Leopoldo Costa
Os ‘Campos de Curitiba’, primeiro ponto do Paraná a ser visitado pelo europeu, foram descobertos por Pero Lobo em 1531. A expedição partiu de Cananéia com o objetivo de encontrar ouro e prata na região habitada pelos Incas.
Em 1541, Alvar Nuñez Cabeza de Vaca, (1490-1560) ‘adelantado d’El Rey’ da Espanha, partindo da ilha de São Francisco, embrenhou no altiplano, percorrendo desde onde hoje está localizado a cidade de Joinville, em Santa Catarina, até Curitiba. Depois, dele em 1585, houve a expedição de Jerônimo Leitão.
Outra penetração de europeu pelo interior da região foi a do alemão Hans Staden (1525-1579), que chegou a baia de Paranaguá (ilha de Superagui) em 1549 e relatou as suas aventuras em um livro ricamente ilustrado, que obteve muito sucesso na Europa quando foi publicado.[1]
Em 1553, o governador do Paraguai, Domingos Martinez de Irala (1509-1556), explorou o rio Paraná.
No ano seguinte, Garcia Rodriguez de Vergara fundou a povoação de Ontiveros no curso médio do rio Paraná, depois das Sete Quedas. Em 1557 a povoação foi transferida para as proximidades da foz do rio Piquiri por Ruy Diaz Melgarejo trocando o nome para Ciudad Real del Guairá. Em 1576, Melgarejo fundou também a Villa Rica del Espiritu Santo, na confluência dos rios Ivaí e Corumbataí. Estes foram os primeiros núcleos estáveis de povoamento do Paraná e a região onde se estabeleceram recebeu o nome de Província Paraguaia do Guairá.
A partir de 1588 jesuítas procedentes de Assunción começaram a chegar organizando as ‘reduções’ com a missão de pacificar e converter índios. Fundaram em 1610/1612, as 'reduções' de Santo Inácio Mini e Nossa Senhora de Loreto à margem esquerda do rio Paranapanema e entre 1623 e 1630 fundaram mais doze 'reduções': São Francisco Xavier, São José, Encarnacão, São Miguel, São Pedro, São Paulo, Arcangeles, São Tomé, Natividade, Santo Antonio, Jesus-Maria e Santa Maria Maior. Acredita-se que, em 1630, as 14 ‘reduções’ do Guairá (ocupando, com suas fazendas, o centro e o sul do atual estado do Paraná) reuniam entre 70 e 100 mil índios.
A formação das ‘reduções’ não livrou os índios dos ataques dos chamados "encomenderos" que, no lado espanhol, procuravam aprisioná-los para ser enviados como escravos, especialmente para Buenos Aires e Assuncion. E ainda atraiu os bandeirantes, que, procedentes de São Paulo, também procuravam escravos para trabalho nos engenhos de açúcar e nas cidades. Os jesuítas nunca aceitaram a preação de índios para serem escravizados, mas não tinham como se defender dos truculentos e armados bandeirantes. O primeiro ataque foi em 1611 e efetuado por Pedro Vaz de Barros, com autorização do governador Luis de Souza.
A ‘redução’ indefesa de Nossa Senhora de Loreto foi covardemente atacada em 1619 por Sebastião e seu irmão Manuel Preto (? -1630) e todos os índios aptos foram levados como escravos. Manuel Preto em 1628 desta feita, na companhia de Antonio Raposo Tavares (1598-1658), Pedro Vaz de Barros, Brás Leme e André Fernandes, voltou a atacar e destruir outras reduções e aprisionar milhares de índios. Manuel Preto morreu nesta operação.
A maior parte dos índios aprisionados morria desnutridos na longa caminhada entre as missões e São Paulo. Outra parte expressiva, sem resistência no organismo não resistia a pestes e doenças para o qual não tinham defesa..
Para não se tornarem escravos, os índios tomavam decisões desesperadas, como um fato relatado ocorrido nos arredores de Buenos Aires. Um grupo de índios Guaranis refugiados numa fortaleza mataram suas esposas e filhos e depois suicidaram pulando do rochedo.
Depois da destruição, em 1630, das ‘reduções’ de Santo Antônio, São Miguel e São Francisco Xavier os padres Simão Maseta e Justo Marsilha decidiram acompanhar a caminhada de mais de 15 mil índios que eram levados como escravos para São Paulo por Manuel Preto e Antonio Raposo Tavares, procurando obter sua libertação e assistindo os que adoecessem e eram abandonados pelos bandeirantes. Conseguiram salvar alguns, que voltaram às ‘reduções’ e prosseguiram a caminhada. Nos contatos dos jesuítas em São Paulo, não conseguiram libertá-los.
Como consequência dos ataques, dos cerca de cem mil índios que povoavam as ‘reduções’ não restaram mais do que 12 mil, concentrados principalmente nas ‘reduções’ de Santo Inácio Mini e Nossa Senhora de Loreto, as mais afastadas. Com a ruína das missões, também as povoações espanholas de Vila Rica e Ciudad Real não resistiram aos ataques e foram devastadas, passando todo o território paranaense ao controle da Coroa portuguesa. Vila Rica foi refundada próximo a Assuncion, onde ainda permanece.
O alemão Heliodoro Eobanos encontrou ouro nas proximidades e fundou Paranaguá, que em 1648 já com 5 mil habitantes, foi elevada a vila. A jazida esgotou-se rapidamente e quando a Coroa decidiu pela instalação de uma casa de fundição em Paranaguá, não havia mais produção de ouro para ser fundida. Ébano Pereira havia formado uma expedição, agrupando alguns habitantes de Paranaguá, para buscar ouro em outros locais.
Mais tarde, durante o período de união das Coroas portuguesa e espanhola, os espanhóis reconquistaram a região denominando-a ‘Baya de la Corona de Castilla’. Em 1640, após a restauração da monarquia de Portugal, Gabriel de Lara ocupou a região com os seus familiares retornando-a para o domínio de Portugal.
A economia da região, ainda administrativamente pertencente à capitania de São Paulo, era baseada na criação de gado, e na agricultura de subsistência. Foi a expansão da pecuária e do cultivo de milho, mandioca e feijão que levou colonizadores a instalarem fazendas no planalto, vindo aumentar a população de Curitiba, fundada com o nome de Vila de Nossa Senhora da Luz, por Ébano Pereira em 1649.
John Mawe escreveu na sua "Viagens ao Interior do Brasil" que foi publicada na primeira década do século XIX:" O gado, em Curitiba, vende-se por preços variados; bois muito mais gordos e em melhores condições que os do Rio da Prata ou Rio Grande de São Pedro, compram-se a razão de doze ou quinze cruzados por cabeça" E mais adiante:
"Por esta razão, o porto de São Francisco está destinado a ser de grande valor para o Brasil; e como está ligado a Curitiba, cujo gado se considera superior ao do Rio Grande, há toda a probabilidade de que em breve, a esquadra portuguesa se abasteça de provisões salgadas.
Na primeira década do século XVIII, foi iniciada a colonização dos ‘Campos Gerais’, que compreendia toda a área delimitada ao sul pelo rio Iguaçu e ao norte pelo rio Itararé e compreendiam os chamados ‘Campos de Curitiba’ e os ‘Campos de Guarapuava’.
Os ‘Campos de Curitiba’, descobertos em 1531, constituíam numa faixa de terra que começava na encosta ocidental da serra do Mar e terminava na escarpa do segundo planalto. A área era habitada pelos índios Tinguis.
Os ‘Campos de Guarapuava’ foram descobertos em 1711, pelo tenente Cândido Xavier de Almeida, depois, de lutas contra os índios que se defendiam da preação. Eram inicialmente chamados ‘Campos de Guairá’. Posteriormente o nome foi mudado para Guarapuava, devido à grande quantidade de lobos que existiam na região. A etimologia do termo ‘guarapuava é explicada como ’guará' (lobo) e 'puava' (arisco, feroz). O padre Francisco das Chagas Lima na ‘Memória sobre o Descobrimento da Colônia Guarapuava’, de 1809, dá uma interpretação diferente: existia uma arara, que era caçada pelos sertanistas que a chamavam de 'guarapuava', significando ‘guará’, pássaro pequeno e ‘puava’, ave que não é rasteira, mas voa veloz.
Houve muito interesse pela região e os pedidos de concessão de sesmarias chegaram a quase uma centena, em meados do século XVIII, todos querendo aproveitar as excelentes pastagens naturais e estabelecer currais de criação de gado. As primeiras sesmarias foram concedidas a membros da família do paulista Pedro Taques (1714-1777), que tinha muito prestígio no governo, mas apenas Inácio Taques de Almeida, veio residir na região.
Escreveu Oliveira Viana (1883-1951), na sua obra “Evolução do Povo Brasileiro” :“O povoamento dos altos platôs do Iguaçu, por exemplo, dos campos gerais do Paraná e Santa Catarina, não tem outro objetivo senão o da fundação de currais, nem outro fundamento econômico senão os vastos rebanhos de gado grosso. Os paulistas antigos, embora feitos provisoriamente caçadores de índios e mineradores de ouro, são antes de tudo, uma raça de homens dominados por indissimuláveis predileções pastoris. Criadores de gado, por tradição e gosto, onde quer que encontrem campos adaptáveis a criação, eles logo ai fundam as suas fazendas pastoris: no vale do São Francisco, nos sertões de Goiás, nas caatingas do Nordeste, nos planaltos de Curitiba ou nas planícies imensuráveis de extremo sul. Só nas suas diretrizes para os sertões do Norte e do Oeste é que os objetivos principais são a descoberta e a exploração do ouro”
No início do século XIX houve a diversificação da atividade agrícola que foi impulsionada pela chegada dos primeiros imigrantes europeus. A consequência mais importante deste progresso foi a criação das comarcas de Paranaguá e Curitiba em 1811, que incutiu nos paranaenses o sentimento de autonomia, que somente em 1853, foi conquistada. Na época da emancipação, muitos criadores de gado e agricultores já ocupavam com eficiência o centro e o sul do território paranaense.
Citou Aroldo de Azevedo no seu livro ‘O Brasil e suas Regiões ’:Ao findar a década de 1840, o atual estado do Paraná constituía a 5ª Comarca da Província de São Paulo, abrangendo seis distritos: três no Planalto – os de Curitiba, Vila Nova do Príncipe (Lapa) e Castro, este o mais extenso, pois, estendia-se até Guarapuava; e três na Baixada litorânea – os de Paranaguá, Antonina e Guaratuba. Sobre tais bases foi que surgiu, em 1853, a Província do Paraná – Cf. Daniel Pedro Müller, ‘Ensaio d’um Quadro Estatístico da Província de São Paulo, 1838
Em 1858, cinco anos após a emancipação, a província do Paraná tinha 156 fazendas de criação e um rebanho total assim distribuído:
Comarcas
|
Freguesias
|
Fazendas
|
Bovinos
|
Equinos
|
Muares
|
Ovinos
|
Total
|
Curitiba
|
Capital
|
15
|
4.300
| ||||
Principe
|
12.000
| ||||||
Rio Negro
|
4
|
3.860
| |||||
S. José
|
13
|
6.150
|
332
|
390
|
190
|
7.062
| |
Castro
|
Castro
|
14
|
15.000
|
4.000
|
500
|
500
|
20.000
|
Tibagi
|
10
|
18.000
|
6.000
|
600
|
700
|
25.300
| |
Ponta Grossa
|
13
|
20.000
|
600
|
20.600
| |||
Jáguariaiva
|
13
|
16.000
|
5.000
|
400
|
400
|
21.800
| |
Guarapuava
|
35
|
32.400
|
26.500
|
200
|
3.000
|
62.100
| |
Palmas
|
37
|
25.200
|
24.320
|
100
|
1.160
|
50.780
| |
Paranaguá
|
Antonina
|
2
|
110
|
10
|
120
| ||
Total
|
156
|
132.860
|
66.762
|
2.190
|
5.950
|
227.922
|
Fonte: Relatorio Anual da Província do Paraná 1858 (totalização não está correta (sic))
Mais uma vez, embora sem os vínculos administrativos, os paulistas chegaram para colonizar outra região do Paraná. Foram os fazendeiros de café que começaram a ocupar as terras ainda não exploradas do chamado ‘Norte Novo’. Com a chegada dos fazendeiros, as plantações e a colheita de café, vieram a demandar muitos muares e bois para o transporte das mercadorias que seguiam no sentido norte com destino ao porto de Santos. Eram abastecidos pelos tropeiros e com isso surgiram outros núcleos que tornaram povoados nas paradas das tropas, tais como, Palma, Castro e Palmeira.
A província do Paraná, em 1864, incentivava a criação de ovinos no seu território, estabelecendo até um subsidio anual para os criadores. Para colaborar, no mesmo ano, o Ministério da Agricultura importou da Argentina um lote de carneiros das raças Negretti e Rambouillet, que foram doados para alguns criadores da província.
O rebanho paranaense teve a seguinte evolução:
1938
|
1950
|
1957
|
1964
|
1964/1938
| |
Bovinos
|
677.000
|
780.000
|
1.071.000
|
1.354.000
|
100%
|
Equinos
|
172.000
|
340.000
|
252.000
|
300.000
|
74%
|
Suinos
|
327.000
|
1.800.000
|
805.000
|
1.014.000
|
210%
|
Ovinos
|
341.000
|
-
|
706.000
|
801.000
|
135%
|
Caprinos
|
818.000
|
-
|
1.494.000
|
1.572.000
|
92%
|
Em 1965 o estado do Paraná tinha um rebanho de 3.203.000 cabeças de bovinos, 7.865.000 cabeças de suínos, 765.000 cabeças de caprinos e 672.000 cabeças de equinos. O Paraná era o segundo maior criador de suínos do Brasil. Atualmente com um rebanho que foi reduzido para 5.100.000 cabeças ocupa o terceiro lugar, superado por Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
A produção de leite no Paraná é uma importante atividade econômica. Em 1960 produziu 206.000 m³, em 1965 produziu 370.000 m³ e hoje produz 330.000 m³, ocupando o terceiro lugar do Brasil, superado pelo Rio Grande do Sul e Minas Gerais. As cidades de Castro e Toledo se destacam entre os maiores municípios produtores de leite do Brasil.
O IBGE no Censo Agropecuário constatou que no dia 31/12/2008 havia nos 643 municípios do estado do Paraná 9.585.000 cabeças de bovinos. Possuía o decimo maior rebanho do Brasil.
Os cinco maiores rebanhos do Paraná, que representavam 7% do total estavam nos seguintes municípios:
· Ortigueira 165.000 cabeças
· Guarianiaçu 135.000 cabeças
· Umuarama 134.000 cabeças
· Paranavaí 132.000 cabeças
· Palmital 118.000 cabeças
Outros 40 municípios paranaenses tinham rebanhos acima de 50.000 cabeças.
[1] Hans Staden, em 1547 esteve em Pernambuco, e depois de ter estado no Paraná, naufragou em Santa Catarina . Em 1551 seu navio foi a pique em Itanhaém, litoral sul de São Paulo.
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