Por um lado, os estudos são indispensáveis para ajudar o consumidor a escolher os produtos e as quantidades ideais para manter uma dieta equilibrada. "Na década de 20. a Associação Americana de Diabetes preconizava o consumo de até 70% de gordura nas calorias ingeridas diariamente. Hoje. essa porcentagem não passa de 30%", exemplifica Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran). Por outro lado, não é tarefa fácil acompanhar as mudanças nos hábitos alimentares decorrentes de cada nova descoberta. VEIA ouviu especialistas sobre o status atual de cinco alimentos que já mudaram de posição no rol de inimigos e aliados da dieta saudável.
OVO
Status atual: várias descobertas recentes tiraram o ovo da lista de inimigos do coração. 0 colesterol presente na gema é menos maléfico que a gordura saturada - nesse quesito, portanto, a carne vermelha é mais prejudicial que o ovo. Aliás, a própria quantidade de colesterol contida no ovo continua a ser revista. Análises feitas pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos constataram que em cada gema há 185 miligramas, e não 215 miligramas, como se acreditava antes. Outro fato: "Grande parte do nível de colesterol no sangue não provém de alimentos, mas sim de alterações enzimáticas", explica João Cesar Castro Soares, endocrinologista e nutrólogo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Os verdadeiros vilões, portanto, são a genética, a obesidade e o sedentarismo. Além disso, o ovo é fonte de vitamina A, ferro, zinco e outros nutrientes, enquanto a clara é rica em albumina, aminoácido que favorece o ganho de massa magra
Resumindo: o consumo de três a quatro ovos por semana não representa risco à saúde.
CARNE VERMELHA
A carne natural de boa qualidade - ou seja. oriunda de gado alimentado com ração vegetal e livre de anabolizantes - é consideravelmente menos maléfica.
Resumindo: a carne vermelha é necessária à dieta. Mas o ideal é consumir no máximo três porções semanais de 150 gramas - o equivalente a um bife médio ou cinco colheres de sopa de carne moída. E sem a capa de gordura, claro.
MARGARINA
Status atual: por muito tempo, a margarina, produzida a partir de gordura vegetal, foi considerada mais saudável que a manteiga, feita com gordura animal. Novas pesquisas, porém, descobriram que a gordura hidrogenada presente na margarina - a famigerada trans - é ainda mais prejudicial ao coração, já que aumenta a formação de placas que entopem artérias do coração e do cérebro. As margarinas sem gordura trans são feitas com uma mistura química de óleos vegetais que dá origem a uma gordura chamada esterificada. Os estudos sobre esse tipo de gordura não mostram malefícios à saúde, mas eles ainda são incipientes.
Resumindo: para a nutricionista Daniela Jobst, a manteiga ainda é a opção mais saudável. "Trata-se de um produto natural, enquanto a margarina resulta de um processo químico", argumenta.
CAFÉ
Status atual: o consumo de três a quatro xícaras de café por dia pode prevenir doenças como Parkinson e câncer. Em 2005, um estudo publicado na revista da Associação Médica Americana mostrou que o café pode reduzir em 28% o risco de desenvolver diabetes tipo 2. "O café é comprovadamente efetivo na redução de hiperglicemia após a refeição", explica o nutrólogo Durval Ribas Filho, da Abran. Ou seja, além de prazeroso, o cafezinho depois do almoço proporciona benefícios imediatos. E tem mais: a bebida contém antioxidantes que preservam os vasos sanguíneos, já que inibem a ação nociva de radicais livres sobre as paredes das artérias.
Resumindo: o segredo está na moderação. Até três ou quatro xícaras diárias trazem grandes benefícios. Acima disso, o café começa a revelar seus efeitos deletérios, promovendo, por exemplo, insónia ou aumento da pressão arterial.
CHOCOLATE
Status atual: a ação antioxidante dos polifenóis do cacau ajuda a reduzir a pressão arterial e a controlar o colesterol. Ou seja, o chocolate pode prevenir doenças cardiovasculares. "Mas, como os antioxidantes vêm do fruto, apenas os chocolates com mais de 60% de cacau oferecem benefícios", explica a nutricionista Daniela Jobst. Quanto a ser culpado pelo aparecimento de espinhas, não há evidências de uma correlação entre chocolate e acne. Alguns estudos relacionam a gordura saturada presente no chocolate com efeitos pró-inflamatórios, o que acentuaria o quadro em pessoas com propensão à acne - mas eles são inconclusivos.
Resumindo: o problema da guloseima está nas calorias - uma barra de 100 gramas pode chegar a 650 calorias. Por isso, o consumo deve ser restrito a três porções de 40 gramas por semana.
A BOLA DA VEZ
A cada seis meses, um novo produto milagroso promete emagrecimento rápido e sem esforço. Vinagre de maçã e óleo de cártamo ou porangaba entraram na lista em temporadas passadas. Atualmente, o óleo de coco é apontado como a principal arma na redução das gordurinhas indesejáveis em razão de seu suposto efeito termogênico.
O que dizem os médicos: o óleo de coco contém um tipo de gordura conhecido como triglicendeo de cadeia média, fonte de energia para os músculos durante a realização de atividades físicas. Isso, porém, nada tem a ver com efeito termogênico - a aceleração do metabolismo basal (gasto calórico em repouso) e consequente perda de peso. 0 endocrinologista e nutrólogo João Cesar Castro Soares, da Unifesp, alerta: o óleo de coco não emagrece.
Pelo contrário. Como o produto tem 9 calorias por grama, pode é engordar.
SÓ EM ÚLTIMO CASO
Cortar o glúten ou os derivados do leite da alimentação é imperativo para quem sofre de doença celíaca ou tem intolerância à lactose. Mas a prescrição acabou virando moda: até dietas de emagrecimento já mandam riscar essas substancias do cardápio. Veja o que dizem os especialistas sobre os riscos de abolir o glúten e a lactose.
LACTOSE
Quem deve deixar de consumir: o déficit de enzimas responsáveis pela digestão da lactose (açúcar do leite) atinge cerca de 20% da população. Há, porém, diferentes graus de intolerância à lactose. "Nos casos mais leves, não é preciso eliminar o consumo de derivados de leite, pois o processo de fermentação na fabricação de iogurtes e queijos reduz a concentração de lactose do alimento sem comprometer sua taxa de cálcio", diz o nutrólogo Durval Ribas Filho.
Risco de cortar o consumo sem indicação médica: abolir o consumo de lactose e, consequentemente, de leite e seus derivados, aumenta o risco de osteoporose, já que grande parte do cálcio absorvido de alimentos vem dos laticínios.
GLÚTEN
Quem deve deixar de consumir: portadores da doença celíaca, que atinge entre 1% e 3% da população. Nessas pessoas, a ingestão de glúten desencadeia um processo inflamatório na mucosa intestinal que compromete a absorção de nutrientes, o que pode provocar desde anemia até distúrbios graves, como osteoporose e câncer.
Risco de cortar o consumo sem indicação médica: a proteína do trigo está presente em praticamente todos os alimentos que contêm carboidratos, inclusive pães, biscoitos, massas e cerveja. Mas cortá-la da dieta não recomendável. "Os cereais integrais, que contêm glúten, oferecem diversos benefícios à saúde. Como são ricos em fibras, eles melhoram o trânsito intestinal, ajudam a reduzir a absorção de colesterol e aumentam a sensação de saciedade", explica o endocrinologista e nutrólogo João Cesar Castro Soares, da Unifesp.
Publicado na revista "Veja" edição 2269, de 16 de maio de 2012, páginas 120-121, com o título de "Afinal, faz bem ou faz mal ? Adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.
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