O Terraço Itália, antes de tudo, é uma vista.Quando se trata de um restaurante no topo de um edifício de 170 m de altura,é mesmo improvável que a paisagem não assuma status de prato principal. Certo, pode ser um passeio clichê. Pode ser um programa à antiga. Mas continua divertido ter de pegar um elevador no térreo e subir até o 37º andar, fazer a baldeação, tomar outro até o 41º e, ao entrar no salão, impressionar-se com aquele mar de prédios.Um cenário que me parece mais interessante à noite do que de dia.
Embora os turistas continuem lá, falando em várias línguas e sotaques, assim como muitos casais, além de executivos, sempre faltou ao Terraço algo que, servido sobre o prato, pudesse rivalizar em atenção com o cenário externo. E o restaurante, ainda que sem mexer muito na proposta de inspiração italiana, bem que vem tentando algumas mudanças ao longo dos anos. Chefs, por exemplo, foram vários. No momento, quem comanda a cozinha é Pasquale Mancini, nascido na Toscana – em São Paulo, ele passou pelo Nico Pasta&Basta. Segundo a casa, ele vem refazendo os itens que já compunham o cardápio e, gradualmente, está propondo outros novos.
O Terraço Itália continua caro, com preços que embutem sua condição, digamos, de atração turística.O menu do meio-dia custa R$ 70. No jantar, há uma degustação por R$ 162. À la carte, também à noite, massas e carnes custam de R$ 80 e R$ 100 (frutos do mar, até acima). Porém, na média, melhorou, em comparação ao que se fazia nos últimos tempos – inclusive nos pães e nos grissini do couvert (salgados R$ 24, no jantar) –, embora com muitas ressalvas.
Há, para o almoço, boas pedidas como o vitelotonnato e um razoável espaguete à carbonara. E também coisas não tão bem executadas, como os peixes (o bacalhau confitado, por exemplo, chegou à mesa muito fibroso). À noite,o menu destaca opções como berinjela à parmigiana; tortino de batata; rigatoni cacio e pepe (uma variante do clássico romano à base de pecorino e pimenta-do-reino, cuja versão mais tradicional é feita com espaguete); e brasato de javali com polenta – uma receita que, pelo longo cozimento, deveria resultar numa carne mais tenra e não tão seca.
O serviço, por fim, merece um parágrafo à parte. Oscila entre a formalidade estudada dos funcionários com mais tempo de casa e uma certa confusão dos mais novos. Numa das visitas, questionado sobre o que seria o pappardelle do chef, o garçom definiu como “uma massa larga como esta faca aqui, ó”. Certo, mas o que seria o pappardelle “do chef”? “É uma massa que ele faz do jeito dele.” Ok,e como seria o jeito dele? Aí ele precisou se informar. E é com molho de tomate. Mas uma coisa é padronizada: o empenho na venda de água, já que todos querem encher, a toda hora. Durante um jantar, tive de avisar três vezes que eu mesmo me serviria. Não foi suficiente. Dei uma bobeada,um outro garçom apareceu quase do nada e pumba!, esvaziou a garrafa.“Mais uma senhor?”.Eu recusei. E, só de birra, aquele copo durou até o fim da noite.
Por que este restaurante? Porque está com chef novo. Vale? Os pratos continuam a ser coadjuvantes da vista. No almoço, a conta fica por volta de R$100.À noite, é fácil gastar R$ 200 por cabeça. Não vale.
Texto de Luiz Américo Camargo publicado na coluna "Eu Só Queria Jantar" com o título de "Paisagem de Résistance" no jornal "O Estado de S. Paulo" do dia 12 de julho de 2012. Digitalizado, adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.
O Edifício Itália, cujo nome oficial é Circolo Italiano é o segundo maior do Brasil em altura, com 168 metros distribuídos em 46 andares. Inaugurado em 1965, é um dos marcos da cidade de São Paulo, protegido pelo Patrimônio Histórico por ser um dos maiores exemplos da arquitetura verticalizada brasileira. No andar térreo há um teatro e uma galeria comercial. LC

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