Faço meu vaticínio: em 2050 a gastronomia nacional será a primeira do mundo, com nosso popular inseto como carro-chefe.
Foi durante a semana, acho. Não tenho certeza absoluta por causa da minha capacidade de esquecer rapidamente assuntos que julgo de importância relativa. Era, pelo menos disso bem me lembro, um estudo de clarividência apoiado por irrefutáveis estatísticas, aritmética avançada e que deve ter contato também com a sofisticação de programas de computação como o Cobol.
No batuta estudo, diziam como estaremos de grana em 2050. Nós e vários outros países.
Não cheguei a prestar muita atenção aos números. Bastou-me saber que o mundo não terá acabado em 2050. As florestas continuarão a abrigar os animais e a deixar os ruralistas nervosos, mas, mesmo assim, continuarão a plantar e a criar outros tipos de animal para que possamos comer. Sobre o tal aquecimento global, nada se falou, mas, como teremos grana para dividir em 2050, é provável que o nível do mar não tenha subido e os ursos-polares estejam felizes, ainda que as demoníacas sacolas de supermercado tenham voltado com tudo.
Acredito também que o estudo prevê que mensalões continuarão a ser julgados sem interferir, como de praxe, no andar da carruagem.
Oriente Médio daquele jeito de sempre e a ameaça comunista não mais será considerada, o que eu acho uma pena. Confesso que gostava muito dos filmes sobre a Guerra Fria Havia um charme que não se encontra no Iraque, Irã, Afeganistão.
Resumindo: vai estar tudo bem, gente. Parece que os peruanos terão mais dinheiro, mas, por favor, vamos ter calma, nada de boicotar o ceviche e... e... e aquela culinária fantástica que os mais renomados críticos apontam como uma das melhores do mundo. Opa! Não terá sido por causa disso que passaram a gente?
Não creio. Se você me permite, leitor, faço uma rápida previsão de como estará nossa gastronomia em 2050. Os dados que usei são os que se usam em Vegas.
Seremos os primeiros do mundo. Teremos superado a França, que teve de acabar com as criações de ganso, de lebres, de cordeiros e até a APE - Associação Protetora dos Escargots -, começou a fazer exigências que os criadores não conseguiam cumprir. A França passou a se orgulhar por ter a melhor endívia do mundo. A Itália foi condenada pela Amsev - Associação Mundial de Saúde e Eterna Vigilância -, a pagar uma multa no valor de 490 trilhões de euros por ter produzido um sem-número de obesos e diabéticos que consumiram, ao longo de séculos e em todo o mundo, farinha branca e carboidratos não complexos. Em 2050, a Itália será o país com o maior número de franquias indianas, peruanas e brasileiras (falo já sobre isso), devidamente autorizadas pela Amsev.
A Espanha terá entrado em um estado de profunda melancolia porque vão admitir, 50% do país, que Ferran foi um equívoco e os outros 50% não conseguem viver sem ele. E aqui no Brasil, adivinhem só! Dou uma dica: tem sido a iguaria mais procurada pelo mundo culto e descolado da gastronomia. Sim! Refiro-me à nossa gloriosa FORMIGA Pois vaticino que a formiga vai substituir carnes, peixes e ovos.
Rodízio de formigas, formigas por quilo, sashimi e sushi de formigas, pizza de formiga Feijoada sem formiga não dá pra encarar. Polpetone se não for de formiga não tem graça O Júníor vai fazer fortuna com o Formigatone, o panetone de formiga O tal bolo formigueiro será presente para chefe de Estado.
Churrascarias terão de adaptar seus nomes. Eu aposto que o Tamanduá estará em alta Se você é pessoa de visão, registre já as sugestões que passo: O Tamanduá de Ouro, Porteira do Tamanduá, Tamanduá dos Pampas, Formigueiro de Chão. Espeto de saúva, içá ou lava-pé? Bufê de salada com formiga já vem com as folhas todas picadinhas. Moqueca de formiga levará coentro? Escondidinho de formiga teria formato de formigueiro, claro.
Formiga orgânica é bem melhor, mas é muito cara. Formiga transgênica será tema de calorosas discussões e de bilionárias disputas de patente. O que sei é que esse novo mundo está se abrindo para nós, brasileiros. Agora, é bom não esperar 38 anos, correr e criar o ceviche de formiga antes que os peruanos o façam.
Texto de Márcio Alemão publicado na revista "Carta Capital" de 31 de outubro de 2012,com o título de "A formiga é nossa" . Digitado, adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.
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