3.16.2011

HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DE GADO NO AMAPÁ


Leopodo Costa

Vicente Yañez Pinzon (1462-1514) foi o primeiro a descobrir a costa do Amapá, depois de ter atingido a costa de Pernambuco, passar pela foz do Amazonas e encontrar a foz do rio Oiapoque.

Até meados do século XVII foram registrados atritos entre portugueses, holandeses e ingleses no delta do rio Amazonas e na região do Cabo Norte.

O Conselho da Regência de Portugal emitiu um Aviso no dia 4 de novembro de 1621 recomendando que fosse tomadas as medidas necessárias para povoar e construir fortes na costa que se estendia até São Tomé da Guiana e a foz do rio Drago na Venezuela.
Com esta finalidade em 1623, foi formada uma expedição sob o comando de Luís Aranha de Vasconcelos e Bento Maciel Parente (1567-1642) que contava com tropas recrutadas em Lisboa, Recife, São Luís do Maranhão e Belém do Pará, reforçadas com mais de 1.000 índios, para atacar e prender os intrusos ingleses e holandeses. Conseguiram o objetivo matando seis ingleses, destruindo os fortes de Muturu e Nassau dos holandeses e afundando um navio.

Em 1625, Pedro da Costa Favela e Pedro Teixeira (1570-1641) com um exército recrutado em Belém e a ajuda de algumas centenas de índios destruíram mais outros estabelecimentos nas proximidades de Macapá.

Bento Maciel Parente (1567-1642) recebeu como donatário em 1637, a capitania do Cabo Norte, que compreendia as terras onde hoje está o estado do Amapá. Na época Portugal estava sob o domínio da Espanha, assim como todas as suas colônias. Pela hostilidade entre a Inglaterra e a Espanha e por indefinição dos limites entre as Guianas e a capitania, uma Companhia de Comércio foi criada em Londres, da qual o duque de Buckingham (1592-1628) era sócio para conquistar e tomar posse da região. Enviaram uma expedição sob o comando de Roger Fray (m.1631) e estabeleceram entre outras feitorias o forte de Cumaú. Destinava-se também a servir de depósito para armazenar as drogas do sertão.

Em 9 de julho de 1631, o capitão-mor Feliciano Coelho de Carvalho, a frente do destacamento militar de Belém, auxiliado por Ayres de Souza Chichorro, Pedro Baião de Abreu e centenas de índios tucujus, atacaram e conquistaram o forte. O comandante Roger Fray conseguiu fugir e foi e dias depois aprisionado e morto. Sobre as ruínas foi edificado  em 1658 pelo capitão Francisco da Mota Falcão um forte português com o mesmo nome, que foi substituído em 1688 pelo forte de Santo Antonio do Macapá.
A região mais tarde, foi invadida pelos holandeses, que tinham organizado uma empresa com o objetivo de exploração das drogas do sertão, e pelos franceses que reivindicaram a sua posse em nome da França. A pretensão francesa teve origem numa carta patente que o rei Henrique IV (1553-1610) concedeu a Daniel de La Touche,  Senhor de La Lavardiére(1570-1631), nomeando-o seu lugar tenente na America do Sul, para as terras desde o rio Amazonas até a ilha de Trindade.

A primeira ocupação militar foi realizada por Antonio de Albuquerque Coelho de Carvalho (1655-1725), governador do Maranhão e Grão-Pará, que cumprindo ordens do rei de Portugal, mandou construir os fortes de Cabo Norte, Macapá e Paru.

Na mesma época, os jesuítas estabeleceram às margens do rio Araguari um aldeamento de indígenas. Um dos padres, Aloisio Conrado Pfeil (1638-1701), foi o autor do primeiro mapa do Amapá.

A capitania do Cabo do Norte, com a morte de Bento Maciel Parente, passou a seu filho de mesmo nome. Esta sucessão foi consolidada com uma carta patente de  João IV (1767-1826) de 9 de julho de 1645 que confirmou a doação. Deste filho ela passaria a Vital Maciel Parente

A ofensiva dos franceses para tomar posse da região era persistente. Em 1668, o marquês Pierre De Ferroles, por ordem do governador de Caiena, intimou aos portugueses que abandonassem todos os fortes construídos à margem esquerda do rio Amazonas. 

Argumentava que a área pertencia ao rei da França. A ordem não foi acatada e o emissário francês deixou uma carta do governador de Caiena ao capitão-mor do Pará, reiterando as suas reivindicações. No final do século XVII, De Ferroles, já promovido a governador de Caiena, voltou à região a frente de uma tropa e atacou os fortes de Macapá e Paru. Mais tarde estes fortes foram recuperados pelos portugueses.

Em 1713, pelo Tratado de Utrech foi estabelecida a fronteira entre o Amapá e a Guiana Francesa, no entanto, os invasores franceses continuaram as suas incursões ao território amapaense. Foram rechaçados e Portugal providenciou a construção da fortaleza de São José do Macapá, localizada na foz do rio Amazonas, para proteger o território das investidas. O pelourinho da vila de São José de Macapá foi erigido defronte ao forte, em 4 de fevereiro de 1758, pelo governador do Grão Pará  Francisco Xavier de Mendonça Furtado (1700-1779).

Em 1808, depois da chegada ao Brasil de João VI (1767-1826) e comitiva e como represália pela invasão de Portugal pelos franceses de Napoleão I (1769-1821), a Guiana Francesa foi ocupada durante oito anos pelos portugueses-brasileiros comandados por João Severiano Maciel da Costa (1769-1821), futuro marques de Queluz, que assumiu o governo.
Pelo tratado de Paris (1814) Portugal teria que devolver a região retroagindo para as fronteiras estabelecidas em 1792. A Guiana foi devolvida, porém Portugal não ratificou a decisão dos limites e protelou a situação para tentar tirar alguma vantagem.

No início do século XIX, foi descoberto ouro e houve grande procura pela borracha. Surgiram algumas povoações e uma incipiente criação de gado, desenvolvida pelos açorianos que tinham muita tradição nessa atividade.

No final do século, em 1895, ocorreu nova invasão dos franceses, que só foi resolvida em 1º de janeiro de 1900, ocasião em que a ‘Comissão de Arbitragem’ de Genebra deu posse definitiva da área ao Brasil, sendo o Amapá incorporado então ao estado do Pará.

No norte do Amapá, na região do Oiapoque, no dia 24 de março de 1919 é criada uma colônia militar pelo governo federal. Em 1920 o governo federal nomeia o engenheiro Gentil Norberto, chefe da comissão encarregada de fundação e colonização de Clevelândia. Em 10 de abril de 1920 o ministro envia ao Governo do Pará um oficio pedindo urgencia no programa de concessão de terras para que seja fundado um centro agrícola em Clevelândia.

Em 5 de maio de 1922 é instalado o Nucleo Agricola Colonial de Clevelândia, destinado a receber flagelados da seca do Nordeste. Deste núcleo originou-se a vila de Clevelândia, no rio Oiapoque. Entre 1924 e 1928 a colônia militar recebeu muitos prisioneiros políticos.

Em 1927 a região foi percorrida pelo marechal Candido Rondon (1865-1958), chefiando a ‘Comissão de Inspeção de Fronteiras’, que constatou a predominância ainda da influência francesa nas denominações geográficas e nos costumes. Imediatamente providenciou a mudança do nome, como o do vilarejo de Martinique para Vila do Espírito Santo do Oiapoque, hoje a cidade de Oiapoque.

Pelo decreto-lei 5814 de 1943, foi criado o território Federal do Amapá, que em 3 de outubro de 1988 foi elevado à condição de estado da Federação. A população do Amapá nos anos de 1950 e 1960 era a seguinte:

Ano
População
1950
37.000
1960
68.000


Concentram-se na planície litorânea as principais atividades agropecuárias, como a criação de gado. Importantes fazendas de criação de bovinos foram estabelecidas nos campos de Calçoene e Amapá e plantações de cereais nas proximidades de Macapá e Marzagão.

O rebanho em 1957 e 1964 era a seguinte:


1957
1950
1964
1957/1964
Bovinos
55.000
60.000
55.000
0
Equinos
4.000
2.000
4.000
0
Suinos
25.000
6.000
26.000
4%

 Em 1964 foram abatidos em estabelecimentos controlados pelo governo:

Bovinos
11.000 cabeças
Suinos
13.000 cabeças




O Amapá conta com aproximadamente 180 mil cabeças de bubalinos (13,5% do rebanho nacional) e detém o segundo maior rebanho da Amazônia. O programa de incentivo a criação de búfalos nasceu em 1975.

A pecuária de corte ainda está fortemente marcada pelo uso extensivo da terra e por um baixo padrão zootécnico, o que se reflete na baixa rentabilidade por hectare. Em 2008 existiam no Estado 1.670.900 hectares de pastagens nativas de terras inundáveis e algumas centenas de milhares de hectares de pastagens nativas nos cerrados, pastagens que representam a principal fonte de alimentação dos rebanhos. A integração dos sistemas de pastejo dos campos inundáveis com os de cerrado tem grande potencial para incrementar a produção pecuária do Amapá, sem a necessidade de desmatar áreas de floresta densa.

A quase totalidade do rebanho bovino de aproximadamente 96.000 cabeças tem por finalidade a produção de carne (95%), sendo o restante destinado a uma inexpressiva produção de leite, cuja média é de apenas três litros por vaca por dia.

O IBGE no último Censo Agropecuário constatou que no dia 31/12/2008 havia no estado do Amapá 96.000 cabeças de bovinos. Apenas dois municípios (Amapá e Macapá) tinham rebanhos acima de 10.000 cabeças, representando 45% do total geral do rebanho do estado.

É no Amapá onde temos o menor efetivo de bovinos do Brasil, se desconsiderarmos o Distrito Federal.


[1]  Foi o fundador de São Luís do Maranhão em 8 de setembro de 1612.

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