3.16.2011

HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DE GADO NO ACRE

Leopoldo Costa

Pelos Tratados de Madrid (1750) e de Santo Ildefonso (1777) a região do Acre, pertencia a Bolívia (Alto Peru) e portanto a coroa espanhola. Com a colonização e posse da terra pelos brasileiros, que começou nos vales do rio Purus e Tamauacá, com a extração do látex da seringueira para a produção de borracha, a situação exigiu uma revisão e foi celebrado o Tratado de Ayacucho em 1867. Pelo Tratado a fronteira brasileira expandiu. Passou a ser a confluência entre os rios Beni e Mamoré.

No ano de 1751, houve uma expedição que procedente do Mato Grosso percorreu o Acre. Outros sertanistas, comandando as suas ‘entradas’, embrearam diversas vezes na região, na procura de metais preciosos ou de índios para prear. A proximidade com as jazidas da Bolívia fazia-os crer na existência de prata, conforme ocorria abundantemente em Potosi.

Quando em 1877, uma terrível seca assolou o sertão do Ceará e outras províncias do Nordeste, milhares de nordestinos emigraram para o Acre, pois houve muita propaganda sobre as suas vantagens. Mais uma vez o acordo de fronteiras foi desrespeitado. Parte do território que seria boliviano pelo Tratado de Ayacucho, foi ocupada por famílias de nordestinos que exploravam a extração do látex das seringueiras.

A Bolívia reagiu pela invasão do seu território e começou a tomar ações para reconquistá-lo. A primeira foi o estabelecimento de um posto aduaneiro em Puerto Afonso. Não teve resultado. Em 1898, os bolivianos enviaram uma expedição de ocupação que provocou, a partir de 1899, confrontos diretos entre brasileiros e bolivianos.  Alguns nativistas liderados por Luis Galvez (1864-1935) declarou no dia 14 de julho de 1899 a independência da república do Acre. A Bolívia reagiu e retomou o poder, porém houve a contra-ofensiva dos nativistas e mais uma vez, em novembro de 1900, foi declarada a independência e novamente com a reação dos bolivianos foi retomado o domínio.

Para tentar solucionar ou se livrar da questão o governo boliviano, em 1901, arrendou o Acre a uma empresa multinacional controlada por um grupo de investidores norte americanos e britânicos (‘Bolivian Syndicate’), que por contrato se comprometia a defender e desenvolver economicamente a região.

Aproveitando a situação complicada, José Plácido de Castro (1873-1908), que já há alguns anos morava na região, reuniu alguns militantes e em 1902, ocupou a vila de Xapuri. Em 1903, já contando com o apoio implícito e sigiloso do governo brasileiro, que enviava reforços, atacou e conquistou Puerto Afonso, proclamando em 27 de janeiro de 1903, pela terceira vez, a independência da república do Acre, que também não persistiu.

Para tentar resolver a situação foi assinado em 17 de novembro de 1903 o Tratado de Petrópolis. Pelo Tratado, foi celebrado um acordo entre o governo brasileiro e a empresa Bolivian Syndicate que devia receber uma indenização de 110 mil libras esterlinas e o Acre passaria a pertencer ao Brasil, fazendo parte do estado do Amazonas. A Bolívia deveria receber uma indenização de 2 milhões de libras esterlinas e o Brasil se comprometia a construir uma estrada de ferro para dar saída aos produtos bolivianos pelo oceano Atlântico.(mais tarde a Ferrovia Madeira-Mamoré). Houve protestos do Peru, que também queria uma parte do território.

Em 1904, o presidente Rodrigues Alves (1848-1919), declarava o Acre um Território Federal, situação que perdurou até 1962, quando o presidente João Goulart (1918-1976), elevou-o a condição de estado da União.

A borracha sempre foi o principal produto da região, que embora em decadência, ainda é o sustentáculo da economia. O preço cada vez menos remunerador permitiu que fazendeiros do Brasil Central, adquirissem áreas e promovessem o desmatamento, para o estabelecimento de fazendas de criação de gado.

No período em que Francisco Wanderlei Dantas (1932-1982) governou o Acre (1971 a 1974), atraídos por doação de terras e financiamentos subsidiados pelo Banco do Estado do Acre, centenas de fazendeiros paulistas, paranaenses e mineiros receberam em doação extensos seringais, derrubaram as árvores e transformaram a área em pastagens. Houve conflito com os seringueiros e protestos dos defensores do meio ambiente. Nesta ocasião, quase um terço das terras pertencentes ao estado foi doado.

 A população do Acre no final de cada década era a seguinte:

Ano
População
1910
74.000
1920
92.000
1930
107.000
1940
65.000
1950
115.000
1960
166.000


O rebanho teve a seguinte evolução:


1938
1950
1957
1964
1964/1938
Bovinos
33.000
30.000
34.000
59.000
79%
Equinos
2.250
-
2.000
4.000
78%
Suinos
57.500
57.000
84.000
10.000
-83%
Ovinos
10.600
20.000
15.000
-
-

A pecuária nos estados que compõem a Amazônia, para uma grande parte dos analistas, sobrevive mais a custa de especulação da terra e de subsídios do governo do que por interesse econômico de auferir lucros com a atividade.

A partir da década de 1970 aconteceu uma desestruturação do setor de extração de látex, o que permitiu a chegada da agropecuária.

Em 1970 o Acre tinha pouco mais de 63.000 hectares de pastagens o que evoluiu para 614.000 hectares em 1995. 47% da área desmatada do estado era ocupado com a atividade pecuária. Já havia 19.300 proprietários de pastagens, sendo que 13.000 proprietários já criavam gado bovino. Destacava-se apenas o município de Rio Branco com o maior rebanho e ainda não alcançava 50.000 cabeças.

No ano de 2000 a área desmatada cresceu para 1.576.000 hectares e 75%, ou seja, 1.175.000 eram pastagens. Existiam mais de 20.000 criadores de gado espalhados por todos os 22 municípios do estado. Sete municípios tinham rebanhos acima de 80.000 cabeças, quatro municípios tinham rebanhos entre 50.000 cabeças e 80.000 cabeças, três municípios tinham rebanhos entre 25.000 cabeças e 50.000 cabeças e os outros oito municípios tinham rebanhos abaixo de 25.000 cabeças. A maioria dos criadores (96%) têm rebanhos  na média de 500 cabeças.

O IBGE no último Censo Agropecuário constatou que no dia 31/12/2008 havia no estado do Acre 2.426.000 cabeças de bovinos. Os cinco maiores rebanhos, que representavam 50% do total estavam nos seguintes municípios:
·       Rio Branco                  382.000 cabeças
·       Senador Guimard         233.000 cabeças
·       Bujari                         215.000 cabeças
·       Sena Madureira            196.000 cabeças
·       Xapuri                        187.000 cabeças
Outros seis municípios apresentavam rebanhos acima de 100.000 cabeças: Acrelândia, Brasiléia, Plácido de Castro, Porto Acre, Tarauacá e Capixaba

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