11.25.2011

QUADRO ALIMENTAR DOS BRASILEIROS E DA HUMANIDADE

 Leopoldo Costa

No Brasil

Nos primeiros tempos da colonização do Brasil a alimentação era baseada na  mandioca, no peixe,  na carne de caça, porco ou boi preparada com pimenta vermelha, no mel, no fubá de milho, na pimenta pilada no sal,  na banana da terra,  no amendoim,  na castanha de caju, no milho assado com carne, no feijão e favas,  no cará,  nas rãs,  nos caranguejos e  nos mariscos.Era uma mistura de ingredientes portugueses e indígenas.
Com os escravos negros africanos o cardápio foi acrescido com  inhame, azeite de dendê,  leite de coco, assim como a pimenta malagueta e a galinha de Angola.
Nos séculos XVII e XVIII o cardápio se tornou mais elaborados com inclusão da carne de baleia, batata cozida, bolos de mandioca com açúcar e manteiga, pipoca, beijus e cachaça.
Com a vinda da corte de D.João VI (1767-1826) em 1808, e a invasão em represália da Guiana Francesa, os brasileiros ficaram conhecendo o abacate, a noz moscada e o cravo e o gosto pela carne de carneiro.
Conta uma lenda, que na hora de voltar para Portugal em 1821, D.João VI deixou uma polpuda gorjeta para a cozinheira  negra que lhe preparava os saborosos frangos assados que ele comia vários em cada refeição, lambendo os ossos e até a gordura deixada nas mãos.
J.-L. Flandrin  escreveu  no  seu artigo ‘A Distinção pelo Gosto’,  no livro ‘História da Vida Privada’ organizado por Roger Chartier, que ao longo da história pode-se perceber que o uso ou não dos alimentos obedecia a códigos ligados ao prestígio deles. Os aristocratas consumiam apenas carnes exóticas de caça e de aves, enquanto a burguesia ficava com as carnes de açougue. Depois a nobreza e a burguesia passaram a consumir carne de açougue (de primeira), enquanto que o povo consumia as carnes de açougues de segunda. A carne de porco, é um exemplo dessas diferenças. Esta carne foi perdendo prestígio ao longo da Idade Média, junto à nobreza. Primeiro as orelhas deixaram de ser consumidas pelos nobres em 1659, depois as costelas em 1660, a fressura e a banha em 1667 e até a própria carne suina a partir de 1670.
Um estudo de   M. A. Baas; L. M. Wakefield; e  K. M. Kolasa: 'Community Nutrition and Individual Food Behavior', publicado em 1979, concluiu que na sociedade moderna, a alimentação apresenta vinte usos diferentes. Destes, somente o primeiro estava ligado a nutrição:
1) Satisfazer a fome e nutrir o corpo;
2) Iniciar e manter relações pessoais e de negócios;
3) Demonstrar a natureza e a extensão das relações sociais;
4) Propiciar um foco para as atividades comunitárias;
5) Expressar amor e carinho;
6) Expressar individualidade;
7) Proclamar a distinção de um grupo;
8) Demonstrar pertencer a um grupo;
9) Reagir ao stress psicológico ou emocional;
10) Significar status social;
11) Recompensas ou castigos;
12) Reforçar a autoestima e ganhar reconhecimento;
13) Exercer poder político e econômico;
14) Prevenir, diagnosticar e tratar enfermidades físicas;
15) Prevenir, diagnosticar e tratar enfermidades mentais; 
16) Simbolizar experiências emocionais;
17) Manisfestar piedade ou devoção;
18) Representar segurança;
19) Expressar sentimentos morais;
20) Significar riqueza.



Oferta e Demanda de Alimentos no Mundo


O corpo humano necessita de carboidratos, proteínas, gorduras, vitaminas e sais minerais. Tudo isso tem que ser obtido através dos alimentos e bebidas.
Os carboidratos, ou hidratos de carbono são obtidos principalmente dos cereais (trigo, milho, centeio, aveia, cevada, arroz, sorgo e painço), das raízes e tubérculos (batata , batata doce, inhame, cará e mandioca) e do açúcar.  A média de consumo mundial por habitante/ dia representa 70% do total geral de alimentos consumidos.
As proteínas são obtidas das carnes (bovina, bubalina, ovina, eqüina, suína, caprina, de aves e de caça), dos peixes, das leguminosas (feijão, ervilha, fava, lentilhas e grão de bico), dos ovos e do leite e seus derivados. A média de consumo mundial por habitante/ dia representa 11% do total de alimentos consumidos.
As gorduras (lipídeos) são obtidas dos alimentos de origem animal e de alguns vegetais (soja, milho, caroço de algodão, coco, girassol, arroz, oliva, gergelim e granola) e nozes, amêndoas, avelãs, castanhas e tâmaras. A média de consumo mundial por habitante/ dia representa 19% do total de alimentos consumidos.

As vitaminas e sais minerais além de ser obtidas dos mesmos alimentos que fornecem hidratos de carbono, proteínas e gorduras, são obtidas  também de frutas frescas, legumes e hortaliças.

Existe muita distorção na produção de alimentos no mundo, discriminamos a porcentagem de cada região na produção de alimentos e na população mundial: A Europa, a América do Norte, a Oceania e a América Latina são autossuficientes, sendo a América do Norte onde ocorre o maior superavit. O Extremo Oriente e a África, onde ocorrem os maiores deficits.
(Todas as tabelas elaboradas com base em dados da FAO)



Produção de Alimentos
População
América do Norte
25%
8%
Europa
37%
27%
Extremo Oriente
16%
39%
América Latina
9%
9%
África
5%
10%
Oriente Médio
4%
6%
Oceania
4%
1%
Total Mundial
100%
100%

A necessidade de calorias depende do peso, idade e atividade física de cada indivíduo e o consumo assim pode variar entre 2.000 kcal e 3.000 kcal por habitante/dia. A média mundial é de 2.350 kcal por habitante/dia e o perfil desse consumo é o seguinte:

Consumo diário médio (kcal)
2.350
%
Cereais
54
Raízes e tubérculos
9
Açúcar
9
Leguminosas e sementes
6
Frutas e legumes
3
Carnes
6
Peixes
1
Ovos
1
Leite e derivados
4
Gorduras e óleos
8
Total
100
Proteínas
11
Gorduras
19
Carboidratos
70
Total
100



Destacaremos a seguir o perfil de consumo de cada macrorregião da Terra.  Pode ser notado que o maior consumo de calorias é na América do Norte com 3.170 kcal por habitante/dia. É um valor superior em 35% a média mundial. É na Indonésia, onde o consumo é menor, de apenas 1.780 kcal por habitante/dia.
A China é onde os habitantes consomem mais cereais: 68% da ração diária, principalmente  arroz.  É quase o dobro do que  consome os habitantes da América do Sul.
A Indonésia e a África Equatorial se destacam pelo consumo de raízes e tubérculos, sendo 19% da ração média diária, representada por esse item. É quase cinco vezes o que consome os norte americanos.
A América do Sul e a Australásia são onde os habitantes consomem mais açúcar, representando 18% da ração  média básica, sendo o dobro do consumo dos habitantes da Africa Setentrional. Na China os habitantes consomem apenas 2%  de açúcar na sua dieta básica.
No sub-continente Indiano é onde os habitantes consomem mais leguminosas, representando 10% da ração diária.
Na Europa Setentrional é onde os habitantes consomem mais frutas e legumes, representando 8% da ração diária.
A Australásia (Austrália e Nova Zelândia) é onde se destaca o conumo de carnes, representando  21% da ração diária de cada habitante. A América do Norte vem em seguida com 19% da ração diária. O consumo médio da India fica abaixo de 1%.
No Japão o consumo de peixes representa 3% da dieta básica da população, enquanto em todo o mundo a média é de 1%.
O consumo de ovos é equilibrado em todo o mundo em torno de 1% da ração básica média diária.
A Europa Ocidental se destaca pelo consumo de leite e derivados e de  gorduras e óleos, representando 13% e 19% da ração diária respectivamente. O consumo de leite e derivados é quatro vezes maior do que o consumo do Japão e o consumo de gorduras e óleos é três vezes maior do que da Índia.

Detalhamos o perfil de cada macrorregião:
América do Norte

Consumo diário médio (kcal)
3.170
  %
Cereais
21
Raízes e tubérculos
4
Açúcar
17
Leguminosas e sementes
3
Frutas e legumes
5
Carnes
19
Peixes
1
Ovos
2
Leite e Derivados
12
Gorduras e óleos
16
Total
100
Proteínas
12
Gorduras
42
Carboidratos
46
Total
100


Jane Fonda (n.1937) no seu livro ‘Meu Método’, escreveu que nos Estados Unidos, o total de calorias provenientes das gorduras cresceu 31% entre os anos de 1910 e 1976. Neste ano observa ela que 42% das calorias vinham das gorduras. Ora isso fez com que os hidratos de carbonos complexos (cereais, principalmente) tivessem uma queda neste mesmo período. Em 1976 somente 21% do total das calorias eram provenientes deste grupo alimentar. Isso representou uma queda de 43% em apenas seis décadas. Mas o produto que mais aumentou neste período foi o açúcar. Seu aumento foi de 50% ou seja em 1976 ele entrava com 18% do total das calorias absorvidas.



Europa Ocidental


Consumo diário médio (kcal)
3.050
    %
Cereais
25
Raízes e tubérculos
6
Açúcar
14
Leguminosas e sementes
2
Frutas e legumes
5
Carnes
13
Peixes
1
Ovos
2
Leite e Derivados
13
Gorduras e óleos
19
Total
100
Proteínas
11
Gorduras
36
Carboidratos
53
Total
100

Europa Oriental

Consumo diário médio (kcal)
3.120
%
Cereais
44
Raízes e tubérculos
7
Açúcar
12
Leguminosas e sementes
2
Frutas e legumes
3
Carnes
10
Peixes
1
Ovos
1
Leite e Derivados
7
Gorduras e óleos
13
Total
100
Proteínas
12
Gorduras
23
Carboidratos
65
Total
100

Europa Setentrional

Consumo diário médio (kcal)
2.740
%
Cereais
42
Raízes e tubérculos
4
Açúcar
11
Leguminosas e sementes
6
Frutas e legumes
8
Carnes
6
Peixes
1
Ovos
1
Leite e Derivados
7
Gorduras e óleos
14
Total
100
Proteínas
13
Gorduras
21
Carboidratos
66
Total
100

América Central e Caribe

Consumo diário médio (kcal)
2.690
%
Cereais
50
Raízes e tubérculos
6
Açúcar
16
Leguminosas e sementes
6
Frutas e legumes
4
Carnes
5
Peixes
1
Ovos
1
Leite e Derivados
5
Gorduras e óleos
6
Total
100
Proteínas
10
Gorduras
19
Carboidratos
71
Total
100

América do Sul

Consumo diário médio (kcal)
2.380
%
Cereais
36
Raízes e tubérculos
14
Açúcar
18
Leguminosas e sementes
6
Frutas e legumes
3
Carnes
9
Peixes
1
Ovos
1
Leite e Derivados
6
Gorduras e óleos
6
Total
100
Proteínas
10
Gorduras
20
Carboidratos
70
Total
100

África Meridional

Consumo diário médio (kcal)
2.730
%
Cereais
58
Raízes e tubérculos
1
Açúcar
15
Leguminosas e sementes
2
Frutas e legumes
2
Carnes
9
Peixes
1
Ovos
1
Leite e Derivados
5
Gorduras e óleos
6
Total
100
Proteínas
11
Gorduras
22
Carboidratos
67
Total
100

África Equatorial

Consumo diário médio (kcal)
2.230
%
Cereais
56
Raízes e tubérculos
19
Açúcar
4
Leguminosas e sementes
6
Frutas e legumes
2
Carnes
2
Peixes
1
Ovos
0
Leite e Derivados
2
Gorduras e óleos
8
Total
100
Proteínas
9
Gorduras
15
Carboidratos
76
Total
100

África Setentrional

Consumo diário médio (kcal)
2.710
%
Cereais
64
Raízes e tubérculos
2
Açúcar
9
Leguminosas e sementes
4
Frutas e legumes
6
Carnes
3
Peixes
0
Ovos
0
Leite e Derivados
4
Gorduras e óleos
8
Total
100
Proteínas
11
Gorduras
17
Carboidratos
72
Total
100

Sub-continente Indiano

Consumo diário médio (kcal)
1.970
%
Cereais
65
Raízes e tubérculos
2
Açúcar
10
Leguminosas e sementes
10
Frutas e legumes
3
Carnes
0
Peixes
0
Ovos
0
Leite e Derivados
4
Gorduras e óleos
6
Total
100
Proteínas
10
Gorduras
13
Carboidratos
77
Total
100

Indonésia

Consumo diário médio (kcal)
1.780
%
Cereais
61
Raízes e tubérculos
19
Açúcar
4
Leguminosas e sementes
7
Frutas e legumes
2
Carnes
1
Peixes
1
Ovos
0
Leite e Derivados
0
Gorduras e óleos
5
Total
100
Proteínas
9
Gorduras
12
Carboidratos
79
Total
100

Japão

Consumo diário médio (kcal)
2.400
%
Cereais
58
Raízes e tubérculos
6
Açúcar
8
Leguminosas e sementes
6
Frutas e legumes
5
Carnes
2
Peixes
3
Ovos
2
Leite e Derivados
3
Gorduras e óleos
7
Total
100
Proteínas
11
Gorduras
14
Carboidratos
75
Total
100

China

Consumo diário médio (kcal)
2.060
%
Cereais
68
Raízes e tubérculos
11
Açúcar
2
Leguminosas e sementes
6
Frutas e legumes
2
Carnes
6
Peixes
1
Ovos
1
Leite e Derivados
0
Gorduras e óleos
3
Total
100
Proteínas
12
Gorduras
14
Carboidratos
74
Total
100

Australásia

Consumo diário médio (kcal)
3.140
%
Cereais
26
Raízes e tubérculos
3
Açúcar
18
Leguminosas e sementes
2
Frutas e legumes
4
Carnes
21
Peixes
1
Ovos
2
Leite e Derivados
12
Gorduras e óleos
11
Total
100
Proteínas
12
Gorduras
37
Carboidratos
51
Total
100

Todas as. tabelas elaboradas com dados da FAO. 0% significa que a cifra não atingiu 1%, mas obviamente houve consumo.



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