcar na costa do Brasil, de onde as outras capitanias se proveram de cana de açúcar para plantarem e de vacas para criarem’.
Observou também, que a instalação de engenhos de açúcar não foi possível na capitania de Porto Seguro por falta de bois, pois havia uma erva venenosa que matava o gado. Francisco Adolfo de Varnhagen (1816-1878), o visconde de Porto Seguro, na sua obra ‘Historia Geral do Brasil’ informa que essa erva era chamada de ‘mata pasto’ e em nota de rodapé, adiciona que com esse nome era conhecido diversas espécies do gênero Cassia, família das Leguminosas. Hoje sabemos que as folhas e as vagens de um tipo deste gênero, o Cassia stipulata, são bastante tóxicas e podem matar um animal se for ingerida.
Aurélio Porto (1879-1945) especula sobre a possibilidade de ter entrado gado nas regiões do Norte, antes mesmo do estabelecimento das capitanias, embora em quantidades inexpressivas.

Uma beleza de postagem, pelo que envio-lhe meus cumprimentos.
ReplyDeleteUm abraço.
Obrigado Darlan.
ReplyDeleteAbraço
Tua postagem é muita boa em relação ao gado introduzido no Brasil pelos portugueses, mas é omissa quanto ao gado introduzido nas Missões gaúchas pelos jesuítas espanhóis e que sem dúvida nenhuma foi a de maior importância
ReplyDeletehistórica e econômica para a pecuária nacional.
Grande quantidade de gado vacum, cavalos, burros e mulas existiam na margem esquerda do Rio Uruguai no início do século XVIII. A Colônia do Sacramento, enclave português no Prata, exportava mais de 500.000 couros por ano.
ReplyDeleteExcelente texto. Estou procurando livros que tratam desse assunto, pois pretendo usá-los como bibliografia em ensaio literário da origem do cordel. Parabéns, Leopoldo Costa!
ReplyDeleteParabéns ótima produção de texto, relativamente a bovinocultura..
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