Leopoldo Costa
O território que hoje corresponde ao estado do Pará, não foi primeiramente abordado pelo litoral, como acontecia com a maioria das conquistas portuguesas. Em fins do século XVI, ocorreram as primeiras incursões procedentes do Mato Grosso e de Goiás. Foi pela região do Médio Tocantins que o Pará foi inicialmente explorado. Os motivos que levaram estas expedições a explorar a região foram a busca de ouro e a preação ou a catequese dos indígenas.
Na época, o litoral e as margens do rio Amazonas já estavam sendo exploradas por ingleses e holandeses, que subindo o rio estabeleceram feitorias para a coleta de drogas do sertão e pequenas fortificações, principalmente às margens do rio Xingu e até as proximidades da sua confluência do rio Tapajós.
Alexandre de Moura fora encarregado de tomar posse de um ponto vizinho da foz do rio Amazonas. Delegou esta missão a Francisco Caldeira Castelo Branco (?-1619). Em 1616, Francisco Caldeira Castelo Branco, que já tinha participado na expulsão dos franceses do Maranhão, comandando uma expedição, conseguiu vencer os invasores e construiu o forte de Presépio, embrião da vila de Nossa Senhora de Belém. A vila pouco prosperou, em 1667 não passava de 400 habitantes.
Durante 1636/1638, uma expedição comandada por Pedro Teixeira (1570-1641) composta de 1.000 homens em cinquenta grandes canoas, partiu de Belém e subindo os rios Amazonas e Napo[1], tomou posse em nome de Portugal, de todas as terras da margem esquerda do rio Napo até o Oceano Atlântico. Chegou a alcançar a região de Quito no Equador, habitada pelos Incas.
A fixação do domínio português foi efetivada pelas missões religiosas e pelas bandeiras, que saindo do forte do Presépio, subiram o rio Amazonas. As missões dos jesuítas na região chegaram a ter 50.000 indígenas aldeados.
Em 1661, os jesuítas foram expulsos, entre eles se encontrava o padre Antonio Vieira (1608-1697), conhecido por ser bom orador e pela ferrenha oposição à escravização dos índios.
Em 1621, a ocupação precária da região e a vulnerabilidade às invasões, levaram a coroa, a criar o ‘Estado do Maranhão e do Grão-Pará’, separado do Estado do Brasil. A iniciativa foi benéfica, havendo aumento da presença de colonizadores e a fundação dos fortes de Óbidos e Santarém.
Houve muitas concessões de sesmarias, mas a posse da terra não dependia somente das doações de sesmarias. Em muitos casos era justamente a exploração econômica do espaço que legitimava a posse desta terra. A fórmula ‘possuindo e cultivando a terra’ era freqüente nas petições de posse dos moradores. Foi o caso de Manuel Barros da Silva, cidadão de Belém, que cultivava área de terra no Guajará, onde tinha feito ‘largos pastos de gado e plantado muito cacau’.
Em 1751, o ‘Estado do Maranhão e do Grão-Pará’ perdeu o seu status e o nome trocado para ‘Capitania do Grão Pará e do Maranhão’ e a capital foi transferida para Belém. Em 1755 nova mudança: foram desmembradas em duas capitanias, a do Grão Pará e a do Maranhão.
Escreveu Helio Vianna em ‘História do Brasil’: ‘(...) no Pará se verificou a impossibilidade de sua manutenção apenas pelas chamadas ‘drogas do sertão’ e especiarias da Amazonia, foi o recurso à criação de gado na ilha do Marajó a solução encontrada para o abastecimento regional. Devassados os campos do Rio Branco, não tardou que fossem aproveitadas para a criação.’
O gado foi introduzido no Pará pela ilha do Marajó, no final do século XVII. A primeira fazenda foi instalada em 1692, às margens do rio Arari, sendo propriedade de Francisco Rodrigues. O gado foi importado diretamente do arquipélago de Cabo Verde.
Na ilha usavam o boi até para montaria. O boi de sela era utilizado habitualmente nas fazendas de criação de gado. O uso do animal parece estar ligado à ocorrência de tripanossomíase, doença que afetou os cavalos nas áreas referidas. A doença teria aparecido em Marajó pela primeira vez em 1828, constituindo verdadeira epidemia até aproximadamente o ano de 1836, quando quase todo o rebanho equino da região foi extinto, sendo substituído pelo boi de sela. Em vez de freio, estes animais eram controlados por uma argola, presa no focinho através de um furo no septo nasal, onde se ligavam às rédeas. Uma vantagem na utilização do boi como animal de montaria, é que estes animais são mais resistentes no período de enchentes.
Em 1750, havia na ilha um rebanho de 480.000 cabeças de bovinos. Em 1783, a ilha tinha 153 fazendas, sendo a maior a fazenda pertencente à Ordem das Mercês (Mercedários), que contava com 3.000 cabeças de bois e 150 escravos.
Em 1803, o Pará já tinha 226 fazendas com mais de 500.000 cabeças de gado.
O viajante inglês Alfred Russel Wallace (1823-1913), no seu livro ‘Viagens pelos Rios Amazonas e Negro’, publicado em inglês em 1853, descreve a existência de gado na ilha Mexiana e ‘um grande número de escravos negros’, envolvidos na tarefa de cuidar destes animais.
Caio de Prado Jr[2] informou que em 1823 a cidade de Belém do Pará com 13.000 habitantes consumia 11.000 cabeças de bois por ano, o que seria um exagero, equivalente a mais de 150 kg de carne per capita.
Os primeiros búfalos foram introduzidos em 1890, importados da ilha de Trinidad, sendo a partir da data, o mais importante valor econômico da ilha.
Henry Walter Bates[3] durante a sua estadia em Santarém em 1851 escreveu: ' Mas aí é tudo muito caro, exceto a carne, e dia a dia se tornava mais caro. (...) Havia dois ou três açougues onde se podia comprar excelente carne fresca a dois dinheiros ou a dois dinheiros e meio a libra. O gado não precisava ser trazido de longa distância, como no Pará (Belém?), criando-se nos campos em torno da Lagoa Grande a um ou dois dias de viagem da cidade.'
De julho de 1858 a junho de 1859 foram abatidos para o abastecimento de Belém 13.162 cabeças de bovinos que pesaram 110.879 arrobas, uma média de 126 quilos por cabeça[4]. Em 1860, existiam 355.451 bovinos e 30.532
equinos nas 710 fazendas da província;
Comarca
|
Bovinos (cabeças)
|
Equinos (cabeças)
|
Total de Cabeças
|
Cintra
|
285
|
17
|
302
|
Cachoeira
|
93.180
|
2.276
|
95.456
|
Marajó
|
100.492
|
5.472
|
105.964
|
Macapá
|
6.570
|
1.055
|
7.625
|
Breves
|
50
|
50
| |
Gurupá
|
25.206
|
555
|
25.761
|
Monte Alegre
|
48.000
|
6.500
|
54.500
|
Santarém
|
31.165
|
10.632
|
41.797
|
Obidos
|
50.503
|
4.025
|
54.528
|
Total
|
355.451
|
30.532
|
385.983
|
Obs. As comarcas da Capital,Vigia, Igarapé-Mirim e Cametá não apresentaram estatísticas.Fonte: Relatório Anual da Presidencia da Província 1860.
Em 1860, foram abatidas 26.128 cabeças para o abastecimento de Belém. 19.504 cabeças vinham do Marajó, 4.399 cabeças vieram do Baixo Amazonas e 2.225 cabeças vieram de outros locais.
Pelas estatísticas de exportação de couros, entre os anos de 1852 e 1862, publicadas nos relatórios anuais da Presidência da Província, podemos observar que a média anual de exportação para o exterior e outras províncias, foi de 121.500 peças, das quais quase 50.000 de couros secos.
Com esta produção e considerado os parâmetros de desfrute da época, concluímos que o rebanho bovino da província, girava em torno de 1.350.000 cabeças. O preço médio dos bois no mesmo período era de 35$400 por cabeça.
A população do Pará no final de cada década era a seguinte:
Ano
|
População
|
1900
|
445.000
|
1910
|
666.000
|
1920
|
983.000
|
1930
|
1.305.000
|
1940
|
897.000
|
1950
|
1.123.000
|
1960
|
1.550.000
|
O maior município do mundo está localizado no Pará. É o município de Altamira com uma área de 161.445 km², sendo um pouquinho menor do que a área somada de Portugal, Países Baixos e Bélgica. Tem uma população de 85.000 habitantes, um índice de 0,5 habitante por km².
O rebanho teve a seguinte evolução:
1938
|
1950
|
1957
|
1964
|
1964/1938
| |
Bovinos
|
750.000
|
840.000
|
849.000
|
1.097.000
|
46%
|
Equinos
|
99.000
|
120.000
|
94.000
|
102.000
|
3%
|
Suinos
|
231.000
|
390.000
|
538.000
|
819.000
|
255%
|
Ovinos
|
35.000
|
-
|
40.000
|
66.000
|
88%
|
Caprinos
|
27.000
|
-
|
49.000
|
73.000
|
170%
|
Em 1964 foram abatidos em estabelecimentos controlados pelo governo:
Bovinos
|
81.000 cabeças
|
Suinos
|
70.000 cabeças
|
Ovinos
|
1.000 cabeças
|
Caprinos
|
1.000 cabeças
|
O IBGE no Censo Agropecuário constatou que no dia 31/12/2008 havia no estado do Pará 16.240.000 cabeças de bovinos. Os cinco maiores rebanhos, que representavam 23% do total estavam nos seguintes municípios:
· São Félix do Xingu 1.813.000 cabeças
· Santana do Araguaia 486.000 cabeças
· Marabá 478.000 cabeças
· Xinguara 477.000 cabeças
· Cumaru do Norte 440.000 cabeças
Tinha o quinto maior rebanho do Brasil, só superado pelo Mato Grosso, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás.
O estado do Pará que em 1968 tinha apenas um rebanho de 1,3 milhão de cabeças, ocupando o 15º lugar do Brasil, em 2009 alcançou 16,8 milhões de cabeças, o 5º maior rebanho brasileiro. Só a cidade de São Félix do Xingu no sudeste do estado tem um rebanho de 1,9 milhão de bovinos.
O município de São Félix do Xingu tinha o segundo maior rebanho por município do Brasil, só sendo superado por Corumbá no Mato Grosso do Sul. Tinha mais bovinos do que o rebanho individual de cada um dos 8 estados da federação: Amapá, Roraima, Rio Grande do Norte, Sergipe, Alagoas, Paraíba, Amazonas e Piauí.
[1] O rio Napo é um rio de aproximadamente 1.130 km de extensão que nasce no Equador, atravessa o Peru e deságua na margem esquerda do rio Solimões / Amazonas.
[2] No livro 'Formação do Brasil Contemporâneo', São Paulo- Brasiliense- 1996
[3] No livro 'Um Naturalista no Rio Amazonas', Belo Horizonte, Itatiaia, 1979
[4] Relatorio Anual da Presidencia da Provincia 1859.
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