Leopoldo Costa
A Nova Zelândia já era habitada, desde a metade do século XVI, pelos Maoris. Os ancestrais dos Maoris eram caçadores, pescadores e também comiam carne humana. Viviam nas ilhas tropicais da Polinésia e pela dificuldade de sobrevivência, sendo bons navegadores, decidiram procurar nova moradia e chegaram à Ilha do Norte, a mais fria da Nova Zelândia. Tiveram muitos problemas para superar a diferença de temperatura, pois estavam habituados num clima ameno, não tinham vestimentas adequadas e encontraram na ilha um clima bastante rigoroso. Durante mais de cem anos a região foi dominada por eles e inexplorada por qualquer potência européia.
A Nova Zelândia foi descoberta em 1642, pelo navegador holandês Abel Tasman (1603-1659).
Em 1769/1770, o capitão James Cook (1728-1779), explorou a costa neozelandesa e tomou posse da região, em nome da Coroa britânica. Como colônia britânica, começou a receber navios baleeiros com condenados que fugiam da Austrália e muitos aventureiros.
Um missionário que já vivia na Austrália, Samuel Marsden (1765-1838) foi escolhido pelos Anglicanos para catequizar os Maoris. Desembarcou em 1814, levando algumas cabeças de bovinos, ovinos e equinos, com o objetivo de além do Cristianismo, ensinar os nativos a criação de gado e as mais modernas técnicas agrícolas.
A Nova Zelândia continuava sem receber imigrantes da Europa, pois, era temida a ofensiva dos Maoris, que até tinham fama de serem canibais. Em 1840, a Grã Bretanha celebrou o ‘Acordo de Waltangi’ com os Maoris. Neste documento, eles aceitavam a soberania dos britânicos sobre o território, ficando apenas com a proteção deles e o direito de ter a posse de suas terras, florestas e locais para pescaria. A partir da data começaram enfim a chegar os imigrantes.
A primeira povoação foi Port Nicholson (hoje Wellington) fundada em 1840. Depois, foram fundadas as povoações de New Plymouth (1841), Nelson (1842), Otago (1848) e Canterbury (1850). Nestas levas de imigrantes chegaram os primeiros criadores de gado. Em 1843, John Deans e sua família, desembarcou em Port Cooper procedente da Austrália, no navio ‘Princess Royal’ ele trazia 61 cabeças de bovinos, 43 cabeças de ovinos e 6 cabeças de suínos.
Em 1844, Ebenezer, também com a família, aportou na baia Pigeon com 18 bovinos e algumas cabeças de carneiros e ovelhas. Estes animais procriaram e em pouco mais de um ano, já representavam um rebanho de 50 cabeças de bovinos e 500 cabeças de ovinos.
Outro pioneiro, Greenwood em 1845, já era dono de um rebanho de 1.500 ovinos.
Politicamente, entre 1788 e 1840, a Nova Zelândia, dependia da Austrália, sendo administrada pelo governador de Nova Gales do Sul.
Em 1848, chegaram os primeiros missionários Prebisterianos escoceses que fundaram a povoação de Dunedin, na ilha do Sul, que veio a se tornar a primeira cidade do país, quando em 1861 foi descoberto ouro nas proximidades. Em 1878 a cidade já tinha até uma universidade.
Os Maoris sentiram incomodados com a expansão da criação de gado que apesar do Tratado de Waltangi, expulsava-os das terras mais férteis, e em represália em 1860, iniciaram uma série de ataques as povoações dos imigrantes.
Com a descoberta de ouro em 1855, na região de Collingwood e Buller, aumentou a afluência de imigrantes, provocando maior demanda para alimentos e algumas vezes até a escassez.
A Nova Zelândia importou os primeiros ovinos Merinos da Austrália em 1834 que desenvolveram muito. Até a época da refrigeração, seu principal produto de exportação era a lã.
No início do século XX, diversificou produzindo também carne in natura de ovinos, para exportação. O desenvolvimento do mercado de carne não sacrificou seu mercado de lã. Para conseguir isto, mudou-se o tipo dos ovinos criados, preferindo os animais de dupla aptidão. A lã fina do Merino foi substituída por uma produção de lã mais grossa, muito utilizada na tapeçaria, que era obtida de animais mais aptos para a produção de carne. A criação de ovinos teve um notável desenvolvimento, passando a atividade ser a mais importante do país.
Na década de 1860, existia uma grande população de ovinos na Nova Zelândia e os animais eram usados apenas para a tosquia. Não havia mercado para a carne. Em alguns lugares os ovinos mais velhos, defeituosos ou de pior qualidade eram simplesmente forçados a pular de precipícios para cair no mar. Todos ansiavam com uma maneira de aproveitar a carne
destes animais.
Em 1863 James Little (1834-1921) levou 22 ovinos da raça Romney Marsh para Dunedin.
O investidor James Morton possuía uma fazenda de 600 km² em Timaru e no ano de 1865, contratou o especialista William Davidson (1846-1924) para administrá-la. A fazenda chegou a ter 85.000 ovinos da raça Merino, e produzia grande quantidade de lã de primeira qualidade.
Em 1869 foi iniciada a produção de conservas de carne de ovino, que inicialmente conseguiu aceitação nos mercados pequenos e menos exigentes das ilhas do Pacífico e nunca obteve sucesso na Inglaterra, o mercado alvo para o produto. Apenas as carnes nobres eram enlatadas, sendo o restante cozido para o aproveitamento da gordura.
No início do século XX, diversificou produzindo também carne in natura de ovinos, para exportação. O desenvolvimento do mercado de carne não sacrificou seu mercado de lã. Para conseguir isto, mudou-se o tipo dos ovinos criados, preferindo os animais de dupla aptidão. A lã fina do Merino foi substituída por uma produção de lã mais grossa, muito utilizada na tapeçaria, que era obtida de animais mais aptos para a produção de carne. A criação de ovinos teve um notável desenvolvimento, passando a atividade ser a mais importante do país.
Na Inglaterra os preços de carne entre 1850 e 1880 dobraram de preço. Propostas inexequiveis não faltaram sendo apresentadas cerca de 200 patentes de métodos para preservar a carne. A solução para levar esta carne ao mercado inglês era a refrigeração.
Em 1879 a empresa ‘New Zealand and Australian Land Co’, foi a pioneira nas exportações de carne congelada, instalando um matadouro frigorífico em Totara Estate. Ele preparou carne para ser embarcada no navio ‘Dunedin’.
Em 1881, o navio ‘Dunedin’, que fora construído em 1874 para a empresa ‘Robert Duncan & Co’., foi modificado para a instalação de equipamento de refrigeração. O sistema era eficiente, conseguia manter a carne congelada e consumia razoáveis três toneladas de carvão por dia. Houve uma primeira tentativa de embarcar carne congelada, porém, o equipamento quebrou logo no início da viagem e a mercadoria teve que retornar ao porto e ser vendida no país. Finalmente em 15 de fevereiro de 1882 o navio zarpou de Port Chalmers com 4.331 carneiros, 598 cordeiros, 22 carcaças de porcos, 2.226 linguas de ovinos, além de manteiga, lebre, faisão, peru e outras aves.
Depois de quase 100 dias de viagem, no dia 24 de maio de 1882, a carga foi recebida no mercado de Smithfield em Londres, em boas condições.
Em 1881, foi criada a empresa ‘New Zealand Refrigeration Co.’ que associada a ‘New Zealand Shipping Co.’, passou a produzir carne congelada para ser enviada a Inglaterra.
A segunda empresa a instalar na Nova Zelândia foi a ‘Canterbury Frozen Meat Company’ em 1881, sendo os abates iniciados em 1883. Depois foram instalados em 1882 a ‘Gear Meat Company’.
A ‘Nelson Brothers’ construiu um frigorífico em Tomoana e depois outro em Waipukurau e outro em Hawke’s Bay.
A ‘Christchurch Meat Company’ foi instalada em 1888.
A ‘Wellington Meat Export Company’ foi instalada em 1881. A ’Longburn Freezing Company’ estabelecida em 1895 e dezenas de outras.
Em 1883, a empresa ‘New Zealand Refrigeration Co.’ fez com sucesso o segundo embarque de carne congelada para Londres. O navio ‘Mataura’ partiu de Auckland levando carne de carneiro, de lebre, de coelho, de pato e peixes que chegaram ao destino em perfeitas condições.
Com os sucesso,diversos navios foram preparados para transportar e manter os produtos congelados. As empresas ‘Shaw Savill’ e a ‘Albion Co’, como também a ‘New Zealand Shipping Co.’ iniciaram serviços regulares mensais de transporte de carne congelada para a Europa, quase todos em navios mistos com capacidade de carga de 30.000 a 35.000 carcaças de ovinos. A partir das viagens pioneiras, num período de 5 anos, 172 navios de carne congelada foram embarcados para a Inglaterra.
Em 1892 o rebanho de ovinos da Nova Zelândia era de 18.000.000 de cabeças, estando 8.000.000 de cabeças na Ilha do Norte e 10.000.000 na Ilha do Sul. Deste rebanho cerca de 6.000.000 era de ovinos da raça Merino, especializada na produção de lã de qualidade.
Entre 1880 e 1910 foram exportados 71.000.000 de carcaças de ovinos e em 1893 foram embarcadas 43.000 toneladas de carne ovina para a Grã Bretanha, representando 60% das importações britânicas de carne de ovino.
Em meados da década de 1890, existiam funcionando 21 frigorificos, sendo 12 na ilha do Norte e 9 na ilha do Sul.
A Nova Zelândia em 1910/1911 tinha onze frigoríficos que podiam abater e congelar 82.000 carcaças, empregando 3250 pessoas. O país tinha 1.057.000 habitantes, 23 milhões de ovinos, 2 milhões de bovinos e 75.162 propriedades rurais.
Exportações da Nova Zelândia em 1910
Toneladas
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Carneiros e Ovelhas
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1.997.633 carcaças
|
48.930
|
Pernil e outras partes
|
2.587
| |
Cordeiros
|
3.515.001 carcaças
|
53.645
|
Bovinos
|
26.926
| |
Total
|
138.088
|
Em 1932, foi iniciado nos abatedouros o inovador emprego de trilhos aéreos mecânicos para mover as carcaças, diminuindo a mão de obra e aumentando a eficiência. Houve uma grande reação dos trabalhadores que através do sindicato conseguiram suspender o processo durante algum tempo.
Em 1938 o rebanho neozelandês era de 4,5 milhões de bovinos e 32,4 milhões de ovinos. Como a população humana era de 1,6 milhão de habitantes existia 2,8 cabeças de bovinos e 20,2 cabeças de ovinos por habitante. Neste ano foram exportadas 301.000 toneladas de carne, 136.000 toneladas de lã bruta e 20.000 toneladas de peles e couros.
Em 1947 o rebanho era de 4,6 milhões de bovinos e 32,7 milhões de ovinos e as exportações aumentaram para 378000 toneladas de carne, 183000 toneladas de lã bruta e 15000 toneladas de couros e peles.
Em 1968, mais uma inovação inventada pelos neozelandeses revolucionou os procedimentos industriais. R. H. Locker demonstrou as vantagens do sistema de estimulação elétrica das carcaças.
Esta técnica baseia-se na aplicação de corrente elétrica nas carcaças por intermédio de eletrodos de contato, logo após a sangria. Ela funciona com o mesmo princípio da contração muscular nos animais vivos, pois, ao receber os impulsos elétricos os músculos contraem e com a contração é consumida parte da energia armazenada sob a forma de glicogênio, liberando o ATP, que é um composto rico em energia necessário para a contração. Isto provocará uma rápida descida do pH motivada pela acumulação de ácido láctico, favorecendo a ruptura dos lisossomas e liberando as suas enzimas o que deixará a
carne mais tenra.
Evolução do rebanho nos últimos 45 anos
(000)
|
1961
|
1965
|
1970
|
1975
|
1980
|
1985
|
1990
|
1995
|
2000
|
2005
|
Bovinos
|
6.446
|
6.696
|
8.777
|
9.292
|
8.131
|
7.921
|
8.034
|
9.272
|
9.015
|
9.511
|
Caprinos
|
28
|
45
|
40
|
60
|
53
|
427
|
1.063
|
256
|
164
|
155
|
Equinos
|
70
|
80
|
76
|
66
|
70
|
99
|
94
|
69
|
77
|
77
|
Suinos
|
655
|
771
|
578
|
422
|
434
|
455
|
395
|
431
|
354
|
342
|
Ovinos
|
48.462
|
51.292
|
60.276
|
55.320
|
68.772
|
67.853
|
57.852
|
48.816
|
40.010
|
39.880
|
Fonte: FAO adaptado pelo autor
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