(Texto de Leopoldo Costa)
Sapataria (Debret) |
A mobilidade dos rebanhos e a falta de identificação de propriedade deles, também preocupava. Não era possível o controle estatal das rendas e da produção e assim cobrar impostos.
Nas fazendas de criação de gado, geralmente nos meses de inverno, era necessária a contratação de grande número de peões para ajuntar o gado que seria remanejado dos pastos, para a marcação e separação dos lotes para serem vendidos.
A vestimenta destes peões era toda feita de couro. Quando terminava a tarefa, havia sempre comemorações dos que dela participaram.
Eram organizados desafios, rodeios e danças que podiam durar vários dias.
Este costume é mantido até hoje nos sertões, geralmente nos meses de junho ou julho, sendo chamado de ‘vaquejada’. Como também o uso das vestimentas de couro.
Além de fornecer a carne, o gado tornou possível a criação de uma importante indústria que dominou o nordeste em fins do século XVI e durante todo o século XVII, que foi o chamada por Capistrano de Abreu como ‘Ciclo do Couro’.
O Brasil era o país do couro. Calcula-se que, nesse período, o couro equivalente a 55 ou 60 mil cabeças de gado era usado para o fabrico de vestimentas, chapéus e utensílios.
Considerando-se as 50 mil cabeças utilizadas no invólucro do fumo, estima-se, aproximadamente, um consumo de mais de 100 mil cabeças de gado por ano. O fumo produzido em larga escala na Bahia, Pernambuco e Alagoas eram exportados em 'surrões' de couro cru. Sem falar da carne consumida e da pele desperdiçada. O transporte de sal do litoral para as fazendas de criação de gado do interior, também usavam estes 'surrões', colocados no lombo das mulas e jumentos.
Nessa época, a renda total do gado do Nordeste devia ser menos de 5% do valor da exportação do açúcar. Constituíam tal renda o gado vendido no litoral e a exportação de couros.
Também era importante a exportação de couros para Portugal. O couro ocupou no início do século XVIII, o quarto lugar entre os produtos, que iam para a Metrópole, estando-lhes na dianteira apenas o ouro, o açúcar e o fumo.
Antonil (1649-1716), cita na sua obra 'Cultura e Opulência do Brasil', a saída de 110 mil meios de sola por ano, sendo 50.000 da Bahia. O montante das exportações de couros alcança o valor de 201:800$000. “Para que se faça justo conceito das boiadas, que se tiram cada ano dos currais do Brasil, basta advertir que os rolos de tabaco que se embarcam para qualquer parte, vão encourados. E, sendo cada um de oito arrobas, e os da Bahia(...) ordinariamente cada ano pelos menos, vinte e cinco mil arrobas, e os das Alagoas de Pernambuco, duas mil e quinhentas arrobas, bem se vê quantas reses são necessárias para encourar vinte e sete mil e quinhentos rolos. Alem disto, vão cada ano da Bahia para o Reino até cinqüenta mil meios de sola; de Pernambuco quarenta mil; e o do Rio de Janeiro (Não sei de computados os que vinham da nova Colônia, ou só os do mesmo Rio, e outras capitanias do Sul) até vinte mil meios de sola: que vem a ser por todas, cento e dez mil meios de sola”
Entre 1796 e 1811, dos 125 produtos que o Brasil exportava para Portugal, oito eram responsáveis por 78% do total. O couro colocava-se em terceiro lugar, sendo responsável por 6% do total.
Roberto Simonsen estimou a exportação de couro, durante todo o período colonial, em 1.500.000 de libras.
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