4.03.2011

HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DE GADO NA DINAMARCA

Leopoldo Costa

A Dinamarca é formada pela península da Jutlândia (Jylland) e o arquipélago dinamarquês que conta com 413 ilhas, tendo como maiores as ilhas de Fiônia (Fyn), Zelândia (Sjaelland), Lolland, Langeland, Falster, Moenland, Aerö, Samsö, Als, Taosigne e Bornholm. A Groenlândia (descoberta em 877 pelo norueguês Gunbjorn), uma das maiores ilhas do mundo é sua possessão e também o arquipélago de Feröe (Faröe), onde a pesca e a criação de ovinos são as principais atividades.Em 1948 conseguiu a autonomia administrativa mas preferiu continuar fazendo parte do reino, considerado uma divisão.

O território da Dinamarca, salvo a ilha de Bornholm, apresenta um relevo suave, apropriado para a agricultura e a criação de gado. 72% da superfície é agriculturável. As terras são divididas em pequenas granjas 90% cultivadas pelos proprietários e familiares que plantam  trigo, cevada, centeio, aveia, batatas, beterraba e alfafa. A produção de leite é uma das mais importantes atividades agrárias. Com o grande crescimento da indústria, reativado com a entrada da Dinamarca na União Européia em 1973, as atividades agropastoris perderam expressão e passaram a representar apenas 10% do PIB. A criação de suínos é a mais importante atividade agropastoril. O gado bovino é todo criado em sistema intensivo, alimentado com cereais e alfafa.
Sua máxima altitude não passa de 170 metros. Seus rios são de curto curso e o mais longo, o Guden-Aa mede 159 quilômetros.

Nas escavações arqueológicas foram encontrados vestígios datados de 4000 anos antes de Cristo que evidenciam que os primitivos habitantes da Dinamarca já queimavam as florestas para formar pastagens e conquistar áreas para cultivar. Começaram a criar vacas para ordenhar e produzir inicialmente apenas manteiga. Na Idade Média era com manteiga que os camponeses pagavam os tributos ao senhor, ao rei e a igreja.

Existem também alguns achados arqueológicos que indicam as relações comerciais dos habitantes da Dinamarca com Roma e Bizâncio no século V. Encontaram um forte datado do século VII. Foi nesta época que os Dinamarqueses emigraram da Suécia e ocuparam a península da Jutlândia. 

No inicio do século IX com a expansão do império de Carlos Magno (entre 800 e 1050) o país ficou conhecido na Europa. Em 810 o rei dinamarquês Godofredo, resistiu à conquista dos Francos o que foi finalmente conseguido pelo seu sucessor Hemming, que fez um acordo com eles estabelecendo como limite o rio Eider, que permaneceu válido até 1864.

Em 980 as diversas tribos Dinamarquesas foram unificadas por Haroldo Dente Azul (Harald Blatand) (935-986), filho do rei da Jutlândia e de Thyra. Também conquistou e foi rei da Noruega. Como  tinha convertido ao Cristianismo, impôs a religião a todo o país. Haroldo morreu numa rebelião liderada pelo seu filho Svend.

Svend liderando seus soldados dominou a Inglaterra em 1013, seu filho Canuto, o Grande em 1028 dominou a Noruega. Contudo, um pouco mais tarde, houve uma desagregação do território. Neste tempo os aventureiros Escandinavos (dinamaqueses, suecos e noruegueses) que singravam os mares ficaram conhecidos como Vikings.

Valdemar I, o Grande, que reinou de 1157 a 1182, restabeleceu a unidade criando a União de Kalmar. Um de seus sucessores Erik VII estendeu os seus domínios para a Suécia e Noruega, e outros para a Estônia, Finlândia e Islândia.

Em 1397, sob o reinado de Margrethe as coroas da Noruega e Suécia foram unidas a da Dinamarca, esta reunião foi desfeita em 1523, por uma revolta sueca, mas a Noruega permaneceu unida até 1814.

A Dinastia Oldenburgh iniciada com Cristiano I (reinou de 1448 a 1481, conseguiu a incorporação de Schleswig e de Holstein. Cristiano em 1460 foi nomeado duque do primeiro e conde do segundo.
No reinado de Cristiano II, que durou de 1534 a 1558, a Dinamarca adotou como religião oficial o Luteranismo.
Sob o reinado de Cristiano III foi dissolvida a união entre a Dinamarca, a Suécia e a Noruega.

Durante os séculos XVI e XVII foi a época de ouro da indústria de laticínios. Informações oficiais nos dão conta que os produtores estavam bem equipados com o que tinha de mais moderno na época e elaborava produtos de excelente qualidade, que eram exportados para toda a Europa. Em 1624, para melhorar o rebanho importaram 12.000 exemplares da raça Holandesa/Holstein da Holanda.

Em 1660, em decorrência das constantes guerras entre a  Dinamarca e a Suécia, as fronteiras foram recuadas e o país ficou à beira da falência.
Frederico III (r.1648-1670) assumiu o reino com poderes absolutos e conseguiu impor a unificação do território, passando o reino por um período de liberalização, com importantes reformas  no setor agrário, conseguindo um progresso econômico advindo da expansão comercial.

Em 1769 foi criada a Sociedade Real de Agricultura.

Durante as Guerras Napoleônicas em 1814 a Dinamarca foi aliada da França e com a derrota de Napoleão, pelo Tratado de Viena de 1815, teve que ceder para a Prússia, a Noruega, a Suécia e a Pomerânia.

Em 1861 o governo iniciou o recenseamento agrícola e a partir da década de 1940 a contagem de gado passou a ser feita de cinco em cinco anos.

Em 1865, após ser derrotada na guerra contra a Prússia e Áustria, a Dinamarca perdeu os ducados de Schleswig-Holstein e Lauenburg.

Em 1880 foi criado o primeiro livro oficial de registro genealógico de bovinos.

Na década de 1880 os criadores de suínos da Dinamarca, que produziam seus animais visando o mercado da Alemanha, resolveram conquistar o mercado britânico que preferia um animal delgado com manta de toucinho entremeado de carne para a produção de bacon e surgiu como alternativa o Landrace.
A raça Landrace foi desenvolvida entre 1830 e 1840 com o cruzamento do porco nativo com o Large White. O trabalho foi melhorado em 1896 com o controle governamental, através do primeiro centro de melhoramento genético do mundo objetivando obter um porco que fosse adequado para a produção de bacon destinado ao mercado britânico.
Para objetivar a seleção foi fundada em 1907 uma estação oficial de pesquisas e testes em Elscominde.

Em 1882 os fazendeiros da Jutlândia organizaram uma cooperativa, o que colaborou para racionalizar o processo produtivo de lácteos. Os fazendeiros forneciam o leite e recebiam o lucro da venda dos produtos na proporção do leite fornecido. Assim grandes e pequenos produtores tinham o mesmo valor para o seu leite. A ideia foi aprovada e na virada do século XVIII já existiam mais de 1000 cooperativas no país. Atualmente 97% do leite produzido é entregue às cooperativas. Em 1895 iniciou-se as sociedades de controle de produção leiteira.

Nas últimas décadas do século XIX, veio de novo o progresso. Foram fundados bancos, empresas de navegação e de comunicação. As cidades cresceram surgindo a classe dos trabalhadores assalariados. Para proteger estes trabalhadores foi criada em 1891 o direito a aposentadoria e em1892 o seguro saúde.

Em 1896 foi instituído o controle de rendimentos de suínos.

Durante a Primeira Guerra Mundial a Dinamarca ficou neutra, mas sofreu as consequências dela. Houve grandes perdas para o comércio internacional pelo afundamento de vários navios da sua frota mercante.
As Ilhas Virgens, que eram domínio dinamarquês, para amainar a crise, foram vendidas em 1916 por US$ 25 milhões para os Estados Unidos.
Com a derrota dos alemães, no final da guerra a Dinamarca voltou a tomar posse da parte sul do território de Schleswig.

Os primeiros anos após guerra grave crise econômica assolou a Europa. O comércio declinou, o desemprego aumentou, gerando inflação, agitações e greves. A recuperação gradativa começou em princípios de 1923. O governo dinamarquês  porém adotou políticas deflacionárias e nova crise reacendeu em 1924.

Em 1929 a Dinamarca tinha um rebanho de 3.057.000 de bovinos, 4.871.879 de suínos e 190.989 de ovinos.

Em 1931 o governo da Dinamarca criou o ‘Comitê para a Melhoria da Criação de Suínos’, sendo um dos fatores determinantes do reconhecimento da raça Landrace no mundo.

Apenas em 1932, com um arranjo político, que possibilitou a estabilização monetária e a promulgação de novas leis sociais, a crise foi resolvida.

Em 1938 o rebanho era de 3.326.334 cabeças de bovinos, 3.136.000 cabeças de suínos, 147.000 cabeças de ovinos e 594.027 cabeças de equinos. Neste ano foi exportado US$ 335 milhões de dólares. Deste total 24,7% foi de manteiga e 23,6% de bacon, ou seja quase a metade das exportações. Os maiores compradores de produtos dinamarqueses foram o Reino Unido com 56,1% do total, seguido pela Alemanha com 19,8%. A balança comercial teve um déficit de US$ 20 milhões. O Reino Unido com 34,6% e a Alemanha com 24,5% foram os dois países que mais venderam para a Dinamarca.  Os três maiores itens importados foram carvão, ferro e aço e ração para o rebanho. A população humana era de 3,8 milhões de pessoas.

Em 9 de abril de 1940, as tropas nazistas invadiram o território dinamarquês e aprisionaram o rei Cristiano X no castelo de Sargenfri. Em 5 de maio de 1945 as tropas britânicas libertaram a capital.

Em 1941 a Islândia, mediante um plebiscito, separou-se da Dinamarca, tornando uma república independente.

Na década de 1950 o reino recebeu importante ajuda financeira dos Estados Unidos através do Plano Marshall, que impulsionou o desenvolvimento industrial.

Em 1948, em função da crise que assolou a Europa depois da Segunda Grande Guerra,  o rebanho reduziu-se para 2.826.099 cabeças de bovinos, 1.448. 058 cabeças de suínos, 77.000 cabeças de ovinos e 554.097 cabeças de equinos. Neste ano foi exportado US$ 569 milhões de dólares. Deste total 26,1% foi de manteiga e 4% de bacon. Uma queda de 50% na participação destes produtos. Os maiores compradores foram o Reino Unido com 30,4% do total, seguido pela Suécia com 7,5%. A Alemanha totalmente destruída importou apenas 1,8% do total.  A balança comercial teve um déficit de US$ 144 milhões. O Reino Unido com 26,0% e os Estados Unidos com 12,8% foram os dois países que mais venderam para a Dinamarca. A Alemanha vendeu apenas US$ 27 milhões, principalmente de carvão. A população humana era de 4,1 milhões de pessoas.

Em 1960 tinha um rebanho de 3.398.000 cabeças de bovinos, 6.179.000 cabeças de suínos e 211.000 equinos.

Desde a década de 1970 e até os nossos dias a Dinamarca é o maior exportador de carne suína do mundo, respondendo por um percentual em torno de 20% do total mundial. Em 1970 tinha um rebanho de 7,5 milhões de cabeças de suínos.

Em 1975, tinha um rebanho de 3.048.000 cabeças de bovinos, 7.748.000 cabeças de suínos, 59.000 cabeças de ovinos e 50.000 cabeças de equinos. As exportações de produtos derivados do leite representaram apenas 6% do total, enquanto que em 1938 representavam um quarto do total. Neste ano de 1975 as exportações de carne suína representaram 14% do total geral. Os maiores compradores foram a Grã Bretanha, a Alemanha e a Suécia.
Em 1978 foram produzidas 240.000 toneladas de carne bovina e 790.000 toneladas de carne suína.

Em 2009, pelo levantamento da FAO, a Dinamarca tinha um rebanho de:
  • Bovinos       1.540.340 cabeças
  • Suínos       12.369.145 cabeças
  • Ovinos           103.977 cabeças
  • Equinos           57.981 cabeças

A produção de carne foi a seguinte:
  • Carne bovina        127.900 toneladas
  • Carne suína       1.585.500 toneladas
  • Carne ovina             1.827 toneladas

A população humana era de 5,5 milhões de pessoas com uma renda per capita de US$ 37.000,00 por ano, a sexta maior do mundo.

Pode ser observado claramente que a tradição de um país produtor de carne suína vem sendo mantida e com excelente rendimento do rebanho. O abate de suínos de 19.331.500 cabeças foi 1,5 vezes o tamanho do rebanho, refletindo a sua precocidade. A Dinamarca continua sendo a principal exportadora de produtos suínos do mundo. Por outro lado, nota-se também um acentuado declínio na criação de bovinos: o rebanho de 2009 é apenas metade do rebanho que tinha em 1929. Hoje basicamente todo ele é direcionado para produção de leite.



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