3.14.2011

HISTÓRIA DA ALIMENTAÇÃO DOS MAIAS

Leopoldo Costa

Os Maias habitaram a Península de Yucatán no México e parte da América Central (Guatemala e Honduras). No apogeu ocuparam uma área de 325.000 quilômetros quadrados com uma população de 16 milhões de habitantes. Os primitivos habitantes da região, no terceiro milênio antes de Cristo, não conheciam a cerâmica e as técnicas de irrigação, vivendo como caçadores e coletores. O milho só foi domesticado em torno de 4000 a.C.

O desenvolvimento chegou lentamente, descobriram a cerâmica, a arquitetura e a irrigação e a partir de 300  a.C construíram as grandes cidades de Tikal, Uaxactun, Copán, Xultin e Yaxchilán.

Em 987, se unem aos Toltecas e a outras tribos aculturadas estabelecidas no sul. No local da antiga capital de Tula fundaram Mayapán, organizando uma confederação com outras duas cidades. No século XII se desentenderam sendo a confederação desfeita. Mayapán submeteu Chichén Itza, estabelecendo o seu domínio sobre o território até 1411. Em 1450, os Maias de Chichén Itza ocuparam Mayapán ocorrendo depois uma total desorganização política, religiosa e cultural, que os levou a decadência.  Quando chegaram os espanhóis, já estavam enfraquecidos e desunidos, o que foi usado contra eles na ocasião.

A economia baseada na agricultura tinha como principal cultura o milho e cultivavam também algodão, feijão, tomate, batata, tabaco e cacau. Conseguiram desenvolver boas técnicas agrícolas, como os terraços (plataformas) nas montanhas para o cultivo do milho e a drenagem dos pântanos. Preparavam o terreno, derrubando a vegetação, limpavam com um enxadão curvo chamado ‘rai’ e aguardavam que o sol secasse tudo. Depois, de seco, o sacerdote tinha que autorizar a queimada, chamada de ‘coivara’, o que era acompanhado com assobios para conseguir a proteção dos deuses. Adotavam a rotação de culturas e o plantio na área queimada era efetuado durante tres anos consecutivos. Como não conheciam o arado o plantio era feito com bastões pontiagudos que abriam buracos no solo onde eram colocadas as sementes.

A sociedade tinha todas as suas funções regulamentadas e controladas pelo Estado, desde o a atividade político-militar até a religiosa. O rei era considerado um ser divino, proprietário de todas as terras, que distribuía para ser cultivada ao seu bel-prazer, não para quem precisasse. Controlava as festividades religiosas e exigia o trabalho de ‘voluntários’ para a construção de edifícios públicos. O império era dividido em cidades-estado, governado por um ‘halachuinic’, cujo cargo era hereditário. Era encarregado da ordem interna e da coleta de impostos dentro dos limites de sua jurisdição. Subordinado a ele tinha o ‘batab’ responsável pela burocracia e o ‘nacon’, que chefiava os soldados. Os ‘tupil’ eram responsáveis pelo cumprimento das leis, uma espécie de policia.

Tinham cinco classes sociais: os nobres, os chefes locais, os sacerdotes, o povo e os escravos. Os sacerdotes tinham grande prestigio sendo encarregados em celebrar sacrifícios e oferendas, elaborar calendários, preparar estudos de astronomia e outros trabalhos intelectuais. Para os Maias, o criador do mundo foi Hunab, cujo filho Itzamna, que era celebrado nas cerimônias de ano novo, foi quem deu aos Maias a escrita, as leis e os calendários. Foi desenvolvido um sistema de numeração e de contagem de tempo com base vigesimal. O ano ‘tun’ era formado de 18 ‘uinal’ de vinte dias ‘kin’ cada um e um suplementar de cinco dias. Vinte anos formava um ‘katun’ e vinte ‘katun’ formava um ‘bakatun’

Na Matemática, inventaram as casas decimais e o conceito de valor zero.

A carne não era um item de consumo quotidiano do povo. Só era disponível quando caçavam javalis, perus selvagens, coelhos, patos, codornas, antas, macacos e iguanas. Posteriormente o peru foi domesticado, tornando-se uma das carnes preferidas. Eram criados confinados em cercados para serem abatidos. Os javalis também eram criados em cativeiro com o mesmo objetivo. Desconheciam os bovinos e os equinos.

No século XVI, o religioso Franciscano Diego de Landa (1524-1579), que em defesa do Cristianismo tinha destruído numerosos documentos e monumentos da cultura Maia, arrependido pelo que tinha feito e tentando redimir-se, escreveu um livro sobre os costumes do povo maia: ‘Relacion de las Cosas de Yucatán’, que num trecho descreveu os seus hábitos alimentares:‘ (...) que el mantenimiento principal (de los mayas) es el maíz, del cual hacen diversos manjares y bebidas, y aún bebido como lo beben, les sirve de comida y bebida (...) Que hacen de maíz y cacao molido una manera de espuma muy sabrosa con que celebran sus fiestas y que sacan del cacao una grasa que parece mantequilla (...) Que hacen guisados de legumbres y carne de venado y aves monteses y domésticas, que hay muchas, y de pescados , que hay muchas, y de pescados, que hay muchos, y que así tiene buenos mantenimientos.’
A cozinha Maia incluía algumas iguarias que eram servidas apenas em dias de festas comemorativas aos seus deuses, como também nos principais eventos agrícolas: a sopa de abobora e tomate com molho picante de pimenta. Era um prato bem popular. Preparavam os alimentos de diversas maneiras: assados sobre as brasas, assados em travessas de barro como era o caso das tortilhas ou fervidos em água/ cozidos ao vapor, como acontecia com os ‘tamales’[1] iguaria muito apreciada. A ‘barbacoa’ eram pedaços de carne envolvidos em folhas, assados em buracos no solo que eram previamente aquecidos com lenha e pedras e depois, cobertos de terra. (sistema também adotado pelos Maoris da Nova Zelândia). Para a conservação dos alimentos usavam a secagem e a salga, ou ambas juntas, nas encostas quentes e nas regiões lacustres do interior.

Nas primeiras décadas do século XVI os Maias foram atacados pelos conquistadores espanhóis, sendo exterminados dois terços da população.



[1] Os ‘tamales’ eram feitos com milho verde ou canjica, que eram moídos e transformados numa pasta, que era chamada de ‘masa’. Enrolados em palha de milho eram cozidos no vapor. Bem parecido com a pamonha do interior de São Paulo e Minas Gerais. Também usavam recheios de carne de peru ou de caça.


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2 comments:

  1. Apreciei o texto sucinto e esclarecedor.
    Procuro informação mais detalhada sobre a alimentação dos maias. Onde obter?

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