3.20.2017

GILLES DE RAIS, O BARÃO COMEDOR DE CRIANCINHAS.



Gilles de Rais lutou com Joana D´Arc contra os ingleses, mas caiu em desgraça por causa de seus hábitos alimentares.

Em 1432, os aldeões de Machecoul, na Bretanha Francesa, estavam amedrontados. Suas crianças estavam desaparecendo nos bosques: primeiro havia sido o filho do ferreiro, seguido de mais 5. Nas tavernas, entre goles de vinho, suspeitava-se de duendes malignos e javalis de olhos de fogo. Já os céticos tinham um suspeito mais real: o mandachuva da região, o barão Gilles de Rais.

“Blasfêmia”, dizia o povão. Aos 28 anos, o barão era um herói nacional, ajudara a libertar a cidade de Orléans dos ingleses e, acima de tudo, lutara com a heroína e santa Joana D’Arc. É verdade que, desde a morte de Joana – queimada pela Igreja na fogueira em 1431 – Gilles andava meio esquisito, isolando-se em seu castelo e cultivando uma fama de mau. “Com Joana, foi-se a parte boa de mim. Sobrou meu lado escuro”, teria dito.

Pois bem, os céticos tinham razão: Gilles comia criancinhas (no sentido sexual) e, depois de matá-las, se alimentava de sua carne. O barão atraía as crianças para o seu castelo com promessas de presentes. Servia-lhes um belo jantar e, após a sobremesa, levava-as para uma sala secreta.

Lá, pendurados por um gancho, os jovens sofriam violência sexual, sendo estripados vivos logo depois e então fatiados, preparados e servidos para os presentes. Sim, as refeições canibais não eram solitárias: para realizar seus feitos, Gilles contava com o auxílio de dois primos, uma governanta chamada Poitou, um falsário italiano gay e o padre local, entusiasta da magia negra.

As mortes – mais de 40 – começaram a dar na vista. Durante uma caçada, dois nobres chegaram a ver Poitou enterrando os pedaços de uma vítima. Mas, devido ao prestígio do assassino, “uma muralha de silêncio foi erigida”, escreveu o historiador Jean Benedetti em A Vida de Gilles de Rais.

Em 1440, porém, Gilles teve a má ideia de brigar com o clero francês. Lelé da cuca, invadiu uma igreja em plena missa e sequestrou o padre. Num caso desses, até um nobre herói de guerra era chamado para prestar esclarecimentos. Eis que o bispo de Nantes, encarregado do processo, trouxe à baila a história das crianças desaparecidas. Foi autorizada a tortura de Gilles, mas nem foi preciso. Pressionado, o barão confessou tudo, sendo enforcado e queimado. A saber: a governanta e o italiano também foram para a forca, os primos fugiram e o padre foi inocentado.

Caso encerrado? Mais ou menos. Apesar de nenhum historiador questionar a culpa do barão, é de estranhar a desenvoltura com que ele levou a cabo seus atos macabros. Alguns levantam a hipótese de que, além de Gilles, havia mais gente graúda envolvida. Mas esse mistério foi para a forca junto com o barão.

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Grandes momentos

– Depois da matar as crianças, Gilles as beijava, e muitas vezes abria o cadáver para admirar os órgãos internos da vítima. Gargalhava ao vê-las morrer. “Nesses atos, não procurei senão o meu prazer carnal”, confessou.

– Gilles de Rais serviu de modelo para o personagem Barba-Azul, de Charles Perrault – aquele que matava as esposas. Gilles casou uma única vez: quando ela deu à luz uma menina, abandonou a mãe em uma masmorra.

-No século XXI, Gilles virou figura pop. No game Castlevania: Legacy of Darkness, ele é o principal vilão.

Artigo de Alvaro Oppermann publicado em "Super Interessante",Brasil, edição 265, maio de 2009. Adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.

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