6.04.2012

JOESLEY BATISTA (DA JBS), PERFIL DO EMPRESÁRIO


Para ex-futuro dono da Delta, segredo é saber acelerar e frear na hora certa.

Herdeiro de abatedouro que sonhava enriquecer fatura hoje R$ 70 bi por ano.

Joesley Batista
Sentado em um sofá branco forrado de pele de boi no amplo escritório da presidência da J&F Holding, controladora da maior empresa de processamento de proteína animal do mundo, o empresário Joesley Batista, de 40 anos, deu os primeiros sinais de que sua equipe estava prestes a fazer as malas e deixar de lado a opção de compra da Construtora Delta exatamente 24 horas antes do anúncio oficial. — O mercado está absolutamente enganado ao dar como certa a compra da Delta, enquanto eu estou aqui olhando um negócio extremamente complicado, achando tão complicado quanto ele acha — resumiu Batista, à frente do grupo empresarial pertencente à sua família, o terceiro maior do Brasil, atrás apenas da Petrobras e da Vale.

Joesley não assiste a televisão, não lê revista e, mesmo à frente do grupo que neste ano deve ultrapassar R$ 70 bilhões de faturamento, passou despercebido pelos jornais até o dia em que decidiu que tentaria comprar a empresa envolvida no maior escândalo político do ano.

De olho nos R$ 380 bilhões em investimentos em infraestrutura no país estimados pelo BNDES até 2014, sonhava juntar ao seu grupo essa empresa de 30 mil funcionários, milhares de máquinas, atestados técnicos em dia (pré-requisito para participar de qualquer licitação), finanças superavitárias, poucas dívidas e modelo de crescimento inovador (“contrato era como se fosse uma empresinha, com centro de custos e gestão independente”).

Desde cedo Joesley acelera nos negócios seguindo o rumo de seu instinto, mas garante tomar os cuidados de quem precisa se proteger, sem diminuir a velocidade. Foi assim desde o dia em que o pai, José Batista Sobrinho, o Zé Mineiro, que começou a vida com um abatedouro de 60 cabeças de boi em Anápolis, no interior de Goiás, convidou o filho para tocar o escritório da segunda empresa da família.

Joesley era o menino que aos sete anos cavava o chão procurando petróleo para “enricar”, como gosta de falar, e que aos 15 anos já tinha montado um escola de computação com amigos, trabalhado em hotel, loja de autopeças e de sapatos. Aos 16, tinha decidido namorar e a mãe, preocupada, convenceu o pai a trazer o filho para os negócios da família.

— Quanto mais veloz você corre, mais cuidadoso você fica. A arte não está em acelerar, mas frear ali, na hora certa — disse ele algumas vezes ao GLOBO na última quinta-feira, um dia antes da decisão de deixar o namoro com a Delta.

O mercado nunca soube dizer se a Delta conseguiria dar a volta por cima, apesar do talento da família para os negócios e, em especial, o de Joesley, considerado o estrategista entre os seis irmãos. Com base em uma sucessão de compras de empresas em situação difícil e volumosos aportes do BNDES, a JBS, empresa frigorífica que leva as inicias do pai no nome, passou em menos de uma década de maior empresa de proteína animal de Goiás a maior do mundo, gere atualmente 50 marcas e 140 mil funcionários.

À primeira vista, ninguém entende como Joesley comanda um conglomerado repetindo aos montes os erros de português na hora de falar e mantendo o jeito de matuto. Seria apenas uma estratégia de negócio? Ele se faz de bobo para no fim sair ganhando? Quando se lança o olhar para seu império, tudo parece um teatro conveniente. Mas, de perto, se vê que a simplicidade não é forjada, está nos hábitos e nos gestos mais cotidianos.

Colecionador de frases, empresário vê felicidade como fórmula matemática.

Caderno de Joesley com sua filosofia de vida soma 339 ensinamentos.

Ticiana Villas Boas e Joesley Batista: Lua de mel na Índia
Se alguém conta ou Joesley Batista pensa em uma frase interessante, o destino é certo: o caderno com “tópicos sobre governança e filosofia de vida”, que fica sobre sua mesa.
Até sexta-feira eram 339, entre eles: “ninguém tem culpa da sua falta de tempo”, “pense no que precisa parar de fazer”, “tempo é uma questão de prioridade”, “felicidade é uma fórmula matemática, igual a realidade sobre expectativa”. Parecem frases simples, mas tudo muda quando ele explica, pacientemente, porque anotou cada uma delas. Estão todas relacionadas às decisões de seu bem-sucedido negócio.

Um exemplo é a explicação da última frase citada:
— Eu descobri que as as pessoas morrem de medo do escuro, andam com cuidado. Primeira coisa, ó, deixa eu acender as luzes: eu sou Joesley, você está na J&F, essas pessoas são fulano e fulano, vamos conversar uma hora sobre isso. Pronto, tiramos os fantasmas da sala.

Outro sentido: quanto mais holofote você põe em tudo, o que está errado salta aos olhos e você vai lá, arruma. Quando não acende, aquilo fica meio por baixo e você fica postergando... — explica.
Joesley acorda e o primeiro compromisso é um café da manhã de trabalho. O almoço é de trabalho, o jantar idem. Não gosta de futebol, de ir ao cinema ou conversar fiado: tudo tem que ter algum aprendizado. Os amigos são todos da firma. Para ele, tudo é questão de foco, e assim foi no dia em que viu a jornalista Ticiana Villas Boas, apresentadora do Jornal da Band, mediando um debate para empresários, em abril do ano passado.

Pai de três filhos (o primeiro nasceu no dia em que fez 18 anos), avô de um bebê de seis meses, estava separado da mulher havia seis anos. Sentou do lado de Ticiana e o papo foi reto:
— Moça, você é bonita demais, o que você faz?
Conseguiu um e-mail. No mesmo dia, quando ela chegou ao trabalho, já tinha mensagem dele. Demorou quatro meses para ganhar o primeiro beijo.
— Para você ver como ele é focado, algo que faz parte da personalidade dele para tudo — comenta a apresentadora.

Em setembro, Ticiana passava férias com a prima no Peru e, ao receber uma ligação de Joesley, abandonou a viagem e foi encontrá-lo na Sardenha, na Itália. Em fevereiro deste ano, numa viagem de comemoração dos 40 anos dele, recebeu um pedido de casamento na beira de um vulcão na Tanzânia. O destino seguinte era a Índia. Acordaram as cinco da manhã para serem os primeiros a visitar o Taj Mahal e lá casaram. Passaram a lua de mel em Bora-Bora, na companhia de toda a família Batista.

— Eu nunca tinha ouvido falar dele, botava no Google (seu nome) e não aparecia nada. É uma pessoa com mil contradições, me intrigava entender como um cara tão bem-sucedido, que lida com ministros, fala esse português, faz perguntas sem noção. Agora eu compreendo esse jeito dele, faz parte do mistério, faz parte da mística. E quanto mais perto eu chego dele, mais eu gosto do que encontro — diz.

Reportagem de Thiago Herdy, publicada no jornal " O Globo", p. 12, caderno "O País" do dia 3 de junho de 2012. Adaptado para ser postado por Leopoldo Costa. Fotos publicadas no jornal.

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