Primeiro capítulo do livro: 'Por que os Homens Fazem Sexo e as Mulheres Fazem Amor?'
Espécies Iguais, Mundos Diferentes
A Evolução de Uma Criatura Magnífica
Como já dissemos, homens e mulheres são diferentes. Na verdade, a única coisa que têm em comum é o fato de pertencerem à mesma espécie. Vivem em mundos distintos, com valores diversos e sob regras muito diferentes. Todo mundo sabe disso, mas poucos - os homens em particular - o admitem, apesar de sofrerem as conseqüências. Basta ver o seguinte: nos países ocidentais, cerca de 50 por cento dos casamentos acabam em divórcio, e os relacionamentos mais sérios não duram muito. Homens e mulheres de todas as culturas, credos e raças vivem em constante duelo com seus parceiros por causa de opiniões, comportamentos, atitudes e crenças.
ALGUMAS COISAS SÃO ÓBVIAS
Quando um homem vai ao banheiro, geralmente faz isso por uma razão específica. As mulheres usam o banheiro como espaço para reuniões sociais e sala de terapia. Podem entrar como estranhas e sair como amigas de infância. No entanto, se um homem disser: "Ei, cara, vou ao banheiro, quer ir comigo?", logo vai provocar suspeitas. Homens tomam posse do controle remoto e ficam passando de um canal para outro. Mulheres não se importam de assistir aos comerciais. Sob pressão, os homens bebem e começam guerras. As mulheres comem chocolate e vão fazer compras.
As mulheres criticam os homens por seu descaso, sua insensibilidade, porque não sabem ouvir, não são gentis e compreensivos, não conversam nem demonstram carinho, não levam a sério os relacionamentos, querem fazer sexo em vez de fazer amor e deixam o tampo do vaso levantado. Os homens criticam as mulheres por dirigirem mal, não serem capazes de entender os mapas das ruas (que quase sempre viram de cabeça para baixo), porque não têm senso de direção, falam demais sem chegar ao ponto principal, não tomam iniciativa no sexo e deixam o tampo do vaso abaixado. Os homens nunca conseguem encontrar nada, mas seus CDs estão sempre arrumados em ordem alfabética. As mulheres são capazes de achar as chaves do carro que estavam perdidas, mas é muito difícil conseguirem chegar a um lugar pelo caminho mais lógico. Os homens acham que são o sexo mais prático. As mulheres sabem que são elas.
Quantos homens são necessários para trocar um rolo de papel higiênico?
Não se sabe, isso nunca aconteceu.
Os homens ficam maravilhados com a capacidade que as mulheres têm de entrar em um ambiente repleto de gente e fazer instantaneamente um comentário sobre cada pessoa que lá se encontra. Elas não entendem como eles podem ser tão pouco observadores. Os homens se espantam de ver que uma mulher não consegue enxergar a luzinha vermelha do óleo piscando no painel do carro, mas é capaz de detectar uma meia suja em um canto escuro a 50 metros de distância. As mulheres se admiram como um homem que estaciona o carro em uma vaga apertada – só olhando pelo retrovisor não sabe onde fica o ponto G. Se uma mulher está dirigindo e se perde, pára e pergunta. Para o homem, isso é sinal de fraqueza. Ele roda em círculos por horas, resmungando coisas como “ descobri um outro caminho que vai dar lá” ou “ estamos chegando” ou ainda “ estou reconhecendo aquele posto de gasolina!” .
TIPOS DE TRABALHO DIFERENTES
Homens e mulheres evoluíram de modos diferentes porque tinha de ser assim. Os homens caçavam, as mulheres ficavam com o grupo. Os homens protegiam, as mulheres cuidavam. Como resultado, seus corpos e cérebros tomaram rumos diversos no processo de evolução e se transformaram para se adaptarem melhor às suas funções específicas. Os homens se tornaram mais altos e mais fortes que a maioria das mulheres, e seus cérebros se desenvolveram para cumprir as tarefas que lhes cabiam. As mulheres ficavam satisfeitas de ver seus homens saírem para trabalhar enquanto elas mantinham o fogo aceso na caverna. Seus cérebros, então, evoluíram para atender às funções que precisavam desempenhar.
Assim, por milhões de anos, as estruturas dos cérebros de homens e mulheres foram se formando de maneiras diferentes. Hoje em dia, sabemos que homens e mulheres processam a informação de modos distintos. Pensam diferente. Têm crenças, percepções, prioridades e comportamentos diversos. Desconhecer este fato é uma receita certa de confusão, sofrimento e desilusão para toda a vida.
AS PESQUISAS COMPROVAM
A partir do final dos anos 80 houve uma explosão de pesquisas sobre diferenças entre homens e mulheres e sobre o modo como seus cérebros funcionam. Pela primeira vez, avançados equipamentos de mapeamento computadorizado nos permitiram ver o cérebro trabalhando "ao vivo", e essa observação da vasta paisagem da mente humana forneceu muitas respostas às questões sobre a diversidade entre os sexos. O material discutido neste livro foi coletado em estudos nas áreas da medicina, psicologia, sociologia e antropologia, e todos apontam claramente para um fato: nada é igual. Homens e mulheres são diferentes. Durante a maior parte do século XX, essas diferenças foram explicadas pelo condicionamento social, ou seja: somos como somos por causa das atitudes de nossos pais e professores que, por sua vez, refletem as atitudes da sociedade em que vivem. Meninas se vestem de rosa e ganham bonecas de presente, meninos se vestem de azul e ganham uniformes de jogadores de futebol. Mocinhas são tocadas e acariciadas, rapazes levam tapas nas costas e aprendem que homem não chora. Até recentemente, acreditava-se que quando uma criança nasce sua mente é uma página em branco, onde os educadores imprimem suas escolhas e preferências.
Recentes estudos de biologia mostram, porém, um panorama completamente novo e apontam os hormônios e o cérebro como os principais responsáveis por nossas atitudes, preferências e comportamento. Isso quer dizer que, ainda que criados em uma ilha deserta, sem uma sociedade organizada ou pais que os influenciassem, meninos competiriam física e mentalmente entre eles, formando grupos com uma nítida hierarquia, e meninas trocariam toques e carinhos, se tornariam amigas e brincariam com bonecas.
Os circuitos cerebrais e os hormônios determinam nosso comportamento e modo de pensar.
Como você verá, o modo como o cérebro é estruturado e os hormônios que circulam pelo corpo são dois fatores que determinam em grande parte nossa forma de pensar e de agir muito antes de nascermos.
SERÁ QUE TUDO NÃO PASSA DE UMA CONSPIRAÇÃO MASCULINA?
Desde os anos 60, vários grupos vêm tentando nos convencer a renegar nossa herança biológica. Afirmam que governos, seitas religiosas e sistemas educacionais se aliaram ao objetivo masculino de dominação, reprimindo as mulheres que tentavam se destacar. Um modo ainda mais eficiente de controle seria mantê-las sempre grávidas.
Historicamente, parece certo. Mas aí cabe a pergunta: se homens e mulheres são idênticos, como afirmam esses grupos, por que os homens sempre mantiveram sua dominação? O estudo do funcionamento do cérebro nos fornece muitas respostas. Nós não somos idênticos. Homens e mulheres devem ser iguais no direito à oportunidade de desenvolver plenamente suas potencialidades, mas, definitivamente, não são idênticos nas capacidades inatas. Se homens e mulheres têm direitos iguais, isto é uma questão política e moral. Se são idênticos, é uma questão científica.
A igualdade entre homens e mulheres é uma questão moral ou política. A diferença essencial é uma questão científica.
Quando afirmamos que as estruturas físicas e mentais de homens e mulheres são diferentes, estamos nos baseando em pesquisas de renomados paleontólogos, etnólogos, psicólogos, biólogos e neurocientistas. As diferenças entre os cérebros de homens e mulheres estão perfeitamente claras, acima de qualquer especulação, preconceito ou dúvida razoável.
Ao examinar as diferenças entre os sexos discutidas neste livro, algumas pessoas podem dizer: "Eu não sou assim", "Eu não faço isso". É claro que há muitas exceções, mas aqui estamos falando sobre a média, quer dizer, como a maioria dos homens e mulheres age a maior parte do tempo em quase todas as situações. "Média" significa que, se você estiver em uma sala cheia de gente, vai notar que as mulheres são mais baixas e mais miúdas que os homens. Pode ser que haja uma mulher mais alta e corpulenta que todos os homens, mas, em geral, os homens são mais altos e fortes. Segundo o livro Guinness de recordes, a pessoa mais alta e pesada tem sido quase sempre um homem. O ser humano mais alto já encontrado foi Robert Peshing, que media 2,79 metros, sendo que em 1999 a altura máxima foi a de Alan Channa, do Paquistão, com 2,31 metros.
SEU GUIA SOBRE O SER HUMANO
Este livro é como um guia para conhecer um país estrangeiro, uma outra cultura. Ele vai lhe fornecer várias informações para entender seus habitantes. Os turistas, em sua maioria, viajam sem procurar se informar sobre o país que vão visitar e, chegando lá, se sentem intimidados ou começam a criticar porque o povo não fala a sua língua ou não come a mesma comida. Para aproveitar melhor a experiência de conhecer uma outra cultura é preciso entender primeiro sua história e evolução, aprender expressões básicas e conhecer um pouco de seu estilo de vida. Desse modo, ninguém vai agir como um turista - aquele que faria muito melhor ficando em casa. Este livro vai lhe mostrar as vantagens de conhecer o sexo oposto. Mas, primeiro, é preciso entender sua história e evolução. Vamos então ver como chegamos ao que somos. Era uma vez, há muito, muito tempo, homens e mulheres vivendo juntos, felizes e trabalhando em harmonia. O homem a cada dia arriscava sua vida em um mundo perigoso e hostil, caçando para levar o alimento à sua mulher e filhos e enfrentando inimigos e animais selvagens. Desenvolveu o senso de direção e a pontaria, tornando-se capaz de localizar a caça, atingi-la, mesmo em movimento, e levá-la até o lugar onde vivia. A definição de seu trabalho era simples: caçador de comida. Isso era tudo o que se exigia dele.
A mulher, por seu lado, se sentia valorizada ao ver o homem expor a vida pela família. Homem de sucesso era aquele que conseguia bastante comida, e sua auto-estima dependia do reconhecimento da mulher aos seus esforços. A família só esperava que ele cumprisse suas tarefas de caçador e protetor - nada mais. Não era preciso "repensar o relacionamento" e ninguém lhe pedia para levar o lixo para fora nem trocar as fraldas do bebê. O papel da mulher era também muito claro. A necessidade de ser uma perpetuadora da espécie apontou a direção em que devia evoluir e as habilidades a desenvolver para cumprir suas funções. Precisava ser capaz de detectar sinais que indicassem a aproximação do perigo, ter excelente senso de direção a curta distância, orientando-se por detalhes da paisagem para encontrar o caminho e, com sua extraordinária sensibilidade, identificar pequenas mudanças na aparência e no comportamento de crianças e adultos. Tudo muito simples: ele era o caçador da comida, ela a guardiã da cria. A mulher passava o dia cuidando das crianças, colhendo frutos e sementes e se relacionando com as outras mulheres do grupo. Não tinha que se preocupar com a parte principal do abastecimento de comida, e seu sucesso estava ligado à capacidade de manter a vida em família. Sua auto-estima dependia do valor que o homem dava a suas habilidades de zeladora e mãe. Ter filhos era um ato mágico, sagrado mesmo, como se só ela conhecesse o segredo da vida. Ninguém esperava que fosse caçar, enfrentar inimigos ou trocar lâmpadas. A sobrevivência era difícil, mas o relacionamento era fácil. Assim foi por centenas de milhares de anos. Ao fim de cada dia, os caçadores voltavam com os animais abatidos, que eram divididos igualmente, e todos comiam juntos na caverna onde viviam. Cada homem entregava parte da caça à mulher, que, em troca, lhe dava frutos e sementes.
Depois de comer, os homens se sentavam em volta do fogo, contavam histórias, faziam brincadeiras e riam. Era uma versão pré-histórica da contínua troca de canais com o controle remoto ou da total concentração na leitura do jornal. Estavam exaustos depois de tanto esforço e precisavam se recuperar para caçar novamente no dia seguinte. As mulheres continuariam a cuidar das crianças e a garantir o descanso e a alimentação dos homens. Cada um apreciava o que o outro fazia - eles não eram considerados preguiçosos nem elas se sentiam como criadas oprimidas.
Esses rituais e comportamentos simples ainda são encontrados em civilizações primitivas, em lugares como Bornéu, parte da África e Indonésia e entre alguns aborígines australianos, maoris da Nova Zelândia e inuits do Canadá e Groenlândia. Nessas culturas, cada pessoa conhece e entende seu papel. Os homens admiram as mulheres e as mulheres admiram os homens. Cada um reconhece no outro uma contribuição única para a sobrevivência e o bem-estar da família. Mas, para quem vive nos modernos países civilizados, essas regras antigas foram abandonadas. O caos, a confusão e a infelicidade tomaram seu lugar.
MAS AS COISAS MUDARAM
A família não mais depende unicamente do homem para sua sobrevivência e não se espera mais que a mulher fique em casa exercendo as funções de mãe e zeladora. Pela primeira vez na historia da espécie humana, a maior parte dos homens e mulheres se confunde na hora de definir suas atividades. Você faz parte da primeira geração a ter de encarar situações que seus antepassados nunca conheceram. Pela primeira vez, buscamos em nossos parceiros amor, romance e realização pessoal, já que a sobrevivência, garantida para muitos pela estrutura da sociedade moderna através de fundos de pensão, aposentadorias, leis de proteção ao consumidor e várias instituições governamentais, não é tão prioritária. Então, quais são as novas regras? Onde se pode aprender? Este livro tenta dar algumas respostas.
Se você nasceu antes de 1960, é bem possível que tenha crescido vendo seus pais se relacionarem segundo os antigos princípios de sobrevivência entre homem e mulher. Eles repetiam o comportamento que aprenderam com os pais deles, que, por sua vez, imitaram os pais deles, que copiaram os pais deles, e assim por diante, até chegar ao povo das cavernas com seus papéis claramente definidos.
Agora as regras mudaram completamente, e seus pais não sabem como ajudar. O índice de divórcios entre os casamentos recentes está em torno de 50 por cento e, se levarmos em conta as uniões não oficializadas e os relacionamentos entre gays, a verdadeira taxa sobe para 70 por cento. Precisamos aprender as novas regras, se quisermos ser felizes e vivermos emocionalmente ilesos no século XXI.
Por Allan e Barbara Pease (Tradução de Neuza M. Simões Capelo), no livro ' Por que os Homens Fazem Sexo e as Mulheres Fazem Amor?' Editora Sextante, Rio de Janeiro, 2000, p.5-11. Editado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.
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