3.12.2011

HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DE GADO NA NOVA ZELÂNDIA

Leopoldo Costa

A Nova Zelândia já era habitada, desde a metade do século XVI, pelos Maoris. Os ancestrais dos Maoris eram caçadores, pescadores e também  comiam carne humana. Viviam nas ilhas tropicais da Polinésia e pela dificuldade de sobrevivência, sendo bons navegadores, decidiram procurar nova moradia e chegaram à Ilha do Norte, a mais fria da Nova Zelândia. Tiveram muitos problemas para superar a diferença de temperatura, pois estavam habituados num clima ameno, não tinham vestimentas adequadas e encontraram na ilha um clima bastante rigoroso. Durante mais de cem anos a região foi dominada por eles e inexplorada por qualquer potência européia.

A Nova Zelândia foi descoberta em 1642, pelo navegador holandês Abel Tasman (1603-1659). 

Em 1769/1770, o capitão James Cook (1728-1779), explorou a costa neozelandesa e tomou posse da região, em nome da Coroa britânica.  Como colônia britânica, começou a receber navios baleeiros com condenados que fugiam da Austrália e muitos aventureiros.

Um missionário que já vivia na Austrália, Samuel Marsden (1765-1838) foi escolhido pelos Anglicanos para catequizar os Maoris. Desembarcou em 1814, levando algumas cabeças de bovinos, ovinos e equinos, com o objetivo de além do Cristianismo, ensinar os nativos a criação de gado e as mais modernas técnicas agrícolas.

A Nova Zelândia continuava sem receber imigrantes da Europa, pois, era temida a ofensiva dos Maoris, que até tinham fama de serem canibais. Em 1840, a Grã Bretanha celebrou o ‘Acordo de Waltangi’ com os Maoris. Neste documento, eles aceitavam a soberania dos britânicos sobre o território, ficando apenas com a proteção deles e o direito de ter a posse de suas terras, florestas e locais para pescaria. A partir da data começaram enfim a chegar os imigrantes.

A primeira povoação foi Port Nicholson (hoje Wellington) fundada em 1840. Depois, foram fundadas as povoações de New Plymouth (1841), Nelson (1842), Otago (1848) e Canterbury (1850). Nestas levas de imigrantes chegaram os primeiros criadores de gado. Em 1843, John Deans e sua família, desembarcou em Port Cooper procedente da Austrália, no navio ‘Princess Royal’ ele trazia 61 cabeças de bovinos, 43 cabeças de ovinos e 6 cabeças de suínos. 

Em 1844, Ebenezer, também com a família, aportou na baia Pigeon com 18 bovinos e algumas cabeças de carneiros e ovelhas. Estes animais procriaram e em pouco mais de um ano, já representavam um rebanho de 50 cabeças de bovinos e 500 cabeças de ovinos. 

Outro pioneiro, Greenwood em 1845, já era dono de um rebanho de 1.500 ovinos.

Politicamente, entre 1788 e 1840, a Nova Zelândia, dependia da Austrália, sendo administrada pelo governador de Nova Gales do Sul. 

Em 1848, chegaram os primeiros missionários Prebisterianos escoceses que fundaram a povoação de Dunedin, na ilha do Sul, que veio a se tornar a primeira cidade do país, quando em 1861 foi descoberto ouro nas proximidades. Em 1878 a cidade já tinha até uma universidade.

Os Maoris sentiram incomodados com a expansão da criação de gado que apesar do Tratado de Waltangi, expulsava-os das terras mais férteis, e em represália em 1860, iniciaram uma série de ataques as povoações dos imigrantes.

Com a descoberta de ouro em 1855, na região de Collingwood e Buller, aumentou a afluência de imigrantes, provocando maior demanda para alimentos e algumas vezes até a escassez.

A Nova Zelândia importou os primeiros ovinos Merinos da Austrália em 1834 que desenvolveram muito. Até a época da refrigeração, seu principal produto de exportação era a lã. 


Na década de 1860, existia uma grande população de ovinos na Nova Zelândia e os animais eram usados apenas para a tosquia. Não havia mercado para a carne. Em alguns lugares os ovinos mais velhos, defeituosos ou de pior qualidade eram simplesmente forçados a pular de precipícios para cair no mar. Todos ansiavam com uma maneira de aproveitar a carne 
destes animais.



Em 1863 James Little (1834-1921) levou 22 ovinos da raça Romney Marsh para Dunedin. 

O investidor James Morton possuía uma fazenda de 600 km² em Timaru e no ano de 1865, contratou o especialista William Davidson (1846-1924) para administrá-la. A fazenda chegou a ter 85.000 ovinos da raça Merino, e produzia grande quantidade de lã de primeira qualidade.



Em 1869 foi iniciada a produção de conservas de carne de ovino, que inicialmente conseguiu aceitação nos mercados pequenos e menos exigentes das ilhas do Pacífico e nunca obteve sucesso na Inglaterra, o mercado alvo para o produto. Apenas as carnes nobres eram enlatadas, sendo o restante cozido para o aproveitamento da gordura.



No início do século XX, diversificou produzindo também carne in natura de ovinos, para exportação. O desenvolvimento do mercado de carne não sacrificou seu mercado de lã. Para conseguir isto, mudou-se o tipo dos ovinos criados, preferindo os animais de dupla aptidão. A lã fina do Merino foi substituída por uma produção de lã mais grossa, muito utilizada na tapeçaria, que era obtida de animais mais aptos para a produção de carne. A criação de ovinos teve um notável desenvolvimento, passando a atividade ser a mais importante do país.

Na Inglaterra os preços de carne entre 1850 e 1880 dobraram de preço. Propostas inexequiveis não faltaram sendo apresentadas cerca de 200 patentes de métodos para preservar a carne. A solução para levar esta carne ao mercado inglês era a refrigeração.

Em 1879 a empresa ‘New Zealand and Australian Land Co’, foi a pioneira nas exportações de carne congelada, instalando um matadouro frigorífico em Totara Estate. Ele preparou carne para ser embarcada no navio ‘Dunedin’. 

Em 1881, o navio ‘Dunedin’, que fora construído em 1874 para a empresa ‘Robert Duncan & Co’., foi modificado para a instalação de equipamento de refrigeração. O sistema era eficiente, conseguia manter a carne congelada e consumia razoáveis três toneladas de carvão por dia. Houve uma primeira tentativa de embarcar carne congelada, porém, o equipamento quebrou logo no início da viagem e a mercadoria teve que retornar ao porto e ser vendida no país. Finalmente em 15 de fevereiro de 1882 o navio zarpou de Port Chalmers com 4.331 carneiros, 598 cordeiros, 22 carcaças de porcos, 2.226 linguas de ovinos, além de manteiga, lebre, faisão, peru e outras aves. 
Depois de quase 100 dias de viagem, no dia 24 de maio de 1882, a carga foi recebida no mercado de Smithfield em Londres, em boas condições.


Em 1881, foi criada a empresa ‘New Zealand Refrigeration Co.’ que associada a ‘New Zealand Shipping Co.’, passou a produzir carne congelada para ser enviada a Inglaterra. 


A segunda empresa a instalar na Nova Zelândia foi a ‘Canterbury Frozen Meat Company’ em 1881, sendo os abates iniciados em 1883. Depois foram instalados em 1882 a ‘Gear Meat Company’. 

A ‘Nelson Brothers’ construiu um frigorífico em Tomoana e depois outro em Waipukurau e outro em Hawke’s Bay. 

A ‘Christchurch Meat Company’  foi instalada em 1888. 

A ‘Wellington Meat Export Company’ foi instalada em 1881. A ’Longburn Freezing Company’ estabelecida em 1895 e dezenas de outras.

Em 1883, a empresa ‘New Zealand Refrigeration Co.’ fez com sucesso o segundo embarque de carne congelada para Londres. O navio ‘Mataura’ partiu de Auckland levando carne de carneiro, de lebre, de coelho, de pato e peixes que chegaram ao destino em perfeitas condições.

Com os sucesso,diversos navios foram preparados para transportar e manter os produtos congelados. As empresas ‘Shaw Savill’ e a ‘Albion Co’, como também a ‘New Zealand Shipping Co.’ iniciaram serviços regulares mensais de transporte de carne congelada para a Europa, quase todos em navios mistos com capacidade de carga de 30.000 a 35.000 carcaças de ovinos. A partir das viagens pioneiras, num período de 5 anos, 172 navios de carne congelada foram embarcados para a Inglaterra.

Em 1892 o rebanho de ovinos da Nova Zelândia era de 18.000.000 de cabeças, estando 8.000.000 de cabeças na Ilha do Norte e 10.000.000 na Ilha do Sul. Deste rebanho cerca de 6.000.000 era de ovinos da raça Merino, especializada na produção de lã de qualidade.  

Entre 1880 e 1910 foram exportados 71.000.000 de carcaças de ovinos e em 1893 foram embarcadas 43.000 toneladas de carne ovina para a Grã Bretanha, representando 60% das importações britânicas de carne de ovino.

Em meados da década de 1890, existiam funcionando 21 frigorificos, sendo 12 na ilha do Norte e 9 na ilha do Sul. 

A Nova Zelândia em 1910/1911 tinha onze frigoríficos que podiam abater e congelar 82.000 carcaças, empregando 3250 pessoas. O país tinha 1.057.000 habitantes, 23 milhões de ovinos, 2 milhões de bovinos e 75.162 propriedades rurais.

Exportações da Nova Zelândia em 1910



Toneladas
Carneiros e Ovelhas
1.997.633 carcaças
 48.930
Pernil e outras partes

 2.587
Cordeiros
3.515.001 carcaças
53.645
Bovinos

26.926
Total

138.088

Em 1932, foi iniciado nos abatedouros o  inovador emprego de trilhos aéreos mecânicos para mover as carcaças, diminuindo a mão de obra e aumentando a eficiência. Houve uma grande reação dos trabalhadores que através do sindicato conseguiram suspender o processo durante algum tempo.

Em 1938 o rebanho neozelandês  era de 4,5 milhões de bovinos e 32,4 milhões de ovinos. Como a população humana era de 1,6 milhão de habitantes existia 2,8 cabeças de bovinos e 20,2 cabeças de ovinos por habitante. Neste ano foram exportadas 301.000 toneladas de carne, 136.000 toneladas de lã bruta e 20.000 toneladas de peles e couros.

Em 1947 o rebanho era de 4,6 milhões de bovinos e 32,7 milhões de ovinos e as exportações aumentaram para 378000 toneladas de carne, 183000 toneladas de lã bruta e 15000 toneladas de couros e peles.

Em 1968, mais uma inovação inventada pelos neozelandeses revolucionou os procedimentos industriais. R. H. Locker demonstrou as vantagens do sistema de estimulação elétrica das carcaças.
Esta técnica baseia-se na aplicação de corrente elétrica nas carcaças por intermédio de eletrodos de contato, logo após a sangria. Ela funciona com o mesmo princípio da contração muscular nos animais vivos, pois, ao receber os impulsos elétricos os músculos contraem e com a contração é consumida parte da energia armazenada sob a forma de glicogênio, liberando o ATP, que é um composto rico em energia necessário para a contração. Isto provocará uma rápida descida do pH motivada pela acumulação de ácido láctico, favorecendo a ruptura dos lisossomas e liberando as suas enzimas o que deixará a 
carne mais tenra.

Evolução do rebanho nos últimos 45 anos

(000)
1961
1965
1970
1975
1980
1985
1990
1995
2000
2005
Bovinos
6.446
6.696
8.777
9.292
8.131
7.921
8.034
9.272
9.015
9.511
Caprinos
28
45
40
60
53
427
1.063
256
164
155
Equinos
70
80
76
66
70
99
94
69
77
77
Suinos
655
771
578
422
434
455
395
431
354
342
Ovinos
48.462
51.292
60.276
55.320
68.772
67.853
57.852
48.816
40.010
39.880
 Fonte: FAO adaptado pelo autor

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