Leopoldo Costa
Sabendo do desembarque foi procurado por João Ramalho, que era casado com uma filha do cacique Tibiriçá dos Guainases e por Antonio Rodrigues que tinha ligações com Piqueramobi, cacique dos Ururaís. Ambos eram degredados portugueses e foram deixados no litoral pelas expedições exploradoras. João Ramalho vivia em Borda do Campo e recebeu em doação da Coroa portuguesa as terras e o direito de fundar e ser o governador da povoação que ali fundasse. Em 1553 fundou a vila de Santo André da Borda do Campo.
Em janeiro de 1554 por iniciativa do missionário jesuíta padre Manoel da Nóbrega (1517-1570), uma expedição formada de missionários, colonos portugueses e índios subiu a serra do Mar e fundou um colégio que deu origem à vila de São Paulo de Piratininga. A primeira missa no colégio foi realizada no dia 25 de janeiro, dia da conversão de São Paulo e daí veio o nome do colégio e da vila. O colégio se dedicava a catequização dos índios que também aprendiam rudimentos de latim e de aritmética.
A vila de São Paulo substituiu a vila de São Vicente, tornou-se mais importante e passou a ser um entroncamento de diversos caminhos naturais e por isto foi usado como centro de irradiação. Ao invés de vicentinos os habitantes da capitania passaram a ser conhecidos como paulistas. Partindo dali, os bandeirantes seguiram para o norte, cruzando a serra da Mantiqueira até atingir Minas Gerais e Bahia. Seguindo sentido sul, usando o “corredor” formado pela serra do Mar/serra Geral e o planalto ocidental, conseguiram chegar ao atual estado do Rio Grande do Sul e para oeste, caminhando à jusante do rio Tietê, atravessaram todo o território atual do estado de São Paulo e alcançaram as regiões dos atuais estados de Mato Grosso e Goiás.
Quando o Ciclo da Cana de Açúcar atingiu o seu apogeu no nordeste no século XVII, foi também a melhor época do bandeirantismo de preação. Durante o domínio holandês no nordeste, estes assumiram também o controle do tráfico de escravos da África interrompendo o fluxo de escravos negros, obrigando aos donos de engenhos a aquisição de escravos indígenas. Com a expulsão dos holandeses em 1654, o tráfico de escravos retornou como era antes e os senhores de engenhos concluíram que importar negros da África era mais vantajoso do que escravizar índios, insubmissos, indolentes e bem pouco produtivos.
Desde o início da colonização, os portugueses, baseados em informações dos nativos, procuraram penetrar na região do vale do rio Paraíba do Sul, em busca de metais preciosos e para tentar estabelecer um meio de ligação entre o litoral e o interior do território.
Naturalmente, o rio Paraíba do Sul, que nasce nas proximidades de São Paulo e segue em direção nordeste, serviu de roteiro. Os indígenas já usavam trilhas que conduziam ao litoral norte, que mais tarde foram o caminho usado pelos bandeirantes e comerciantes que queriam ultrapassar a serra da Mantiqueira e atingir as Minas Gerais.
A estrada que saia de São Paulo com destino ao território mineiro, chamava ‘Caminho Velho dos Paulistas’[2].
Em 1709 a capitania de São Vicente foi adquirida pela Coroa portuguesa.
Para melhorar a ligação entre as capitanias de São Paulo e do Rio de Janeiro, foi construído nas primeiras décadas do século XVIII, um caminho, mais tarde denominado ‘Caminho do Gado’. Partia onde hoje estão localizadas as cidades de Guaratinguetá e Lorena, para alcançar a região de Bocaina, seguindo em direção a Bananal, onde transpunha a serra e interligava com o ‘Caminho de Mambucaba’. Por este caminho o gado de Minas Gerais chegava ao Rio de Janeiro.
No início do século XVIII, o bandeirante Bartolomeu Pais de Abreu, genro de Pedro Taques (1714-1777), exercia a função de procurador do Concelho e Juiz da Câmara Municipal da vila de São Paulo. Detinha parte da propriedade do seu sogro em São Paulo, que recebera como dote, quando se casou. Em 1713, com o seu prestígio, Pedro Taques recebeu varias sesmarias no Paraná e no Rio Grande do Sul, onde passou a desenvolver a criação de gado.
Escreveu Antonil:
‘As vilas de São Paulo matam as reses que têm em suas fazendas, que não são muito grandes, e só nos campos de Curitiba vai crescendo e multiplicando cada vez mais o gado’.
A mineração do ouro em Mato Grosso e Goiás, como aconteceu em Minas Gerais, atraiu grande quantidade de pessoas e não havia oferta de alimentação adequada para todos. Os mantimentos e principalmente a carne, por ser altamente perecível, tinham preços exorbitantes.
O seu trajeto, num rascunho que deixou, foi: dos altos da Cuesta, a partir, provavelmente do atual município de Pardinho, aos campos do Lençóis e dali à cabeceira do rio Batalha e, então, pelo divisor do rio Feio (atual Aguapeí) e Peixe, por onde prosseguiu até os Campos da Laranja Doce e, depois, pelas 18 léguas de densas matas do Vale do rio Santo Anastácio até o rio Paraná. No tempo em que estava no sertão, incomunicável realizando o seu empreendimento, assumiu um novo governador (Antonio da Silva Caldeira Pimentel) que julgando que o governo fora desrespeitado por Bartolomeu Paes de Abreu, não aceitou a proposta. Bartolomeu ficou muito desapontado.
Foi no leito deste ‘picadão’ que, algum tempo depois, Luis Pedroso de Barros começou a construir, com autorização oficial, o caminho de São Paulo até o rio Coxipó, no Mato Grosso. Seu tráfego esteve interrompido em várias ocasiões: ora por violentas investidas dos índios Caiapós e Guaicurus, na região dos afluentes do rio Paraná; ora pelas entradas feitas pelos espanhóis, que usavam o caminho para chegar até o território paulista e colocar marcos de pedra que designavam serem aquelas terras pertencentes à Coroa espanhola.
Nesta época do apogeu do Ciclo do Ouro, os bandeirantes paulistas dedicaram-se à captura do gado semisselvagem que vagava pelos pampas do Rio Grande do Sul e Uruguai e o seu envio para as regiões das Minas Gerais. Concomitantemente, desbravaram outras regiões, descobrindo minas de ouro e de pedras preciosas e estabeleceram os primeiros currais de gado em Minas Gerais, para servir de apoio (fornecer carne) a atividade de mineração.
Dizem alguns historiadores que a vocação paulista para o desbravamento dos sertões foi o resultado do fracasso da agricultura canavieira. O desenvolvimento da cultura da cana em Pernambuco suplantou a paulista, deixando inviável a fabricação de açúcar na região.
O historiador Nelson Werneck Sodré[4] (1911-1999) argumentou que a marginalização do paulista abriu-lhe a perspectiva da ousadia e do espírito guerreiro. Conhecedores profundos do modo de vida dos indígenas e sendo os próprios paulistas produtos da mestiçagem dos pioneiros portugueses com os índios, eram especialistas na captura e na domesticação destes.
A capitania de São Paulo que foi uma das maiores do Brasil compreendia toda a região Sul e Centro Oeste conheceu muitas configurações. Em 1720 foi desmembrada a capitania de Minas Gerais, em 1738 as capitanias de Santa Catarina e de São Pedro do Rio Grande do Sul. Em 1748, a própria capitania foi extinta, passando a ser subsidiária do Rio de Janeiro. Em 1763 foi restaurada a capitania que já compreendia apenas o território dos estados de São Paulo e Paraná. As áreas onde hoje localizam os estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Tocantins tinham sido desmembradas (1748/1749) durante o período de perda da autonomia.[5]
Mais tarde, a cana de açúcar voltou a ser importante para a economia paulista, tratou-se de um breve período, no fim do Ciclo do Ouro de Minas Gerais, sendo finalmente, estabelecida a cultura do café, que dominou e expulsou para bem distante dos portos, a criação de gado.[6]
Com a crise no mercado do café e a sua introdução nas terras de alta produtividade do Norte Novo paranaense, São Paulo voltou a praticar a criação de gado nas regiões antes dedicadas à cafeicultura.
Regiões limítrofes, especialmente aquelas próximas das divisas formadas pelo rio Grande e rio Paraná e de seus afluentes em território paulista, se transformaram em zonas de ‘invernadas’[7], áreas de boas pastagens, destinadas a engordar o gado que chegava em São Paulo após longas marchas, procedentes de Mato Grosso, Goiás e Triângulo Mineiro. Era em pastagens localizadas em regiões como Franca, Barretos, São José do Rio Preto, Araçatuba, Presidente Prudente, até então, pouquíssima povoada região do norte e noroeste paulista, que estes animais recuperavam o peso perdido antes de serem tocados em direção a Barretos, através do velho leito da estrada Boiadeira.
A estrada Boiadeira, antes de ser construída em 1896, já havia promovido precariamente a ligação entre os
campos pantaneiros e Barretos, grande centro comercial de bovinos, desde a década de 1870.
campos pantaneiros e Barretos, grande centro comercial de bovinos, desde a década de 1870.
Com a instalação do frigorífico e a chegada dos trilhos da ‘Companhia Paulista de Estradas de Ferro’ nesta cidade, incrementou o comércio de gado. Todos os envolvidos na comercialização do gado para abate tinham como ponto referencial a cidade de Barretos com o frigorífico capaz de abater mais de 2.000 cabeças por dia. Também existiam os compradores de gado dos frigoríficos que se instalaram no entorno da capital paulista (que eram alcançados pelos trilhos da ferrovia).
O sertão do rio Pardo, próximo a Barretos, já havia sido desbravado por bandeirantes, destacando-se a expedição do Anhanguera I em fins do século XVII que deixou uma trilha ligando São Paulo a Goiás e que ficou conhecida como “Caminho do Anhanguera” ou “Caminho dos Goiases”. Mas foi seu filho, Bartolomeu Bueno da Silva (Anhanguera II), que havia acompanhado o pai na expedição de 1673, que percorreu novamente o caminho e notificou oficialmente a capitania de São Paulo sobre a descoberta do ouro goiano (1725). As novas regiões auríferas movimentaram a rota para se chegar a Goiás e Mato Grosso e permitiram a ocupação e o povoamento do sertão do rio Pardo.
Num primeiro momento o sertão do rio Pardo foi povoado por paulistas e a economia da região estava voltada para a produção de gêneros de primeira necessidade para o próprio consumo e o abastecimento dos viajantes que percorriam o ‘Caminho dos Goiases’. Para se ter uma ideia, a população de todo o sertão do Rio Pardo era de apenas 365 habitantes em 1797.
Na década de 1790 a participação mineira foi dominante. Este movimento de mineiros em direção ao sertão do rio Pardo situa-se no contexto de ampliação da fronteira da pecuária e agricultura de subsistência de Minas Gerais em direção a São Paulo.
A Vila Franca foi fundada em 1805 por fazendeiros procedentes do sul de Minas Gerais. Seu nome se deve ao governador de São Paulo, Antonio José de Franca e Souza. Foi elevada a vila em 1821 e a cidade em 1856.
Uma família destes pioneiros foi a Diniz Junqueira, que depois se tornaram importantes criadores de gado do interior de São Paulo, com ramificações em várias cidades. Francisco Antonio Diniz Junqueira[8] (1784-1842) o patriarca da família, chegou à Franca na década de 1810. Conseguiu terras para lavoura e criação de gado. Em 1825 já era reconhecido como um grande proprietário de escravos e importante criador de gado. No inventário de sua primeira esposa, falecida em 1826, está arrolado que a família era proprietária de dezenas de fazendas, mais de 30 escravos, 58 ovinos, 234 bovinos e 70 equinos.[9]
A migração para áreas de fronteira mostrou-se um método eficiente para a obtenção de terras por parte de membros da família Junqueira que se expandiram para outras áreas do oeste paulista, Goiás e Rio de Janeiro. Outros membros da família tiveram destino semelhante ao de Francisco Antonio Diniz Junqueira e se estabeleceram no nordeste paulista: três de suas irmãs (ao todo eram nove filhos) foram viver em Batatais e São Simão, assim como outros primos.
O Regimento do Físico-mor Manoel Vieira da Silva aprovado em 22 de janeiro de 1810 estabelecia as seguintes medidas:
- Controle dos gêneros alimentícios (trigo, farinhas, milho, carnes secas ou verdes e qualquer outro comestível).
- Mandar fazer exames e vistorias nos matadouros e açougues públicos.
- Designar pastagens nos sítios dos caminhos por onde passassem as boiadas para descanso do gado, antes de serem conduzidos aos matadouros da cidade.
- Os magistrados, como provedores-mores fariam os exames e vistorias nos mantimentos nos açougues e matadouros.
'O comércio é pois ativo e florescente, porque é aqui o entreposto de Goiás, Uberaba, Franca e outras povoações do interior com a Corte. Asseguram-me, porém que já foi muito mais importante e ativo com estes pontos; e assim mesmo ainda entram aqui todos os anos, da Franca, quatrocentos a seiscentos carros, que trazem toucinho, algodão, queijo e feijão, que permutam por ferragens e sal em grande quantidade’.
Em 1855, na província de São Paulo existiam 533 fazendas de criação de gado que produziram 34.691 crias. Do rebanho foram vendidas 23.670 cabeças. Na época existiam apenas 50 municípios na província: Guaratinguetá, Bananal, Queluz, Areias, Silveiras, Lorena, Cunha, Taubaté, Pindamonhagaba, São Luís, Ubatuba, Jacareí, São José, Santa Isabel, Santo Antonio de Paraibuna, Mogi das Cruzes, São Sebastião, Vila Bela, São Paulo, Santo Amaro, Paranaíba, Jundiaí, Campinas, Bragança, Atibaia, Nazaré, Constituição, Mogi Mirim, Limeira, São João do Rio Claro, Araraquara, Vila Franca, Batatais, Casa Branca, Sorocaba, Itu, Porto Feliz, Pirapora, Capivari, São Roque, Itapetininga, Tatuí, Itapeva, Apiaí, Xiririca, Santos, Iguape, São Vicente, Conceição de Itanhaém e Cananéia.
Como se pode observar o município mais ocidental da província era o de Araraquara. Barretos, São José do Rio Preto, Araçatuba e Presidente Prudente, que mais tarde tornar-se-iam municípios de grande expressão
na criação de gado, ainda não existiam.
na criação de gado, ainda não existiam.
As terras, que hoje abrigam 25 municípios do extremo noroeste de São Paulo, foram conquistadas, no início do século XIX, por Patrício Lopes de Souza, conhecido como Patrício Colodino, natural de São Tiago, Minas Gerais, que aos 17 anos saiu de sua vila para desbravar os sertões no rumo oeste, então cobertos de matas e povoados por índios Caiapós e Caingangues. Acompanhado do escravo Jeremias, ele se tornou, mais tarde, dono da fazenda São José da Ponte Pensa e de outras três vastas fazendas no Mato Grosso do Sul, próximas da atual cidade de Paranaíba, dedicadas a criação de gado. Como era costume na época e no lugar, não tinha escritura da terra nem qualquer papel que valesse. Grileiros paulistas e cariocas forjaram documentos com o objetivo único de retalhar as propriedades, se apossar delas, legitimá-las e vendê-las. Nessa empreitada, foram defendidos pelo advogado Júlio Prestes (1882-1946), que foi presidente de São Paulo. Ao mesmo tempo, tomaram o cuidado de apagar todos os vestígios da existência de Patrício, que ficou na região durante 55 anos. Em 1914, o grupo entrou na esfera federal com uma ação para comprovação da propriedade e, seis anos depois, começaram comercializar as áreas da fazenda. Para fazer a demarcação foi designado como perito o engenheiro Euphly Jalles, mineiro de Frutal, Houve, então, um novo ciclo, com a venda de terras demarcadas e surgimento das cidades do noroeste, entre elas Jales, fundada em 1941 e nomeada em homenagem do engenheiro.
A partir de 1867, com a implantação das ferrovias e o início da construção das grandes mansões dos barões do café na cidade de São Paulo[11], a cidade começa a mudar de cara. Segundo Maria Cecília Naclério Homem, autora do livro “O Palacete Paulistano” em 1867 a cidade tinha 10 açougues e em 1918 alcançava 34.
A pecuária paulista tem-se desenvolvido muito nos últimos tempos, para isto concorreu a decadência dos velhos cafezais, que foram transformados em novas e boas pastagens. Os rebanhos além de mais numerosos melhoraram de qualidade com o desenvolvimento de cruzamentos cientificamente controlados. Três importantes raças de gado bovino teve origem em território paulista; a Canchim, a Pitangueiras e a Lavinia.
Macho da Raça Canchim |
Macho da Raça Pitangueiras |
Rebanho da Raça Lavínia |
Em 1965 o rebanho do estado era de 11.659.000 cabeças de bovinos, 5.273.000 cabeças de suínos, 851.000 cabeças de equinos, 688.000 cabeças de muares e 487.000 cabeças de caprinos.
O IBGE no último Censo Agropecuário constatou que no dia 31/12/2008 havia nos 643 municípios do estado de São Paulo 11.200.000 cabeças de bovinos. Possuía o sétimo maior rebanho do Brasil.
Os cinco maiores rebanhos de São Paulo, que representavam 4% do total estavam nos seguintes municípios:
· Mirante do Paranapanema 127.000 cabeças
· Rancharia 121.000 cabeças
· Marília 115.000 cabeças
· Presidente Epitácio 113.000 cabeças
· Martinópolis 111.000 cabeças
Outros 40 municípios paulistas tinham rebanhos acima de 50.000 cabeças.
[1] João Ramalho em 1562 preou índios que habitavam o vale do rio Paraíba do Sul.
[2] Escreveu Antonil sobre este caminho: ‘Roteiro do caminho da vila de São Paulo para as Minas Gerais e para o Rio das Velhas. Gastam comumente os paulistas, desde a vila de São Paulo até as minas gerais dos Cataguás, pelo menos dous meses, porque não marcham de sol a sol, mas até o meio-dia, e quando muito até uma ou duas horas da tarde, assim para se arrancharem, como para terem tempo de descansar e de buscar alguma caça ou peixe, aonde o há, mel de pau e outro qualquer mantimento. E, desta sorte, aturam com tão grande trabalho. O roteiro do seu caminho, desde a vila de São Paulo até a serra de Itatiaia, aonde se divide em dous, um para as minas do Caeté ou ribeirão de Nossa Senhora do Carmo e do Ouro Preto e outro para as minas do rio das Velhas, é o seguinte, em que se apontam os pousos e paragens do dito caminho, com as distâncias que tem e os dias que pouco mais ou menos se gastam de uma estalagem para outra, em que os mineiros pousam e, se é necessário, descanso e se refazem do que hão mister e hoje se acha em tais paragens. No primeiro dia, saindo da vila de São Paulo, vão ordinariamente a pousar em Nossa Senhora da Penha, por ser (como eles dizem) o primeiro arranco de casa, e não são mais que duas léguas. Daí, vão à aldeia de Itaquequecetuba (sic), caminho de um dia. Gastam, da dita aldeia, até a vila de Moji, dous dias. De Moji vão às Laranjeiras, caminhando quatro ou cinco dias até o jantar. Das Laranjeiras até a vila de Jacareí, um dia, até as três horas. De Jacareí até a vila de Taubaté, dous dias até o jantar. De Taubaté a Pindamonhagaba, freguesia de Nossa Senhora da Conceição, dia e meio. De Pindamonhagaba até a vila de Guaratinguetá, cinco ou seis dias até o jantar. De Guaratinguetá até o porto de Guaipacaré, aonde ficam as roças de Bento Rodrigues, dous dias até o jantar. Destas roças até o pé da serra afamada de Amantiqueira, pelas cinco serras muito altas, que parecem os primeiros muros que o ouro tem no caminho para que não cheguem lá os mineiros, gastam-se três dias até o jantar. Daqui começam a passar o ribeiro que chamam Passavinte, porque vinte vezes se passa e se sobe às serras sobreditas, para passar as quais se descarregam as cavalgaduras, pelos grandes riscos dos despenhadeiros que se encontram, e assim gastam dous dias em passar com grande dificuldade estas serras, e daí se descobrem muitas e aprazíveis árvores de pinhões, que a seu tempo dão abundância deles para o sustento dos mineiros, como também porcos monteses, araras e papagaios’.
[3] Escreveu Pedro Taques de Almeida Pais Leme (1714-1777) in ‘História da Capitania de São Vicente’:’A vila de São Francisco das Chagas de Taubaté foi ereta em 1645 por Jaques Félix, natural de São Paulo, e nela foi povoador e fundador, como procurador bastante da condessa de Vimieiro, donatária da Capitania de Itanhaem:este paulista tinha passado de São Paulo,com sua família e grande número de índios de sua administração, gados vacum e cavalar; e tendo conquistado os bravos gentios da nação Jerominis e Puna (...).
[4] No livro ‘Formação Histórica do Brasil’,Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1979.
[5] Como curiosidade histórica, reproduziremos, uma noticia que saiu publicada no “Diário Popular” no dia 19 de abril de 1898. Esta nota nos mostra como as cercanias de São Paulo, eram habitadas por muitos bois e vacas. “O trem de passageiros que partiu de São Paulo para o interior esta manhan as 5,20 descarrillou no kilometro 97 entre Taipas e Perus, em conseqüência de ter apanhado um boi na linha. A machina do carro de animaes, bagagens e quatro carros de passageiros que iam na frente tombaram. Foram encontrados três cadáveres e ficaram feridas levemente seis pessoas”.
No mesmo dia , o mesmo jornal informa em outra nota, que
“O Laboratorio de Analyses Chimicas do Estado condemnou hoje um leite de vacca aprehendida no Largo do Arouche a João Costa e proveniente de uma cocheira sita a Rua Hygienopolis, por conter 22% de água fraudulentamente adiccionada”.
[6] Pierre Monbeig, relata no seu livro "Pioneiros e Fazendeiros de São Paulo" que foi escrito em 1949/1952, relata o que ele observou:
"Nas margens do Rio Grande, do Paraná e o baixo Tietê, encontram-se famílias que vivem da caça e da pesca. Preferem outros o nomadismo do boiadeiro que, conduzindo as boiadas provenientes de Goiás, do Mato Grosso e de Minas, encaminham para as pastagens paulistas
[7] Pierre Monbeig, na mesma obra, faz uma descrição do desenvolvimento da pecuária no Norte e Noroeste paulista, com a implantação do sistema de invernadas:
"A grande zona das invernadas estende-se de Barretos a Araçatuba. Ela compreende os municipios de Olimpia, Guaraci, Nova Granada, Palestina e Paulo de Faria que recebem gado vindo de Minas Gerais ou de pastagens de Mato Grosso ou Goiás. Nesses municipios os campos cobrem mais da metade da superficie ( 57% em Barretos, 64% em Olimpia e 56% em Palestina) e localizam-se principalmente nas terras baixas vizinhas ao rio Grande, mas ganharam terreno em direção aos espigões, à medida que se destruiam os cafezais mais baixos. O raio de ação de Barretos estende-se aos municipios da Alta Araraquarense, tanto no eixo Mirassol-Fernandópolis, como na direção de Monte Aprazível e General Salgado. As pastagens de Novo Horizonte, na margem esquerda do Tietê ligam-se à área de Barretos. Pode-se avaliar em 900.000 o número de bovinos na região"
[9] Escreve John Mawe (1764-1829), sobre o que viu em São Paulo no inicio do século XIX, na sua obra " Viagens ao Interior do Brasil":" Em nenhum ramo de trabalho rural os fazendeiros se descuidam tanto quanto no tratamento do gado. Não cultivam pastagens, não constroem cercados, nem armazéns de forragem para a época da escassez. As vacas não são ordenhadas com regularidade; consideram-nas mais como ônus do que como fonte de renda. Precisam de sal, de quando em quando, que lhes é dado de quinze em quinze dias, em pequenas porções"
No comments:
Post a Comment
Thanks for your comments...