12.19.2011
LICHIA, A FAVORITA DO IMPERADOR DA CHINA
O sabor doce com um toque azedinho bem equilibrado não se assemelha a nenhum outro. Em arranjos ou receitas, ela dá um ar de sofisticação e exotismo.
Arranjos com frutas frescas fazem parte do cardápio e compõem a decoração tradicional na maioria das ceias servidas nas comemorações de fim de ano. A abundância dos frutos colhidos nesta época estimula o paladar e a criatividade, resultando em combinações que enchem os olhos e aguçam os sentidos. Até meados dos anos 1980, abacaxis, mangas, pêssegos, figos, aineixas, melões e muitas uvas dominavam as mesas.
De lá para cá, muitas novidades chegaram aos mercados. Frutas do mundo inteiro estão disponíveis para o prazer dos consumidores. É possível encontrar, ainda que com preços bem salgados, cajus, sapotis, pinhas, cajás, siriguelas e tantas outras delícias do Norte e do Nordeste brasileiros, assim como frutas típicas do Hemisfério Norte, como as cerejas, amoras, framboesas e mirtilos que encantam chefs e gourmets. A cada ano as modernas técnicas agrícolas desenvolvem mais e mais o cultivo e a produção de plantas importadas de regiões distantes.
Também vem aportando por aqui todo o exótico frescor da lichia, que, a esta altura do ano, se toma abundante em bancas de mercados, feiras e sacolões. Natural de regiões asiáticas com bons períodos de clima quente e seco, como China, Índia, Madagascar, Nepal, Bangladesh, Paquistão, Taiwan, Vietnã, Indonésia, Tailândia, Filipinas, a lichieira se sente bem à vontade em solos brasileiros. Grande parte da produção atual vem do Norte paulista, mas o Nordeste também está colhendo boas quantidade da fruta.
Seu gosto doce e com toquezinho azedo bem equilibrado é único. A casca, áspera e fina, faz lembrar pequenos pinhos avermelhados, remetendo ao clima natalino. A polpa branco acinzentada lembra um bago de uva. Como ela não adere ao caroço, é muito fácil saborear generosos pedaços suculentos, que agradam e refrescam o paladar.
Fruta símbolo da China, a paixão pela lichia remonta aos tempos das grandes dinastias. Em seu Livro das frutas, a britânica Jane Grigson relata que o impetador Hsüan Tsung (685/762), da dinastia Tang~ obrigava seus cavaleiros a percorrer a galope quase mil quilômetros até a região de Cantão, no Sul do país, para satisfazer o desejo de sua amada de saborear a fruta. Como a cor, o aroma e o sabor das lichias se alteram em poucos dias, dá para imaginar a dificuldade que os valorosos soldados tinham de chegar com as frutas bem fresquinhas, como gostava a consorte do imperador.
lna Gracindo, chef carioca e proprietária do inusitado Café Vert, que só trabalha com produtos orgânicos, é defensora das receitas que aproveitam o que cada estação tem de melhor. Nesta época do ano, ela usa a lichia em drinques: "Fazemos uma batida de saquê, hortelã e lichia, fica superbacana. A fruta é muito delicada, quanto menos a receita interferir no seu sabor, mais ela sobressai."
Em delicatessens e supermercados gourmet é possível comprá-la em conserva, mas o bom mesmo é usá-la ao natural em saladas, sorbets e mesmo em pratos salgados de sotaque asiático. Ela combina muito bem com frango, peru e outras aves, como comprova a receita que sugerimos nesta edição, muito apreciada na Tailândia.
Frango com lichias à moda tailandesa
• Ingredientes
2 colheres de sopa de óleo;
1 colher. de sopa de gengibre ralado;
2 dentes de alho picados;
600g de peito de frango;
2 colheres de sopa de pasta de curry vermelha;
400ml de leite de coco;
1 colher de sopa de açúcar;
200g de lichias frescas (já descascadas e sem caroço);
2.Colheres de sopa de molho de peixe (nam pia);
suco de 1/2 limão
coentro fresco para guarnecer.
• Modo de Fazer
Numa caçarola, aquecer o óleo. Juntar o alho e o gengibre e deixar dourar. Juntar a pasta de curry e fritar até começar a liberar o aroma. Juntar os cubos de frango e deixar cozinhar até perder o aspecto cru. Verter o leite de coco, o molho de peixe e o açúcar. Deixar o frango cozinhar. Juntar as lichias e finalizar com o suco de limão e o coentro picados. Servir com arroz branco.
Por Patrícia Crespo, publicado no 'Estado de Minas' de 18 de dezembro de 2011 no caderno 'Degusta' pag.3. Digitado e editado para ser postado por Leopoldo Costa.
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