2.19.2011

TAUROMAQUIA, A ARTE DE TOUREAR

Leopoldo Costa



A tauromaquia, a arte de tourear, pode ter a sua origem na antiga cultura minóica. Nas pinturas do palácio de Cnossos podem ser observados personagens frente a frente com touros, numa atitude lúdica. Poderia ser uma cerimônia religiosa ou a simulação de uma tourada.


Na Tessália, Grécia havia um ritual de perseguição de um touro por homens a cavalo até a sua derrubada e o seu abate. Depois de abatido e desossado a carne do animal era assada e consumida por todos os participantes.


Em moedas gregas do século V são retratadas cenas de embates de pessoas contra touros.





O surgimento da tauromaquia na península Ibérica tem duas possíveis origens: pode ter sido trazido pelos Romanos ou pelos Mouros. Outros pontificam que surgiu na própria península, quando os habitantes se envolviam na caçada dos auroques selvagens e bravios que existiam vagando pelos vales e encostas.


Júlio Cesar (100-44 a.C), que exerceu o cargo de questor e depois de governador da Hispania, foi um toureiro amador. Aprendeu a arte em Cadiz e demonstrou as suas habilidades numa apresentação depois do seu retorno a Roma.


Um ‘matador’ de fama foi El Cid (1043-1099) -Rodrigo Diaz de Vivar- considerado um dos grandes heróis espanhóis, que enfrentava os touros montado a cavalo e armado com a sua lança.


Um dos relatos mais antigos de touradas é a ‘Crônica Geral’ de Afonso X, o Sábio (1221-1284) que reinou em Castela e Leão entre 1254 e 1284. Nela, até os reis participavam.


Houve touradas para comemorar os mais diferentes acontecimentos: em 1144 no casamento de Urraca, na coroação do rei João I (1350-1396) de Aragão em Burgos em meados do século XIV e até para a canonização de Santa Teresa de Ávila (1515-1582) em 1622.


O papa Alexandre VI (1431-1503) que era de nacionalidade espanhola e governou a igreja de 1492 a 1503, autorizou excepcionalmente que o descobrimento da América fosse comemorado com uma tourada, pois a Igreja tinha proibido as corridas de touro.


Juan de Torquemada (1388-1468) condenou a prática e São Pio V (1504-1572) em 1567, proibiu aos católicos participar ou assisti-las, sob a pena de excomunhão. Gregorio XIII (1502-1585) excluiu a pena para os laicos, porém Sixto V (1520-1590) em 1583 e Clemente VIII (1536-1605) em 1596, recrudesceram e voltaram a incluir todos os católicos na proibição. Clemente XII (1652-1740) na terceira década do século XVIII tomou uma posição mais moderada.


Após a expulsão dos Mouros em 1492 a ‘corrida de touros’ tornou-se o esporte favorito da aristocracia espanhola.



O apogeu da tauromaquia na Espanha aconteceu no século XVII quando os espetáculos passaram a seguir a tradição grega. Terminada a ‘corrida’ os espectadores podiam invadir a arena matar o touro e depois, levar para casa a sua carne.


As autoridades governamentais tentaram controlar a prática da tourada. Regras emitidas pelo governo no final do século XVIII e em 1805 proibiram as touradas em todo o território espanhol. Porém, mesmo proibidas nunca foram definitivamente interrompidas.


Foi José Bonaparte (1768-1844) que governou a Espanha no período napoleônico, entre 1808 e 1813 que demagogicamente para cativar o povo de Madrid, suspendeu a proibição oficial.


No final do século XVIII a tourada assumiu o formato atual e já tinha caído no gosto popular.
Ernest Hemingway (1898-1961) escreveu que: ‘ a tourada é uma tragédia, na qual a morte do touro é certa e a do homem muito provável, bastando que para isso que ele- por lentidão, inépcia, insensibilidade ou insensatez- desafie as regras fundamentais que a experiência consagrou para a execução das diferentes ‘suertes’.
Segundo Marcelino Menendez y Pelayo (1856-1912), sociólogo espanhol, ‘a tourada é o único espetáculo primitivo que ainda se realiza no mundo em toda a sua violência original. ’
Como centro mundial das touradas a cidade de Madrid tem a ‘Plaza Monumental’ com capacidade para 28.000 pessoas, porém, a maior ‘plaza’ do mundo se localiza na cidade do México e tem capacidade para 47.000 espectadores.







































Em toda a Espanha existe cerca de 550 ‘plazas’ que necessita do trabalho de 200.000 pessoas e movimenta por ano mais de 4,5 bilhões de reais.


Os touros usados nas ‘corridas’ não são animais comuns. São animais próprios criados para esta finalidade. Dizem os aficionados que os touros são de uma linhagem antiga da descendência direta dos auroques.


Com uma apurada seleção os criadores espanhóis conseguiram uma raça especial de bovinos próprios para este oficio. Os bezerros são criados em total liberdade nas pastagens com pouco contato com pessoas. Ao atingir a idade mínima de quatro anos são enviados para as arenas para enfrentar os toureiros. A idade máxima para um touro de lide é de 6 anos e o peso deve ser em torno de 450 quilos.


As grandes ‘ganaderias’ fornecedoras de animais para as touradas ficam em Andaluzia, Extremadura, Salamanca, Sierra Central e Navarra.


Em Portugal foi desenvolvida uma raça própria resultante de cruzamento de vacas autóctones com touros espanhóis. Os touros eram criados em Pereira Palha, na Vilafranca de Xira.


As touradas foram popularizadas em Portugal durante o domínio espanhol de 1580 a 1640 e continuou sendo praticada após a Restauração.
Miguel (1802-1866) irmão de Pedro I, imperador do Brasil, era admirador de touradas e dava demonstrações de suas habilidades em tourear na Quinta Velha em Bemposta. Maria II (1819-1853) em 1836 chegou a proibir as touradas em Portugal, mas já no ano seguinte abriu exceção, autorizando as realizadas para fins beneficentes. Todas as touradas terminaram tendo esta finalidade.


No México, são famosos os touros da ‘ganaderia’ de Piedras Negras e das fazendas de Atenco, em Toluca, estabelecida no século XVI por descendentes de Hernando Cortez (1485-1547.







































Lendários toureiros espanhóis foram Francisco Romero (1726-1828), Joaquin Rodriguez, o ‘Costillares’ (1746-1805); José Delgado y Galvez, o ‘Pepe Hillo’ (1754-1801); Francisco Arjona, o ‘Cuchares’ (1818-1868); José Redondo Dominguez, o ‘Ciclanero’ (1819-1853) e Antonio Carmona, o ‘Gordito’ (1838-1920).

1 comment:

  1. Boa tarde Leopoldo,

    gostaria de saber quais fontes foram usadas para a construção desse texto.

    Obrigada.

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