3.12.2011

HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DE GADO NA ÁFRICA DO SUL

Leopoldo Costa

Cerca de 2000 anos atrás a tribo Khoikhoi, procedente talvez da região costeira da atual Botsuana invadiu a região da atual África do Sul, expulsando a tribo San para as áreas desérticas do Kalahari. A tribo San (também conhecidos como Hotentotes ou Bosquímanos) era de cultura mais primitiva e composta de caçadores e coletores e os Khoikhoi eram criadores de gado e introduziram no território sul africano os seus animais (bovinos e ovinos)

No século XV os Bantos migraram para uma região próxima da ocupada pelos Khoikhoi e estes trocavam seu gado pelos metais dos Bantos para fabricar as ferramentas e armas. A convivência entre os dois povos era pacífica.

Quando chegaram os colonizadores europeus havia três grandes grupos distintos, distribuídos pelo território da África do Sul: os San ou Hotentotes  que viviam nas terras altas e desérticas do oeste, os Khoikhoi, que ocupavam as áreas costeiras do sul e do leste e os Bantos, que ocupavam áreas do norte e do leste. Os  Xhosa que viviam na região do Cabo e de Natal e são do grupo Banto (veja o nosso artigo sobre a ‘A Grande Matança de Gado dos Xhosa’).

Os Khoikhoi foram em grande parte exterminados devido ocuparem as áreas mais férteis do território e os remanescentes tornaram empregados dos holandeses ou foram absorvidos pelos Xhosas. Os Namas, um grupo da tribo que vivia em território da atual Namíbia foi massacrado entre 1904 e 1907 por que se rebelou contra a ocupação alemã da região. Cerca de 10.000 habitantes pereceram, a metade da população do grupo.

O primeiro europeu a pisar em terras da África do Sul, foi Bartolomeu Dias (? -1550) em 1487, quando descobriu o cabo da Boa Esperança e aportou na ilha atualmente denominada de Robben, estabelecendo ali uma base para servir de apoio aos navios portugueses que destinavam as Índias, no comércio das especiarias. Em 1591, os nativos da tribo Khoikhoi atacaram a base e foram rechaçados.

Em 6 de abril de 1652, o explorador holandês Jan van Riebeeck (1619-1677), a serviço da ‘Companhia das Índias Orientais’, fundou a cidade do Cabo, dando origem a Colônia do Cabo, ficando exercendo a sua administração até o ano de 1662.

Quando os holandeses desembarcaram já observaram animais da raça que ficaria conhecida como Africâner, criados pelos Khoikhoi, Bantos e Hotentotes (San). Conseguiram alguns animais mestiços de perfil zebuíno e os criadores holandeses (Voortrekkers) e seus descendentes, por seleção genética, se envolveram na melhoria da raça que foi denominada Aficânder e tiveram sucesso.

A raça Africânder ou Afrikaner é autóctone. Alguns estudiosos defendem que é uma raça pura de zebuíno descendente dos primitivos animais que chegaram no nordeste da África nas caravanas dos Semitas, atravessando o mar Vermelho. Outros baseados, no posicionamento do cupim, advogam que não é um zebuíno puro e sim um mestiço dos primitivos Zebus com animais Sanga nativos da África.

Em 1654, alguns rebeldes Muçulmanos que lutavam contra a dominação da Holanda, na atual Indonésia, foram deportados para a nova colônia.

Colonos holandeses e alguns franceses e alemães, emigraram também voluntariamente, para a região do Cabo, na chamada ‘A grande viagem’ levando suas coisas e seu gado. Ficaram conhecidos como ‘bôeres’ e até criaram uma língua própria, o ‘afrikaner’.

Em 1795, Napoleão Bonaparte invadiu e conquistou a Holanda e os britânicos, em represália, ocuparam a colônia holandesa do Cabo, que foi amistosamente devolvida em 1803, mas depois em 1806, na batalha de Brauberg contra os ‘boêres’, foi recuperada pelos britânicos.
Eram bois da raça Africâner que puxavam as carretas dos fazendeiros de origem  Holandesa na grande marcha de 1835/1836 desde o cabo da Boa Esperança até Orange, Natal e Transval, para escapar da dominação britânica.

Durante muitos séculos, o gado representava riqueza e poder. Riqueza porque quanto mais cabeças de gado uma pessoa tinha mais rico ele era considerado. Poder porque era costume um sistema de dote chamado de ‘lobola’, em que o pretendente ao casamento teria que oferecer cabeças de gado para ter direito de casar com uma moça. Quanto mais gado ele tivesse mais esposas poderia ter, pois eram polígamos

Com a chegada dos colonizadores europeus e das missões religiosas esta prática de poligamia foi a primeira a ser combatida e quase totalmente abolida.

Foi da Colônia do Cabo, que em 1788, embarcaram as primeiras sete cabeças de bovinos e sete de equinos que foram para a Austrália, dando início a pecuária na ilha continente, que logo tornou uma das mais importantes do mundo.

Antes das descobertas de diamantes a África do Sul vivia um período de estagnação econômica. Os fazendeiros viviam em condições precárias. A descoberta de diamantes no rio Orange em 1867 e logo a seguir no rio Vaal, provocou uma rápida ocupação da área por imigrantes europeus ansiosos de conseguir riqueza rápida.

Em 1870 foram descobertas as minas de Dutoispan e Bultfontein e em 1871 as importantes minas de Kimberley.

Uma das personalidades que se envolveram na busca de diamantes foi Cecil Rhodes (1853-1902), que chegou a África do Sul em 1870, estabelecendo com seu irmão em Natal, uma fazenda para o cultivo de algodão e criação de gado. Em 1871 ambos iniciaram a prospecção de diamantes nas minas recém descobertas de Kimberley e acumularam grande fortuna. Depois de ter mudado para a Inglaterra e até matriculado em Oxford, retornou a África em 1875, explorando Transvaal e Bechuanalândia. Em 1880 formou com alguns sócios a ‘De Beers Mining Co’, uma das mais ricas empresas da época. Explorou o território sudeste da África fundando a Rodésia[1] que em 1889 era um protetorado da ‘Companhia Britânica da África do Sul’, fundada por Rhodes. Em 1890 assumiu o cargo de primeiro ministro da África do Sul, tendo que renunciar em 1896 por acusação de envolvimento em discriminização racial, pelo qual foi condenado. Quando faleceu em 1902 deixou uma fortuna avaliada em 6 milhões de libras esterlinas.

No final do século XIX iniciaram os conflitos entre a colônia do Cabo (de domínio britânico) e o Transvaal (dominado pelos ‘Afrikaner’, de descendência holandesa) que provocaram a Guerra dos Bôeres (1899-1902). Durante a guerra grande quantidade de bovinos foi dizimado.

Em 13 de maio de 1910, com a confederação das colônias de Cabo, Natal, Orange e Transvaal, foi oficialmente criada a União da África do Sul.

Em 1912 foi criada na África do Sul uma associação de criadores da raça Africânder que estabeleceu um livro de registro genealógico, porém foi desativada em 1936. Atualmente funciona em Danhof a ‘Afrikaner Cattle Breeders Society of South Africa’.

Em 1948, com a chegada ao poder do Partido Nacional foi oficializado o ‘apartheid’, que impedia os negros a propriedade da terra e a participação política e os obrigava  a viver em zonas residenciais segregadas. Também eram proibidos os casamentos e até o relacionamento entre pessoas negras e brancas.

Na década de 1950 c0meçou a reação da população negra  quando o ‘Congresso Nacional Africano’, criado em 1912, lançou um programa de desobediência civil. A reação foi violenta e muitos manifestantes negros foram mortos e o líder Nelson Mandela preso em 1962 e condenado a prisão perpétua.

Em 1984 uma grande revolta popular contra o ‘apartheid’, força o governo a decretar lei marcial e em razão disto a ONU impôs sanções ao país. Em 1989, com a posse de Frederick de Klerk na presidência ocorreram importantes modificações: Mandela foi libertado (em 1990), o ‘Congresso Nacional Africano’ considerado legal e as leis raciais revogadas. Mandela e Klerk ganharam com isso o Prêmio Nobel da Paz em 1993. Nas primeiras eleições após 0 fim do ‘apartheid’ o partido do Congresso Nacional Africano’ obteve maioria.

Em 1938, o rebanho bovino da África do Sul era de 11,6 milhões de cabeças de bovinos e 30,1 milhões de cabeças de ovinos e a população humana eram de 10 milhões de pessoas. Havia de 1,2 cabeças de bovinos e 3 cabeças de ovinos por habitante.

Evolução do Rebanho da África do Sul

(em mil cabeças)
1961
1965
1970
1975
1980
1985
1990
1995
2000
2005
Bovinos
12.527
12.500
11.300
12.700
13.575
12.000
13.300
12.600
13.600
13.790
Caprinos
5.133
5.341
5.675
5.271
5.794
5.780
6.100
6.457
6.706
6.356
Equinos
465
360
252
225
225
230
230
245
270
270
Suinos
1.492
1.500
1.363
1.323
1.318
1.361
1.532
1.628
1.556
1.656
Ovinos
37.897
37.000
34.286
30.989
31.641
30.256
32.665
28.784
28.551
25.334




[1]  O nome é uma homenagem a ele.



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